Capítulo 1 – Cobra e coruja
Harry nunca estivera tão apreensivo, as revelações que lhe foram feitas no seu quinto ano na escola de magia e bruxaria de Hogwarts mudaram toda sua concepção de mundo, sabia que estava diferente, mas não sabia mais quem era Harry Potter.
PAM.
Errol estava parada na janela bicando sua asa, havia acabado de chocar-se contra o vidro e tinha um envelope amarelo preso a sua pata.
Harry desistiu de mais uma tentativa frustrada de se concentrar num livro de feitiços que tentava ler desde o inicio de suas férias e foi até a janela cambaleando. A coruja voou pra dentro do quarto escuro de Harry assim que este levantou o vidro embaçado, deu voltas no cubículo e pousou sobre a cama do garoto. Harry, sem ânimo, desamarrou a fita que prendia o envelope à coruja e leu o que nele havia escrito:
"Para que um amigo descubra que é amado..."
- Mais uma daquelas cartas do Rony e da Mione -- sussurrou Harry para si mesmo -- Já sei o que está escrito nela, não preciso mais receber isto -- Jogou a carta no chão e voltou pra cama, deitou-se bruscamente, assustando a coruja que voou para cima do armário.
- Você já pode ir Errol – a coruja deu um pio alto e abriu as asas, bateu-as, mas não levantou vôo – O que você quer? Não me diga que eles fizeram de novo?
A coruja piou e foi até o ombro de Harry, bicou sua orelha duas vezes e voltou para o armário. Contra vontade, Harry pegou o envelope que havia jogado no chão e abriu. Dentro encontrou um pergaminho dourado escrito em letras prateadas, desanimado, leu a carta.
Olá Harry, não entristeça, amigo. Sua última carta pareceu rancorosa, sabemos que está sobre pressão, mas não deixe que isso tire sua visão do que está acontecendo. Mais uma vez você deve estar muito curioso a respeito do que está acontecendo, e nossas cartas não satisfazem sua curiosidade, mas saiba que também não estamos por dentro de todos os fatos, caso contrário você, com certeza, também estaria sabendo. Por enquanto você apenas deve lembrar-se que o melhor lugar pra você estar no momento é na casa de seus tios, não deixe a curiosidade te levar para caminhos errôneos. Lembre que estamos aqui por você e com você, em breve nos encontraremos, até lá não nos esqueça...
Ron & Mione.
- Carta inútil – resmunga Harry jogando a carta no chão novamente – Não sei porque continuam a mandar essas cartas, se têm medo de que ela seja interceptada deveriam parar de mandá-las – enquanto fala ele vai até uma pequena escrivaninha próxima ao seu, também pequeno, guarda-roupa, pega uma pena, tinta e pedaço rasgado de pergaminho e escreve:
Não precisam se preocupar comigo, se não são úteis nessa situação, não sejam incômodos. Parem de mandar essas cartas. Não preciso delas. Só me escrevam quando tiverem notícias importantes, caso contrário não me escrevam.
Obrigado pelo sacrifício de estarem no lugar onde eu mais desejaria estar agora, é muito bom saber que fazem isso por mim e comigo.
Leu o que havia escrito e se sentiu indiferente, Rony e Hermione estavam na cede da Ordem da Fênix e nem se importavam em mandar uma notícia sequer, mas o que ele havia escrito podia chegar a ser agressivo. Rasgou o pergaminho e voltou a escrever em outro.
Obrigado pelo apoio, mas acredito que seja melhor pararem de mandar essas cartas, visto que as notícias não podem ser passadas através delas. Estou bem, acreditem. E espero em breve estar aí com vocês.
Harry.
Dessa vez não se sentiu agredido pelo que escrevera, embrulhou a carta e mandou a coruja dos Weasley levá-la de volta. Vendo a ave se perder no céu, Harry pensava o que estaria acontecendo na Ordem, quem estaria presente, o que o ministério estaria fazendo a respeito do retorno de Voldemort, e no meio de tantos pensamentos nebulosos Harry prendeu-se a um detalhe irritante: "Espero que não mandem mais a coruja só voltar com resposta".
Estava cansado, a madrugada já seduzia seu sono, mas Harry lutava contra sua vontade, não queria dormir, não podia dormir. As aulas de oclumência que recebera de seu professor de poções, Severo Snape, não foram suficientes aos olhos de Harry. Estava apavorado, deveria fechar seu mente para qualquer ameaça externa, e nenhuma prática amenizava o medo do garoto, porém ele tentava.
- Vamos, não pense em nada – tentava se animar, pensar que sua voz talvez fosse a de outra pessoa, Dumbledore poderia estar falando com ele ou talvez Hermione, sua amiga de tantas aventuras que sempre o ajudara nas horas mais difíceis, talvez ela pudesse apoiá-lo, ou mesmo Sirius, de quem tanto sentia falta.
Tentando não pensar em nada, Harry apenas afogava cada vez mais sua percepção em suas ilusões, nunca tivera o talento para a oclumência. Sempre fora um garoto solitário naquela casa de seus tios, e isso o tornou introspectivo, no decorrer de sua vida quase sedentária naquele quarto imundo, Harry adquiriu uma aparência frágil, era magro e pálido, seus cabelos negros sempre assanhados lembravam os de seu pai, e seus olhos vivos os de sua mãe.
De repente o garoto se viu meditando sobre os seus pais, e, sem perceber, seu treino de oclumência havia sido esquecido. A imagem de seu pai o abraçando confortava, aquilo nunca fora real, mas para Harry era concreto, a felicidade de Thiago e Lillian Potter era sua felicidade, estava com eles, eram felizes. De súbito Thiago enfureceu, sua imagem escurecera, agora ele parecia alguém muito familiar para Harry, alguém com cabelos loiros prateados e olhos cinzentos, Thiago era Malfoy, o corpo era de seu pai, mas a atitude era de seu inimigo. Harry via seu pai nos campos de Hogwarts, depreciando seus amigos, desmoralizando outro aluno... reconheceu aquela figura atarracada e obscura deitada na grama, aqueles olhos negros e ameaçadores fitaram Harry e este não pode mais ver nada, caíra em profunda escuridão.
Não havia luz, não possuía sentidos, a escuridão em Hogwarts só não era mais amedrontadora do que o silêncio em seus corredores. Harry deslizava rapidamente pelas passagens e túneis, ouviu sua voz pronunciando palavras de ordem ao parar diante de uma pia num banheiro sujo. Uma passagem abriu- se, cobras saltaram diante de seus olhos e ele mergulhou na escuridão.
- Ah! – acordou assustado e encharcado de suor. Sua cicatriz pulsou, sangrou.
Imediatamente pôs a mão sobre a marca que Voldemort deixou em sua testa, aquele antigo ferimento em forma de raio, por mais cicatrizado que estivesse, nunca doera tanto, chegou a sentir vontade de desmaiar para não sentir tanta dor, doía em seus olhos e o sangue escorria até seus lábios.
Repentinamente todas as imagens de seu sonho voltavam a sua mente, Snape na grama e Hogwarts vazia e um banheiro sujo e a câmara e... Voldemort. Então percebeu a gravidade daquilo, não era um sonho e sim mais uma daquelas visões causadas pela ligação entre Harry e Voldemort.
- Voldemort está na câmara secreta!
