Harry Potter e a Ligação Silenciosa
Capítulo XV – A volta de Hagrid
Eles foram correndo até o castelo, decididos a contar tudo a Dumbledore, mesmo já preocupados com o estado em que ele ficaria.
--Como vamos fazer?--perguntou Hermione.--Tenho certeza que Dumbledore já está dormindo.
--Eu vou chamá-lo.--disse Catherina.--Por Telepatia. Direi que vamos esperá- lo em seu escritório.
Ela pôs a mão na varinha e fechou os olhos, concentrando-se. Instantes depois, eles tomavam o rumo do escritório do diretor.
--Pastilhas de hortelã!
Eles subiram apressadamente os degraus e entraram no escritório. Dali a pouco chegou Dumbledore, de pijamão estrelado azul.
--O que houve?--perguntou.
--Voldemort.--disse Harry.--Está atacando o coquetel!
Dumbledore, que estava se sentando, parou no meio do caminho e se levantou novamente.
--Vou chamar Melissa e Minerva.--disse.-- Estou indo pra lá. Voltem aos seus dormitórios e tentem dormir, amanhã vocês têm aula. Vou impedir Voldemort. Talvez eu o pegue agora.
E saiu.
--Mas que longa conversa.--comentou Rony.
--Dissemos o suficiente.--disse Harry.-- Mas agora eu não vou conseguir dormir mesmo.
Eles voltaram lentamente até a Grifinória, e na sala comunal encontraram os gêmeos Weasley, junto de Gina. Ela chorava, sentada numa poltrona em frente à lareira.
--Harry!--ela exclamou.
--Mamãe nos aparatou depois de vocês.--disse Fred.--Temos uma noticiazinha bem ruim... Quando Diggory aparatou vocês, Você-Sabe-Quem ficou uma fera. Ele matou Diggory.
Harry sentiu que tomava um soco no estômago.
--Matou?--repetiu Mione, horrorizada.
--Pois é. --disse Jorge.--Aí mamãe gostou da idéia dele e fez o mesmo com a gente.
--Nós acabamos de falar com o Dumbledore.--disse Rony.-- A Figg e a McGonagall estão indo com ele pra lá. E o papai?
--Tentou acertar Você-Sabe-Quem enquanto ele matava Diggory, mas não deu certo. Percy, Carlinhos e Gui vão ajudá-lo agora.
--Tomara que ninguém mais morra.--disse Catherina, abraçando Gina, que ainda chorava.--Quem Voldemort pensa que é? Um deus, que manda na vida e na morte dos outros?
Com exceção de Harry e Hermione, todos se encolheram à menção do nome Voldemort.
--Vou deitar.--disse Harry.--E torcer para que tudo dê certo.
--É o máximo que podemos fazer.--disse Catherina.
Ele chegou ao dormitório com Rony e encontrou um vidro de Poção do Sono na cabeceira de sua cama, e um bilhete. "Creio que as lembranças do baile não vão te deixar dormir, por isso achei que gostaria disso. Dumbledore." Mal sabia o diretor o quanto as lembranças de Harry seriam o inverso do que ele esperara. Harry bebeu tudo e apagou na hora.
Com Catherina já foi o contrário. Ela passou um tempo acalmando Gina. Quando chegou no dormitório, chegou na cama e começou a chorar. Ela só se permitia demonstrar fraqueza quando ninguém estivesse ali para ver.
Na manhã seguinte, todos estavam cansadíssimos. A única boa notícia naquele café da manhã foi Nádia, que a partir daquele dia também era uma grifinória.
--Nossa...--murmurou ela, ao ver a cara de cansaço dos quatro.-- Que bonde atropelou vocês?
--Um chamado Voldemort.--disse Harry.--Ah é... Seja bem-vinda à Grifinória.
--Valeu pela lembrança.--disse Nádia.--Mas o que aconteceu agora?
--Voldemort atacou o coquetel do novo Ministro.--disse Catherina.--Ele nos viu. Se não fosse o sr. Diggory, ele teria nos matado.
Nádia ergueu as sobrancelhas.
--Não brinca.
--Bem que a gente gostaria muito de estar brincando.--disse Hermione.-- Espere só o Profeta Diário.
Não deu outra: na primeira página, apareceu uma notícia intitulada "O pior ataque", que narrou o atentado da noite passada, mencionando que quando os professores de Hogwarts --Melissa, McGonagall e Dumbledore-- ele disse algo sobre 'um tal de Supraforce' e sobre matar Harry Potter, desaparatando em seguida. Seguiam-se detalhes, depoimentos e lista de vítimas fatais. Todos os dias agora o Profeta Diário publicava um balanço de todos os mortos. O único nome conhecido era mesmo o de Amos Diggory.
--Pensem assim.--disse Nádia, com cautela.--Poderia ter sido pior... Ele quase pegou vocês, quase pegou o Supraforce.
--Fico me perguntando quando isso irá acabar.--disse Harry.-- Estou cansado de ouvir que estou destinado a vencer Voldemort. Só me importa agora saber quando será isso.
--No ritmo dos acontecimentos, não vai demorar muito.--disse Hermione.
--Ah, Nádia, apesar de tudo, temos uma ótima notícia aqui!--disse Catherina.-- Adivinha qual é o mais novo par de namorados das redondezas?
Hermione corou no mesmo instante. Rony, do lado dela, sorriu e passou o braço pelos ombros da namorada.
--Quem mais poderia ser?--disse Nádia, sorrindo.--O casal Rony e Hermione Weasley! Não acham que soa bem?
--Otimamente!--concordou Rony, sorridente.
Apesar da véspera conturbada, Nádia e seu bom-humor conseguiram desviar as preocupações dos quatro, embora a própria tenha ficado bastante desconfortável durante as aulas de Feitiços e Transformações. Graças a Malfoy, é claro. A última coisa que ele esperava era ver Nádia com o escudo da Grifinória nas vestes, sentada ao lado de Catherina. Ele ficou uns instantes olhando-a, meio sem fôlego, até que voltou ao normal e se recompôs, graças a uma bela cutucada de Crabbe.
--Parece que alguém tomou um susto!--disse Rony, que estava sentado na frente dela.
Durante a aula de Transformações, Nádia percebeu que o olhar de Malfoy continuava nela. Resolveu mandar uma mensagem telepática a ele e esclarecer tudo. É claro que ele vai receber, pensou ela, afinal de contas Draco teve poder suficiente para matar Warbeck. Nádia esperou que Catherina estivesse totalmente absorta na aula e pôs a mão na varinha, que estava guardada nas vestes. O mais baixo que pôde, murmurou "Telepatio!" e pensou na mensagem.
Depois disso, olhou para Malfoy, esperando a reação dele. Nada. Nem mesmo um susto disfarçado ou uma olhada para ela. Ele não recebeu a mensagem, pensou Nádia, mas como assim? Quem tem poder para lançar uma Maldição Imperdoável tem todo o potencial para saber praticar Telepatia...
--Seu pai já está preparando a aula de amanhã?--perguntou Hermione à Nádia, depois do jantar.
--Já.--respondeu ela.-- Não vejo a hora. Deve ser muito legal ter aulas com meu próprio pai!
--Realmente.--disse Harry, mexendo com a comida.--Acho que estou precisando falar com Dumbledore... Saber como foi ontem.
--Talvez seja melhor esperar a reunião da Ordem da Fênix do mês que vem.-- disse Nádia.--Além do Diggory, quase ninguém foi morto.
Catherina levantou-se.
--Bom, eu vou indo. Aula de "vidência".
--Boa sorte.--disse Harry.
Catherina caminhou até a sala da profª Figg. No caminho, ela teve uma visão, tão breve e efêmera como um relâmpago: uma coruja de penugem escura trazendo uma carta num envelope cinza para Harry, numa manhã qualquer. Depois da visão, ela sorriu: talvez fosse uma carta de Sirius falando sobre a próxima reunião da Ordem. Entrou na sala.
--Olá, Catherina.--cumprimentou Melissa Figg.
--Olá.--devolveu ela.--Bem, aqui estou. Como começo?
--Que aura radiante.--comentou a profª Figg.--Amarela e vermelha. Está contente hoje?
--Na verdade, só de bom humor. A Arabella me disse que eu aprenderia a ler auras também.
--Sim. É a coisa mais simples da arte da Vidência, e a mais antiga também. Consiste em olhar nos olhos da pessoa cuja aura você quer ler...
--Desculpe, professora, mas eu quero começar mesmo do zero. O que é uma aura?
--É uma atmosfera pessoal que cada pessoa carrega consigo. Há a efêmera e a permanente; eu acabei de ler a sua efêmera. Sua aura pode informar de você tanto seu humor quanto grande parte da sua personalidade. Quando você olha nos olhos da pessoa, você vê a permanente. O brilho forte ou fraco mostra a vontade de viver e o otimismo da pessoa. O grau de arrepio que segue o olhar indica o teor de coragem. O humor é visto na aura efêmera; é só olhar para a pessoa com os olhos fora de foco, e as cores da luz que você nota à volta dela indica se ela está alegre, enraivecida, triste ou entediada, entre outros estados de espírito. As pessoas normais, sejam trouxas ou bruxos, não notam nada disso. Eu já li a sua aura, e agora quero que leia a minha.
Catherina olhou o fundo dos olhos da professora.
--Ah, bem... A senhora dá valor à vida, mas sabe que a morte vem para todos e não a teme. Creio que sua coragem é bastante alta, bastante mesmo, mas não podia ser de outro jeito, depois de ontem.
--Agora, a aura efêmera, que é mais fácil.
Fora de foco, Catherina notou à volta da professora um verde arco-íris, um azul marinho...
--Quanta preocupação, professora... Fique mais calma... Posso ver que grande parte da sua esperança está depositada em mim, e asseguro-lhe que vou cumprir com tudo... Procure ficar mais tranqüila...
--Muito bom, Catherina. Peço que, para amanhã, me mostre o que analisou nas auras de cinco pessoas diferentes. Até lá.
--Até amanhã, professora.
--Agora temos aula da feminista maníaca.--disse Rony, enquanto iam para a aula de Trato das Criaturas Mágicas.--Talvez hoje ela traga uma sereia.
--Ou um tritão, que prefira as mulheres.--disse Harry.
Desanimados, eles foram como de costume para a cabana de Hagrid, esperando encontrar a profª Grubbly-Plank, mas deram de cara com o próprio Hagrid. Ele alegou que esteve muito ocupado nos últimos meses, mas agora continuaria dando aula.
As novas criaturas que ele trouxe chamavam-se serpeni. São cobras azuis com três pernas. Estranho? Os alunos também acharam.
--Arre, Hagrid, de que planeta isso veio?
--As pernas deles não são explosivas, não é?
--Eles vão ficar maiores e vão criar presas venenosas, eu aposto.
Hagrid deu um sorriso culpado.
--Na verdade, vão sim.
Hermione, que observava os bichos com interesse, afastou-se deles na mesma hora. Hagrid, como era de se esperar, achou um jeito discreto de falar particularmente com Harry.
--Acho que você já sabe o que eu andei fazendo.--disse, enquanto entravam na cabana para buscar o que ele julgava que alimentaria os serpeni.-- Hoje vou à Floresta, pra falar com os centauros, os unicórnios e a minha Aragogue. Como eles já te conhecem, pensei que não teria problema de vocês irem comigo.
Harry imaginou Rony numa segunda visita a Aragogue.
--Apareçam às nove, tudo bem?
Harry engoliu em seco e fez que sim com a cabeça. Quando voltou para junto dos colegas, reparou que Catherina não parecia nem um pouco satisfeita.
--Que foi?
--McMillan.--disse ela.-- Está provocado a Ná. Pelo jeito a nossa nova pedra no sapato é ele, já que o Malfoy virou samaritano apaixonado.
Nádia ficou ligeiramente pálida ao lembrar de Draco. Como ela já era bastante branca, ninguém percebeu.
Nas aulas da tarde, eles tinham Poções. Os cinco pegaram lugares bem na frente da sala, e dali a pouco entrou Mundungo Fletcher, com uma pilha de livros na mão. Na escrivaninha havia um caldeirão com vários tufos de ervas de diferentes formas e tons de verde à sua volta.
A aula dele deixou-os muito mais à vontade, e Rony mostrou-se muito disposto, bem mais que o normal na melhor das aulas.
Durante o jantar, Alícia aproximou-se de Harry e Rony.
--Na sexta vou abrir os treinos para os jogadores do ano que vem, já que só vão sobrar vocês dois. Vão espalhando, precisamos das três artilheiras e dos batedores.
--OK.--concordou Harry.
--Vamos espalhar.--disse Rony.
Alícia afastou-se.
--Acho que vou ver se a Gina vai querer ser artilheira.--comentou Rony.-- Nas férias ela se deu muito bem jogando no quintal.
--A Ná também vai se candidatar, não é?--disse Catherina, pegando a amiga de surpresa.
--Ah, não, ficou doida? Na Lufa-Lufa eu era só apanhadora...
--Ué, nada de impede de ser artilheira!--apoiou Hermione.
--Eu vou ao treino, mas com uma condição.--impôs Nádia.-- A Catherina também vai ter que ir!
--O quê?--disse ela.-- A doida aqui é você, desde quando eu jogo quadribol?
--Eu também nunca tinha jogado quando entrei pro time.--disse Harry.--Agora tá decidido: vocês três vão treinar!
--Não senhor.--disse Hermione.-- Eu nem sei montar numa vassoura!
--Ao menos existe uma coisa do mundo que você não sabe.--sorriu Rony.
Harry não falou nada sobre visitar Hagrid a tarde toda. E estava na hora de tomar uma atitude.
--Ah, sim, a propósito... O Hagrid nos convidou para fazer uma visita a ele. Às nove horas.
--Mas onde o Hagrid está com a cabeça?--disse Hermione.--Ele é um professor e está nos pedindo para infringirmos o regulamento da escola!
--Nossa, me desculpe, senhorita monitora.--disse Rony, que estava abraçado com a namorada.-- Pôxa, Mione, quem vê pensa que vai ser a primeira vez...
Isso tudo porque Harry ainda não havia contado sobre a visita aos seres da Floresta Proibida.
Às nove horas, os cinco reuniram-se no dormitório de Harry. Hermione, pela qualidade de monitora, poderia ir até o banheiro dos monitores, mesmo de noite, e por isso foi ela quem abriu o retrato da Mulher Gorda enquanto os outros passavam embaixo da Capa, inclusive Nádia, que agora fazia parte da turma.
Atravessaram os jardins em direção à cabana sem nenhum problema. Hagrid atendeu-os na hora.
--Olá.--cumprimentou.--Me esperem um instante. Vou pegar uma capa qualquer e já vamos.
Os quatro olharam para Harry.
--Aonde nós vamos?--disseram, em uníssono.
--Acho que vamos para a...
--Floresta Proibida.--disse Hagrid, com Canino do lado.--Conseguir aliados.
--Que brincadeira de mau gosto...--disse Hermione.
--Ora, Harry não contou a vocês? Vou conversar com Aragogue também.
Rony ficou subitamente pálido. A última lembrança que ele tinha da depressão das aranhas não era lá muito boa.
Olhando para Nádia, Harry achou que ela estava doida para uma aventura e não hesitaria um instante em ir. Hermione parecia inconformada e Rony, apavorado. Catherina? Parecia impassível, até mesmo um pouco distraída.
--Vamos, então?--disse Hagrid.
O queixo de Hermione caiu, como se a se perguntar se aquela maluquice era mesmo real. Harry, Nádia e Catherina deram um involuntário passo à frente. Rony disse:
--Vocês têm certeza de que querem ir? Eu não sobrevivo a mais uma visita a Aragogue.
--Você e Hermione podem voltar para o castelo.--sugeriu Hagrid, cauteloso.
--Mas...--murmurou Hermione, se recompondo.-- Hagrid, você endoidou? Levar alunos de Hogwarts para a Floresta Proibida? Todo ano, Dumbledore ressalta que não podemos ir lá de jeito nenhum! Sem falar que devíamos estar na cama! Eu não sei se vocês três --ela continuou, indicando Harry, Nádia e Catherina com a cabeça.-- querem quebrar mais uma regra ainda: desacato ao monitor! Eu vou voltar para a Grifinória, estudar para os N.O.M.s, que inclusive são semana que vem, e dormir!
Virou as costas e começou a ir para o castelo.
Os outros estavam sem graça. Hagrid, que acabara de perder todo o ânimo, disse:
--Ela está certa. Estou doido mesmo. Voltem para o castelo, andem. Eu falo com os monstros, levo mais jeito para isso mesmo...
--Desculpe a Mione, Hagrid.--disse Rony, desconfortável.-- Ela perdeu o controle... Ela não é sempre assim.
--Tudo bem, Rony. Até mais...
Hagrid deu as costas lentamente, e foi com Canino para a Floresta Proibida.
