Cap. III –Amor é fogo que arde sem se ver..

O tempo passava, e os sentimentos de Ishtar por Saga eram cada vez mais contraditórios. Ele procurava disfarçar, mas olhava-a de uma forma que fazia por combater a todo o custo. No seu quarto que lembrava prazeres lascivos, Ishtar dormia mal, pensando, revendo na sua mente o rosto de Saga, o corpo grande e esbelto de Saga que lhe era permitido observar com as roupas de treino. Se se encontravam, o coração dela disparava e ela, para evitar olhá-lo de frente baixava ligeiramente as largas pálpebras, tornado, sem querer, esse olhar irresistível.

Quando se cumprimentavam, o toque da sua pele masculina embriagava-a . Ela bem via que todos os Cavaleiros, mesmo Afrodite de Peixes, embora demonstrassem reverência e respeito, a desejavam. Principalmente Miro, cuja expressão grave e séria traía sentimentos muito fortes. Isso envaidecia-a, mas eram os olhos de Saga, seu próprio tio, que a comoviam. Muitas vezes ela o ouvira gritar e ficar radicalmente diferente. Nessa altura, olhava para ela descaradamente e com uma expressão ansiosa, mas Ishtar, que apesar de tudo, era ingénua, pensava que essas modificações físicas e de comportamento eram característica normal no cavaleiro de Gémeos. Já as vira antes.

Quanto a Saga, sentia o mesmo, ou algo pior; estava cada vez mais apaixonado, ou melhor, obcecado, pela Bela Ishtar, a rosa do santuário, a risonha Afrodite, a Estrela da Manhã. Acordava cheio de suores e desejos durante a noite pensando nela, e maltratava suas servas porque nem a mais linda o conseguia satisfazer e acalmar sua luxúria. Deixou de comer, andando pálido e triste. A sua sobrinha era jovem, bela, pura, inocente; certo que Afrodite era a Anti Virgem, mas Ishtar era e não era a Deusa, e ele respeitava-a tanto...mas quais eram os limites do amor, do respeito, do desejo? Ela inspirava-lhe carinho, ternura...e, no entanto, um desejo animalesco. Chorava. Porque deixara de ser quem era? Porque Ares o dominava tão cruelmente? Mas, mesmo sem Ares, era o próprio Saga que amava e desejava Ishtar como amante e não como família... Como sempre fora. Uma noite de Lua Cheia, Ishtar chorava na sua varanda. Tinha acesa uma vela vermelha, cercada de um punhado de pétalas de rosa branca, e implorava à Lua:

Minha Senhora Afrodite, Ishtar Innanna
Esclarece-me sobre este amor tão forte e tão errado
Se ele me ama, então seja feita a vontade dos Deuses e eu cumprirei
o meu desígnio
Mas senão, então apaga o seu rosto da minha memória
E o seu corpo da minha pele, e os seus olhos do meu coração...

Saga entrara no aposento sem se fazer anunciar. Com lágrimas nos olhos, pegou nos ombros dela, e puxou-a para si. Ela abraçou-o, chorosa, e os seus lábios tocaram-se, primeiro suavemente; mas depois Saga entreabriu os seus, e deram um beijo como se fosse o último das suas vidas, devorando-se...murmuraram um amo-te ofegante...Saga cravou os dedos na pele frágil dos seus braços, e ela puxava-o para a grande chaise longue da varanda...mas de súbito, ele estacou, e gritou: -Não!Ishtar, por favor...isto não poderá voltar a acontecer...nunca mais! E saiu de rompante, antes que o espírito de Ares tomasse conta de si e ele cometesse aquele terrível pecado. Ishtar deitou-se na larga cama e chorou. Recusou a fruta que a criada, preocupada, lhe oferecia,mas depois de deitada, trincando uma cereja quase negra, cujo suco vermelho sangue lhe escorria pelo queixo até ao bico do decote, sorriu um belo sorriso de deusa e adormeceu profundamente. Não iria deixar que qualquer escrava tomasse o seu lugar na cama do Grande Mestre.

Na noite seguinte, deslizou, envolta num manto branco, até aos aposentos de Saga. Ia descalça para não ser ouvida,mas , à porta do apartamento do Mestre, nenhum guarda lhe fez perguntas, embora lançassem uns aos outros olhares confusos quando ela virou costas.

Abriu de par em par a porta da enorme piscina interior, onde ela tinha a certeza de que Saga estaria, e empurrou o escravo que saía com toalhas. - Sai! Eu e Mestre Saga não queremos ser incomodados, e, se aqui voltas esta noite levas um castigo como nunca sonhaste! -gritou em surdina, abanando o pobre homem até ele acenar um sim aterrorizado.

Afastado este último obstáculo, fechou a porta, sem reparar sequer que uns belos olhos verdes tinham visto a cena.

Saga estava recostado, de olhos fechados, e parecia não ter dado por nada. Ishtar molhou os pés na água quente e chamou suavemente: -Saga. Como num sonho, ele abriu os belos olhos escuros, sem esboçar qualquer reacção. Ela avançou e atirou para trás o manto. Estava completamente nua, Afrodite em todo o seu esplendor, com excepção das suas joias. Entrou na água. Saga olhou para Ishtar, receoso:

- O que fazes aqui? Não devias ter entrado nos meus aposentos! Ela fingiu não ouvir. Aproximou-se dele e beijou-o, enfiando suavemente a língua na boca dele. Ele correspondeu ao abraço dela, os dois tocando-se, saboreando a pele um do outro.

Saga balbuciou um perdão por tê-la abandonado, mas ela não o deixou continuar. Porém, a consciência dele era mais forte do que a vontade.

-Sai! – exclamou, empurrando-a suavemente com os braços- Não posso fazer isto...tu és minha sobrinha....Somos sangue do mesmo sangue, apesar de tudo! - o seu olhar é extremamente triste, como se quisesse faze-lo, mas falta-lhe a coragem.

Ela chora. Não vê, não pensa, possuída apenas pelo desejo de Saga:

-Nem que fosses meu irmão! Eu amo-te....- acariciando suavemente os seus ombros, desesperada.

Com o rosto encostado ao dele, ela chorou..-eu amo-te. Nós amamo-nos...não é justo...

Saga empurrou-a, saindo da piscina completamente nu- Não podemos, Ishtar! Eu amo-te, mas não posso conceber um amor como esse!

- Mas Shion... Shion autorizou...

- Shion está morto, e não fales mais dele na minha presença!!!

-Ao terminar de falar, Saga ajoelha-se no chão com as duas mãos sobre a cabeça, gemendo de dor- Ahhhhh...

Ela fica confusa, depois aflige-se -Saga!Saga? Que tens?- saindo da piscina atrás dele.

Saga estava ajoelhado ao chão, sentindo dores fortes na cabeça. Aos poucos, os cabelos tornavam-se acinzentados, sem brilho ou vida. Os olhos estão fechados, mas quando se abrem revelam uma cor avermelhada, um tom maléfico e sarcástico instaura-se no ar...

Ishtar estava quase em pânico, abanando-o suavemente: Saga?? Saga???

Ele teve um movimento para encara-la, e Ishtar recuou instintivamente, porque o olhar dele já não era o mesmo. A expressão, habitualmente meiga, tinha-se transformado; um sorriso irónico aflorava-lhe os lábios:

-Saga? Quem é Saga? Aquele fraco que não tem coragem de assumir o amor que sente por ti?

Ela olhava para ele, procurando entender, mas era demasiado tarde. E, na verdade, nem queria saber.

Saga já não é mais o mesmo. Ele olha com malícia para Ishtar e puxa-a para seus braços, beijando-a ardentemente. A língua introduz-se nos lábios dela, roçando de forma provocante enquanto as mãos exploram todo seu corpo ela corresponde com seu corpo e mãos aos toques dele. um sentimento forte invade-a. o facto de este amor ser incestuoso, só a faz queimar ainda mais de desejo....beija a pele dele, molhada, os lábios, devorando-se. – Saga...

Ele não disse mais nada. Apenas explorando as curvas do corpo de Ishtar com sua língua.Pescoço, seios, ventre... As mãos acariciando sua pele macia, com firmeza e quase violência. Ela sentia-se indefesa, entregue...

-Estou a arder para que justifiques tanto amor...

Ele limitou-se a sorrir de forma extremamente maléfica, descendo pelo seu corpo. O toque da boca dele parecia queimar quando Saga alcançou todos os seus pontos mais vulneráveis, arrancando-lhe um gemido inesperado. A sensação foi tão forte que Ishtar, por momentos, teve a consciência de que talvez Saga estivesse realmente fora de si; um medo estúpido invadiu-a, e fez um movimento brusco para se libertar, como uma presa asustada.

-Espera... eu... Saga, ou Ares-talvez os dois?- prendeu-lhe os pulsos com firmeza contra o chão. -Daqui tu não sais mais-beijando-a apaixonadamente. Ela abraçou-o, dominada pela sua virilidade. Não tinha qualquer hipótese de sair daquela confusão. - Ishtar-pensou ironicamente de si para si- para quê adiar o inevitável? Ajoelhou, vai ter de rezar...

Saga acariciava o sexo dela, daquela forma que só ele sabia fazer.Nada que os dois nunca tivessem feito em adolescentes, mas isto era algo de muito melhor. Instintivamente, ela introduziu os dedos dele dentro de si, sentindo o seu rosto aquecer e corar. Ele deitou-se sobre sobre ela, suavemente,tentando penetrá-la, com dificuldades.

-Saga! Mmmm...com cuidado!! -Ele sussurrava ao seu ouvido, de forma adoravelmente indecente:

-Vamos, putinha...mmmm...abre-te para mim... -Ah!Então é isso,huh? -murmurou ela com sarcasmo, mas sentindo-se um pouco amedrontada ainda, passando a sua língua sensualmente pelo rosto dele.O desejo era maior que o medo. Ergueu as ancas para facilitar o esforço dele, roçando-as contra aquela pele que apetecia morder, beijar, apertar... -Vamos, minha vagabundinha....obedece ao teu tio...dá-me...oooohhh... Saga penetrou completamente em Ishtar, de uma estocada só. Ela sentiu uma dor que subia do ventre para todo o corpo, que parecia rasgá-la em mil pedaços,como se tivesse sido mergulhada em óleo a ferver.Era de tal forma intolerável que julgou ter perdido os sentidos, mas isso não acontecera, porque aquela sensação horrível permanecia, impossível de suportar. O rosto de Ares estava contraído no que parecia ser um esgar de dor, mas ele não dava sinais de abrandar,gemendo como um animal selvagem e movimentando-se num vai e vem cada vez mais forte e rápido.

Descontrolada, ela pediu-lhe que parasse, mas ele parecia surdo a todas as suas súplicas, como se ignorasse que ela virgem. -Bruto! Saga, querido, está a doer tanto! Para! Meu amor!

Subitamente, Saga olhou-a, os seus olhos mostravam o pesar habitual, novamente azulados e infinitamente meigos.

-Eu não podia...perdão, meu amor, perdão...

Parou por uns instantes, abraçando-a. Mas era como se o seu corpo já não lhe obedecesse, e recomeçou, Ishtar já não sofria, agora ondas de prazer intensificavam-se, arrepios como pequenas agulhas deliciosas beijavam-lhe o corpo aqui e ali, subindo e descendo,a pressão da carne dele contra a sua era deliciosa e provocava-lhe uma vertigem, uma urgência, uma sede de o possuir completamente, de se fundirem num cosmos só; como se a saudade dele fosse cada vez maior à medida que se amavam. Colocou os tornozelos nos ombros dele e a cada novo empurrão o seu ventre e a sua pele relaxavam-se e contraiam-se numa sensação cada vez mais sublime. Ela ouvia vagamente os gemidos dele e os seus próprios gritos, mas estava já demasiado longe.Uma explosão pôs fim a tanta intensidade. Ishtar reconheceu que se viera, e pouco depois Saga desfaleceu sobre ela, a prova do seu gozo correndo entre as suas pernas , e ficaram abraçados, colados e imóveis.

Ela beijou-o. Uma dorzinha incómoda reaparecia agora. Levou a mão ao interior das coxas. Um rio de sangue. Com imensa doçura, ela mostrou-lhe a sua mão, com as pontas dos dedos tingidas de vermelho vivo.

Aos poucos, Saga voltava a si. Olhou para a mão de Ishtar e para o seu falo, ambos molhados de sémen e sangue.

-O que...o que...não me digas que tu e eu...-levantando-se num pulo, com os olhos arregalados de terror, começando a chorar ao perceber a situação. -Como?-perguntou Ishtar, erguendo uma sobrancelha.-Sentes-te bem?-Chorando por vê-lo chorar. Um pressentimento horrível. -Eu...-gaguejando pelo choro e pela dor que invadia o seu peito-Eu não me lembro do que ocorreu aqui, meu amor...- ajoelhou-se no chão, debulhado em lágrimas. -Tu...tu... não me amas?- olhava para ele de baixo. Não podia levantar-se. O seu ventre doía como se tivesse sofrido uma violação por um exército, e as lágrimas cegavam-na. Mas a indignação era tanta que saltou, desesperada: -Não sei o que se passa contigo, mas tu e eu acabámos de...tu sabes... -Eu entendo, mas não sei como nem porquê...-as lágrimas dele caíam sobre o mármore-Eu não podia ter feito uma coisa destas...desonrei-te! Carinhosamente,ela enlaçou-o como um bebé, beijou-lhe os olhos, a face, a boca, como se fosse ele o desonrado.

-Nunca, meu amor, nunca...é uma honra...meu adorado, meu amor! -não olhes para mim-soluçou ele-eu não mereço os teus abraços, beijos...mereço a morte, por desonrar a minha própria sobrinha, e mereço-a ainda mais por não me arrepender disso, pois também te amo, desesperadamente, infinitamente, até ao fim da minha existência!Oh, Ishtar... -Então não chores, minha vida...por favor.. Mas Saga não raciocinava correctamente pelo sofrimento no seu coração. Então esta era a agonia do amor. A vertigem do amor. Aquela vontade de morrer. Parecia-lhe que sangrava, atingido por um golpe mortal. O seu peito doía tanto que tinha dificuldade em respirar, e as lágrimas caiam dos seus olhos sem que ele pudesse controlá-las.

-Vou tentar limpar o teu nome, meu amor...arranjar-te –ei um casamento.... -Mas...mas ...de que falas tu?-respondeu Ishtar, sufocada pela indignação.- pois és assim tão cobarde que me passes a outro sem o menor remorso? Pois eu prefiro ser a tua concubina do que a digna esposa de outro, prefiro que me abandones das formas mais crueis, mas nunca aceitarei um insulto desses!!! Acaso sou uma das tuas escravas que podes vender ou trocar? -Tenta entender...não há nenhuma forma de nos podermos unir com dignidade...sei do amor e dos olhares de Miro por ti...ele será um bom marido, minha querida...explicar-lhe-ei tudo.-disse Saga, baixo. Os seus lindos olhos estavam cobertos de lágrimas.

Ishtar descontrolou-se, puxando os louros cabelos e sujando-os de sangue.

-Déspota!!! Tirano!!! Agora compreendo a tua reputação! Entendo agora os avisos da minha mãe!! Porque me submetes a tal ultraje? Acaso esqueceste que a esposa de um cavaleiro de ouro deve ser virgem?Virgem!!! Mata-me Saga, mata-me já... – gritou, caindo de joelhos, chorando desabaladamente.

Saga acariciou o rosto dela, com uma ternura dolorosa, ainda choroso.O seu coração estava despedaçado. –Compreende, minha amada...ninguém aceitará o nosso amor incestuoso...será melhor assim....Miro vai aceitar, nem que eu o ameace com a execução. Mas creio que não será necessário...

-És um cobarde, que recusa a maior oferta dos deuses...-murmurou ela-eu amo- te...-e abraçou-o.

Saga retribuiu o abraço, beijando-lhe o rosto.-Eu também te amo...tanto...perdão, meu amor.... -Não voltaremos a fazer amor...nunca mais...-ela balbuciou, escondida no peito dele. Saga suspirou sem dizer nada, abraçando-a com mais força, de olhos fechados. Ishtar puxou-o para a piscina, beijando-o, e os dois lavaram-se um ao outro, ao mesmo tempo.

Ele beijou-a, talvez pela última vez. A seguir, Saga, pega no seu rosto e fala pausadamente, olhando nos seus olhos,baixinho para que nem o ar possa ouvir:

-Eu amo-te...amo-te mais que a mim mesmo... por isso quero proteger-te casando-te com outro..sei que se passa algo de estranho comigo, e temo pela tua vida se permaneceres a meu lado...Quero proteger-te de todo o mal, por isso vou afastar-te de mim-ainda com os olhos inchados pelas lágrimas-Não voltarei a ter-te, meu amor...-e largou a chorar. Ishtar , em resposta, beijou-o mais algumas vezes, numa tentativa de saciar a sua sede dos seus beijos. Mas era impossível. -Oh, poderosa Afrodite me livre deste sofrimento!!! Eu amo-te como tu és...com os teus defeitos-chorando e olhando profundamente nos seus olhos- com a tua nobreza e a tua crueldade...amo essa pele que me magnetiza, amo esses olhos que tanto se parecem com os meus...-ela pegou num belo espelho de prata-vês?somos parecidos... -Pois...se somos parentes...-lembra-se do elo de sangue entre os dois, e uma lágrima dolorosa cai no seu rosto dele novamente.-.-volta-se de costas para ela, fixando-se no nada-Sangue do mesmo sangue... -E agora eu dei-te o meu sangue... Não fales mais disto...a minha consciência fica cada vez mais pesada... -Como poderemos ultrapassar isto?De cada vez que me olhar ao espelho, vou recordar-me... estarás em todos meus pensamentos... Ele vira-se bruscamente para ela: -Eu nunca amei outra mulher, nem voltarei a amar. Chega desta conversa, é uma tortura! Amanhã enviar-te-ei uma missiva com tudo o que precisas de saber... -Seja... tu és meu soberano...uma desobediência às tuas ordens é punível com a morte...-beija-o e veste-se, seguindo para os seus aposentos. -Estou às tuas ordens, como sempre.Avisa-me quando tiveres tudo delineado...-fez uma vénia e saiu, chorando, mas sem olhar para trás. Saga, depois de vestido, sentou-se no seu trono, chorando pelo seu amor impossível e absolutamente incontrolável por Ishtar.