Capítulo 3 – A vítima

A voz que vinha da foto na parede era familiar, aquele era um antigo diretor de Hogwarts que conversara com Harry da última vez em que ele esteve na casa. Movia-se pelos seus diversos quadros espalhados pelo mundo, o que chegou a ser útil a Dumbledore no ano anterior.
- Eles o esperam, Harry.
- Você sabe onde eles estão, os integrantes da Ordem da Fênix? – Harry levantou-se e ficou de frente para o quadro.
- Pense um pouco garoto, por que eles precisariam permanecer aqui? O ministério já sabe a respeito de você-sabe-quem, não há motivos para se esconderem.
- Então onde eles... – Harry interrompeu o que falava, pois sua atenção voltou-se para fora do quarto, mais uma vez ouvira um estalo na despensa – tem alguém nessa casa?
- Não, não há ninguém – respondeu o retrato.
- Nem um elfo doméstico?
- Não. Depois da morte de seu padrinho – o homem no quadro pareceu receoso em falar, mas nem percebeu o quanto foi estúpido na colocação – Bom, depois que ele se foi a casa foi abandonada. Dumbledore não deixa ninguém entrar aqui e fiscaliza pessoalmente.
- Mas duas vezes eu ouvi algo se mexer e estalos vindos dos corredores e salas da casa, a casa não está abandonada – foi até a porta e olhou o corredor vazio, a porta da despensa estava aberta, lembrou-se de tê- la fechado assim que saiu. Voltou para falar com o homem na foto – não estou sozinho aqui. Acabo de fechar uma porta e novamente ela está aberta. Pode ser Dumbledore fiscalizando?
- Não crie fatos Harry, a casa está vazia. Venha a Hogwarts agora, Dumbledore está em sua sala esperando por você.
- Claro. Preciso falar urgentemente com Dumbledore. Como faço pra chagar em Hogwarts?
- "Hogwarts, sala da diretoria", basta usar o resto do seu pó, não usou tudo não é mesmo? – Falou o homem da foto dando uma piscadela e saindo do quadro.
Harry saiu devagar do quarto, ao alcançar o corredor olhou a porta aberta da despensa e sentiu um frio tomar seu corpo. Andou lentamente em direção a porta, seus passos rangiam na madeira velha do assoalho. Aos poucos o interior da despensa era revelado, suas caixas e prateleiras muito apertadas. Harry olhou novamente a pequena sala e não havia ninguém ali, apenas dois ratos puderam ser vistos correndo para fora do local. Saiu e desceu as escadas em direção a sala.
Misteriosamente a Sra. Black havia se calado. Harry pensava que ela apenas parava de gritar quando alguém a acalmava, lembrou-se de Sirius fazendo isso, ultimamente muita coisa fazia Harry lembrar Sirius, de uma folha caindo a um pedaço de madeira queimando na lareira, o rosto, sorriso e olhar de seu padrinho sempre fluíam abruptamente diante de seus olhos.
Passou lento e silenciosamente pelo quadro da mãe de Sirius, apressou- se até a lareira na cozinha. Tirou a bolsa manchada da calça e dela o que restava de Pó de Flu.
- Hogwarts, sala da diretoria – Harry jogou o pó sobre seus pés e foi envolto por uma fumaça esverdeada, antes de ser sugado pela lareira, teve a impressão de ver um vulto passar rapidamente entre os móveis cobertos por lençóis na sala logo em frente à porta da cozinha.

Harry caiu com firmeza sobre as pernas. Quando abriu os olhos viu três pessoas sérias olhando para ele: Dumbledore, Cornélio Fudge e Arthur Weasley.
- Aproxime-se, Harry – Falou Dumbledore calmamente.
A sala de Dumbledore estava organizada, diferente da última vez em que Harry esteve nela, porém se encontrava um pouco mais cheia, um ou dois armários com livros somavam o grande número de armários que já havia ali em sua última visita. Ao andar em direção a mesa de Dumbledore, Harry notou uma pequena porta à direita com uma placa escrita "expelida a entrada, exceto do diretor e de permitidos por ele", pensou o que teria naquela sala e o que significaria "expelida a entrada", recordava aquela porta, mas não aquela placa.
- O que aconteceu Harry? – perguntou Dumbledore assim que o garoto parou diante de sua mesa.
- Eu precisava falar com o senhor – Harry lançou o olhar para Fudge e para o Sr. Weasley que estavam à direita e à esquerda de Dumbledore – é sobre Voldemort.
Fudge engoliu ar e falou gaguejando – Não fale o nome dele garoto, não acha imprudente falá-lo agora?
- Sinceramente não acho, senhor ministro – desafiou Harry.
- Tudo bem Harry, o que você tem para nos falar de tão importante que justifique sua saída da casa de seus tios? – apesar de falar com suavidade, o conteúdo do que Dumbledore dizia intimidava Harry.
- Bem, eu acho que sei onde Voldemort está – Disse Harry provocando soluços em Fudge – Desculpe, senhor ministro.
- Antes de qualquer coisa, o que o levou a crer que sabe onde ele está?
- Aconteceu de novo. Eu tive um daqueles sonhos... visões – Olhou para o Sr. Weasley, ele parecia expressar pena e ao mesmo tempo apoio com o olhar.
- Harry você se lembra do que aconteceu no final do ano passado, não se lembra? – Dumbledore olhava por cima de seus óculos de meia lua.
- Sim, senhor. Como poderia esquecer? – Sentiu raiva de Dumbledore, aquilo não era importante, Voldemort estava na câmara secreta, para que toda aquela conversa?
- Então eu te pergunto Harry, como vão seus treinos de Oclumência?
- Tenho tentado todos os dias antes de dormir, na verdade treino durante toda tarde também.
- E mesmo assim teve essa visão?
- Eu nunca fui muito bom em Oclumência senhor – Harry começou a entender onde Dumbledore queria chegar – Foi muito real senhor, eu não caí em outra armadilha.
- Harry, Voldemort usou você uma vez antes, e isso nos trouxe muitos problemas, não se deixe levar pelos planos dele.
- Mas senhor, dessa vez foi muito real...
- Sempre foi real Harry – interrompeu Dumbledore.
- Não como dessa vez. Minha cicatriz chegou a sangrar.
- Sangrar? – Arthur falou preocupado e se aproximou de Harry, tocou seu rosto – Você está bem Harry, meu rapaz? Como isso foi possível?
- Sua cicatriz sangrou Harry? – Dumbledore pareceu surpreso – melhor aprofundar seus treinamentos de Oclumência então.
- Ouça-me! Estou dizendo que sei onde Voldemort está – Harry não estava gostando da maneira como Dumbledore estava sempre desviando a atenção do foco principal.
- Não Harry, você não sabe.
- Não acredito, você sequer deseja saber onde eu o vi? Mesmo que ele não esteja no local, não seria nem uma possibilidade? – Harry não aceitava estar errado, não queria ter tido tanto trabalho por nada.
- Não, não é uma possibilidade. E, por favor, não nos atraia a saber onde você acha que ele está. Acho que você está cansado Harry, não irá voltar para a casa de seus tios, faltam poucos dias para o início das aulas e temos alguns alunos hospedados na escola que gostarão de vê-lo. A profª Minerva McGonagall, está embaixo das escadas esperando para levá-lo até o dormitório de sua casa.
Harry sentiu vergonha, será que Voldemort o teria usado mais uma vez? Lançou um último olhar para as pessoas no escritório, baixou a cabeça e deu as costas indo em direção as escadas em espiral que estavam atrás dele.

- Olá Harry, que bom que está aqui. Vamos para os dormitórios, amanhã será um longo dia – a profª McGonagall estava séria como sempre, com seu chapéu pontudo e roupas azul-marinho. Guiou Harry até o retrato da mulher gorda, acordou-a e disse a senha – Cavalo-do-Lago – olhou para Harry e se despediu – Até logo Harry, descanse bem e se prepare para muito trabalho.
- Até logo profª McGonagall – Harry entrou através do quadro, que se fechou logo após ele passar.
Apesar de ser muito tarde, a lareira do salão comunal da Grifinória ainda estava acesa, duas poltronas estavam diante dela. Logo Harry reconheceu aquelas pessoas sentadas em frente ao fogo, uma de cabelos ruivos, alta de magra a outra tinha cabelos castanhos cheios. Aproximou-se das costas de seus amigos devagar enquanto ouvia eles conversarem:
- Ele deve estar muito curioso Ron – Hermione falava com doçura.
- Eu sei Mione, mas o que nós podemos fazer? Não vamos inventar notícias. Logo ele vai estar aqui conosco.
- Ron, estive pensando... – parou de repente.
- O que? – Falou Rony curioso
Quando harry chegou perto o bastante para ver os rostos de seus amigos, percebeu que Hermione estava envergonhada e Rony tinha uma expressão de "não estou conseguindo entender" no rosto.
- O que você esteve pensando Mione? – Falou Harry para se divertir com a cara que seus amigos fariam.
- Harry! – gritaram os dois enquanto saltavam da poltrona nos braços de Harry.
O abraço que recebeu de seus amigos foi a melhor coisa que Harry poderia ter naquele momento. Sentiu-se feliz como há muito não estivera. Dividir um sorriso era uma experiência que Harry demorava a experimentar, estar com aquelas pessoas deixava o garoto realizado, sentia que só era ele mesmo quando estava com as pessoas que amava.
- Quem te trouxe até aqui Harry? Achei que só viesse no início das aulas – indagou Rony.
- Eu mesmo vim, é uma longa história.
- Harry, estávamos preocupados, com medo de que você fizesse algo errado – Hermione falava sorrindo.
- Pior que eu devo ter feito...
- Seu rosto está sujo, Harry. Que marcas são essas?
- È sangue. Escorreu da minha cicatriz – as palavras de Harry espantaram seus amigos. Hermione já não sorria e Rony estava assustado.
- Como isso foi possível? O que aconteceu Harry? – Rony abriu os olhos até onde pôde.
- É uma longa história.
- Você deve estar cansado, melhor ir dormir e deixar para nos contar tudo amanhã – Hermione tocou o rosto de Harry – Mas antes tome um banho, você está com uma aparência horrível.
- Obrigado amigos, tudo que eu precisava neste momento era de vocês – Harry sorriu e subiu as escadas em direção ao dormitório.