CAP. VII- Felizes juntos

Finalmente, depois dos ciúmes, das conspirações, de tanta separação inútil, Ishtar e Saga viviam numa harmonia perfeita. De novo, era como se a constelação de Gémeos brilhasse una, em todo o seu poder e supremacia. Ares não estava fora de combate, bem pelo contrário. Mas o amor incondicional de Ishtar, o amor de uma Deusa que era o próprio amor em si, conseguia dominá- lo, como uma barragem detendo as águas tumultuosas. -Lembras-te, meu adorado?- disse Ishtar baixinho, pendurada nos ombros de Saga, que estava sentado num sofá, lendo placidamente. -De quando eu era pequena, fazia diabruras e tu me ajudavas sempre a fugir? -Lembro-me...e sempre soube que essa linda criança se haveria de transformar numa linda mulher...- respondeu Saga, puxando-a carinhosamente para o seu colo. -Agora...- afirmou Ishtar, pensativa - é como se fugíssemos juntos de novo... -Não, Ishtar- desta vez não fugiremos. Estaremos sempre juntos para quem quiser saber... mesmo contra a vontade de todos. Beijaram-se. Saga carregou-a para a cama. -Hoje serás amada como nunca nenhuma Deusa foi... Amaram-se uma e outra vez. Adormeceram abraçados. Era assim todos os dias. As coisas estavam controladas no Domínio Sagrado. O quotidiano de Ishtar e Saga resumia-se a treinos, reuniões com os cavaleiros de modo a assegurar a ordem por ali, amor e folguedos. Faziam-se festas memoráveis. Ishtar tentava minorar o rigor com que Saga governava o santuário, assegurando que as coisas eram feitas com um pouco mais de justiça e bondade. Assumira, ela própria, a protecção de Aioria, com a ajuda do seu bom amigo Aldebaran. Ai de quem o tratasse com desdém! Dedicava algum do seu tempo a ensinar mitologia e história aos aprendizes, e fazia o possível para que aquelas crianças sem mãe não sentissem tanta falta de afecto, tornando-se guerreiros sem um pingo de compaixão. Ela própria desejava ardentemente ter filhos. Mas isso ainda não acontecera, estranha coisa numa Deusa da Fertilidade. Muitas vezes, ela e Saga viajavam para que Ishtar pudesse dar largas ao seu instinto de Deusa da Beleza e dos prazeres, fazendo compras e relaxando em locais maravilhosos. Nessas alturas, ela dava carta branca aos cavaleiros de ouro para afrouxarem um pouco, e era farra pela certa. Quando estava no santuário, gostava de se banhar na praia, nas piscinas ou até em belos lagos selvagens que existiam por ali, com frescas grutas e cachoeiras. Muitas vezes, fazia longos passeios a cavalo com Saga ou algumas damas de companhia, ia explorar umas ruínas, descia à cidade ou ficava simplesmente a ler. Apreciava muito um desporto bastante pesado, que praticava com Kamus: tiro ao arco a cavalo. Também gostava de esgrima. Faziam-se saraus, onde se cantava, comia e dançava. Uns eram coisas mais formais, mas outros eram simples piqueniques ao Luar. Preocupava-se com os mais desvalidos: as escravas e servas, a quem arranjava casamentos vantajosos com guardas ou empregados de confiança; as crianças e o estatuto dos empregados mais idosos. Ajudava os sacerdotes na preparação das cerimónias religiosas. Era por isso, a despeito da sua cabeça um pouco leve, muito amada e respeitada por todos no santuário, pela sua bondade, cultura e inteligência. Shaka e Mu, os mais cultos entre os cavaleiros de ouro, entretinham-se durante horas a conversar com ela, discutindo história, música, religião, mitos, arte, filosofia ou literatura. Saga, sabendo que a sua amada era alvo de tanta reverência e admiração, rebentava de orgulho, e amava-a cada vez mais. Assim se passaram vários anos, e Ishtar estava cada vez mais bela. -Ishtar...meu amor...- Saga tinha-a levado, de surpresa, à pequena gruta onde tinham tentado fazer amor quando eram adolescentes. Os seus lábios tocaram-se, como fogo. Saga arrancou as roupas dela, roçando as unhas na sua pele, espalhando areia molhada contra o corpo da sua amada. Livrou-se da própria roupa, beijando-a com intensa ternura. -Serás sempre a minha donzela...-Ishtar correspondeu ao beijo. As ondas entravam suavemente na gruta, molhando-os como se os acariciasse. -Lembras-te? Há anos atrás, estávamos assim...nus..apaixonados...nas mãos um do outro. -Ishtar...-murmurou, penetrando-a com todo o cuidado. -E agora...entrego a minha vida nas tuas mãos. Fez uma pausa para que Ishtar se adaptasse a si sem desfalecer. -Oh...Saga...mais, meu amor...-Sagas apertou a mão delicada de Ishtar.-Aqui, perante o mar de Poseidon...perante os Deuses...serás oferecida a mim, como Andrómeda foi ofertada para acalmar a Sua ira.... -Sim...e este amor nunca se vai desvanecer. É para sempre, eterno...queimando como uma chama! Saga! - Ishtar...quero que cases comigo...sejas a minha legítima esposa!!! Ela começou a chorar. Cravou as unhas nas costas do seu amor, deixando marcas compridas, que aumentavam o prazer de Saga.

Alguns meses depois, celebrou-se o casamento mais sumptuoso que o santuário alguma vez vira. Foi uma festa maravilhosa. Sacerdotes de todos os Deuses foram convidados. Todos os cavaleiros do santuário estiveram presentes. Ishtar estava divinamente bela, num vestido espartilhado em tom champanhe. Saga optou pela armadura de ouro, bem como todos os dourados. Afrodite, claro, abençoou a união. Algum tempo depois, Saga anunciava que a sua amada esposa estava grávida. Agora a felicidade estava completa...