Capítulo Dezessete - Ela se Esclarece, e Enfim...


O dia vinte e quatro voou. Harry já havia decidido; ia enfrentar Voldemort, e se morresse, ao menos seria o primeiro, de modo que não veria a morte de mais ninguém. Voldemort tivera a audácia de ameaçar Gina em sonhos porque ele sabia que ela ficaria assustada e contaria tudo a ele. Gente decente é tão fácil de manipular, dissera o filho de Bartô Crouch no ano anterior. E isso lembrou algo a Harry...

Naquele mesmo dia vinte e quatro de junho fazia um ano exato que Cedrico estava morto. Fazia um ano que o falso Moody recebera o fatal beijo do dementador... E antes que Harry pudesse impedir sua mente, as imagens da Terceira Tarefa começaram a aflorar... Cedrico sob a Cruciatus de Krum, que estava sob a Imperius do falso Moody...

--Você precisa superar isso, Harry.

Catherina dirigiu-se a ele, que estava num cantinho da sala comunal. Era de tarde.

--É, eu sei disso.--respondeu ele, acostumando-se com a leitura de mentes da garota.

--Aura apreensiva e preocupada... O que foi, Harry?--perguntou ela, fingindo que não sabia.

Harry viu-se encurralado. O que responder? Ele tinha certeza que a última coisa a dizer seria a verdade.

--Não é nada especial. Hoje é a reunião da Ordem da Fênix, não é?

--Não mais. Na aula de Vidência, a profª Figg me disse que Dumbledore saiu, pois soube de um ataque que vai acontecer em Londres, por isso é que não tivemos a aula de Transformações dessa tarde. McGonagall foi também.

--Ei, mas quem é o diretor substituto agora?

--Não sei direito, mas ou é a profª Sprout ou o Flitwick.

--Mas... Ia ser um ataque a trouxas?

--A professora não me contou muita coisa, mas acho que é isso aí.

Harry engoliu em seco. Isso mudava tudo! Agora, não havia quase ninguém que pudesse deter Voldemort na escola! É claro que essa história de ataque em Londres era um alarme falso, jogado de propósito (Dumbledore deveria aprender e ficar na escola sempre, todo fim do ano), mas não adiantaria nada contar a Rony, Mione, Nádia ou mesmo Catherina. O que seria de Hogwarts agora?
Rony e Hermione aproveitaram a tarde livre para darem uma volta pelos jardins da escola; enquanto isso, Nádia tomara sua decisão: iria contar agora e eles, depois avisaria Catherina --se é que ela já não teria adivinhado.

Nádia alcançou os pombinhos.

--Nossa, Ná, você tá sem fôlego, o que aconteceu?--perguntou Hermione.

--O que aconteceu não, Mione.--disse Nádia, lutando para controlar a respiração.-- O que irá acontecer.

Conforme contava sobre o desafio, os dois foram ficando cada vez mais inquietos.

--E você acha que ele seria louco de ir?--disse Rony.

--Acho.--disse Nádia.-- Vamos contar pra Cathy, o Dumbledore foi pra Londres e precisamos ir à Câmara junto com o Harry.

--É, sim, eu já tinha previsto isso.--assegurou Catherina quando a encontraram no Salão Principal, pouco tempo depois.

--E o Harry vai mesmo ao desafio?--insistiu Rony.

--Eu já disse que vai. Ele está tentando esconder da gente, mas ele é um péssimo ator.--disse Catherina.

--Fora a profª Figg e o prof. Fletcher, eu não sei de mais ninguém que tenha chance de ajudar ou de intimidar Voldemort de algum jeito.

Susto geral. O autor da fala fora Rony.

--Rony, você... Você conseguiu dizer Voldemort!--exclamou Hermione, abraçando-o.

--Pois é...--disse ele, meio sem graça.-- Já estava na hora, né? Todo mundo falando Voldemort pra cá, Voldemort pra lá...

Durante o jantar, Harry estava extremamente quieto, e os outros se olhavam, apreensivos, sem saber o que dizer...

Ele estava tão perdido nos seus pensamentos que nem reparou no silêncio dos amigos. Às oito horas, fechou-se no dormitório e começou a folhear o livro de Feitiços, à busca de alguma coisa que pudesse ajudar... Havia o Feitiço Espekscudo, que formava uma bolha de proteção que só era furada por Maldições Imperdoáveis... Grande avanço, pensou ele, é justamente contra isso que eu preciso de proteção. Também mencionava o feitiço que Malfoy usara há dois anos atrás, no Clube de Duelos, o "Serpensortia", mas certamente isso só ajudaria Voldemort. Ele era um ofidioglota bem mais experiente do que Harry.

Nada naqueles livros servia... Folheando o livro, ele começou a ficar extremamente nervoso... "A palavra Max pronunciada antes de um feitiço pode multiplicar sua potência em várias vezes"... "O Feitiço Redutor pode...", não isso não servia, Harry aprendera esse feitiço no ano passado. Mas que droga, não havia como se defender!
--Então, o plano é esse: --recapitulou Nádia.--Todo mundo finge que vai dormir, e o Rony não dorme, fica de olho no Harry. Aí, quando ele for para a Câmara, o Rony nos avisa e nós vamos atrás! Vamos escondidos na minha Capa da Invisibilidade, e só nos podemos deixar perceber por ele depois que ele abrir a Câmara Secreta. Todo mundo a favor?

--OK.--concordaram Catherina, Hermione e Rony.

--Então está combinado. Até mais tarde.
Deitado na cama, o dossel fechado, Harry pegou a varinha e murmurou "Lumus!", checando o relógio (ele havia ganhado outro de Sirius, no Natal). Marcava onze e quarenta.

Puxou o dossel, pegou sua Capa no malão e desceu à sala comunal, pela qual passou batido, tamanho era seu nervosismo.

Disse a senha a uma extremamente sonolenta Mulher Gorda, que nem se deu ao trabalho de achar estranho o fato de estar abrindo a porta da Grifinória para ninguém.

Harry tremia, pensando no que aconteceria no tal desafio. Se Voldemort atacaria a escola com ou sem desafio, do mesmo modo que pretendia matá-lo e pegar o Supraforce de Cathy, era melhor não ver o ataque a Hogwarts. Esse era o lado pessimista que o levava; o otimista lhe incitava a proteger tudo o que Voldemort planejava destruir --inclusive sua vida. Na verdade, o lado otimista era o que certamente era mais difícil de se concretizar, porém era o que mais o encorajava a continuar na direção do banheiro da Murta Que Geme. Quando ele já ia abrindo a porta do banheiro, um ruído o fez virar pra trás.

--Catherina?!

Ela estava sozinha, de uniforme. Havia seguido-o o tempo todo.

--Como soube que...

--Por dois modos. Primeiro, quando a Imperius dentro daquela carta me pegou, a Nádia nos seguiu, e ouviu tudo.

--Ela me contou.--murmurou Harry.--E pelo jeito, contou a você também.

--Contou pra mim, pra Mione e pro Rony também. Mas depois que eu saí do transe, fui pega pelo Obliviate que vinha junto com a Imperius. Mais tarde, eu consegui romper o feitiço de Voldemort, usando a vidência. Nós quatro íamos vir atrás de você, mas parece que o Rony não te viu sair do dormitório.

--Mas se vocês sabiam de tudo, por que não me disseram?

--Você não ia querer arriscar a pele deles, Harry. O seu heroísmo ia te mandar vir sozinho, você sabe disso muito bem. Então, a gente ia acabar brigando com você. Aliás, vou chamar a Mione por Telepatia, a Nádia me disse que ela conseguiu...

--Espere, mas quem disse que vocês vão me impedir de ir ao desafio?

--Nós não pretendemos te impedir, Harry, e sim te ajudar lá embaixo. Definitivamente, ainda não está na hora de você enfrentar Voldemort sozinho.

Harry não pôde deixar de gostar da idéia de ter companhia.

--Mas como você me viu? Eu passei pela sala comunal de Capa.

--Pois é. Achei mesmo que o Rony acabaria pegando no sono, então fiquei na sala comunal, por segurança. Vi só a sua mão segurando a Capa por fora, Harry, você foi um bocado descuidado. Agora vou chamar os outros.

--Antes disso... Você nunca me contou como escapou de Voldemort no verão.

Ele ainda tinha dez minutos até o duelo. Certamente daria tempo de ouvir a história.

--Ah, Harry, não foi muito heróico... Depois que ele matou meu pai e o maldito Lúcio Malfoy se preparava para torturar a minha mãe, ela fez o mesmo que o Diggory no coquetel. Ela me aparatou para a casa da Hermione. Nós duas tínhamos ficado amigas num supermercado trouxa, imagine só. Fizemos amizade até por acaso, e eu já a conhecia das visões, e até que ela se apresentou eu tive aquela sensação de "eu a conheço de algum lugar...". Aí eu fiquei na casa dela até irmos para a Toca, e o resto você já sabe.

Harry ficou em silêncio. Agora, sem aviso prévio, ela pegou a varinha e começou a chamar os outros.

--Vou abrindo a Câmara.--disse Harry.--Vem comigo?

--Vou.--respondeu Catherina.-- Nossa, a Mione ficou uma fera com o Rony... Espera só eles chegarem...

Eles entraram no banheiro, e Harry foi até a torneira com a figura da cobra. "Abra", ordenou ele, ouvindo em seguida sua própria série de assovios e sibilos, que indicavam que falara certo.

--Puxa...--disse ela.-- Vocês acham que é grande coisa ser vidente, mas vejam só o ofidioglota aqui...

Harry sorriu. Felizmente, a Murta Que Geme não estava ali, talvez estivesse no lago ou em algum outro lugar do castelo.

Como aconteceu no segundo ano, a torneira girou e deu lugar ao cano- escorregador que levaria à Câmara Secreta.

--É só escorregar agora.--disse ele.

--OK.--disse ela.--Vou logo atrás de você.

Foi a vez dele falar OK, e literalmente entrou pelo cano, escorregando velozmente até cair no chão úmido da "ante-sala" da Câmara. Menos de cinco minutos para a meia-noite.

Dali a pouco Catherina caiu também. Os dois ordenaram o tradicional "Lumus" a suas varinhas. De uma hora para outra, Harry tomou a decisão. Se eles morressem no desafio, ele não queria que fosse sem antes...

--Catherina.--disse.-- Você acha que vamos sair vivos daqui?

--Sinceramente?--respondeu ela.-- A não ser que Voldemort aponte a própria varinha pro coração e berre "Avada Kedavra", não acho que temos chance de sairmos vivos.

--Isso tudo com a esperança que o Supraforce emana?--riu ele.

--Imagine só como eu estaria sem ele.--disse ela, forçando um sorriso.

Harry respirou fundo.

--Catherina...

--Fala.

--Você já deve estar cheia de ouvir declarações, mas...

Ela ficou quieta, e Harry percebeu que a pegara de surpresa.

--Eu gosto de você, e não queria morrer sem te contar.

Catherina fora realmente pega de surpresa.

--Felizmente, Harry, eu não vou dizer o que precisei falar ao Alex.

O coração de Harry acelerou.

--Isso significa que...

--Acho que não preciso dizer, não é?

Harry deu um enorme sorriso e, aproximando-se dela, percebeu que dessa vez ela não fugiria...

E daquela vez ela não tinha mesmo a mínima vontade de fugir. Quando Harry ficou tão próximo quanto da última vez, ambos fecharam os olhos, e os lábios se tocaram.

Harry sempre ouvira falar que quando se beija, a gente esquece de tudo, mas não pensou que isso fosse tão verdade. Durante o beijo sua cabeça se esvaziou, apenas aproveitou aquele momento. Quando acabou, ele quis que aquilo durasse eternamente, e ainda não seria o suficiente. Mas já estava mais do que na hora de ir.

Quando Harry olhou para ela, sentiu-se subitamente completo. Ela sorriu, e tirou o Supraforce da roupa, não sem antes fazer um pedido mental. Em seguida, entregou-o a Harry.

--Quero que o use no desafio.

--Você... Você tem certeza?

--Tenho. E também já está mais do que na hora de me sustentar nas minhas próprias pernas, além do que você veio fazendo isso até aqui.

Harry pegou o broche. Aproveitando para apertar a mão dela:

--Obrigado.