CAPÍTULO 05:
Lendas Urbanas.
- O QUE TÁ ACONTECENDO??? Não era para ser uma pequena conferida? Todas as suas empregadas caíram duras!!! - Exclama Shinji indignado e incrédulo enquanto apenas Rei permanece inteira, sentada numa poltrona de estilo vitoriano, ao passo que as persocoms de Kaworu jazem no chão, todas imóveis e com os seus sistemas operacionais resetados.
TUMP!
No segundo seguinte, Shinji Ikari é "acalmado" com um certeiro golpe desferido por uma marreta de quebrar pedras, por parte de um desolado Kaworu que continua com a sua face inexpressiva de sempre.
- Se você não tivesse assanhado as minhas persocons nada disto teria acontecido! Por favor, falem comigo, Bardiel, Sachiel... - Monologa o rapaz como se estivesse falando com seres humanos de verdade.
- M-mas eu disse que não foi intenção minha! - Tenta-se justificar o estudante interiorano.
- Estes modelos que eu desenvolvi somente ativam os seus módulos avançados de interação com os membros do sexo oposto ao sentirem o cheiro de feromônios no ar... Decerto você deve ter se empolgado nos seu sonhos "molhados" ontem à noite ou na ida matinal ao banheiro... - Replica Kaworu, balançando negativamente a cabeça.
- Me desculpe... Mas, o que aconteceram com elas? - Pergunta Shinji, ao constatar que protestos seriam inúteis.
- Infelizmente, as CPUs não agüentaram fazer a checagem e travaram, antes que elas fossem danificadas.
- Mas foram quatro persocoms! E todas montadas! - Responde Shinji, tentando encontrar uma explicação plausível tanto quanto os seus precaríssimos conhecimentos de informática permitiam.
- Sim. Eram montadas. Mais do que isto, elas eram "angels".
- Angels?
- É um projeto novo que estava desenvolvendo nas horas vagas. São Persocoms capazes de realizar qualquer tipo de tarefa imaginável aprendendo com a experiência e não apenas sendo limitadas pelos programas que possuem...
- Como assim? - O rapaz do cursinho que pouco entendia de informática arregala os olhos ao reparar na inteligência do jovem anfitrião.
- Sem falar que tinham um módulo que a tornavam capazes de atender todos os desejos de seus... ahan... parceiros amorosos de forma totalmente intuitiva, sem serem tão previsíveis como as persocoms existentes no mercado. - Sorri de forma vaga Kaworu enquanto parece se divertir com a cara de espanto de seu interlocutor.
- D-desejos?
- Desejos sexuais, meu caro Shinji.
- Mas... e qual o motivo delas usarem estas roupas.... E estas asinhas saindo nas costas?
- Bem... eu queria algo mais inocente e angelical. Infelizmente o mercado já está saturado de modelos no estilo "Tiazinha" e "Feiticeira".
- E agora, o que vamos fazer?
- Bem, eu...
- Quer que eu tente? - Subitamente a porta se abre e uma figura elegantemente vestida aparece. Tratava-se de uma adolescente extremamente bela e com uma vaga expressão de graciosidade mesclada com tristeza no olhar.
- Tabris... - Sussurra Kaworu, ligeiramente surpresa com a chegada de sua persocom particular.
- Hã... Muito prazer... O .. Meu nome é Shinji Ikari!
- O prazer é todo meu, senhor Shinji Ikari. Eu me chamo Tabris. - Responde educadamente a jovem adolescente, com uma entonação quase musical na voz.
- Desculpa aí a amolação... Por acaso você é a irmã do Kaworu?
- Eu sou uma persocom montada pelo senhor Kaworu. - Responde Tabris sem se alterar, soltando um sorriso capaz de derreter o coração mais frio.
- O quêêêê? - Exclama Shinji ao notar a impossibilidade de distinguir a persocom de uma moça de verdade. Em seguida, lembrando-se de sua situação econômica atual, pondera - "Agora acabei de descobrir que não sou pobre, mas sim um miserável! O cara tem uma porrada de persocoms feitos à mão e eu, só uma que nem sei direito se vai funcionar"
- Mas... - Kaworu imediatamente olha para os seus "angels" caídos no assoalho lustrado da mansão e hesita.
- Você não gostaria de descobrir as qualidades dela? - Só que a persocom não se faz de rogada e sorrindo discretamente, insiste.
Kaworu fica com um ar pensativo e melancólico, como se secretamente temesse por algo, pensando nos prós e contras de uma decisão crucial e que não admitia voltas. Finalmente, vencido pelo sorriso de sua persocom, ele dá a ordem decisiva.
- Quero.
Shinji - no meio de mais uma de suas viajadas mentais - não entende nada do que está acontecendo entre o garoto e a sua criação.
- Com licença. - Tabris senta-se ao lado da misteriosa garota de cabelos azulados e começa a conectar os fios de transmissão de dados entre suas respectivas interfaces.
- Rei? - Pergunta a misteriosa persocom encontrada no beco, tentando entender o motivo de tudo aquilo.
Com o último fio finalmente conectado, Tabris inicia a sua sessão de diagnóstico. Os seus olhos ficam mais pesados e parecem mirar o infinito, enquanto um estranho barulho semelhante ao da antiga conexão discada via telefone da Internet começa a preencher a sala.
Os segundos se passam, tensos, e a operação prossegue. De repente, o zumbido estridente é substituído por um bip inquietante, acompanhado por ruídos que lembravam o de um hark disk tentando ler dados. Tabris começa a se contorcer e a balançar, como se estivesse sendo manipulada por forças além de seu alcance. Ela tenta-se levantar da poltrona, mas então tropeça e cai.
- Pare, Tabris! - Rapidamente, Kaworu tenta ajudar a sua persocom amparando-a antes que se chocasse no chão e ordena-a que interrompa a fatídica sessão de diagnóstico.
A linda persocom sai do seu estado de quase transe e se segura no braço esquerdo do seu mestre, como se estivesse procurando por socorro. Em seguida, recuperando a sua compostura diz:
- Erro 666: Alguns dados foram corrompidos. - Responde Tabris com uma voz um pouco mais metálica do que o habitual.
- Que dados? - Pergunta Kaworu, mal escondendo a sua preocupação.
- O seu banco de dados de sites de fanfictions yaoi e a lista de endereços de stripper clubs virtuais, mestre. - Responde Tabris, enquanto Shinji cai novamente pelo assoalho da mansão.
- "Com toda a inteligência artificial que coloquei nela, bem que poderia ter um pouquinho de simancol..." Então os seus dados de personalidade não foram atingido? - Pergunta Kaworu, afagando levemente o rosto macio de sua persocom.
- Não.
- "Estranho... Parece que... é como ele tratasse a Tabris como se fosse um ser humano..."- Pensa Shinji enquanto tenta entender o que acontecera diante de seus olhos.
- E você, Rei, está tudo bem com você?
Rei observa Tabris abraçando o seu mestre e decide imitá-la.
- O nome dela é Rei? - Pergunta novamente Tabris, com visível interesse.
- B-bem... eu... - Hesita Shinji, temendo passar por idiota.
- A Rei não sofreu nada. Não é preciso se preocupar com ela. - Responde a elegante persocom, dando um sorriso angelicalmente sereno.
- É porque ela só está com o Windows operando? Se este programa é uma porcaria, não tem como ficar pior mesmo... - Diz o jovem Ikari, com ar de desapontamento.
- Não. Não é isto.
- Heim?
- Na realidade é impossível verificar se existe ou não um sistema operacional residente instalado nela.
- Como não?
- A Rei tem um programa de proteção operando dentro dela.
- O quê??? Ai, desta vez boiei...
- Então vamos fazer...
- ?
- Uma pausa para nossos comerciais! Tabris, por favor, prepare um refresco para a gente, ah, e não esqueça de colocar as gotas daquela fruta afrodisíaca! Acho que o nosso amigo aqui vai adorar!
- E-ei peraí, Kaworu!
Um copo de cristal longo, contendo bastante gelo e suco, é servido na mesa. Shinji Ikari reluta em pegar o seu, enquanto Kaworu estava experimentando calmamente o refresco preparado por sua persocom particular. A todos, Rei observa, sem dizer nada, tentando entender o significado daquele ritual cotidiano.
- Hã, Tabris? Vo-você está bem? - Pergunta Shinji, visivelmente preocupado.
- Sim. O senhor Kaworu já me corrigiu.
- Mas... E aquela história do arquivo quebrado? - Insiste o rapaz, totalmente leigo no assunto.
- Eu faço backup todos os dias, portanto é só reinstalar as informações que não teremos problemas. - Comenta Kaworu, enquanto repara atentamente no rosto do jovem que veio pedir uma ajuda a ele, com visível interesse.
- Mas... Demora tanto assim?
- Mas é claro, Shinji... - Pergunta Kaworu parecendo estar um pouco magoado com a ingenuidade da questão feita a ele. - "Você acha que é fácil montar um banco de dados com mais de 25 mil endereços virtuais de fanfictions yaoi/slash por a"?
- Me desculpe... - Shinji percebe a mudança de expressão do rapaz milionário e de novo começa a "viajar" - "De novo... Ele fez uma cara meio magoada... meio triste... meio sei lá... Será que...?"
- O que foi? - Indaga o rapaz de cabelos prateados olhando fixamente nos olhos de Shinji, dando um sorriso.
- Não. Não foi nada... - O jovem Ikari instintivamente recua, embora continuasse olhando para aquele par de pupilas exóticas, como as da sua persocom.
- Sabe, Shinji....
- O que é?
- Apesar de você ser o rapaz mais azarado, esquisito, complexado e estranho que já conheci nos últimos meses...
- "Eu sabia que ele iria dizer isto"... - O azarado e tímido estudante abaixa a cabeça, desolado.
- Acho que gostei... Não! Eu a-do-rei você, meu jovem... Se tivermos oportunidade numa próxima vez, prometo que vou te mostrar os melhores sites de fanfiction e imagens yaois que tem aí na net, só para você se desestressar um pouco! E podemos estrear a minha nova sauna!...
- E-ei... Peraí! O-o que é e-este raio de y-yaoi que nunca ouvi falar?! - Embora fosse lerdo e meio tapado, até o jovem Ikari não pôde deixar de reparar nas segundas intenções do rapazinho.
- Hummmm... sabe aquelas histórias "alternativas" que o pessoal faz na Internet com personagens de séries de animes famosas, aonde as cenas "íntimas" entre um rapaz e uma moça na série que costumam ser insinuadas aparecem... só que de uma forma mais explícita?
- Hã... Você quer dizer... Tenchi Muyo, Love Hina... Estas coisas? - Shinji hesita, temendo pelo pior.
- Exato. Isto é chamado de "hentai" quando ocorre entre um "He" e uma "She". Já o Yaoi é um pouquinho diferente...
- C-como a-assim?
- Conhece Tokyo Babylon, Gravitation, Weiss Kreutz, os rapazes do Gundam Wing?... - Malicia Kaworu, tocando com a ponta dos dedos o ombro direito do jovem Ikari.
- N-não não estou entendendo o q-que você está querendo dizer... - Shinji tenta sair pela tangente, mas o seu inconsciente já percebe aonde Kaworu está querendo chegar.
- É que nem o gênero hentai. Mas ao invés de "He x She" temos "He x He". E, acredite, é um gênero que tem muitas fãs por aí...
- Hummm... não compreendi mas entendi.... - O tímido rapaz finge que não entendeu nada e toma mais um gole do suco, evitando reparar nos olhos de Kaworu - "Começo a achar que este cara é um pouco esquisitinho pro meu gosto".
- Ah, sim... quando cheguei, você me comentou que a Rei talvez fosse uma Evabits. Mas o que é uma Evabits?
- Hummm...
Kaworu umedece a ponta de seu dedo no suco e começa a rabiscar umas letras na mesa, formando a palavra "EVABITS".
- Evabits... Podemos chamar de "persocom lendário".
- Lendário? - Shinji continua não entendendo nada.
- É uma espécie de lenda urbana que corre na Internet. - Comenta Kaworu, com certa condescedência e dó da ignorância de Shinji a assuntos envolvendo a informática.
- Lenda urbana? Como assim?
- Ah,ah,ah, você me diverte, querido. Com certeza você ouviu falar nos boatos dos frangos mutantes criados em confinamento pelo Mac Donalds, no cara que sai na balada com uma mulher misteriosa, toma uma bebida com ela e depois acorda sem um dos rins numa banheira ou no e-mail enviado por um executivo nigeriano pedindo para que você lhe dê o número de sua conta bancária para ele fazer um grande desvio de dinheiro em troca de uma comissãozinha... A tudo isto podemos chamar de lendas urbanas.
- Tá. Eu entendi. Continue - Diz Shinji enquanto pensava no íntimo - "Mas não precisava me chamar de burro, né, Kaworu?".
- Há um boato que existe uma série de persocoms desenvolvidos com o nome-código de Evabits.
- Mas as empresas podem desenvolver persocoms aos montes! Ate você fabrica os seus, Nagisa...
- Pode me chamar de Kaworu. - Fala o jovem de cabelos prateados, com um tom um pouco mais íntimo em sua voz.
- ?
- É isto mesmo, Shinji-kun. Agora não somos meros conhecidos, não é mesmo? - Sorri Kaworu com ar aparentemente angelical.
- ??
- E até que você não é tão feio assim... Com um pouco de produção e banho de loja daria até para você ser figurante no Love Junkies!
- ???
- Tem gente que diz que o Evabits é um tipo especial de persocom que pensa e age por conta própria, sendo a próxima geração destas máquinas, assim como o Pentium IV está para o antigo PC-XT.
- Ué, mas os seus "angels" não são iguais? Aliás, foi a Tabris quem se propôs a checar a Rei sem que você pedisse.
- Não. - Responde secamente Kaworu, com um certo quê de frustração consigo mesmo em seu olhar, como se perseguisse um objetivo ainda mais grandioso.
- M-mas...
- A Tabris está somente agindo de acordo com o meu programa.
- O quê?
- Tabris calcula e executa um programa que eu instalei, sempre avaliando, otimizando e fazendo o que é correto dentro das regras que eu delineei.
- M-mas parece que ela é tão... humana...
- Claro! Ela tem um programa de aprendizagem automática! Mas, ainda que pareça que age por iniciativa própria, ela só está seguindo o que foi definido no programa de aprendizagem. Ela pode até quebrar as regras de vez em quando, mas qualquer outra ação dela segue o programa. Entretanto, o pessoal diz que a série Evabits é diferente. - Kaworu inicia o comentário com um tom de voz animado e excitado, só que vai serenando aos poucos, passando a escolher melhor suas palavras.
- E-então quer dizer que a Rei... É uma persocom tão avançada assim???
- Como eu disse... é apenas uma lenda urbana. Deve ser só um boato sem pé nem cabeça.
- Depois de tanta expectativa é só isto que conseguimos???
- Rei?
- Por favor, Tabris, traga-me mais um suco... E um de maracujá para o nosso amigo Shinji-Kun. - Responde Kaworu ao notar Shinji novamente acometido de uma crise de stress e súbita depressão.
Notas do Capítulo:
01 - Como o elenco de Evangelion não é tão grande quanto ao "cast" feminino, optei por dar o nome de Tabris (o 17o Anjo) à persocom Yuzuki do Chobits original. Obviamente no EVA, Tabris e Kaworu tratam-se da mesma pessoa, ou melhor, do mesmo ser;
Escrito por: Calerom
E-mail: myamauchi1969yahoo.com.br
Última Versão: 23/05/2004.
Lendas Urbanas.
- O QUE TÁ ACONTECENDO??? Não era para ser uma pequena conferida? Todas as suas empregadas caíram duras!!! - Exclama Shinji indignado e incrédulo enquanto apenas Rei permanece inteira, sentada numa poltrona de estilo vitoriano, ao passo que as persocoms de Kaworu jazem no chão, todas imóveis e com os seus sistemas operacionais resetados.
TUMP!
No segundo seguinte, Shinji Ikari é "acalmado" com um certeiro golpe desferido por uma marreta de quebrar pedras, por parte de um desolado Kaworu que continua com a sua face inexpressiva de sempre.
- Se você não tivesse assanhado as minhas persocons nada disto teria acontecido! Por favor, falem comigo, Bardiel, Sachiel... - Monologa o rapaz como se estivesse falando com seres humanos de verdade.
- M-mas eu disse que não foi intenção minha! - Tenta-se justificar o estudante interiorano.
- Estes modelos que eu desenvolvi somente ativam os seus módulos avançados de interação com os membros do sexo oposto ao sentirem o cheiro de feromônios no ar... Decerto você deve ter se empolgado nos seu sonhos "molhados" ontem à noite ou na ida matinal ao banheiro... - Replica Kaworu, balançando negativamente a cabeça.
- Me desculpe... Mas, o que aconteceram com elas? - Pergunta Shinji, ao constatar que protestos seriam inúteis.
- Infelizmente, as CPUs não agüentaram fazer a checagem e travaram, antes que elas fossem danificadas.
- Mas foram quatro persocoms! E todas montadas! - Responde Shinji, tentando encontrar uma explicação plausível tanto quanto os seus precaríssimos conhecimentos de informática permitiam.
- Sim. Eram montadas. Mais do que isto, elas eram "angels".
- Angels?
- É um projeto novo que estava desenvolvendo nas horas vagas. São Persocoms capazes de realizar qualquer tipo de tarefa imaginável aprendendo com a experiência e não apenas sendo limitadas pelos programas que possuem...
- Como assim? - O rapaz do cursinho que pouco entendia de informática arregala os olhos ao reparar na inteligência do jovem anfitrião.
- Sem falar que tinham um módulo que a tornavam capazes de atender todos os desejos de seus... ahan... parceiros amorosos de forma totalmente intuitiva, sem serem tão previsíveis como as persocoms existentes no mercado. - Sorri de forma vaga Kaworu enquanto parece se divertir com a cara de espanto de seu interlocutor.
- D-desejos?
- Desejos sexuais, meu caro Shinji.
- Mas... e qual o motivo delas usarem estas roupas.... E estas asinhas saindo nas costas?
- Bem... eu queria algo mais inocente e angelical. Infelizmente o mercado já está saturado de modelos no estilo "Tiazinha" e "Feiticeira".
- E agora, o que vamos fazer?
- Bem, eu...
- Quer que eu tente? - Subitamente a porta se abre e uma figura elegantemente vestida aparece. Tratava-se de uma adolescente extremamente bela e com uma vaga expressão de graciosidade mesclada com tristeza no olhar.
- Tabris... - Sussurra Kaworu, ligeiramente surpresa com a chegada de sua persocom particular.
- Hã... Muito prazer... O .. Meu nome é Shinji Ikari!
- O prazer é todo meu, senhor Shinji Ikari. Eu me chamo Tabris. - Responde educadamente a jovem adolescente, com uma entonação quase musical na voz.
- Desculpa aí a amolação... Por acaso você é a irmã do Kaworu?
- Eu sou uma persocom montada pelo senhor Kaworu. - Responde Tabris sem se alterar, soltando um sorriso capaz de derreter o coração mais frio.
- O quêêêê? - Exclama Shinji ao notar a impossibilidade de distinguir a persocom de uma moça de verdade. Em seguida, lembrando-se de sua situação econômica atual, pondera - "Agora acabei de descobrir que não sou pobre, mas sim um miserável! O cara tem uma porrada de persocoms feitos à mão e eu, só uma que nem sei direito se vai funcionar"
- Mas... - Kaworu imediatamente olha para os seus "angels" caídos no assoalho lustrado da mansão e hesita.
- Você não gostaria de descobrir as qualidades dela? - Só que a persocom não se faz de rogada e sorrindo discretamente, insiste.
Kaworu fica com um ar pensativo e melancólico, como se secretamente temesse por algo, pensando nos prós e contras de uma decisão crucial e que não admitia voltas. Finalmente, vencido pelo sorriso de sua persocom, ele dá a ordem decisiva.
- Quero.
Shinji - no meio de mais uma de suas viajadas mentais - não entende nada do que está acontecendo entre o garoto e a sua criação.
- Com licença. - Tabris senta-se ao lado da misteriosa garota de cabelos azulados e começa a conectar os fios de transmissão de dados entre suas respectivas interfaces.
- Rei? - Pergunta a misteriosa persocom encontrada no beco, tentando entender o motivo de tudo aquilo.
Com o último fio finalmente conectado, Tabris inicia a sua sessão de diagnóstico. Os seus olhos ficam mais pesados e parecem mirar o infinito, enquanto um estranho barulho semelhante ao da antiga conexão discada via telefone da Internet começa a preencher a sala.
Os segundos se passam, tensos, e a operação prossegue. De repente, o zumbido estridente é substituído por um bip inquietante, acompanhado por ruídos que lembravam o de um hark disk tentando ler dados. Tabris começa a se contorcer e a balançar, como se estivesse sendo manipulada por forças além de seu alcance. Ela tenta-se levantar da poltrona, mas então tropeça e cai.
- Pare, Tabris! - Rapidamente, Kaworu tenta ajudar a sua persocom amparando-a antes que se chocasse no chão e ordena-a que interrompa a fatídica sessão de diagnóstico.
A linda persocom sai do seu estado de quase transe e se segura no braço esquerdo do seu mestre, como se estivesse procurando por socorro. Em seguida, recuperando a sua compostura diz:
- Erro 666: Alguns dados foram corrompidos. - Responde Tabris com uma voz um pouco mais metálica do que o habitual.
- Que dados? - Pergunta Kaworu, mal escondendo a sua preocupação.
- O seu banco de dados de sites de fanfictions yaoi e a lista de endereços de stripper clubs virtuais, mestre. - Responde Tabris, enquanto Shinji cai novamente pelo assoalho da mansão.
- "Com toda a inteligência artificial que coloquei nela, bem que poderia ter um pouquinho de simancol..." Então os seus dados de personalidade não foram atingido? - Pergunta Kaworu, afagando levemente o rosto macio de sua persocom.
- Não.
- "Estranho... Parece que... é como ele tratasse a Tabris como se fosse um ser humano..."- Pensa Shinji enquanto tenta entender o que acontecera diante de seus olhos.
- E você, Rei, está tudo bem com você?
Rei observa Tabris abraçando o seu mestre e decide imitá-la.
- O nome dela é Rei? - Pergunta novamente Tabris, com visível interesse.
- B-bem... eu... - Hesita Shinji, temendo passar por idiota.
- A Rei não sofreu nada. Não é preciso se preocupar com ela. - Responde a elegante persocom, dando um sorriso angelicalmente sereno.
- É porque ela só está com o Windows operando? Se este programa é uma porcaria, não tem como ficar pior mesmo... - Diz o jovem Ikari, com ar de desapontamento.
- Não. Não é isto.
- Heim?
- Na realidade é impossível verificar se existe ou não um sistema operacional residente instalado nela.
- Como não?
- A Rei tem um programa de proteção operando dentro dela.
- O quê??? Ai, desta vez boiei...
- Então vamos fazer...
- ?
- Uma pausa para nossos comerciais! Tabris, por favor, prepare um refresco para a gente, ah, e não esqueça de colocar as gotas daquela fruta afrodisíaca! Acho que o nosso amigo aqui vai adorar!
- E-ei peraí, Kaworu!
Um copo de cristal longo, contendo bastante gelo e suco, é servido na mesa. Shinji Ikari reluta em pegar o seu, enquanto Kaworu estava experimentando calmamente o refresco preparado por sua persocom particular. A todos, Rei observa, sem dizer nada, tentando entender o significado daquele ritual cotidiano.
- Hã, Tabris? Vo-você está bem? - Pergunta Shinji, visivelmente preocupado.
- Sim. O senhor Kaworu já me corrigiu.
- Mas... E aquela história do arquivo quebrado? - Insiste o rapaz, totalmente leigo no assunto.
- Eu faço backup todos os dias, portanto é só reinstalar as informações que não teremos problemas. - Comenta Kaworu, enquanto repara atentamente no rosto do jovem que veio pedir uma ajuda a ele, com visível interesse.
- Mas... Demora tanto assim?
- Mas é claro, Shinji... - Pergunta Kaworu parecendo estar um pouco magoado com a ingenuidade da questão feita a ele. - "Você acha que é fácil montar um banco de dados com mais de 25 mil endereços virtuais de fanfictions yaoi/slash por a"?
- Me desculpe... - Shinji percebe a mudança de expressão do rapaz milionário e de novo começa a "viajar" - "De novo... Ele fez uma cara meio magoada... meio triste... meio sei lá... Será que...?"
- O que foi? - Indaga o rapaz de cabelos prateados olhando fixamente nos olhos de Shinji, dando um sorriso.
- Não. Não foi nada... - O jovem Ikari instintivamente recua, embora continuasse olhando para aquele par de pupilas exóticas, como as da sua persocom.
- Sabe, Shinji....
- O que é?
- Apesar de você ser o rapaz mais azarado, esquisito, complexado e estranho que já conheci nos últimos meses...
- "Eu sabia que ele iria dizer isto"... - O azarado e tímido estudante abaixa a cabeça, desolado.
- Acho que gostei... Não! Eu a-do-rei você, meu jovem... Se tivermos oportunidade numa próxima vez, prometo que vou te mostrar os melhores sites de fanfiction e imagens yaois que tem aí na net, só para você se desestressar um pouco! E podemos estrear a minha nova sauna!...
- E-ei... Peraí! O-o que é e-este raio de y-yaoi que nunca ouvi falar?! - Embora fosse lerdo e meio tapado, até o jovem Ikari não pôde deixar de reparar nas segundas intenções do rapazinho.
- Hummmm... sabe aquelas histórias "alternativas" que o pessoal faz na Internet com personagens de séries de animes famosas, aonde as cenas "íntimas" entre um rapaz e uma moça na série que costumam ser insinuadas aparecem... só que de uma forma mais explícita?
- Hã... Você quer dizer... Tenchi Muyo, Love Hina... Estas coisas? - Shinji hesita, temendo pelo pior.
- Exato. Isto é chamado de "hentai" quando ocorre entre um "He" e uma "She". Já o Yaoi é um pouquinho diferente...
- C-como a-assim?
- Conhece Tokyo Babylon, Gravitation, Weiss Kreutz, os rapazes do Gundam Wing?... - Malicia Kaworu, tocando com a ponta dos dedos o ombro direito do jovem Ikari.
- N-não não estou entendendo o q-que você está querendo dizer... - Shinji tenta sair pela tangente, mas o seu inconsciente já percebe aonde Kaworu está querendo chegar.
- É que nem o gênero hentai. Mas ao invés de "He x She" temos "He x He". E, acredite, é um gênero que tem muitas fãs por aí...
- Hummm... não compreendi mas entendi.... - O tímido rapaz finge que não entendeu nada e toma mais um gole do suco, evitando reparar nos olhos de Kaworu - "Começo a achar que este cara é um pouco esquisitinho pro meu gosto".
- Ah, sim... quando cheguei, você me comentou que a Rei talvez fosse uma Evabits. Mas o que é uma Evabits?
- Hummm...
Kaworu umedece a ponta de seu dedo no suco e começa a rabiscar umas letras na mesa, formando a palavra "EVABITS".
- Evabits... Podemos chamar de "persocom lendário".
- Lendário? - Shinji continua não entendendo nada.
- É uma espécie de lenda urbana que corre na Internet. - Comenta Kaworu, com certa condescedência e dó da ignorância de Shinji a assuntos envolvendo a informática.
- Lenda urbana? Como assim?
- Ah,ah,ah, você me diverte, querido. Com certeza você ouviu falar nos boatos dos frangos mutantes criados em confinamento pelo Mac Donalds, no cara que sai na balada com uma mulher misteriosa, toma uma bebida com ela e depois acorda sem um dos rins numa banheira ou no e-mail enviado por um executivo nigeriano pedindo para que você lhe dê o número de sua conta bancária para ele fazer um grande desvio de dinheiro em troca de uma comissãozinha... A tudo isto podemos chamar de lendas urbanas.
- Tá. Eu entendi. Continue - Diz Shinji enquanto pensava no íntimo - "Mas não precisava me chamar de burro, né, Kaworu?".
- Há um boato que existe uma série de persocoms desenvolvidos com o nome-código de Evabits.
- Mas as empresas podem desenvolver persocoms aos montes! Ate você fabrica os seus, Nagisa...
- Pode me chamar de Kaworu. - Fala o jovem de cabelos prateados, com um tom um pouco mais íntimo em sua voz.
- ?
- É isto mesmo, Shinji-kun. Agora não somos meros conhecidos, não é mesmo? - Sorri Kaworu com ar aparentemente angelical.
- ??
- E até que você não é tão feio assim... Com um pouco de produção e banho de loja daria até para você ser figurante no Love Junkies!
- ???
- Tem gente que diz que o Evabits é um tipo especial de persocom que pensa e age por conta própria, sendo a próxima geração destas máquinas, assim como o Pentium IV está para o antigo PC-XT.
- Ué, mas os seus "angels" não são iguais? Aliás, foi a Tabris quem se propôs a checar a Rei sem que você pedisse.
- Não. - Responde secamente Kaworu, com um certo quê de frustração consigo mesmo em seu olhar, como se perseguisse um objetivo ainda mais grandioso.
- M-mas...
- A Tabris está somente agindo de acordo com o meu programa.
- O quê?
- Tabris calcula e executa um programa que eu instalei, sempre avaliando, otimizando e fazendo o que é correto dentro das regras que eu delineei.
- M-mas parece que ela é tão... humana...
- Claro! Ela tem um programa de aprendizagem automática! Mas, ainda que pareça que age por iniciativa própria, ela só está seguindo o que foi definido no programa de aprendizagem. Ela pode até quebrar as regras de vez em quando, mas qualquer outra ação dela segue o programa. Entretanto, o pessoal diz que a série Evabits é diferente. - Kaworu inicia o comentário com um tom de voz animado e excitado, só que vai serenando aos poucos, passando a escolher melhor suas palavras.
- E-então quer dizer que a Rei... É uma persocom tão avançada assim???
- Como eu disse... é apenas uma lenda urbana. Deve ser só um boato sem pé nem cabeça.
- Depois de tanta expectativa é só isto que conseguimos???
- Rei?
- Por favor, Tabris, traga-me mais um suco... E um de maracujá para o nosso amigo Shinji-Kun. - Responde Kaworu ao notar Shinji novamente acometido de uma crise de stress e súbita depressão.
Notas do Capítulo:
01 - Como o elenco de Evangelion não é tão grande quanto ao "cast" feminino, optei por dar o nome de Tabris (o 17o Anjo) à persocom Yuzuki do Chobits original. Obviamente no EVA, Tabris e Kaworu tratam-se da mesma pessoa, ou melhor, do mesmo ser;
Escrito por: Calerom
E-mail: myamauchi1969yahoo.com.br
Última Versão: 23/05/2004.
