The Christmas Arc O Arco Natalino

A iniciativa: A iniciativa de traduzir esse arco de fics surgiu da união do meu gosto pela história, com a vontade que uma grande amiga minha tinha de estar lendo as fics (vontade provavelmente gerada por toda a propaganda que eu mesma fiz do trabalho realizado pela D.C...."). Como tive o trabalho de traduzir, estou aproveitando para colocar a tradução a disposição de todos, para que mais pessoas possam admirar o ótimo trabalho realizado por esta autora.

Avisos: Esta história possui detalhes que...não cabe a mim estar revelando agora. O fato é que tive uma grande surpresa ao chegar no final do arco, e talvez eu devesse dar alguns avisos sobre o conteúdo futuro dessa série composta por 6 fics. Porém, reconheço que boa parte de minha surpresa foi causada por conta dos poucos avisos dados pela própria autora, e sendo assim, eu apenas reproduzirei no inicio de cada uma das fics que compõem o arco, os avisos feitos pela própria autora. Não esperem que eu me responsabilize por entregar o que ela não quis que fosse entregado antes da leitura.
E como um PS, eu não recomendo que pessoas de coração fraco acompanhem esse arco...

Eu possuo autorização expressa de D.C Logan para colocar seus fics em minha página e nos locais aonde publico meus fics, portanto, por favor, não use essa tradução sem que eu também dê a MINHA permissão ok?

Disclaimer da tradutora: Estávamos jogando Já-Ken-Po, D.C. Logan, eu, e os executivos da Sunrise, apostando os direitos autorais de Gundam Wing. Quem ganhou foram os executivos, deixando eu e a pobre D.C. na mão e sem direitos. E sim, isso significa que isso é um trabalho de ficção sem fins lucrativos, e que no final do jogo, eu me dei pior do que todo mundo, por que a historia também não pertence a mim e sim a D.C. (ou seja, só eu fiquei sem nada TT)

Se você apreciou o trabalho da D.C Logan com este arco mande um e-mail diretamente para ela (em inglês, é claro ) para: maxwellssalvagegeocities.com, e caso você precise de auxilio com a elaboração de seu e-mail, sinta-se a vontade para pedir minha ajuda. Caso você queira prestigiar os outros trabalhos da autora, visite seu site: Maxwell's Salvage.
Mas...caso você queira ME parabenizar pela tradução e iniciativa (puxa vida, como você é gentil =) pode entrar em contato comigo pelos e-mails e dispositivos de sempre ta? Inclusive reviews.

Dedicado para Lien Li, que só por me aguentar merecia bem mais..."

The Christmas Arc:
Achados e Guardados
by D.C. Logan (maxwellssalvagegeocities.com)

(Sugestão de música de fundo:: David Holland, Life Cycle (ECM/PolyGram)
AVISOS: Menção de 1x2:2x1.
SUMÁRIO: Parte do Arco Natalino e sequência direta de "Lembranças": Heero e Duo discutem na véspera de Natal .

Tudo havia começado novamente quando ele chegou em casa com seu braço fraturado e um raspão de bala em sua cabeça. E as coisas começaram ruins, ficaram piores e evoluíram para péssimas a partir daí.

"Droga Heero! Por que você faz isso comigo! Eu não posso suportar! Por que nós sempre temos que brigar, huh?" A voz de Duo elevou-se em angústia e fúria. "Por que você não pode ouvir a voz da razão pelo menos uma vez. É perigoso demais. O que você está tentando provar afinal?"

Heero respondeu em um tom de voz paciente e, até mesmo em seus próprios ouvidos, um pouco condescendente. "É meu trabalho Duo."

"Sim, claro, é seu trabalho entrar constantemente no caminho de criminosos e balas apenas por dinheiro. Você já parou pra pensar como eu me sinto a respeito disso? Por Deus, as vezes você é tão denso que a luz dobra quando passa por você. Eu estou farto Heero, farto. Eu não posso mais suportar isso."

Duo retirou-se da discussão e caminhou até a porta. Seu braço esquerdo já estava na metade da manga de seu longo casaco, e o direito esticou-se para pegar sua mochila de couro. Ele colocou sua cabeça em um movimento automático por dentro da alça antes de colocar o braço direito furiosamente dentro da outra manga.

Ele marchou pelo corredor até a porta da frente e abriu-a por completo. Só então ele virou para olhar Heero com a escuridão das ruas a suas costas. Seu casaco estava voando a sua volta como uma coisa viva no vento suave e com a fúria reprimida de seu movimento.

"Quando você estiver pronto para falar, venha e me encontre." E então, sem sequer bater a porta, ele se foi – perdendo-se na noite.

Heero permaneceu no corredor vazio, olhando para a porta aberta e a rua escura do outro lado. Reagindo mais do que pensando naquele momento.

O que ele tinha feito para irritar Duo daquela maneira? Ele sabia melhor do que qualquer um por que Heero fazia o que fazia para viver. Não havia problemas que Duo sugerisse, educadamente, que Heero desistisse de seu emprego de guarda-costas e passasse a fazer algo mais seguro. Duo possuía uma boa fonte de renda agora – seu passatempo de vender esculturas feitas de metal reutilizado havia crescido e tornado-se uma mina de ouro baseada em seu recém descoberto talento artístico. Ele conseguia mais vendendo uma única escultura do que Heero conseguia em um ano de missões. E Duo, nem um pouco hesitante em pedir ajuda e conselho a um amigo, encurralou Quatre para que este lhe explicasse a melhor maneira de investir sua fortuna inesperada em fundos e ações das quais ele poderia viver confortavelmente pelo resto de sua vida.

Heero, apesar de não estar com problemas financeiros, estava relutante em viver as custas de Duo, não importava o quão generosa fosse a oferta. Era uma ofensa a seu orgulho admitir, mas ele queria estar nas mesmas condições que o outro.

Então ele parou para pensar, realmente pensar, sobre o que ele estava fazendo. Na verdade, parando para considerar seu relacionamento objetivamente, ele não conseguia entender como ou porque Duo continuava a amá-lo da maneira que fazia dia sim e outro também, especialmente quando ele insistia em mostrar falhas de personalidade daquela maneira.

Obrigado a reconsiderar suas ações pela saída de Duo na noite, sua raiva aquietou-se. Ele tranquilizou suas mãos e forçou-se a relaxar antes de caminhar até a porta aberta. Duo não estava mais a vista. Heero suspirou. Duo sempre fugia quando eles brigavam. Ele mencionou logo depois de terem tornado-se íntimos um com o outro que essa era sua reação usual ao conflito. Heero percebeu somente depois que ele nunca fugia da batalha ou do risco pessoal – apenas quando seu coração ou alma estava em perigo. Essa era a terceira vez desde que eles haviam ficado juntos que algo que ele havia dito em um momento de raiva havia feito Duo fugir. E como nas vezes anteriores, agora era a deixa para Heero encontrá-lo e trazê-lo de volta para casa.

Heero retirou um casaco de um dos cabides no fim do corredor e passou pela porta sem sequer parar para considerar para aonde Duo iria correr. Foi somente depois de perceber-se andando rapidamente pela rua que seus pensamentos voltaram a funcionar.

Era o final de Dezembro, e apesar de ele ter voltado para casa com todas as intenções de fazer as coisas ficarem bem entre Duo e ele, sua falta de tato ao lidar com os sentimentos de seu parceiro haviam dominado a conversa mais uma vez.

Era tão difícil, quando as palavras não vinham para que ele pudesse contar a Duo quão profundos eram seus sentimentos sobre o relacionamento deles. Ele olhou para suas mãos fechadas em punhos e penalizou-se pela dor que ele havia causado dessa vez. Talvez Duo estivesse melhor sem ele.

Mas mesmo a mera menção sobre a vida sem Duo dava-lhe arrepios. 'Não, não isso...isso nunca." E a força com a qual este pensamento renovou sua convicção fez com que ele andasse mais rápido no escuro.

- -

A noite na colônia L2 não era como a noite verdadeira na Terra, sendo apenas constituída por uma escuridão fantasmagórica que se escondia nas esquinas e becos entre os edifícios , manchando a aparência da paisagem. Duo havia ido na direção da estação da última vez, parando no restaurante da Mama Wong. Mama Wong, uma mulher grande que tratava seus clientes regulares de forma muito semelhante a uma extensão de sua família, havia punido Heero severamente por ter magoado Duo daquela vez. Então, uma vez que Duo certamente não era uma criatura de hábitos, ele dirigiu-se para o lado contrário, indo para a Estação de Transporte Inter-Colonial.

Quando ele chegou ao terminal de TIC, este estava quase deserto. Já havia passado do horário no qual as multidões vinham e iam para o centro, e apenas algumas almas lhe mantiveram companhia enquanto ele esperava pelo próximo ônibus. No mês passado Duo o havia surpreendido esperando no terminal quando este retornou para casa. Ele lembrava muito bem o sentimento confortante de surpresa, prazer e retorno que havia o atingido forte e inesperadamente. E o olhar de alegria na face de Duo quando ele percebeu o quanto seu esforço para receber bem significava a seu parceiro. Essa simples memória o carregou para seu próximo destino.

O transporte o deixou em uma área com uma pequena aglomeração de restaurantes, lojas e galerias em uma região da colônia coloquialmente chamada de "O cortiço". Duo era um visitante bem vindo aqui quando Heero estava fora em missões, e ambos freqüentavam os restaurantes quando estavam juntos. Ele seguiu uma intuição e passou pelas portas azul brilhante do "Café Blue Moon". E caiu no calor sufocante de corpos juntos, pimentas fortes, e fumaça de cigarros de ervas. Ficando na ponta do pés para ser visto sobre a multidão, ele tentou chamar a atenção do garçom no meio do cômodo. Ele fez contato visual e passou pelas massas até alcançar o bar.

"Hey Riko, Duo veio aqui hoje a noite? Eu estou tentando achá-lo." Ele teve de gritar para se fazer ouvir por conta do barulho da multidão. Riko sacudiu sua cabeça negativamente e mostrou um lugar vazio para Heero. Heero fingiu não ter visto a oferta e sinalizou seus agradecimentos enquanto ziguezagueou para fora do restaurante. Ok, menos um, agora onde?

Aha, A casa de Lagrange estava a apenas um bloco, e era um de seus restaurantes favoritos de todos os tempos – ele iria fazer uma tentativa lá.

Uma multidão mais quieta e reservada preenchia o lugar completamente. Ele e Duo eram regulares aqui também e a hostess o reconheceu imediatamente. Ela solicitou que ele esperasse enquanto ela lidava com o jovem casal que estava na frente dele. Ele concordou e rastreou o lugar por Duo. Sem sorte, mas ele viu um casal mais velho comendo um de seus pratos favoritos. Um pouco de seu bom humor voltou a superfície e um pequeno sorriso escapou enquanto ele lembrava da última vez na qual ele e Duo havia dividido aquele prato em particular.

'Ah não, eu insisto que voc fique com esse pedaço."

"Ah, é mesmo...?"

"E o que você vai trocar comigo por esse suculento aperitivo bem aqui, hmmm?"

Duo podia ser muito persuasivo às vezes.

A hostess retornou e ela tinha uma expressão séria enquanto caminhava na direção de Heero. Sem qualquer preparação ela perguntou, "Procurando por Duo?". Diante do aceno ela respondeu, "Ele esteve aqui a cerca de uma hora, pediu para viagem e partiu logo depois." Heero sabia que não adiantaria perguntar se ela lhe diria para onde ele tinha ido em seguida. Velvet era protetora com aqueles com quem ela se importava, e Duo havia de alguma forma conseguido entrar debaixo deste guarda-chuva de proteção. Ele respeitava muito isso para violar a confiança entre os dois. Sentindo-se um pouco perdido, ele cuidadosamente deixou o restaurante. Ao menos ele estava fazendo algum progresso agora.

A próxima parada era a cafeteria que Duo amava. Ele costumava brincar sobre a maneira como sempre matinha uma presença freqüente – ele nunca ia ao cortiço sem parar para comprar pelo menos um copo pra levar. Heero colocou sua cabeça cuidadosamente atrás da porta antes de deixar-se entrar por completo na loja silenciosa. Um rápido rastreamento revelou que Duo não estava aqui também. Desistindo da educação, ele vocalizou seu pedido para os ocupantes do local.

"Hey, o Duo esteve aqui hoje a noite?"

Um homem com cabelos cor de areia virou-se em sua cadeira perto da porta e olhou para Heero – de cima a baixo e de volta a seu rosto.

" Cara mais ou menos da sua altura e idade, casaco preto e longo, cabelo castanho e comprido, irritado que nem o inferno? Esse é o cara pelo qual você esta procurando?"

Heero acenou com a cabeça em afirmação, era uma descrição bastante correta. Ela ainda significava que Duo não estava menos irritado ainda.

"Sim, ele disse que você provavelmente passaria por aqui. Ele pegou um pouco de café e foi embora." E o homem voltou para jornal, claramente ignorando Heero como algo não importante.

Heero deixou a loja e, desistindo dos restaurantes e seguindo sua intuição , andou pela rua abaixo na direção do distrito das oficinas de reaproveitamento de metal. A área estava silenciosa e quieta como um túmulo debaixo de neve densa. Enormes edifícios abandonados, cercas de perímetros elevados e as formas irregulares de materiais descartados passaram na escuridão enquanto ele caminhava pela rota familiar ao lote de Duo.

Ele viu o brilho dos vapores de mercúrio antes que o prédio pudesse ser visto também. E ele relaxou músculos que nem havia percebido estarem tensos em um senso de alívio - ele o havia encontrado. Ele não admitiria para si mesmo, muito menos para Duo, mas ele se preocupava com sua segurança pessoal. Duo era famoso agora – uma celebridade, um artista famoso, um ex-piloto de Gundam, e um amigo verdadeiro de uma das pessoas mais poderosas e influentes das colônias – embora Quatre negasse esse titulo com sua eloqüência usual.

Ele parou no prédio e olhou para cima na direção das luzes brilhantes. Agora, se as palavras viessem para ele quando ele precisava delas....

Praticando um movimento que ele já havia testado duas vezes antes, Heero pegou um suporte baixo, e usou a força de seu peso para balançar seu corpo suavemente para a parte de cima do teto do pequeno armazém que Duo chamava de estúdio. Ele espiou cautelosamente pelo duto da ventilação que passava pela lateral e olhou para baixo, pelo centro da estrutura de metal.

Uma mesa estava colocada contra uma parede e continha os restos de um jantar para viagem espalhados por sua superfície. Estes faziam companhia para pedaços de papel , tocos de giz e restos de lápis. Heero gostava de sua casa em ordem. Duo dizia que criava seu melhores trabalhos a partir do caos. Essa constatação fez com que ele parasse abruptamente, era um outro exemplo do quanto Duo havia adaptado-se e mudado para que ele se sentisse melhor. Ele arranjou-se em uma posição confortável e imóvel na qual ele poderia manter-se por horas se necessário. Ele queria tempo para observar Duo e pensar antes de abordá-lo.

O próprio artista estava andando em volta de uma enorme peça em progresso no meio do cômodo e tomando café de um copo plástico enquanto falava suavemente com sua criação. Heero observou cuidadosamente a nova escultura, e seus olhos arregalarem-se quando seu cérebro colocou as peças juntas. E ele percebeu o que Duo havia escolhido como tema para seu mais novo trabalho. Duo estava fazendo um Dragão.
Ele já havia ameaçado de tempos em tempos, e havia até mesmo feito alguns esboços em seu grosseiro modo em guardanapos e jornais velhos. Ele gostava de comparar Heero a um dragão, passando como um furacão pela casa, fumegando e grunhindo em desprazer, no entanto sendo inteligente e uma coisa que não deveria ser tomada como uma ameaça vazia. Heero nunca ria quando Duo o comparava a dragões.

Duo havia mencionado um novo projeto brevemente, mas Heero não havia perguntado a respeito do assunto. Ocorreu-o que ele não havia perguntado muitas coisas a Duo a respeito de seu trabalho ultimamente. Apesar de ele não gostar de admitir, mesmo para si próprio, ele ressentia o tempo que o trabalho tirava do relacionamento deles e o dinheiro que colocava entre eles. Não que Duo sequer percebesse isso. Nunca tendo possuído antes a luxúria de ser capaz de obter algo que ele desejava, ele tendia a ignorar o poder potencial que isso poderia lhe dar. Ao invés disso, ele comprava presentes frívolos para seus amigos e acumulava o resto em um lugar seguro para mais tarde.

A nova escultura levantava-se de uma longa cauda enrolada na sua parte inferior. Estava parada em estado de alerta sobre o chão de concreto. A criação tinha a altura de um homem, com um pescoço longo e sinuoso que crescia até uma testa levantada que terminava em garras afiadas. Era uma peça ambiciosa, com um metro e oitenta, e Duo estava no processo de cobrir a criatura em escamas polidas que precisavam ser trabalhosamente esculpidas uma por uma.

Duo parecia estar completamente concentrado com a tarefa em mãos. Ele colocou o copo de café no chão próximo a escultura não terminada, e retirou sua jaqueta antes de pegar um pequeno instrumento do chão e voltar a trabalhar nas escamas novamente.

Heero levantou a tampa da ventilação e colocou-se sobre um suporte para conseguir uma visão mais privilegiada das atividades de Duo. Duo estava falando consigo mesmo, aparentemente ele não tinha qualquer problema em transformar o poder de sua raiva em energia artística. Heero estava frustrado e um pouco ressentido com a facilidade com a qual Duo aparentemente havia dispersado a conversa anterior de sua mente. Mas pensando novamente, Duo era realmente dotado em relação a sua arte, e ele dizia com freqüência que ter sua arte para descarregar suas frustrações havia salvado aquele relacionamento mais de uma vez.

Ele olhou enquanto Duo exibia sua habilidade. E percebeu novamente com olhos objetivos o quão atraente seu parceiro era. Duo, parado ao lado de sua escultura, Duo casualmente tirando seu cabelo de sua face, Duo tirando a máscara de proteção e revelando olhos sonolentos. Heero visualmente traçou o contorno de seu quadril quando este dobrou-se para revirar alguns pedaços de metal, a graciosa forma de seu corpo quando ele parou no meio de um movimento para esboçar uma idéia no chão com um pedaço de giz. Heero sentiu-se enrijecer com sua imaginação voyer e o simples progresso de seus pensamentos.

Duo continuou a trabalhar, cuidadosamente evitando olhar para os suportes que passavam pela expansão do prédio. Ele estava esperando que Heero o encontra-se, e havia ficado tão ligado a ele que havia sentido sua presença no exato momento no qual ele entrara no prédio – apesar de ele ter sido cuidadoso o suficiente para não fazer sequer um som. Chamando-se de covarde por não confrontá-lo, Duo continuou a alternadamente ajoelhar no chão para desenhar modificações em seu design inicial e abaixar-se para pegar peças já feitas e encaixá-las em seus lugares.

Heero continuou a assistir a movimentação de Duo em volta de seu trabalho. Satisfeito em olhar e pensar por enquanto, agora que ele havia encontrado seu objetivo. Quando mais ele pensava a respeito, mais similaridades ele encontrava entre a criação de Duo e seu relacionamento com ele. Apesar do plano inicial, a obra de arte era um processo constante de criação e destruição , manipulação e mudança. O resultado final poderia ser belo ou trágico. Com trabalho e atenção, erros poderiam ser corrigidos e a verdade por trás da idéia poderia emergir. O verdadeiro trabalho estava no planejamento, construção, e manutenção. A beleza estava no design. O amor evidente nos detalhes.

Precisando de um distração, Duo andou até o velho aparelho de som e ligou-o. Era uma relíquia de seus primeiros dias esculpindo e ele insistia com Heero que mantinha o aparelho por questões sentimentais apenas. Uma canção de violoncelo de um compositor morto a muito tempo preencheu o ambiente. Ele nem sempre trabalhava com música, mas com a presença de Heero no fundo de sua mente, qualquer distração, por menor que fosse, seria bem vinda. Ciente de sua platéia, ele tirou sua camisa e esticou-se longamente para trás (e deu uma olhada rápida na direção do abrigo para verificar se sua sombra ainda esta prestando atenção). Ele sabia que Heero tê-lo rastreado era o mais próximo que ele estaria recebendo de uma admissão de culpa, e que Heero considerava isso como uma forma de pedir desculpas – mas isso não significava que Duo ia deixar que as coisas ficassem bem tão facilmente dessa vez.

Ele desacelerou seus movimentos pelo estúdio, tendo certeza de que estava dobrando-se aqueles centímetros extras para pegar uma ferramenta do chão, e quando ele esboçava suas soluções no piso, movia-se em um rastejo longo e vagaroso pela superfície. Ele esperava que Heero estivesse tendo dificuldades em seu esconderijo. Ele estava fazendo seu melhor para assegurar exatamente isso.

O Projeto de Duo rapidamente ganhou preferência em sua mente, e enquanto ele fazia progressos em seu objetivo, seu foco alternava-se entre sua escultura e a presença de Heero. Depois de um tempo, ele já estava relaxado o suficiente sob o olhar atento de Heero para concentrar-se completamente em sua tarefa. Porém, depois de derrubar o maçarico pela segunda vez em poucos minutos e quase queimar seu cabelo no processo, ele decidiu puxar o fio do rádio e parar por aquela noite. Hora de jogar a bola de volta no campo de Heero. Ele já estava cansado demais para manter rancor a este ponto.

Falando sobre o quão triste era seu estado, sendo Natal e tudo mais (elevando sua voz apenas o suficiente para que esta alcançasse os encanamentos), ele moveu lentamente folhas de papel e pedaços de metal para fora do sofá velho que alternadamente servia como depósito, lugar para sentar, e quarto. Decidindo-se por tirar pelo menos todos os objetos pontiagudos de sua possível cama, ele jogou o restante do material no chão. Então ele jogou-se contra as molas quebradas, sem camisa, e completamente exausto pela combinação do esforço de sua discussão e de seu trabalho, e puxou um pano limpo por cima de seu corpo – pretendendo dormir um pouco no caso de Heero persistir em brincar de rato em sua toca; ou alternadamente preparando-se para deixar que eles ficassem quites por conta da dor que ele havia causado naquele dia. Ele ajeitou seu corpo e permaneceu em um estado meio-adormecido/meio-transe que ele havia aperfeiçoado em sua juventude, e esperou para que Heero fizesse sua jogada.

Heero revirou seu cérebro pela terceira vez naquela noite. Merda, era Natal. Ele havia esquecido, de novo. Ele deu um grunhido suave e sentido. Ah as preparações para o feriado estavam lá se ele prestasse atenção a essas coisas, mas elas já vinham exigindo sua atenção fazia meses. Ele não havia percebido o quão próximo o dia havia chego sem que ele notasse. Inferno, não era surpresa que Duo tivesse ficado tão aborrecido desta vez. Ele tinha realmente estragado tudo.

Ele olhou para o anel de Duo, e virou o objeto em seus dedos. Ele não o havia tirado desde que havia trocado pelo seu, mas ele lembrava do pequeno escorpião gravado na parte de dentro da jóia com perfeita claridade. Quatre e sua amiga artista tinham estado certos sobre sua observação a respeito de Duo – ele podia perdoar Heero, para ele nunca esqueceria. E embora ele sempre se colocasse acima das pequenas coisas, ele freqüentemente deitava-se esperando para picar de volta quando lhe pisassem em cima.

Os momentos de pensamento profundo de Heero eram poucos e espaçados, mas não menos válidos por conta disso. Não, Duo não era uma pessoa fácil de se viver junto, mas seria impossível viver sem ele.

Heero vagarosamente esticou seus músculos cansados e moveu-se silenciosamente pelos suportes da tubulação até o chão. Ele andou até o sofá e olhou para o corpo de Duo, enrolado em um casulo de pano, os poucos papéis que ele não havia se dado ao trabalho de tirar do caminho movendo-se com sua respiração. Ele tinha uma aparência exausta, e parecia estar dormindo profundamente. Manchas negras em seu rosto e peito por conta do giz davam o toque final. Portanto, Heero não estava exatamente esperando que a forma dormente falasse com ele em um tom baixo e sarcástico.

"Sabe Heero, estar de pau-duro não conta exatamente como crescimento pessoal." Duo abriu um olho, que, infelizmente para Heero, estava na altura de sua virilha.

Ele sorriu em resposta. Agora este era o homem que ele amava, mas ele não agarrou a isca. Ao invés disso, ele virou-se e sentou na ponta do sofá, amassando mais alguns papéis no processo. E Duo moveu-se sobre seu cotovelo para ver melhor qual seria seu próximo movimento. Heero esticou uma mão, hesitando, como que temendo rejeição e tocou Duo suavemente em seu ombro.

As palavras não vinham mais facilmente apesar de todo o ensaio que ele havia feito em sua mente enquanto parado no encanamento. ' Eu sei que eu nem sempre falo ou faço as coisas certas quando estou a sua volta. Mas os últimos anos que eu passei com você foram os melhores por conta da sua presença. Eu sinto muito por trazer brigas para casa, e sinto ainda mais por deixar que nós tenhamos nos afastado o suficiente para que você sinta a necessidade de correr de mim ao invés de conversar e resolver nossos problemas.'

Ele parou para encontrar as palavras certas novamente, mas Duo moveu-se o puxou para o sofá em compreensão muda e concedendo com seus sentimentos.

Heero moveu-se até que seus braços estavam em volta de Duo e eles simplesmente abraçaram-se na luz fraca. Enquanto cada um deles considerava as palavras entre eles, Heero deixou um pequeno riso escapar. Isso quebrou o momento e Duo sorriu para ele. O nó no estômago de Heero desfez-se em alívio. Ele estava perdoado novamente. Ele faria de tudo para não desperdiçar esse presente.

"O que é tão engraçado nisso, então?"

Heero encontrou seu olhar com olhos quietos mas aliviados.

"Sabe, eu estava com ciúmes daquela maldita peça. É metal, e o soldado e eu invejávamos a maneira como você tocava e se movia envolta dela."

Duo sorriu em resposta. "Eu sempre quis um dragão no meio da sala para me lembrar de você quando você não está em casa." Ele fez uma pausa, para reforçar seu ponto. "Eu fiz ele para você Heero, ele é seu presente. Feliz Natal."

Heero virou-se para Duo, e encontrou seus olhos com um sorriso gentil de compreensão.

E sobre aquele esburacado e desconfortável sofá, em um edifício velho e cheio de metal, com café frio e os restos de um jantar comido pela metade sobre a mesa, e sob o olhar protetor de um dragão benevolente – eles entraram e mais um ano juntos..

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