A dor de uma perda!

Kouga acordou... Seu corpo inteiro doía.

Cada músculo... Cada centímetro.

Aquele sofá não servia para dormir.

Não servia.

Pois, seu corpo inteiro estava doendo.

Olhou para a janela da sala.E viu que ainda estava escuro.Olhou para o relógio de pulso.Ainda era madrugada.

Tentou então, voltar a dormir.

Mas... E se fosse embora sem dizer nada?

Mas...

Ele realmente não queria.

Sentou-se no sofá.E ali ficou.Olhando para a tv, que estava na sua frente.

Observava a atentamente.

Estava pensando.

Kagome sofria pela perda do tal Inuyasha.Mas, não demonstrava isso.Bem, que no dia que se encontraram pela primeira vez ela falou como era triste, amar alguém e não ser amada.E parecia que só para ele, ela demonstrava isso.Pois, teve outras situações, como o dia anterior...

E tinha outra coisa que o incomodava.

Por que ele tinha tido aquela tentação em beija-la?

Em sentir o toque de seus lábios.

Fora tão estranho.

Ele não conseguira entender.

E pelo jeito nunca iria.

Ele voltou a se deitar no sofá.

Seus pensamentos tão confusos.

Ele trairá Ayame... Ele... Ele tinha beijado uma humana.Uma humana, idiota.Uma humana repugnante.Uma reles humana.

Seria bom se ele pensasse exatamente desse jeito.Pois, não era assim...

Do jeito que queria pensar parecia que tivera nojo do que fez.Mas, a verdade era uma só: ele tinha "até" gostado do que fizera.

Mas seus pensamentos estavam todos tão confusos, perturbados.

Fechou os olhos desejando que dormisse.

Quem sabe pelo menos nos sonhos... Ele não estive tão confuso.

Sem querer, ou ao menos perceber, lembrou do dia da morte de Ayame.De como foi triste vê-la morta.Dos seus sonhos.E da sua decisão.E também da pluma que achou ao seu lado, em sua cama.Mas, também pensou em Kagome.Seus sentimentos estavam em colapso.Não sabia mais o que sentia.E nem sabia o que fazer.

Com tantas confusões em sua mente ele acabou por voltar a adormecer.

+.+

Um pouco longe dali...

Algumas horas a mais.

Inuyasha estava em seu apartamento.

Estava na cozinha preparando o próprio café.

Não era uma cozinha muito grande.

Terminou de fazer o café.Colocou as panquecas em um prato sobre a minúscula mesa, com apenas, dois lugares.

Suspirou.

-Kikyou... Acorda!-ele gritou.

De repente na porta apareceu uma garota, bem parecida com Kagome.A não ser pelos longos cabelos que estavam soltos.E pelos olhos frios castanhos.Ela vestia uma saia e uma camisa de mangas longas, verde-musgo.E sapatos altos de salto agulha negros.

Ela deu um meio sorriso e se sentou em uma das cadeiras.

-Bem...-Inuyasha começou a falar se sentando na outra cadeira.-Vou te acompanhar até o aeroporto.-ele disse tomando um gole do seu suco de laranja.

-Certo.Eu venho em um mês.-ela acrescentou o encarando.

-Eu sei.

Depois, disso não houve uma única palavra até terminarem de comer.

Kikyou se levantou.

-Eu já volto.-ela disse saindo da cozinha.

Inuyasha a viu sair.Mas, logo depois saiu também.E ficou a esperar na sala.

Era uma sala pequena tinha um único sofá.E na frente deste uma estante com a tv. Logo ali perto o telefone pendurado na parede.E só.Era realmente uma sala bem pequena, tenham certeza disso.

Inuyasha olhou para estante e viu uns dos porta-retratos virados para baixo.

Sorriu nervoso e olhou para os lados, para ver se Kikyou não vinha.

Foi até o porta-retrato o levantou e olhou fixamente para a foto.

Era Kagome ali.Só ela.

Ele se culpava por deixa-la triste, mas, Miroku sempre dizia que Sango, sua namorada, falava que Kagome estava ótima.E não sofria por ter perdido Inuyasha.

Rapidamente tirou a foto do porta-retrato e dobrou a foto duas vezes e colocou na carteira.

Era melhor fazer isso... Ou fazer o que Kikyou queria... Jogar fora.

Mas, apesar, de saber que não amava Kagome, gostava da menina.Era um gostar diferente de paixão, diferente de amigo.

-Vamos?-perguntou Kikyou que agora não estava mais com os cabelos soltos, mas, sim presos em um coque bem alto, com algumas mechas caindo.

-Sim, claro.-ele sorriu.

+.+

Kagome olhou de relance para o sofá da sala.Kouga ainda estava dormindo.

Avisou a mãe que iria acordar o amigo e sem ouvir a resposta da cozinha foi até a sala.

Caminhou nas pontas dos pés.

Quando ia se preparar para dar um grito e fazer Kouga acordar com um susto...

-Não adianta... Eu estou acordado.-ele disse estragando completamente a graça da brincadeira que Kagome queria fazer com o amigo.

-Chato.-ela reclamou.

Ele se sentou no sofá e ela também.

-Ora... Quem queria me assustar era você!Como eu posso ser o chato?-ele perguntou sarcástico.Mas, no fundo estava aliviado.Pois, ela nunca saberia que ele a tinha beijado enquanto, ela dormia.

Ela não respondeu e acabou por virar um silêncio que incomodava.

Mas foi interrompido pela voz da mãe de Kagome:

-Meninos!Venham tomar café!-ela berrou da cozinha.

Kouga e Kagome se levantaram e foram à cozinha tomar seu café.

+.+

Eles estavam novamente na sala.

O silêncio também estava.

A mãe de Kagome tinha ido ao mercado junto a Souta.

Kagome olhou para Kouga, mas, ele não a olhou.Parecia entretido demais olhando pela janela.Já parara de nevar e o céu tinha um azul cinzento...

-Obrigado.-ela disse quebrando aquele silêncio.

-Do que?-ele perguntou olhando para ela.E sem querer encarando os olhos azuis dela.

-Por ontem.Você me levou para cama.Deveria ter me deixado no sofá.Sabe?Eu sou muito teimosa.-ela falou em tom brincalhão.

-Bem... Que queria o sofá só para mim.-ele disse sorrindo e desviando o olhar do dela.

-Mas, temos "dois" sofás...-ela o corrigiu.

-Tá... Eu te levei.Bem, deu para perceber, né?Quando você acordou.-ele disse grosseiramente.

-Eu sei.Não precisa ser grosso.-ela disse fazendo bico.

Ele encarou novamente os olhos dela.E como num passe de mágica ele corou.

Corou até a alma.

Como ele era cara-de-pau.

A beijou e ela nem sabia.

E ainda falava normalmente com ela.

Traiu Ayame.

Sentiu uma imensa dor no coração.

E em um impulso levou a mão até o peito.

Era tão doloroso lembrar Ayame.

-Está bem?-uma Kagome muito preocupada perguntou.

-Não... Quero dizer, sim.-ele estava confuso.

Kagome sorriu um pouco triste.

E antes que Kouga pudesse perceber ela o abraçou.

-Por que...-ele nem sabia o que perguntar.

-Você lembrou de Ayame.Você está triste Kouga, eu sei que está.-ela disse com carinho.

Ele sentiu cheiro de lágrimas.

Com Kagome... Ele sempre esquecia que era diferente... Mas, nunca esquecia que ela era humana.

Tão estranho, saber que ela era humana e esquecer-se que era yokai.

Afastou-se do abraço.

E viu os olhos dela cheios de lágrimas, uma escorrendo atrás da outra.

-Kagome...-ele murmurou.

O que faria?

Ele já a vira chorar.

Ela voltou a abraça-lo.

-Eu... Só quero... Eu...-ela estava triste.

-Cale a boca!-ele disse quase gritando.-Não... Desculpa... Só fica quieta e...

Bem, ele não era tão delicado era?

Ela limpou as lágrimas com a própria mão.E aos poucos foi saindo do abraço.

-Você pode guardar um segredo?-ela perguntou.

-Diz.-ele falou fechando os olhos.Por algum motivo não queria vê-la chorando.

-Não conta para ninguém que eu choro, por ter perdido Inuyasha.-ela disse com amargura na voz.

-Juro que não conto a ninguém.

Então, Kagome considerava Kouga não só amigo, mas, um confidente.

-Eu sei que você tem problemas... Mas...

Ele tampou a boca dela com o dedo indicador.

-Xiu!Pode me contar.-ele disse abrindo os olhos finalmente.

-Obrigado.-ela murmurou triste.-Tenho mais uma coisa para te confidenciar.-falou com a voz um pouco mais alegre.

-O que?-ele perguntou curioso.

-Kagome me ajude com as compras.-era a mãe de Kagome.Que tinha acabado de chegar.

+.+

Inuyasha deu um beijo de despedida em Kikyou.E a viu caminhar se afastando dele.

Mas, não quis ficar e vê-la partir, só de pensar que ficaria um mês sem ela...

Deu meia volta e saiu do aeroporto.

Tirou do bolso a carteira e desta a foto de Kagome.

A desdobrou e encarou-a.

-Perdão...-sussurrou.

Amassando a foto.

-Mas, eu não quero me sentir desse jeito, não quero me sentir assim...-ele disse jogando a foto amassada no chão.-Mas... Eu me sinto culpado... Eu me sinto horrível.Eu sou um idiota.Eu... Sinto falta... Talvez, de você...-suas palavras saiam um pouco mais alto que um cochicho.E eram um pouco confusas.

Ele olhou para a foto no chão.E ficou a encarar por alguns segundos.

-Adeus...-ele disse.Mas, não saiu do lugar.

E continuou ali a encarar a foto amassada.

Suspirou triste.E agachou pegando a foto e sem desamassa-la a colocando no bolso da calça.

-Me sinto um inútil.Pois, nem da sua foto eu consigo me desfazer.Mas, por que se eu amo Kikyou?

+.+

Kagome e Kouga tinham acabado de ajudar a mãe de Kagome, a arrumar as compras.

-Kouga, querido, vai ficar para almoçar?-ela perguntou docemente.

-Desculpe, senhora, eu não vou poder.

-Fica!-insistiu Souta.

-Desculpe.-ele disse sorrindo.

-Tudo bem!-a senhora Higurashi exclamou batendo as mãos.-Mas, um dia você vêem almoçar aqui, não vêem?

-Claro que sim.-ele respondeu sem pensar.

Mas...

-Eba!-Souta comemorou.

+.+

Kagome resolveu acompanhar Kouga.

-Então...-ele disse humorado.-O que você tinha para me contar?

-Bem, eu não descobri que você me carregou para meu quarto, pois, acordei e percebi que não estava na sala.

-Não?-Kouga corou.

Mas, se ela tivesse acordado ele iria perceber.

Pois, ele era um yokai... E...

-Enquanto, você me levava para meu quarto, acabei por acordar e ver você me carregando, mas, estava com tanto sono que dormi na mesma hora.

Kouga corou inevitavelmente.

-E...-ela continuou.

"Meu Deus!" Ele pensou.

-Eu também acordei de novo e senti você beijar minha testa.E... Quando estava voltando a dormir... Eu senti meus lábios serem tocados e...-ela corou violentamente.

Ele não sabia o que dizer ficou olhando ela perplexo.

Ela por sua vez, também perdera a voz e estava agora olhando para o chão.

Continua...