Harry Potter e a Ligação Silenciosa

Capítulo XIII – Algumas revelações

Às quinze para as onze da noite, Harry, Rony e Catherina se encontraram na sala comunal. Estavam ansiosos pela reunião da Ordem da Fênix, contentes por fazerem parte da grande luta contra Voldemort. Harry, além da Capa da Invisibilidade, trouxe o Mapa do Maroto.

--Podemos topar com Filch no meio do caminho.--advertiu ele.

--Sem problemas.--retrucou Rony.--Se formos pegos, não acontece nada.

A Capa já era muito pequena para encobrir quatro adolescentes de quinze anos com facilidade; conseqüentemente, tiveram que ficar bem mais próximos uns dos outros do que o normal -- idéia essa que agradou muito a Harry, ficar tão próximo dela de novo.

Quando chegaram em frente à gárgula, tiveram que esperar que Filch passasse, em silêncio.

--Pastilhas de hortelã!--disse Harry, observando o ponto correspondente ao zelador ir longe. A gárgula que guardava o escritório de Dumbledore saltou para o lado e eles subiram a escada espiral, chegando finalmente ao seu destino. Assim que abriram a porta, todas as pessoas naquela sala viraram- se para eles, já sem a Capa.

A sala parecia ter misteriosamente aumentado de tamanho; móveis haviam sido arrastados e no centro da sala havia uma grande mesa retangular, à volta da qual várias pessoas estavam sentadas. Dumbledore olhou para eles e levantou- se.

--Estávamos esperando por vocês.--disse.

Em volta da mesa eles viram várias pessoas conhecidas: a profª McGonagall, a profª Vector, prof. Flitwick, Snape, Arabella e Melissa Figg, Sibila Trelawney, Sirius, Lupin, Nádia e Mundungo Fletcher, um senhor de meia- idade, de cabelos grisalhos, distinto e bem-vestido.

--Sejam bem-vindos.--disse Dumbledore, indicando quatro cadeiras vagas entre Nádia e Sirius. Harry, Rony, Hermione e Catherina ocuparam esses lugares.

--Acredito que a maioria conheça nossos novos agregados.--começou Dumbledore.--Mas para quem não os conhece ainda, estes são Ronald Weasley, Hermione Granger, Catherina McFisher e, claro, Harry Potter.

Os bruxos que eles não conheciam acenaram afirmativamente.

--Vamos começar nossa reunião como sempre. Gostaria que me contassem o que conseguiram neste último mês.

Harry ficou abismado com a perspicácia das histórias contadas por alguns dos membros da Ordem.

--No final das contas não consegui muita coisa. Nott conseguiu matar o casal Gramble, e eu levei as gêmeas deles para um abrigo do Ministério.-- terminou Davis Colbert, um homem de cerca de trinta anos, forte e disposto.

--Ao menos você conseguiu alguma coisa, Davis.--disse Dumbledore.

Outras histórias foram contadas, uma mais cheia d ação do que a outra. Quando essa parte da reunião acabou, Dumbledore disse:

--Acho que todos que estão aqui devem saber desde já que há duas videntes sentadas nesta mesa até agora.

Catherina ficou arrepiada; ela e Melissa se entreolharam.

--Como vocês sabem, a profª Melissa Figg é uma delas. Catherina McFisher é a outra.

Ela podia sentir os olhares de todos os membros da Ordem da Fênix sobre ela; a surpresa estava estampada nos rostos de Harry, Rony e Hermione.

--E eu tenho uma pergunta que precisa ser respondida.--disse ela.

--Pois diga.

--Qual é a relação que eu tenho com a primeira queda de Voldemort?

--A solução disso está com o prof. Snape.--disse Dumbledore, olhando-o.-- Trouxe a Poção da Lembrança, Severo?

Snape pôs a mão num bolso de suas vestes, e colocou um vidro com uma poção cor-de-laranja na mesa.

--O que é isso?--perguntou Harry.

--Irá trazer as lembranças mais marcantes da época em que ela era um bebê à tona de sua mente.--respondeu Snape, secamente.--Já está pronta. Pode ser tomada agora.

Catherina olhou novamente para Melissa Figg.

--Vou tomar.--disse.

Ela estendeu a mão para o vidro, abriu-o e sem pensar mais no assunto, tomou tudo em três goles.

--Em quanto tempo fará efeito?--disse Nádia.

--Em cerca de três horas.--retorquiu Snape.-- Por isso é provável que ela sonhe ou de repente acorde lembrando de tudo.--ele fez uma pausa.-- Agora eu gostaria de mudar de assunto.

Catherina sabia exatamente o que ele estava para dizer.

--Fale.--encorajou Dumbledore.

--Recebi uma coruja negra esta manhã. Estou ameaçado de morte por Voldemort.

O rosto do diretor tomou uma expressão preocupada.

--E o que vai fazer?

--Pensei no Fidelius, mas é sempre um risco, e se eu não escolher um fiel que corresponda à palavra...

--De todo modo, Severo, teremos que substituí-lo. Alguém aqui conhece alguma pessoa que possa fazer isso?

O lugar ficou em silêncio por alguns instantes, até que Mundungo Fletcher dissesse:

--Eu posso ficar no lugar do Severo.

Rony olhou para Harry, com uma das expressões mais felizes que ele já havia visto no amigo. A idéia de não ter mais aulas com Snape era boa demais para que Harry não sorrisse por dentro.

--Obrigado, Mundungo.--disse Dumbledore.--Imagino que nosso ilustre prof. Flitwick pode realizar o Fidelius.

--Claro.--disse o miúdo professor, se levantando.-- Mas é necessário que o fiel seja logo escolhido.

--Eu posso ser o fiel.--adiantou-se Dumbledore.

Harry olhou o diretor. Seria muito óbvio, pensou ele, qualquer adivinharia que ele era o fiel... O ideal seria que fosse alguém inesperado.

--Professor --disse Harry.-- Seria melhor se... Se eu fosse o fiel do prof. Snape, não acha?

Ninguém esperava que ele se propusesse disso. Afinal, o filho de Tiago Potter estava se propondo a proteger Severo Snape! Uma afirmação desmentia a outra.

--Harry tem razão.--apoiou Nádia.--Ninguém esperaria que ele fosse o fiel.

Snape olhou para Harry, como que o examinando, a fim de saber se poderia confiar sua vida a ele.

--Professor, eu estou te devendo.--disse Harry, momentaneamente esquecendo o seu costumeiro ódio pelo professor de Poções.-- Pode confiar em mim. Não sou o Rabicho.

Uma leve tensão passou pelos presentes quando Harry mencionou Rabicho e sua traição.

--Muito bem.--disse Snape, quebrando o silêncio.-- Potter, então você será o fiel do meu segredo.

Rony, Hermione, Catherina e Nádia olharam cheios de admiração para o amigo.

--Estou orgulhoso de você, Harry.--disse Dumbledore.-- Tudo em ordem então, prof. Flitwick?

O professor fez que sim com a cabeça.

--Severo, sr. Potter, venham aqui.

Agora, Harry seria o fiel de Snape, coisa totalmente inesperada, exatamente igual a Poliakoff e Karkaroff. Todos observaram os dois se levantarem. O prof. Flitwick sacou sua varinha, e primeiro, apontando-a para Snape, murmurou uma série de palavras em latim que Harry não conseguiu gravar. Dali a pouco, a varinha do professor estava sobre sua cabeça. Enquanto Flitwick realizava o feitiço, Harry encontrou o olhar de Sirius, que não parecia nem um pouco satisfeito com o perigo a que seu afilhado estava sendo exposto, embora não tivesse se manifestado.

Depois disso um brilho com as sete cores do arco-íris, não muito forte, envolveu Harry e Snape. Quando este sumiu, a imagem do rabugento professor de Poções ficou um pouco opaca e fora de foco.

--É assim mesmo.--explicou Flitwick.--Nós ainda podemos vê-lo, mas os Comensais da Morte e Voldemort não sentirão sua presença por nada, a menos que...

--Eu nunca faria isso.--assegurou Harry, interrompendo.

--Bom, agora está feito.--disse Dumbledore.-- Creio que agora está na hora de passar as instruções... Quero que continuem a manter a proteção especial aos Granger e os Weasley --o olhar do diretor passou por Rony e Hermione.-- . Como vocês mesmos disseram, tentem evitar os ataques de ouviram falar, mas tomem cuidado com as ciladas e alarmes falsos. Mundungo, estamos esperando por você na segunda, tudo bem?

O sr. Fletcher assentiu.

--Falando agora a Sirius e Remo... Continuem a reunir todas as criaturas a convencê-las a nos apoiar. Hagrid não pôde vir hoje, foi com Madame Maxime falar com os gigantes nas montanhas. Arabella, gostaria que continuasse na proteção de trouxas com Arthur Weasley.

Rony mexeu-se na cadeira. Então, o sr. Weasley também era parte da Ordem da Fênix!

--Melissa, peço que continue suas aulas, e marque algumas extras com a nossa nova vidente. E não hesite em parar alguma aula se tiver alguma previsão... O mesmo para você, Catherina. Embora não tenha prática para formular previsões, não pense antes de tentar. Quanto à Rony e Hermione, quero que fiquem de olho nos alunos de todas as Casas, procurando jovens Comensais. Gostaria que fizessem uma relação com seus nomes. E, Nádia, agora que você já foi selecionada novamente, na segunda feira você pode ir para a Grifinória. E, Harry... Acho que nem preciso dizer para me contar imediatamente sobre qualquer sonho seu e qualquer ataque. Bem, creio que é só isso...

Harry não pôde deixar de reparar na expressão cansada do diretor. Não havia ninguém que merecesse mais a ver a recompensa de seu trabalho no mundo -- a queda definitiva de Voldemort.
Catherina não conseguia pegar no sono. Em pouco tempo saberia por que Voldemort era tão interessado em matá-la. Não sabia se era coisa da sua cabeça, mas ela jurava que podia sentir a poção agindo dentro dela.

Seu relógio marcava duas da manhã. A qualquer momento ela iria se lembrar... Repousou a cabeça no travesseiro e tentou relaxar, mas as batidas de seu coração muito aceleradas, não a deixavam. Ela não sabia se estava preparada para o que ia se lembrar...

A campainha da casa do Potter é tocada. Ela, apenas um bebê, olha para sua mãe, que tinha cabelos pretos e curtos, olhos castanhos escuros e expressão preocupada, e em seguida vira-se para seu pai, um homem alto e loiro de olhos verdes, que tinha um jeito de moleque indisfarçável, e também demonstrava séria preocupação.

A porta se abriu muito devagar, e Tiago Potter, cujo corpo estava fora de foco e opaco como Snape ficara, olhou-os e mandou que entrassem.

--Ah, vocês vieram... Conseguiram as passagens para o Brasil?--disse ele.

--Sim.--respondeu Pedro McFisher.--Partiremos hoje à noite. Poderia ficar com Catherina por um tempo? Laura e eu precisamos ir buscar os passaportes.

Lílian Potter entrou na sala e cumprimentou os McFisher, sorrindo com doçura para a menina no colo de Laura.

--Claro que podemos ficar com ela.--disse Lílian.-- Harry e ela se dão tão bem... Serão grandes amigos quando maiores.

Mal sabia ela que já eram.

Lílian pegou Catherina no colo, e, agradecidos, Pedro e Laura McFisher foram embora. Eles supunham que seria seguro deixar Catherina com eles, já que estavam sob o Fidelius e Voldemort não os encontraria.

Isso era o que eles pensavam.

Imagens difusas passaram pela mente de Catherina, e ela conseguiu distinguir algumas. Uma delas era de Lílian Potter levando-a para um quarto, onde ela encontrou um bebê da idade dela, de olhos também verdes, e ela se lembrou de ter ficado feliz ao vê-lo.

A noite chegou, e com ela, Voldemort. Ela estava com Harry, brincando no quarto, quando a bolinha com que se divertiam rolou pra baixo da cama. Ela foi buscar, e Lílian entrou no quarto batendo a porta. Naquele preciso momento, Tiago Potter estava duelando com Voldemort. Lílian pegou Harry no colo, e espreitou Catherina embaixo da cama. "Fique aí, Cathy. Não saia por nada", disse ela, enquanto apertava Harry em seu colo.

A porta foi derrubada por Voldemort, que vinha atrás de Lílian e Harry. Tiago já estava morto. Catherina foi até a borda da cama, e viu quando Lílian morreu. Quando a varinha de Voldemort apontou para Harry, ela foi tomada de tamanho desespero que a fez chorar. Apertou o broche em sua roupa com a mãozinha e não foi ouvida por Voldemort, que ao gritar "Avada Kedavra!", viu seu feitiço virar contra ele. Quando ele fugiu, apenas um espírito, ela saiu e viu seu amiguinho com aquele terrível corte na testa, chorando.

Um vislumbre de várias imagens então confundiu sua cabeça, indicando a passagem de tempo. Pela manhã, Hagrid apareceu. Ele encontrou o corpo de Tiago e foi até o quarto, esperando encontrar Harry e Lílian mortos também. Ao abrir a porta, ele teve um dos maiores sustos de sua vida: os dois bebês dormiam na cama do casal Potter, e o corte de Harry estava seco. Naquela noite ele seria deixado na casa dos Dursley.

Hagrid, incrédulo, pegou as duas crianças. Eles foram levados por ele até uma casa não muito distante, com várias janelas fechadas e apenas a porta da frente aberta. Hagrid nem precisou chegar até ela para que Pedro e Laura McFisher viessem correndo até ele, doidos de preocupação.

--Catherina!--exclamou Laura, pegando a menina.

Pedro parecia incrédulo.

--Hagrid, mas como... Como eles podem estar vivos?

--Não sei, Pedro, mas o caso é que, de alguma forma, eles sobreviveram a Você-Sabe-Quem. Ele acabou.

--E o que... O que vai fazer com Harry agora?

--Vou procurar Dumbledore, e contar a ele que achei os dois bebês...

--Hagrid, talvez seja melhor você dizer que encontrou apenas Harry. Se alguém perguntar por nós, Catherina foi morta por um Comensal no ataque à creche bruxa de ontem, e só nós dois fomos para o Brasil.

--Por que isso, Pedro?

--É melhor que ninguém saiba dela. Harry vai ser famoso, e acho melhor que Catherina não divida essa fama com ele. Vamos começar vida nova.--disse Laura.-- Por favor, Hagrid, guarde este segredo.

--Está bem. Você sabe de Sirius?

--Não, ele sumiu... Talvez a moto que ele tem seja útil caso você queira encontrar Dumbledore... Mande lembranças a meu tio e, por favor, não diga nada a ele.--disse Pedro.

--Certo.--respondeu Hagrid.--Ninguém saberá.

Catherina acordou num choro desesperado. Fazia tanto barulho que acordou Hermione, Parvati Patil e Lilá Brown, que dividiam o dormitório com ela.

--O que está acontecendo?--perguntou Lilá, com a voz embargada de sono.

Hermione olhou significativamente para Catherina.

--Lembrou?

--Sim, --respondeu ela, regulando sua respiração.

Parvati e Lilá nem perguntaram do que elas falavam, pois já dormiam de novo.

Catherina passou a noite em claro, revendo cada lembrança. A da morte de Lílian fazia lágrimas brotarem em seus olhos, e foi assim que sua importância ficou esclarecida. Uma lembrança com algumas revelações.