Harry Potter e a Ligação Silenciosa
Capítulo XII – Baixas nas previsões
Depois que Nádia se separou de Malfoy, ela sentiu-se subitamente suja, sentindo novamente suas preocupações caindo sobre ela com o peso dobrado. Agora já estava feito. Ela havia beijado o autor de uma morte! Malfoy parecia bastante feliz, mas acabou não estranhando muito que Nádia saísse correndo.
Ela correu até a Torre da Lufa-Lufa; chegando na sala comunal, jogou-se num sofá e ficou simplesmente pensando, colocando cada ramificação nervosa de seu organismo em seu lugar de origem.
--Você disse isso pro Snape?--disse Hermione.--De onde você tirou essa idéia?
--Tive um délavé no fim da aula de Poções. Quando ele passou, eu já sabia o que dizer a ele. Snape é humano, apesar de ser cruel e sanguinário com a Grifinória, a Lufa-Lufa e a Corvinal.
--É, eu não esqueço que ele salvou a vida do Harry no primeiro ano.--disse Hermione.
--Pois eu esqueço.--disse Rony.--Não sei se o Dumbledore devia deixar ele continuar em Hogwarts. Ele é um sujeito perigoso, pode endoidar e voltar pra Você-Sabe-Quem.
--Pelo visto você não andou treinando para dizer Voldemort.--disse Harry.-- Se você for falar na reunião da Ordem, vai ter que dizer o nome dele com todas as letras, ou vai passar por medroso.
Enquanto Harry, Rony e Catherina iam para a aula de Adivinhação, Rony lembrou:
--Não é hoje que a morcega velha vai dar as notas das interpretações das previsões?
--Ah, cara, é sim.--confirmou Harry.--Não quero nem ver.
--Eu inventei uma história bem doida.--disse Rony, com um sorriso maroto.-- Aquilo de leão, estrela, tigre... Nem lembro mais o que pus.
--Mas... É claro!--exclamou Catherina, de uma hora pra outra.-- Agora me lembrei, fiz meio chutado, mas agora que estou pensando de novo... Aposto que fui bem nessa tarefa!
--Que entusiasmo.--comentou Harry.
E ela absolutamente certa. Ao contrário dela, as invenções de Harry e Rony não fizeram sucesso com a profª Trelawney.
--Ora, o que eu fiz de errado?--protestou Rony, mirando o três no topo da sua redação.
--Acho que exageramos na invenção.--sugeriu Harry, olhando seu cinco.--Ei, Catherina, o que você fez pra tirar nove?
--Eu explico lá fora.--sussurrou ela.--É mais óbvio do que pensam.
No jantar, perguntada de novo sobre as previsões, Catherina disse:
--É melhor eu contar quando tiver tempo. Em quinze minutos tenho que cumprir a detenção na sala de troféus. Até mais tarde!
E ela foi em direção à sala de troféus.
--Será que ela não quer nos dizer?--especulou Rony.-- Só porque minha previsão tava mais pra Arca de Noé que previsão da Hufflepuff.
--Posso ver as tais previsões?--disse Hermione.
--Quando chegarmos na sala comunal.--respondeu Harry, brincando.--Mais tarde.
Chegando na nem um pouco ansiada sala de troféus, Catherina encontrou Filch, que mandou que ela limpasse todos os troféus que conseguisse em duas horas e meia. Conclusão: só às dez e meia estaria voltando ao seu saudoso dormitório. Depois de dar as ordens, Filch foi andar pelo castelo, à busca de algum aluno fora da torre de sua Casa.
"Até que não está tão ruim", disse Catherina para si mesma. "Acho que vou tratar de encher a paciência do Snape mais um pouco".
Harry estava num canto da sala comunal, observando o fogo da lareira, que crepitava cada vez mais fracamente. Ele devia estar preocupado com tantos acontecimentos novos, que só iriam se encaixar num clímax não muito distante, mas naquela ocasião ele só conseguia pensar em Catherina, na Catherina que, desde que a conhecera, só se mostrou preocupada com os outros --com Rony, Mione, Nádia e... Principalmente com ele. O pensamento de que ela estava em Hogwarts por causa dele ao mesmo tempo lisonjeava-o e preocupava-o. Se bem que, caso ela não achasse que precisava protegê-lo, não teriam se conhecido. E Harry não fazia a menor idéia do rumo que tomariam os acontecimentos se isso não tivesse acontecido. Talvez ele continuasse gostando de Cho --e ela, que agora demonstrava ligeiro interesse nele, talvez até quisesse algo com ele.
Os pensamentos de Harry estavam nesse rumo, quando Morgan, que passava discretamente pela sala comunal em direção à Mulher Gorda, chamou-lhe à atenção. Harry tomou um susto ao vê-lo sair da Grifinória. Com mais discrição do que Morgan, ele foi bem depressa ao seu dormitório, pegou a Capa da Invisibilidade e seguiu-o. Harry sabia perfeitamente para onde ele ia: a sala de troféus, atrás dela. Harry, invisível, chegou perto de Morgan o suficiente para abrir um papel que dizia em letras verde-brilhantes: "Ande logo com isso".
Em silêncio, Harry viu que estava certo: Morgan chegou até a sala de troféus e parou em frente à porta fechada. Respirou fundo e empurrou a porta, que se moveu num rangido.
Catherina estava no outro extremo da sala, e virou num susto.
--Alex! O que você faz aqui?
--Oi, Cathy. Eu vim aqui pra te dizer algo que é muito importante para mim.
Ela largou o pano com que limpava um grande troféu de bronze e olhou para ele.
--Pode dizer.--encorajou.
Morgan entrou na sala, e Harry, ainda com a Capa, ficou à porta. Viu que Catherina já suspeitava do que Morgan ia dizer, enquanto Harry já tinha certeza absoluta.
--Bom, Catherina... O fato é que... OK, vou falar de uma vez. Eu estou... Estou apaixonado por você.
Ela olhou para ele intensamente, tentando, sem sucesso, parecer surpresa.
--Você... Você vai ficar parada aí, só me olhando?
--Eu não sei o que dizer, Alex.--respondeu ela.-- Por quê? Você já deve saber perfeitamente sobre a minha posição...
--Sei, Catherina, sei disso tudo.--disse ele, andando na direção dela.-- Você já sabia sobre o que eu sinto há muito tempo, e justamente, é por isso que vim deixar tudo bem claro. Estou tentando me... Me interessar por outra, mas quero pedir algo seu antes.
Harry, cada vez mais enciumado, foi entrando mais na sala. Meus Deus, pensou ele, e se Morgan pedir...
--Um beijo.--disse ele, a três passos dela.--Prometo que depois disso te deixo em paz com...
--Não precisa dizer o nome.--interrompeu ela.--Mas puxa, Alex, agora você me deixou sem graça, não sei o que responder...
Responda não, pensou Harry, suplicante, por Deus, responda não...
--Por favor, Catherina...--insistiu Morgan, se aproximando.
--Ih, assim não.--disse ela, se desviando.--Já cansei de ser encurralada.
--Mas você vai...--tentou ele, mais uma vez.
--Ah, está bem.--rendeu-se ela.--Mas nada de muito cinematográfico, tá?
Morgan sorriu. Isso já era demais para Harry; descontrolado, ele tirou a Capa.
--Harry!--exclamou Catherina, no mesmo momento.
Morgan olhou para ele, cheio de fúria nos olhos.
--Acho que você ouviu tudo, não é?--disse ela, sem graça.
--Mais do que eu queria.--disse Harry, com a cara fechada.--Não acredito que você quase deixou ele te...
--Pois é, Potter, e graças a você, melou tudo!--resmungou Morgan.
Catherina riu.
--Acho que os dois precisam voltar à Grifinória.--disse.--Ainda tenho meia hora de detenção pra cumprir.
--Eu espero por você.--sugeriu Morgan.
--Não senhor. Você e o Harry vão me deixar cumprir o tempo, não é?
Sorrindo, ela empurrou os dois para a porta e fechou-os do lado de fora.
--Como se atreveu a fazer isso?--resmungou Harry no caminho, carregando a Capa nos braços (ele não queria que Morgan soubesse de suas propriedades mágicas).
--A fazer o quê?--inquiriu Morgan.--Graças a você, não fiz nada...
--Não me culpe.--disse Harry, intimamente satisfeito.-- Você devia parar de se rastejar, ela não gosta de você.
--Disso eu estou cansado de saber.--retrucou Morgan.--Ela está apaixonada por você. Desde o começo do ano.
Harry ficou extremamente vermelho e feliz, mas não quis acreditar que a coisa fosse assim tão perfeita.
--Ha-há-há.--disse.-- Você se supera na criatividade.
--Você está é perdendo tempo.--disse Morgan.-- Eu não ficaria apenas nas cenas de ciúmes com ela.
--Se você quer saber, eu já tentei beijá-la também. Pra seu governo, ela se afastou.
Quando Morgan ia responder, eles chegaram até a Mulher Gorda.
Harry foi ao seu dormitório quase saltitante e encontrou a cama de Rony vazia. Pronto, pensou, será que ele se meteu em encrenca?
Mas Catherina, olhando pela janela da sala de troféus, sabia que ele não estava em nenhuma encrenca.
--Ei, Rony.--disse Hermione.--Por que estamos aqui, afinal?
--Você nunca ficou com vontade de dar um passeio noturno?--respondeu Rony.-- O Harry também saiu, acho que foi atrás da Catherina.
--Mas isso não significa que...
--Depende do modo de como você vê a situação, Mione.
Ela não soube o que responder. Olhou pra ele, e ele pra ela. Assim ficaram por um longo tempo, até que finalmente os dois sentiram aquela sensação, aquele pressentimento de que enfim chegara a hora. Rony, meio nervoso, abraçou Hermione e a beijou.
Catherina desviou o olhar, achando que eles não gostariam nem um pouco de estarem sendo vistos. Ela não podia ouvir as conversas entre eles, mas isso nem era necessário.
Rony e Hermione não se soltaram tão depressa. Depois do beijo, ambos estavam muito vermelhos.
--É por isso que eu nunca gostei do Krum.--sorriu Rony.
Encabulada, Hermione retribuiu o sorriso, e eles se beijaram de novo.
E eles viveram felizes para sempre, pensou Catherina, enquanto voltava para a Grifinória.
--As previsões da Helga Hufflepuff são bem simples...
Ela só foi explicar a lição de Adivinhação no sábado de manhã.
--Leiam a primeira:
O leão perde para a serpente;
Perde o que lhe era mais valioso.
Mas à serpente isso custa sua força.
Leão perde, mas sobrevive.
A serpente voltará.
Lobo, leão, cão e fênix tentam impedir,
Mas a serpente é forte demais.
--Está muito na cara.--disse Hermione.--Até que eu não faço Adivinhação já percebi.
Harry e Rony continuaram sem entender.
--Bem, já que a ficha ainda não caiu, --disse Catherina.--O leão é Harry e a serpente é Voldemort.
Principalmente, quem estranhou a informação foi Harry.
--Mas eu não perdi para Voldemort.--disse.
--Perdeu o que você mais gostava no mundo.--disse Catherina.--Seus pais. A serpente perde sua força é a queda de Voldemort. Quem tenta impedir sua volta são lobo, cão, fênix e leão. Além de o leão ser você, Harry, o lobo é o prof. Lupin, o cão é Sirius e a fênix é o prof. Dumbledore.
--Ei!--exclamou Rony.-- Olhando por esse lado... Mas você mencionou Snuffles na redação?
--Lógico que não.--disse Catherina.-- Coloquei que esses animais poderiam ser os amigos do Harry. Mas vocês viram que ninguém passou na segunda interpretação?
--Posso ler?--pediu Mione.
--Claro.
A estrela brilha como a esperança,
Da coragem ela se mune.
Como a cobra recuperou sua força,
O leão precisa conseguir sua própria.
Não há como fazer isso sozinho:
Ao leão se unem tigre e onça,
Além da leoa.
A estrela e a leoa são um só:
O leão é mais munido de coragem,
Assim como o tigre tem determinação,
E a onça, a sapiência.
A cobra é dominante,
Mas ela não vê a força do leão.
E quem diria, se sua distração
Saiu o fim de ti, vilão.
--Parece narrar a queda final de Voldemort.--sugeriu Hermione.--Que ainda está por vir.
--Isso eu também percebi, mas quem são tigre, onça e estrela?--perguntou Catherina.
--É hoje a reunião da Ordem da Fênix.--disse Harry.--Podemos levar essas previsões.
--Estou ansioso pela reunião.--disse Rony, encontrando os olhos de Hermione e corando.
--Todos estamos.--disse ela, disfarçando.--Mas talvez os membros da Ordem saibam tanto quando a gente. Só sabemos que envolve Harry e a segunda queda de Voldemort.
--Que seja a segunda e a definitiva.--disse Harry.
Seguindo a rotina, mais tarde eles foram almoçar. Mal Harry se sentou para comer, viu Gina aproximar-se timidamente dele.
--Er... Harry? Preciso te contar algo...
Ele já ia encorajá-la a dizer o que era, quando seu olhar recaiu sobre a mesa dos professores, mais precisamente sobre a mulher sentada ao lado da profª Figg.
--Ah, Gina... Poderíamos falar outra hora?--balbuciou ele, sem olhá-la.
--Que foi, Harry?--perguntou Hermione, vendo Gina se afastar tão timidamente quanto viera.
--Estão vendo a mulher do lado da profª Melissa? Vocês têm noção de quem ela é?
Mione, Rony e Catherina balançaram as cabeças, negando.
--É Arabella Figg, minha antiga babá.
--Não brinca!--deixou escapar Rony.
--Ela deve ter vindo para a reunião à noite.--especulou Hermione.
Catherina não estava dando muita atenção à Arabella Figg, uma mulher já idosa, de cabelos brancos curtos, com longas vestes azul-claras, mas tomou um susto disfarçado ao perceber que ela a observava. Em instantes, a voz de Arabella ecoou em sua mente: "Preciso conversar com você. Às duas horas, na sala de Melissa."
Como seria muito suspeito responder também com Telepatia, Catherina apenas retribuiu o olhar da mulher e acenou afirmativamente com a cabeça.
Estavam jogando Snap Explosivo na sala comunal, quando Catherina disse:
--Gente, vou devolver um livro na biblioteca, tá? Volto daqui a pouco.
Para disfarçar, foi até o dormitório e pegou o primeiro livro que viu pela frente, indo em seguida na direção da sala da profª Figg.
Temerosa, parou antes de abrir a porta, com a mão na maçaneta. O que Arabella queria com ela? Respirou fundo e abriu a porta.
--Estava na dúvida, não é?--disse Arabella, que estava sentada na cadeira de Melissa.
--Sim.--respondeu Catherina.--Antes de tudo, gostaria de saber o que a senhora quer comigo.
--Melissa e Sibila me mandaram uma carta, dizendo que descobriram a última vidente. E ela é você.
Catherina não ficou muito surpresa.
--Eu já esperava isso, mas... Por que pediram para a senhora me confirmar isso?
--Melissa é uma vidente também. É mais velha do que parece, assim como eu. Sibila Trelawney, mesmo não sendo uma sensitiva de verdade, te percebeu. A última previsão de minha irmã diz: "A mais jovem vidente é a protetora da esperança".
--A senhora não respondeu à minha pergunta, sra. Figg.
--Eu protegi "a esperança" por quatorze anos, sem ser vidente. Foi bastante difícil, eu sou poderosa mas não tanto assim, e agora é sua vez.
--E esperança é Harry Potter.--sentenciou Catherina.
--Exato. Não é preciso ser vidente para isso, não é?
--Por que Harry precisa de proteção? Ele é um garoto de muita fibra.
--O destino dele é vencer Voldemort. Mas ele ainda não está pronto e sua missão é mantê-lo vivo até que esteja.
--Ele soube se manter sem mim e sem a senhora em Hogwarts, durante os últimos cinco anos.
--Harry não soube, mas desde o dia em que ficou órfão ele teve uma "vida reserva". Não sei se você já ouviu falar no Feitiço da Vida. Enquanto ele estava longe, meu sopro de sobrevivência foi inserido numa finíssima corrente de bronze. Esta corrente sempre esteve no pescoço de Dumbledore, eternamente escondida por baixo de suas vestes. Caso algo conseguisse matar Harry, Alvo teria uma hora para romper essa corrente. Minha vida passaria a Harry, e eu morreria.
--Incrível.--murmurou Catherina.-- E agora a vida reserva será a minha?
--Sua vida é quase tão importante quanto a dele, e por isso você apenas precisa atenuar o perigo que o ronda. Não saia de perto dele, nunca. Melissa irá ensinar-lhe a ler a aura das pessoas, e isso será muito útil para você.
--Eu já protejo Harry desde o começo do ano.
--Eu sei disso. Alvo me contou sobre alguns dos chamados.
--Sra Figg... Eu preciso fazer uma pergunta muito importante.
--Diga.
--A senhora sabe o que eu fazia na casa do Harry no dia da queda de Voldemort?
--Todos terão a resposta de noite.
--Por que você demorou tanto, Catherina?--perguntou Harry, ao vê-la voltar à sala comunal quase uma hora depois.
--Madame Pince estava enrolada até o pescoço, tive que esperar um tempão até que ela me atendesse. Onde estão Rony e a Mione?
--Foram fazer uma visita a Dobby na cozinha. Bem, isso é o que eles disseram. Nós dois sabemos perfeitamente o que eles estão fazendo de verdade.
Catherina sorriu, e naquele momento ela pensou em contar tudo a Harry. Não só o fato de ser vidente, como tudo... "Não saia de perto dele, nunca", dissera Arabella Figg. Com nunca, talvez ela quisesse dizer até que ele estivesse pronto para vencer Voldemort. Quanto demoraria isso? E o que ela faria da vida depois disso? Se é que ela chegaria viva até lá... Harry a observava, intrigado.
--O que foi, Catherina? Você está bem?
--Estou bem, Harry. Não há nada de errado.
Ela tinha que ser forte.
