Capítulo 2 – Lembranças do futuro
Jogou roupas, livros e caixas que estavam em seu guarda-roupa em cima da cama, apressado vasculhava gaveta por gaveta, Edwiges voava em círculos pelo quarto e o som dos passos firmes de Harry ecoavam pelas escadas e corredores de toda a casa. Seu desespero cegava, gotas de sangue saltavam de seu queixo e marcavam o chão do quarto. Todas as gavetas estavam vazias, parou diante de um espelho e, repentinamente, chorou.
Sentou-se na cama e cobriu o rosto com as mãos, Harry sentia-se fraco, irritantemente vulnerável. Pegou uma camisa branca e pressionou contra sua cicatriz pulsante, o ferimento estava quente.
Por um instante, Harry se desligou da maioria de seus sentidos e não percebeu o som de passos e gritos se aproximando de seu quarto, até que a porta foi aberta com força e por ela entraram seus tios, Válter e Petúnia, e seu primo, Duda.
- O que está acontecendo garoto? – Valter estava irritado e entrou no quarto gritando, porém não esperava ver toda aquela bagunça.
Petúnia permaneceu calada e fitava Harry assustada e apreensiva, ao ver o sangue na camisa branca que ele segurava ela engoliu um grito e pediu que Duda voltasse para o quarto.
- Mas mamãe eu...
- Para o quarto, Duda – pôs uma mão nos olhos do filho e girou seu corpo gordo em direção à porta – Vá agora!
Harry limpou todo o rosto - sangue e lágrimas - na camisa e não olhou para seus tios, não queria encará-los. Depois que descobriu que a casa onde vivera toda a sua vida sentindo-se numa prisão, na verdade, era sua maior proteção, não sabia mais como se comportar com aquelas pessoas, principalmente sua tia Petúnia, na qual ele, aos poucos, começava a perceber traços de familiaridade. Descobriu que sua tia havia aceitado criá- lo mesmo odiando os bruxos, pois um feitiço lançado naquela casa protegeria Harry contra qualquer coisa, até mesmo Voldemort.
Harry viu os pés gordos de seu primo saírem pela porta e seus tios continuaram a falar, porém Harry não os ouvia.
- O que é isso menino? O que estava fazendo que desarrumou todo o quarto? – Válter tinha medo da resposta de Harry e fingia não ver seu ferimento.
- Não percebe Válter? Ele deve ter feito aquilo.
- Não seja boba Petúnia, ele não pode fazer... aquilo estando fora da... daquele lugar – evitava qualquer palavra ou expressão que tivesse ligação ao mundo da magia, que eles tanto desprezavam e invejavam.
Harry olhava as marcas de seu sangue no chão, quando pôs os dedos na cicatriz sentiu que o sangue parara de escorrer, apenas pequenas gotas estavam sobre o ferimento. Correu o olhar pelo quarto, sempre olhando para baixo até atingir os pés gordos de seu tio e as pernas finas e tortas de sua tia.
- Vamos Harry, fale o que está acontecendo. Não pode fazer essa bagunça no quarto e sair ileso, você sabe disso – a voz de seu tio era ameaçadora.
O silencio irritou o tio de Harry ainda mais, e este deu um passo em direção ao garoto, foi tudo que Harry conseguiu perceber. O passo largo de seu tio chamou sua atenção a um objeto perto daqueles pés carnudos, sua mala encostada ao lado da porta, e o garoto pareceu ter encontrado uma luz no meio do vazio de seu pensamento. Levantou num pulo, ainda sem olhar os olhos daquelas pessoas paradas diante dele, e correu até sua mala, desvencilhando-se de seu tio que congelara em seu primeiro passo.
- É isso... ainda tenho chances – falava sorrindo enquanto abria a mala às pressas. Puxou um zíper escondido na lateral interna da mala e tirou um pequeno saco manchado – Encontrei! Levantou olhando fixamente e erguendo com a mão direita aquele simples saco, o qual havia recebido dos gêmeos weasley da última vez em que esteve na Toca, imaginando como uma coisa tão pequena poderia salvar tantas vidas. Como um relâmpago ele viu o objeto fugir de seus dedos, e agora sua esperança estava na palma rosada da mão de seu tio.
- Por favor, me devolva – Harry mirava o rosto enrugado e furioso de seu tio, tentava compreender o que se passava na cabeça daquela pessoa.
- Pensa que pode nos ignorar desse jeito? – a boca grande de Válter exprimia um meio sorriso, um sentimento de triunfo, ele queria derrotar Harry.
- Não tenho muito tempo, me devolva isso agora! – falou um pouco irritado.
- Não antes de nos explicar o que está acontecendo e de limpar toda essa bagunça que você provocou – cada palavra de seu tio era como um palmo de terra sobre o corpo de Harry - O que está pensando rapaz? – Harry estava sufocado com tudo aquilo. Será que ele não percebe que até mesmo os trouxas correm perigo? – Você pensa que pode...
- Me dê agora! – gritou Harry – ou eu...
- Ou você? O que você vai fazer rapazinho?
A fúria crescia dentro de harry, estava fervendo, uma leve gota de sangue escorreu de sua cicatriz em forma de raio. Apalpou a cintura e retirou do bolso da calça sua varinha erguendo-a ameaçadoramente.
- O que está fazendo Harry? – Petúnia estava assustada e a visão de sua tia pareceu mostrar para o garoto algo que ele não via há muito tempo – Você vai usar... isso contra seus tios?
Desviou sua varinha, abaixou sua cabeça e diminuiu sua fúria. O que estava fazendo? Aquelas pessoas salvaram sua vida e ele pensava em ameaçá- los? Harry se sentia desprezível, dono de uma personalidade indigna.
- Guarde isso garoto, sabemos que não pode usar... essas coisas aqui, muito menos para nos ferir – Válter era inseguro em suas palavras, tinha pavor da varinha de Harry.
- Eu preciso disso que você me tirou, tenho que usar para... – de repente Harry parou, eles não entenderiam para que aquilo serviria, teve uma idéia – preciso para dar de comer a minha coruja, ela está muito doente e esses vermes do pântano que eu tenho guardados nesse saco são ótimos remédios.
- Vermes do pântano? – Válter afastou o saco de sua barriga e ergueu longe de seus olhos – Não acredito nas suas palavras garoto.
- Muitas vezes chegam a ser venenosos, mas só quando os agitam.
- Limpe seu quarto agora, depois conversamos sobre isso aqui – Válter saiu apressado segurando o saco bem longe de seu corpo, Petúnia lançou um último olhar para Harry e saiu atrás do marido.
- Droga! – Harry chutou a mala.
Voltou a se sentar na cama e Edwiges voou para seu ombro. Olhou a varinha em sua mão, uma bela varinha, vinte e oito centímetros, feita com a pena da calda de uma fênix. Lembrou-se do fato de que a fênix que cedeu a pena para sua varinha, Fawkes, havia cedido também - e somente - outra pena para a varinha de Voldemort, recordações de seu quarto ano giraram em sua mente, a disputa no cemitério e o canto da fênix. Harry ultimamente estava receoso, após ter descoberto a profecia estava se vendo como um semelhante de Voldemort, as palavras que na profecia lhe foram reveladas tornavam Voldemort seu destino, e ele o destino de Voldemort.
Estava inconstante, havia dias em que sentia medo de ter que derrotar Voldemort, em outros sentia vontade de cumprir sua missão e livrar a todos dessa ameaça, chegava a pensar que a única ligação que ainda possuía com o mundo era o dever de destruir Voldemort, vingar seus pais e seu padrinho Sirius, que sua vida não tinha mais uma razão senão enfrentar seu pior inimigo. Mas, em sua lucidez, Harry se preocupava com todos os seus amigos e inimigos, sentia medo de si, medo de sua fraqueza.
Imaginou o que Rony e Hermione estariam fazendo na ordem, se algum dos integrantes poderia supor que Voldemort estivesse em Hogwarts. Por que Hogwarts? A escola sem os alunos era vazia e sem vida, mas nunca solitária. Talvez ele deduzisse que seria o último lugar onde procurariam, já que as únicas pessoas capazes de abrir a câmara secreta são ele e Harry, pois são ofidioglotas.
- Chega de deduções – continuava a olhar a varinha – Preciso avisar de alguma forma o que está acontecendo.
Saiu do quarto sem saber o que faria, desceu as escadas e foi até a sala. Estava escuro, apenas um raio de luz lunar entrava pela janela.
- Lumus – A luz na ponta da varinha iluminou os móveis da sala. Olhando fixamente o corredor que levava ao quarto de seu tio, Harry tomou uma decisão - Eles não vão se incomodar com isso, é muito importante – mirou o corredor com a varinha e disse: - Accio Pó de Flu!
Flutuando em alta velocidade aquele saco borrado voltou as mãos de Harry. Com o pacote em mãos entrou na lareira. Pegou um pouco do pó que estava no saco e colocou o restante dentro do bolso, quando levantou o olhar viu seus tios saindo do quarto e correndo pelo corredor em direção a sala.
- Não faça isso Harry! – esbravejou seu tio.
- Não posso cruzar meus braços. O meu mundo precisa de mim, mais do que eu preciso dele – Harry mal sabia o que estava falando, seu subconsciente estava mostrando para ele próprio, através de sua voz, o que ele sempre quis ocultar de si mesmo.
- Do que está falando garoto? Sabemos que você precisa dessa casa – Válter falava e espremia o rosto, enquanto Petúnia, mais uma vez, apenas se escondia atrás dele e olhava desconfiada para Harry.
- É o meu dever, apenas eu posso pôr um ponto final nisso – disse Harry enquanto levantava o pó de Flu e se preparava para lançá-lo.
Antes de desaparecer na fumaça esverdeada ouviu sua tia falar: - Cuidado Harry.
- Largo Grimmauld, número doze, Londres – e então viu a imagem de seus tios desaparecer. Girou e se debateu, vendo diversas salas passarem diante de seus olhos, até cair cheio de cinzas sobre seu corpo.
A cozinha da casa dos Black estava vazia, apenas a grande mesa e poucas cadeiras a preenchiam. Por um momento Harry ficou sem atitude, parado diante da lembrança de seu padrinho, aquela casa emanava sentimento, sentia que Sirius sempre estaria com ele enquanto pudesse observar aquela casa e lembrar dos momentos que viveram naqueles cômodos.
Saiu apressado da cozinha, na sala poucos móveis estavam cobertos por lençóis brancos, o ar era pesado, dificultava a respiração de Harry. Percebeu algo se movendo perto do corredor que levava ao quarto, algo, provavelmente uma caneca de plástico, caíra no chão e a senhora Black, que fora acordada em seu quadro, começou a gritar e xingar os intrusos, tentando expulsá-los, com palavras como "filhos do demônio" ou "subalternos do inferno" ou ainda "anomalias desprezíveis".
Harry correu pelo corredor em direção ao som que ouvira, passou pelo quadro da senhora Black sem prestar atenção nos seus insultos e chegou às escadas, ouviu algo se mexer no andar superior. Voou pelas escadas gritando coisas como "Alguém da Ordem está aí?" e "Eu sei onde Voldemort está", quando chegou no alto da escadaria viu uma porta se fechar a sua esquerda. Ao se aproximar da porta Harry ouviu um estalo alto vindo de dentro da sala, abriu rapidamente.
- Quem está aí? – Harry estava na despensa que, para sua surpresa, estava cheia. Porém não havia ninguém ali, era impossível se esconder no meio das caixas e prateleiras muito apertadas naquela pequena sala, mas Harry ouvira algo, tinha que encontrar alguém. Jogou as caixas para os lados, procurou em cada pequeno espaço. Não havia ninguém naquela sala, não havia ninguém naquela casa.
Saiu da despensa e andou pelo corredor, ainda podia ouvir os gritos da senhora Black em seu quadro, olhou todos os quartos do primeiro andar, sem sucesso, estava tudo vazio. Parou no quarto em que havia se hospedado da última vez em que esteve na casa, sentou-se na cama e tentou raciocinar.
Onde estariam os integrantes da Ordem? Seria possível eles já saberem sobre Voldemort? Mas o Rony e a Hermione, eles não iriam enfrentar Voldemort, onde estariam eles? Sentia-se mal, nada do que fazia estava funcionando, o sono já tomava seu corpo e enfraquecia sua mente, mas não podia dormir, não podia perder um segundo sequer. Se Sirius estivesse vivo Harry saberia, saberia sobre a Ordem e sobre Voldemort, não precisaria mais de suposições, estava cansado de suposições, queria Sirius com ele novamente.
- Vai desistir tão rápido? – Harry ouviu uma voz e um sorriso – eles não estão aqui garoto.
Jogou roupas, livros e caixas que estavam em seu guarda-roupa em cima da cama, apressado vasculhava gaveta por gaveta, Edwiges voava em círculos pelo quarto e o som dos passos firmes de Harry ecoavam pelas escadas e corredores de toda a casa. Seu desespero cegava, gotas de sangue saltavam de seu queixo e marcavam o chão do quarto. Todas as gavetas estavam vazias, parou diante de um espelho e, repentinamente, chorou.
Sentou-se na cama e cobriu o rosto com as mãos, Harry sentia-se fraco, irritantemente vulnerável. Pegou uma camisa branca e pressionou contra sua cicatriz pulsante, o ferimento estava quente.
Por um instante, Harry se desligou da maioria de seus sentidos e não percebeu o som de passos e gritos se aproximando de seu quarto, até que a porta foi aberta com força e por ela entraram seus tios, Válter e Petúnia, e seu primo, Duda.
- O que está acontecendo garoto? – Valter estava irritado e entrou no quarto gritando, porém não esperava ver toda aquela bagunça.
Petúnia permaneceu calada e fitava Harry assustada e apreensiva, ao ver o sangue na camisa branca que ele segurava ela engoliu um grito e pediu que Duda voltasse para o quarto.
- Mas mamãe eu...
- Para o quarto, Duda – pôs uma mão nos olhos do filho e girou seu corpo gordo em direção à porta – Vá agora!
Harry limpou todo o rosto - sangue e lágrimas - na camisa e não olhou para seus tios, não queria encará-los. Depois que descobriu que a casa onde vivera toda a sua vida sentindo-se numa prisão, na verdade, era sua maior proteção, não sabia mais como se comportar com aquelas pessoas, principalmente sua tia Petúnia, na qual ele, aos poucos, começava a perceber traços de familiaridade. Descobriu que sua tia havia aceitado criá- lo mesmo odiando os bruxos, pois um feitiço lançado naquela casa protegeria Harry contra qualquer coisa, até mesmo Voldemort.
Harry viu os pés gordos de seu primo saírem pela porta e seus tios continuaram a falar, porém Harry não os ouvia.
- O que é isso menino? O que estava fazendo que desarrumou todo o quarto? – Válter tinha medo da resposta de Harry e fingia não ver seu ferimento.
- Não percebe Válter? Ele deve ter feito aquilo.
- Não seja boba Petúnia, ele não pode fazer... aquilo estando fora da... daquele lugar – evitava qualquer palavra ou expressão que tivesse ligação ao mundo da magia, que eles tanto desprezavam e invejavam.
Harry olhava as marcas de seu sangue no chão, quando pôs os dedos na cicatriz sentiu que o sangue parara de escorrer, apenas pequenas gotas estavam sobre o ferimento. Correu o olhar pelo quarto, sempre olhando para baixo até atingir os pés gordos de seu tio e as pernas finas e tortas de sua tia.
- Vamos Harry, fale o que está acontecendo. Não pode fazer essa bagunça no quarto e sair ileso, você sabe disso – a voz de seu tio era ameaçadora.
O silencio irritou o tio de Harry ainda mais, e este deu um passo em direção ao garoto, foi tudo que Harry conseguiu perceber. O passo largo de seu tio chamou sua atenção a um objeto perto daqueles pés carnudos, sua mala encostada ao lado da porta, e o garoto pareceu ter encontrado uma luz no meio do vazio de seu pensamento. Levantou num pulo, ainda sem olhar os olhos daquelas pessoas paradas diante dele, e correu até sua mala, desvencilhando-se de seu tio que congelara em seu primeiro passo.
- É isso... ainda tenho chances – falava sorrindo enquanto abria a mala às pressas. Puxou um zíper escondido na lateral interna da mala e tirou um pequeno saco manchado – Encontrei! Levantou olhando fixamente e erguendo com a mão direita aquele simples saco, o qual havia recebido dos gêmeos weasley da última vez em que esteve na Toca, imaginando como uma coisa tão pequena poderia salvar tantas vidas. Como um relâmpago ele viu o objeto fugir de seus dedos, e agora sua esperança estava na palma rosada da mão de seu tio.
- Por favor, me devolva – Harry mirava o rosto enrugado e furioso de seu tio, tentava compreender o que se passava na cabeça daquela pessoa.
- Pensa que pode nos ignorar desse jeito? – a boca grande de Válter exprimia um meio sorriso, um sentimento de triunfo, ele queria derrotar Harry.
- Não tenho muito tempo, me devolva isso agora! – falou um pouco irritado.
- Não antes de nos explicar o que está acontecendo e de limpar toda essa bagunça que você provocou – cada palavra de seu tio era como um palmo de terra sobre o corpo de Harry - O que está pensando rapaz? – Harry estava sufocado com tudo aquilo. Será que ele não percebe que até mesmo os trouxas correm perigo? – Você pensa que pode...
- Me dê agora! – gritou Harry – ou eu...
- Ou você? O que você vai fazer rapazinho?
A fúria crescia dentro de harry, estava fervendo, uma leve gota de sangue escorreu de sua cicatriz em forma de raio. Apalpou a cintura e retirou do bolso da calça sua varinha erguendo-a ameaçadoramente.
- O que está fazendo Harry? – Petúnia estava assustada e a visão de sua tia pareceu mostrar para o garoto algo que ele não via há muito tempo – Você vai usar... isso contra seus tios?
Desviou sua varinha, abaixou sua cabeça e diminuiu sua fúria. O que estava fazendo? Aquelas pessoas salvaram sua vida e ele pensava em ameaçá- los? Harry se sentia desprezível, dono de uma personalidade indigna.
- Guarde isso garoto, sabemos que não pode usar... essas coisas aqui, muito menos para nos ferir – Válter era inseguro em suas palavras, tinha pavor da varinha de Harry.
- Eu preciso disso que você me tirou, tenho que usar para... – de repente Harry parou, eles não entenderiam para que aquilo serviria, teve uma idéia – preciso para dar de comer a minha coruja, ela está muito doente e esses vermes do pântano que eu tenho guardados nesse saco são ótimos remédios.
- Vermes do pântano? – Válter afastou o saco de sua barriga e ergueu longe de seus olhos – Não acredito nas suas palavras garoto.
- Muitas vezes chegam a ser venenosos, mas só quando os agitam.
- Limpe seu quarto agora, depois conversamos sobre isso aqui – Válter saiu apressado segurando o saco bem longe de seu corpo, Petúnia lançou um último olhar para Harry e saiu atrás do marido.
- Droga! – Harry chutou a mala.
Voltou a se sentar na cama e Edwiges voou para seu ombro. Olhou a varinha em sua mão, uma bela varinha, vinte e oito centímetros, feita com a pena da calda de uma fênix. Lembrou-se do fato de que a fênix que cedeu a pena para sua varinha, Fawkes, havia cedido também - e somente - outra pena para a varinha de Voldemort, recordações de seu quarto ano giraram em sua mente, a disputa no cemitério e o canto da fênix. Harry ultimamente estava receoso, após ter descoberto a profecia estava se vendo como um semelhante de Voldemort, as palavras que na profecia lhe foram reveladas tornavam Voldemort seu destino, e ele o destino de Voldemort.
Estava inconstante, havia dias em que sentia medo de ter que derrotar Voldemort, em outros sentia vontade de cumprir sua missão e livrar a todos dessa ameaça, chegava a pensar que a única ligação que ainda possuía com o mundo era o dever de destruir Voldemort, vingar seus pais e seu padrinho Sirius, que sua vida não tinha mais uma razão senão enfrentar seu pior inimigo. Mas, em sua lucidez, Harry se preocupava com todos os seus amigos e inimigos, sentia medo de si, medo de sua fraqueza.
Imaginou o que Rony e Hermione estariam fazendo na ordem, se algum dos integrantes poderia supor que Voldemort estivesse em Hogwarts. Por que Hogwarts? A escola sem os alunos era vazia e sem vida, mas nunca solitária. Talvez ele deduzisse que seria o último lugar onde procurariam, já que as únicas pessoas capazes de abrir a câmara secreta são ele e Harry, pois são ofidioglotas.
- Chega de deduções – continuava a olhar a varinha – Preciso avisar de alguma forma o que está acontecendo.
Saiu do quarto sem saber o que faria, desceu as escadas e foi até a sala. Estava escuro, apenas um raio de luz lunar entrava pela janela.
- Lumus – A luz na ponta da varinha iluminou os móveis da sala. Olhando fixamente o corredor que levava ao quarto de seu tio, Harry tomou uma decisão - Eles não vão se incomodar com isso, é muito importante – mirou o corredor com a varinha e disse: - Accio Pó de Flu!
Flutuando em alta velocidade aquele saco borrado voltou as mãos de Harry. Com o pacote em mãos entrou na lareira. Pegou um pouco do pó que estava no saco e colocou o restante dentro do bolso, quando levantou o olhar viu seus tios saindo do quarto e correndo pelo corredor em direção a sala.
- Não faça isso Harry! – esbravejou seu tio.
- Não posso cruzar meus braços. O meu mundo precisa de mim, mais do que eu preciso dele – Harry mal sabia o que estava falando, seu subconsciente estava mostrando para ele próprio, através de sua voz, o que ele sempre quis ocultar de si mesmo.
- Do que está falando garoto? Sabemos que você precisa dessa casa – Válter falava e espremia o rosto, enquanto Petúnia, mais uma vez, apenas se escondia atrás dele e olhava desconfiada para Harry.
- É o meu dever, apenas eu posso pôr um ponto final nisso – disse Harry enquanto levantava o pó de Flu e se preparava para lançá-lo.
Antes de desaparecer na fumaça esverdeada ouviu sua tia falar: - Cuidado Harry.
- Largo Grimmauld, número doze, Londres – e então viu a imagem de seus tios desaparecer. Girou e se debateu, vendo diversas salas passarem diante de seus olhos, até cair cheio de cinzas sobre seu corpo.
A cozinha da casa dos Black estava vazia, apenas a grande mesa e poucas cadeiras a preenchiam. Por um momento Harry ficou sem atitude, parado diante da lembrança de seu padrinho, aquela casa emanava sentimento, sentia que Sirius sempre estaria com ele enquanto pudesse observar aquela casa e lembrar dos momentos que viveram naqueles cômodos.
Saiu apressado da cozinha, na sala poucos móveis estavam cobertos por lençóis brancos, o ar era pesado, dificultava a respiração de Harry. Percebeu algo se movendo perto do corredor que levava ao quarto, algo, provavelmente uma caneca de plástico, caíra no chão e a senhora Black, que fora acordada em seu quadro, começou a gritar e xingar os intrusos, tentando expulsá-los, com palavras como "filhos do demônio" ou "subalternos do inferno" ou ainda "anomalias desprezíveis".
Harry correu pelo corredor em direção ao som que ouvira, passou pelo quadro da senhora Black sem prestar atenção nos seus insultos e chegou às escadas, ouviu algo se mexer no andar superior. Voou pelas escadas gritando coisas como "Alguém da Ordem está aí?" e "Eu sei onde Voldemort está", quando chegou no alto da escadaria viu uma porta se fechar a sua esquerda. Ao se aproximar da porta Harry ouviu um estalo alto vindo de dentro da sala, abriu rapidamente.
- Quem está aí? – Harry estava na despensa que, para sua surpresa, estava cheia. Porém não havia ninguém ali, era impossível se esconder no meio das caixas e prateleiras muito apertadas naquela pequena sala, mas Harry ouvira algo, tinha que encontrar alguém. Jogou as caixas para os lados, procurou em cada pequeno espaço. Não havia ninguém naquela sala, não havia ninguém naquela casa.
Saiu da despensa e andou pelo corredor, ainda podia ouvir os gritos da senhora Black em seu quadro, olhou todos os quartos do primeiro andar, sem sucesso, estava tudo vazio. Parou no quarto em que havia se hospedado da última vez em que esteve na casa, sentou-se na cama e tentou raciocinar.
Onde estariam os integrantes da Ordem? Seria possível eles já saberem sobre Voldemort? Mas o Rony e a Hermione, eles não iriam enfrentar Voldemort, onde estariam eles? Sentia-se mal, nada do que fazia estava funcionando, o sono já tomava seu corpo e enfraquecia sua mente, mas não podia dormir, não podia perder um segundo sequer. Se Sirius estivesse vivo Harry saberia, saberia sobre a Ordem e sobre Voldemort, não precisaria mais de suposições, estava cansado de suposições, queria Sirius com ele novamente.
- Vai desistir tão rápido? – Harry ouviu uma voz e um sorriso – eles não estão aqui garoto.
