Capítulo 4 – Rudy Rigorous
O Sol entrava através da janela do dormitório masculino da Grifinória e tocava gentilmente o rosto de Harry. Havia alguns minutos que abrira os olhos, e, até então, permanecia parado com o olhar fixo no teto do quarto.
O garoto estava realizado, muitas dúvidas pressionavam sua mente, mas naquela manhã gentil, uma manhã em Hogwarts, Harry esqueceu seus problemas. Chegou a pensar que nada era grave o bastante, nem perigoso demais, a menos que o obrigasse a perder aquele Sol entrando pela janela de sua casa. Desviou seu olhar do teto para as outras camas, todas estavam vazias. "Rony deve estar com Hermione no salão comunal", com esse pensamento Harry respirou fundo e decidiu levantar, saindo assim de seu sonho acordado.
Duas coisas chamaram a atenção de Harry assim que ele ergueu seu tronco: suas malas estavam colocadas próximas a sua cama e sobre elas um envelope com o emblema de Hogwarts. Pegou a o envelope e seus óculos que estavam na mesa de cabeceira ao lado da cama, o interior revelou duas cartas, uma azulada e outra branca, Harry leu a azulada.
Prezado Sr. Harry Potter, Em seu quinto ano na escola de magia e bruxaria "Hogwarts", o senhor foi submetido a testes de aptidão relativa a matérias isoladas, os denominados N.O.M.s (Níveis Ordinários de Magia) que servirão como pré-requisitos para o futuro trabalho que deseje exercer em benefício da comunidade bruxa.
Portanto, junto com sua carta de anúncio do ano letivo lhe é enviado os resultados de seus N.O.M.s, os quais serão expostos a seguir:
Em Teoria dos Feitiços, sob o julgamento do professor Tofty, classificado como "excelente";
Em Transfiguração, sob o julgamento do professor Rostolfo, classificado como "aceitável";
Em Herbologia, sob o julgamento da professora Katherine, classificado como "aceitável";
Em Defesa Contra as Artes das Trevas, sob o julgamento do professor Tofty, classificado como "excelente";
Em Poções, sob o julgamento da professora Marchbanks, classificado como "excede as expectativas";
Em Trato das Criaturas Mágicas, sob o julgamento da professora Katherine, classificado como "excede as expectativas";
Em Adivinhação, sob o julgamento da professora Marchbanks, classificado como "deplorável";
Em Astronomia, sob o julgamento dos professores Marchbanks e Tofty, classificado como "aceitável".
Esperamos que seu resultado seja satisfatório para a profissão que deseja seguir, caso contrário, seu esforço deverá ser multiplicado para atingir resultados perfeitos em seus N.I.E.M.s.
Atenciosamente, Diretório de Educação Mágica (DEM).
Harry ficou parado por alguns minutos lendo e relendo seus N.O.M.s, a princípio satisfeito com o resultado. Porém algumas lembranças entristeceram o garoto: no ano anterior, em seu teste vocacional com a professora Minerva, Harry fora informado que ela só aceitava alunos classificados com "excede as expectativas" ou mais em sua turma de N.I.E.M.s, no entanto o garoto apenas havia alcançado um "aceitável" em transfiguração. Passou a imaginar como a professora reagiria e lembrou-se dela afirmando que faria de tudo para que ele se tornasse um auror, teve vergonha antecipada da reação dela ao saber que ele não atingira a nota pedida.
Estava perdido, Harry sabia que só tinha talento para se tornar auror ou jogador de quadribol, e certamente preferia a primeira opção, não que não gostaria de ser um apanhador de um grande time, mas ser auror passou a tomar grande parte do pensamento e intuito de Harry no último ano.
Quando relia seus N.O.M.s pela centésima vez, novamente ouviu a voz da professora Minerva lembrando-o de uma colocação que esta havia feito em sua consulta ano passado: "Snape não aceita ninguém com menos que 'excelente' em sua turma".
Agora não havia como remediar, ainda encontrava esperanças quanto à professora Minerva aceitá-lo em sua turma, mas Snape, com certeza, não faria o mesmo. Sua classificação em poções foi "Excede as expectativas", que, para Harry, havia sido algo surpreendente, mas mesmo assim não atingiu a meta. Sentiu sua oportunidade escorrendo entre os dedos.
Ficou parado e sem ação por alguns minutos, então resolveu ler a carta de Hogwarts.
Sr. Harry Potter,
Comunicamos que em seu sexto ano em Hogwarts o senhor terá a oportunidade de escolher entre as matérias que desejará seguir, as que melhor se adaptem às suas aspirações de N.I.E.M.s, sendo obrigatório para todos os alunos somente "Teoria dos feitiços" e "História da Magia".
Harry não teve o trabalho de ler a lista de materiais e livros que se seguiram na carta, dobrou e recolocou sobre a mala.
- Excede as expectativas? Apenas por um simples erro? – Hermione quase batia o resultado dos N.O.M.s no rosto de Rony enquanto falava.
- Você não esperava ser excelente em tudo, esperava? – falou Rony inseguro.
- Não, não achei que fosse... mas... oi Harry – Hermione finalmente percebeu a presença do garoto – gostou do resultado de seus N.O.M.s?
- Gostei sim – Harry não entrou em detalhes, não esperava que Hermione fosse delicada quando soubesse que não poderia ser auror. Talvez depois falasse para o Rony.
- Meus N.O.M.s foram horríveis – disse Rony pegando um sapo de chocolate e oferecendo outro para Harry.
- E você Mione, o que achou? – Sabia que era inútil perguntar aquilo.
- Gostei de Feitiços e Transfiguração, sabe, acho que me superei em Astronomia, mas minha nota em Runas não foi a que eu esperava, houve uma confusão numa interpretação, mas eu não achava que minha nota...
- Ela tirou excelente em quase tudo, Harry – interrompeu Rony apressado.
- O que com certeza não é suficiente – disse Hermione dando ênfase ao "com certeza" e olhando fixamente para o Rony.
- Pelo contrário Hermione, qualquer emprego que você escolha com certeza terá os N.O.M.s suficientes, nem conheço um trabalho que exija Runas – Rony tentou dar a mesma ênfase ao "com certeza", mas não teve muito sucesso.
- O que o Neville está fazendo aqui? – mudou de assunto Harry, enquanto observava o garoto sentado perto da janela.
- Muitos alunos estão hospedados em Hogwarts – afirmou Rony – alguns são filhos de aurores, outros filhos de membros da Ordem da Fênix que, aliás, cresceu muito.
- Agora que o ministério reconheceu a volta de Voldemort – Hermione pareceu se forçar a falar tal nome – Hogwarts está sendo vista como um lugar seguro para seus alunos, os bruxos confiam muito em Dumbledore e muitos mandaram os filhos para um lugar seguro enquanto trabalhavam no caso.
- Mas Neville não é filho de aurores... bom, ele é, mas seus pais não têm condições para enfrentar Voldemort – observou Harry.
Rony e Hermione se olharam por um momento antes de falarem algo.
- A família de Neville sofreu um ataque, Harry.
- Mas isso foi há muito tempo, nós os vimos no St. Mungus, lembram? - Harry não entendia porque só agora eles pareciam abalados.
- Não estamos falando dos pais dele – a voz de Hermione baixou até um sussurro – Comensais atacaram a casa da avó de Neville... ela está no St. Mungus agora, teve muita sorte, eles pensaram tê-la matado.
- O próprio Neville escapou por pouco – acrescentou Rony – Ele se escondeu dentro de um guarda-roupa. - Os comensais destruíram grande parte da casa, quando eles foram embora Neville encontrou a avó estirada no chão da sala e procurou ajuda – continuou Hermione enquanto eles miravam Neville pensativo – Coitado, ficou muito abalado. - Papai disse que ela já está bem, alguns dos integrantes da Ordem foram visitá-la, está muito ferida e não pode sair do hospital, mas não corre risco de vida – Disse Rony tentando animar.
- Por que não paramos de falar sobre isso e vamos comer? Estou faminto – Harry não comia bem há muitas noites, apenas ciscava um pouco nos pratos da casa de seus tios.
- Claro, Harry. Você aproveita e nos conta tudo o que aconteceu na noite passada...
- Não acha melhor contarmos antes, Mione? – Interrompeu Rony quando Hermione já se virava em direção ao retrato da mulher gorda.
- Contar o que? – Perguntou Harry curioso.
- Deixe que ele veja com os próprios olhos, não iria acreditar – Hermione deu as costas e os dois seguiram seus passos em direção à passagem no retrato. Antes de cruzar o vão, Harry lançou um último olhar para o amigo tristonho na poltrona que pareceu responder com um curto sorriso.
- Como você pôde pensar que era verdade? – Indignou-se Hermione enquanto cruzavam o saguão de entrada em direção ao salão principal – Já se esqueceu de como Voldemort usou a ligação de vocês pra te atrair para o ministério ano passado?
- Mas dessa vez foi amedrontador.
- E é assim que ele quer que seja, Harry – Hermione repetia as palavras de Dumbledore – Você não pode dar abertura para ele. Não tem treinado Oclumência?
- Sim, tenho. Entenda Mione, você também se convenceria se visse como minha cicatriz sangrou, quero dizer, como pode um ferimento cicatrizado há tanto tempo sangrar?
- Sua cicatriz sangrou? – assustou-se Rony.
- Não apenas sangrou, ela pulsou e chegou a esquentar. Voldemort não poderia fazer isso, por mais que controle meus sonhos.
- Talvez possa. Talvez a ligação entre vocês esteja em um nível tão avançado que ele consiga controlar seu corpo e mente – Hermione falava séria enquanto eles passavam pelo grande portão duplo do salão principal.
Harry surpreendeu-se com o número de alunos presentes no local, o salão estava cheio de comida, e nas mesas de cada uma das casas vários alunos se alimentavam, liam a mais recente edição do Profeta diário e conversavam. Harry observou que na mesa da Sonserina havia o maior número de alunos e pensou que seriam filhos de Comensais da Morte.
- Como Dumbledore aceitou abrigar os filhos dos Comensais? – cochichou Harry – enquanto os pais tentam matar, eles ficam aqui espionando.
- Dumbledore não pode recusar seus alunos – afirmou Hermione enquanto se sentavam à mesa da grifinória – Os Comensais de Voldemort estão muito ocupados, e agora estão presos ou foragidos também, seus filhos não podiam ficar sem abrigo.
- Isso é ridículo! – reclamou Rony – eles são nossos inimigos não devemos sentir pena deles.
- Então talvez um deles tenha ajudado Voldemort a entrar no castelo.
- Não alimente esse pensamento Harry, Voldemort não pode estar em Hogwarts. A escola está mais protegida do que jamais esteve. A Ordem está fazendo a segurança do castelo, sem contar a forte presença do ministério e seus aurores.
- Melhor esquecer essa possibilidade – exclamou Rony enquanto pegava um pouco de torta de morango e oferecia para os amigos.
Continuaram especulando sobre os ocorridos na noite passada, até Harry mencionar os vultos em Grimmauld.
- Quem poderia estar na casa? – Falou Rony aproximando o rosto dos amigos.
- Você tem certeza que viu alguém lá?
- Havia alguém na casa – afirmou Harry decidido – eu ouvi ruídos e estalos fortes, provavelmente alguém aparatou pelos cômodos. Não fossem suficientes os ruídos, eu ainda vi algo se movendo entre os móveis e a Srª. Black se calou, sabemos que ela não se cala sozinha em tão pouco tempo.
Trocaram olhares por um tempo. Harry percebeu um garoto pequeno sentado no fim da mesa, não lembrava de tê-lo visto nos outros anos, era magro, possuía cabelos claros e lisos, com uma franja cobrindo toda a testa.
- Quem é o garoto? – Harry acenou com a cabeça na direção do menino.
O silêncio durou algum tempo até que Harry sacudiu o braço de Rony, forçando-o a responder.
- Er... é um novato. Ainda não faz parte de nenhuma casa, eu acho – Rony encarou Hermione assim que acabou de falar.
- Bom, quando eu cheguei em Hogwarts – continuou Harry como se nem tivesse mudado de assunto – Dumbledore estava com o ministro e o Sr. Weasley e me disse que eu poderia ficar aqui até o início das aulas.
- Você já deveria estar aqui há muito tempo. Nos disseram que deveria ficar na casa de seus tios, mas, sinceramente, aqui é muito mais seguro e seus tios não gostam de você, não existe motivo para ficar lá – Rony fez careta enquanto falava.
- Se eles decidiram que é melhor para o Harry ficar na casa dos tios, eles devem ter motivos, não acha, Rony?
Harry se sentiu angustiado, sabia porque era melhor para ele ficar com seus tios, mas não lembrava que não havia tido coragem de relatar a profecia para os amigos. E sentiu-se fraco ao perceber que ainda não tinha essa coragem, e que não seria ali, e que talvez nunca fosse, o momento de contar para eles a proteção que obtivera naquela casa graças ao sacrifício de sua mãe e o dever que tem em derrotar Voldemort.
- Mas a verdadeira questão não é essa – continuou Hermione – A questão é o que Dumbledore, o ministro Fudge e o Sr. Weasley estavam discutindo. Digo, apenas os três.
- Talvez seja algo sobre o ministério...
- E sobre Voldemort, sem dúvida – Hermione pensou por um tempo e voltou a falar – Dumbledore não costuma excluir os outros integrantes da Ordem das reuniões, é provável que estejam discutindo algo sobre o ministério muito secreto, que apenas aqueles que trabalham lá possam saber.
- Não acho que os outros integrantes da Ordem não sejam dignos de confiança...
- Talvez Dumbledore tenha medo de traição – interrompeu Hermione que não conseguia parar de falar.
De repente Harry percebeu que o garoto no canto da mesa os observava, quando Rony e Hermione também notaram, pararam sua discussão sobre os motivos de Dumbledore estar em reunião exclusiva com o ministro Fudge e o pai de rony e enfiaram o rosto em suas tortas.
- O que há com vocês? – Novamente desviou o olhar dos amigos para o garoto na ponta da mesa. Ele olhou diretamente para Harry, após alguns segundos o menino se levantou e veio até ele.
Harry não entendeu, a aproximação do menino lhe trazia um nervosismo, como se algo grandioso estivesse prestes a acontecer e ele não se sentisse preparado ou prevenido. Quando o garoto estava a poucos passos Harry ensaiou um sorriso, mas não foi necessário. O menino deu um passo mais largo que sua perna, cambaleou e caiu sobre os joelhos, causando risadas por todo o salão, principalmente na mesa da Sonserina, onde um rapaz loiro e de rosto fino sorria como um cavalo e recitava algo como "filho de Potter".
- Maldito Malfoy! – resmungou Harry que não havia percebido a presença de seu rival – Está sozinho agora que o pai foi para Azkaban, não é?
Draco não ouvira o comentário de Harry, e se tivesse ouvido Harry nunca saberia, não estava interessado. Levantou-se e foi ajudar o garoto a se erguer do chão úmido.
- Segure minha mão. Está bem? Como você se chama?
Quando o garoto ergueu a cabeça Harry viu um largo sorriso e um olho negro e profundo encará-lo. O menino ajeitou sua franja e deixou perceber uma marca em sua testa, uma cicatriz em forma de raio, que fez Harry petrificar diante dele.
- Meu nome é Rudy, Rudy Rigorous. Você é Harry Potter, não é? Parece que temos algo em comum – sorria para Harry com uma gentileza inocente.
N/A - Agradecer as reviews que recebi (Principalmente a nica-chan), espero que estejam gostando e sempre deixem reviews . Ah!! Já que estou falando aqui, gostaria de lhes apresentar o Rudy, ele será muito importante na trama, não só por ter uma cicatriz igual a do Harry... ou talvez só.
