Capítulo 4– Saori Morreu?

- Seiya disse-me que ele sonhara com a morte de Saori - Marin disse, enquanto corria com Aioria para Star Hill
- Essa colisão, foi a mais forte que já senti. Mais forte do que a do sopro de Athena. - ele falou, sem sequer olhar para Marin. Sentia calafrios. Estava com medo que Saori tivesse morrido.
- Não consigo sentir o cosmo de Athena, Aioria. - ela pensou em Seiya - Seiya estava tão desesperado que me deixou inconsciente. Devia ter ouvido ele.
- Você estava seguindo seus instintos, Marin. Sabia que os dois precisavam pensar. Sonhos às vezes não representam nada.
- O problema é quando eles representam...
- Me pergunto se Shion conseguiu protegê-la.

Seiya alcançou Saori, que fora jogada de encontro com uma parede, longe do local onde ocorrera o impacto. Seu coração batia muito rápido. Ele tinha medo do que ia encontrar. Tinha medo de que o cosmo de Saori tivesse realmente desaparecido. Quando a viu, caída, envolta em uma poça de sangue, não conseguiu se mexer. Seus olhos se encheram de lágrimas e parecia que seu coração havia parado. Ele caiu de joelhos ao lado do corpo.
- Sa... Saori - ele disse, enquanto tentava afastar os cabelos ensanguentados do rosto dela. - Por favor, me responda...
Sua mão tremia, ele estava com medo de machucá-la ainda mais. Nunca sentira tanto medo em sua vida. Estava apavorado. Ele tirou sua camisa, para limpar o rosto de Saori, mas o sangue ainda corria.
- Zeus! Ela está viva! - ele tentou parar de tremer. ele colocou a camisa embaixo da cabeça de Saori. Tinha medo de movê-la, mas se não o fizesse, ela morreria em poucos minutos. - Saori, me responda...
Ela continuava quieta, inconsciente. Seiya acariciou seu rosto com carinho e medo. Medo de que fosse a ultima vez que iria vê-la.
- Me perdoe... eu não cheguei a tempo...
Os olhos dela se abriram lentamente. Um gemido saiu de seus lábios. Seiya a olhou.
- Sa...Saori san... vo..você...
Ela estendeu seu braço e acariciou o rosto de Seiya, com um sorriso. Sua voz era quase inaudível e ela falava com muita dificuldade.
- Seiya... cuide dos outros...
- Saori, aguente firme, voce vai conseguir...
- Seja feliz... não chore, Seiya...
- Saori, por favor...
- Não chore...
- Não se atreva a morrer! Você é Athena!
- Shion?
- Ele está inconsciente, mas está bem.
Ela sorriu. Conseguira afastá-lo na hora da explosão o suficiente para ele sobreviver.
- Estou com frio... - ela disse, fechando os olhos lentamente
- Saori! Aguenta!
Ela virou o rosto alguns segundos.
- Aioria.... - e voltou a ficar insconsciente.
Aioria chegou ao lado dela naquele instante, levando um choque. Ele acenou para Marin.
- Fique aí, não venha aqui. Veja como está Shion!
- Aioria, mas...
- Vá!
- Aioria, ela perdeu muito sangue... - Seiya disse, visivelmente sem saber o que fazer.
- Ela ainda está viva?
- Acho que sim, ela estava falando comigo, mas voltou a desmaiar.
- Pobre menina, o corpo humano dela não vai aguentar...
- Aioria, ela não vai...
- Não sei, Seiya. Provavelmente... - Aioria respondeu com pesar - Mas realmente espero que esteja enganado - ele disse, a pegando com delicadeza.
- Eu queria ajudar, mas...
- Entendo, Seiya. Você pode nos ajudar. Chame todos os cavaleiros de ouro para a 13ª Casa e coloque todos os cavaleiros de prontidão. Reúna todos os cavaleiros.
- Sim, Aioria!
- E ajude Marin com Shion. Tente acordá-lo.
Aioria não esperou que Seiya sequer mostrasse que processou a ordem, ele se levantou delicadamente, para não machucar ainda mais a menina e saiu correndo. Correu mais do que jamais correra, dessa vez, a vida de Saori estava prestes a se esvair e ele não poderia viver com a consciencia de que fora sua culpa.
Seiya ajudou Marin a erguer Shion, que começava a acordar, ele estava meio tonto.
- Seiya? O que está fazendo aq... - ele levantou a cabeça e se livrou de Marin - Onde está Athena?? Onde ela está?
- Aioria a levou... - Marin respondeu.
Shion olhou para onde Saori estava segundos antes e viu uma enorme quantidade de sangue.
- Athena! Ela, ela está bem? - Ele parecia visivelmente perturbado.
Shion olhou para Seiya e compreendeu na hora.
- Pelo menos, ela ainda está viva?
- Não sei - Seiya disse, deixando as lágrimas correrem novamente - Espero que sim.
- Preciso voltar à 13ª Casa! - ele disse, saindo correndo.
- E você, Seiya? - Marin perguntou, colocando a mão no ombro de seu pupilo - Está bem?
Seiya olhou para ela e deu um meio sorriso.
- Você sabe a resposta.
- O que vai fazer agora?
- Só quero ver Saori.
- Vamos, Seiya. Vamos voltar. Temos coisas a fazer. Temos que reunir os cavaleiros.

Quando chegou na 13 ª Casa, Shion notou a gravidade do estado de Saori. Todos os cavaleiros de Ouro estavam reunidos, aparentemente desnorteados com o que acontecera. Quando perceberam a presença de Shion, correram até ele.
- Mas afinal, o que aconteceu? - Perguntou Mu
Shion ficou olhando para eles, mudo. tentava reviver cada momento, para saber o que realmente acontecera. Tinha medo de descobrir que era sua culpa. Lembrava-se de ter sido atirado longe, pouco antes da explosão e logo depois, ficar insconsciente.
- Athena... - ele disse, com um aperto no coração - mesmo tendo que se proteger, que tentar sobreviver, ela se preocupou comigo, me salvou.
- Shion. - Shaka disse, colocando a mão no ombro dele - Conte-nos o que aconteceu, por favor.
Shion contou em detalhes tudo o que acontecera desde que chegaram em Star Hill, inclusive que vira outra guerra santa.

- Seu corpo é humano, não vai resistir - Aioros dizia, olhando tristemente para o quarto de Saori.
- Aioros, eu não pude fazer nada.
- Ninguém está te culpando - Dohko disse - Ela sabia o que ia acontecer, teve tempo de se preparar, mas não te envolveu.
- Ela sempre com essa mania de querer evitar que nos machuquemos! - Aioros respondeu, cerrando os punhos, com raiva. - Mania tola!
- Acalme-se irmão - Aioria disse. Dentre todos, fora o único, além de Seiya, que vira o estado de Saori.
- Irmão, diga-me, ela está tão mal assim?
- Sim. - ele disse, fechando os olhos - Temo que ela não irá resistir.
- Deixe-me vê-la!
- Não - ele respondeu - Você tem um carinho paternal por ela, iria se desesperar e atrapalhar os médicos.
- Eu não iria atrapalhar!
- Aioros, nem Shion irá vê-la. Acalme-se - disse Miro. - Só podemos esperar agora. Saori é humana, mas lembre-se que ela é a reencarnação de Athena, ela é muito mais forte do que imaginamos.
- Ela é uma menina!
- Aioros, acalme-se - Saga disse.
- Cala a boca, Saga! Você deve estar contente! Afinal, você tentou matá-la há 20 anos atrás e falhou. Agora, nem precisou se esforçar!
- Aioros, você está falando asneiras.
- Estou? - Aioros falou, olhando ferozmente para Saga
- Sim, está. - Saga falou calmamente- Acha mesmo que eu teria algo a ver com isso, que eu tentasse algo contra quem me perdoou e confiou em mim? Não seria tolo o suficiente. Anos atrás fui corrompido, mas agora não caio mais nessa armadilha. Athena confiou em mim, me perdoou, quando ninguém mais acreditava que eu poderia me redimir. Ela me trouxe de volta a vida, para protegê-la e eu vou morrer protegendo-a.
- Onde você estava quando tudo aconteceu?
- Na minha respectiva casa, como o resto de nós.
- Chega. Athena não precisa dos cavaleiros brigando entre si por coisas que já passaram.. - Disse Shaka - Vocês deviam se envergonhar. Em vez de brigarem, poderiam estar planejando alguma forma de descobrir quem é nosso inimigo, de proteger Athena.
- Creio que isso foi uma tática - disse Kamus - Talvez queriam enfraquecê-la, ao invés de matá-la, apenas para nos enfraquecer. Sabem o quanto Athena é importante para nós.
- Não. - Afrodite disse - Tenho certeza de que desejavam matá-la, mas não conseguiram... pelo menos por enquanto.
- Afrodite! - censurou Mu
- Não, Afrodite tem razão. - Shion ponderou - Saori, Athena está fraca demais. Ela pode não sobeviver. Obviamente que nenhum de nós deseja tal coisa, mas é uma possibilidade a ser considerada.
- O que devemos fazer? - perguntou Aldebaran.
- Talvez... - Dohko respondeu - Acho que tenho uma idéia. Se Athena sobreviver...

- Seiya, você está bem?
- Não, Shun. O que eu vi foi o pior dos pesadelos.
- Como ela está?
- Não sei, Hyoga. Quando a vi, ela estava... - Seiya segurou a vontade de chorar que o remoía - ela estava morrendo. Não consigo sentir o cosmo dela, não me deram notícias. Não sei o que pode ter acontecido, se ela sobreviveu... ou... ou não.
- Seiya - Shiryu disse, pousando a mão no ombro do amigo - Temos que ser fortes, por Athena.
- Estou preocupado com Saori, Shiryu.
- Não vão nos deixar chegar perto. - Shun disse - Tenho certeza disso. Só teremos notícias, quando tudo acabar.
- Esse é meu medo - Seiya disse.
- Seiya, pare de chorar como uma menininha! - Ikki disse, chegando no local - Temos agora é que nos preparar para a batalha.
- Ikki! - Shun disse, reprovando o irmão.
- Não venha me dar sermão, Ikki. Se você já tivesse amado alguém, saberia o que eu sinto!
- Um cavaleiro não pode se prender a sentimentos. Deve deixá-los escondidos, para que não seja pego de surpresa durante uma luta.
- Você nunca gostou de alguém além de você mesmo Ikki! - Seiya disse, o olhando furioso.
- Aí que você se engana. Saori é muito importante para mim, porém, ficar chorando em um canto não vai ajudá-la, só vai atrapalhá-la.
- Cala a boca! Você não entende nada de amor! - Seiya disse, pegando Ikki pela gola da camisa - Não sabe o quanto é difícil ver alguém que você ama ensanguentado em seus braços, morrendo!
- Seiya... - Shun disse, preocupado com o amigo, que já chorava.
- Seiya - Ikki disse, o olhando - E você acha que Saori ia gostar de saber que você fica se lamentando, chorando, em vez de lutar por tudo aquilo que ela acredita? Você tem que mostrar que a ama, defendendo o planeta que ela tanto ama, que ela tanto se sacrificou para salvar e que talvez tenha morrido fazendo isso.
- Saori não vai morrer.
- Deixe disso, Seiya. Você sabe que ela pode morrer ou pode já ter morrido. Ficar gritando não vai adiantar nada. Agora, me solta e honre a sua armadura.
- Ikki...
- Shun, você também deve lutar em vez de ficar se lamuriando. Se alguma vez você se considerou um verdadeiro cavaleiro, lute com garra.
- E você Ikki? - perguntou Hyoga.
- Se vocês precisarem de ajuda, aparecerei e acabarei com todos. Não posso acabar com a brincadeira de vocês logo de início.
- Não mudou nada, não é Ikki? - Shiryu perguntou.
- Alguns ficam fracos com o passar dos anos, outros, se fortalecem. - ele disse sorrindo.
- E você irá lutar do nosso lado? - perguntou Shun
- Luto do lado que melhor me convém. Vocês ainda estão com sorte, por enquanto me é propício lutar com vocês. Me chamem se não conseguirem acabar com o inimigo, que eu limpo a toca dos ratos rapidamente.
Ikki saiu calmamente pela porta, acenando.
- Só não morram, não quero ter que ficar carregando corpos, não sou coveiro, meu negócio é matar todos os inimigos.
- Ele não muda - Hyoga disse, depois que Ikki desapareceu.
- Acho que ele apenas não quer deixar transparecer, mas ele tá mudado. - Shun disse.
- Ele nem te deu um ´oi´, Shun. - observou Seiya- ele é mais frio do que uma geladeira. Vai acabar sozinho.
- Vocês não entendem meu irmão. - Shun protestou
- Nem você entende ele! - Seiya disse.
- Por mais frio que tenha sido Ikki, ele tem razão - disse Shiryu - temos que nos preparar pra batalha.
- Nem sabemos quem é nosso inimigo.
- Shun, tenho certeza de que ele aparecerá - respondeu Shiryu - e quando ele aparecer, temos que estar prontos.
Todos os cavaleiros concordaram, porém, Saori não saía do pensamento de Seiya.
" Saori... sobreviva. Precisamos de você. Eu preciso de você. Queria que tivesse sido eu "

Logo depois, os quatro garotos foram chamados ao Salão do Mestre. Quando entraram, perceberam na feição de todos os cavaleiros a notícia que mais temiam. Os olhos de todos estavam marejados de lágrimas.
- Chamei vocês aqui porque tenho certeza de que Saori assim desejaria - Shion disse, sentado em sua cadeira
- Dese... jaria? - Seiya perguntou, com um grande aperto no coração.
- Infelizmente... - Shion segurava suas lágrimas e procurava forças para falar - Saori não resistiu. Ela não está mais entre nós.
Hyoga, Shun e Shiryu ficaram calados, estáticos, em choque. Seiya se desesperou.
- Não! É mentira! - ele disse olhando pro quarto de Saori - Ela está viva! Ela não pode ter morrido!
- Contenha-se, Seiya! - disse Shion - Todos nós gostávamos de Saori e tudo foi feito para salvá-la, mas infelizmente, ela não resistiu.
- ELA É ATHENA! - Seiya gritou, os punhos cerrados na altura de seu tórax
- E é humana também. E seu corpo humano não resistiu aos ferimentos. Ela lutou bravamente por sua vida, mas estava tão ferida...
- SAORIIIIII - Seiya gritou, tentando correr para o quarto de Athena, sendo segurado por Miro e Aioros
- De nada adianta isso, Seiya - Miro disse - Ela já se foi.
- Vocês não entendem! Ela não podia morrer!
- Seiya - Aioros disse - todos sentimos muito. Todos a amávamos, mas ela não resistiu.
- Não! - Seiya disse, caindo de joelhos - Não a Saori... ela não podia... Não... - ele começou a socar o chão, sussurrando - O que será de mim sem você, Saori?
Mu estendeu a mão para Seiya, o levantando.
- Ela deixou isso aqui pra você - Mu estendeu um lenço para Seiya.
Seiya pegou o lenço, enquanto as lágrimas jorravam de seus olhos. Era o lenço que Saori dera a ele antes dele partir, cinco anos antes e que ele mandara devolver, através de Marin. Com certeza, ela se magoara muito com isso. O lenço de Saori, era tudo o que restara além das doces lembranças que ele tinha da mulher que amava.
Os quatro saíram do Salão do Mestre e foram embora, acompanhados por Mu, que se manteve silencioso durante todo o trajeto. Na frente da Casa da Áries, encontraram Kiki, que estava sentado em uma pedra, de cabeça baixa. Ele levantou os olhos lentamente e depois voltou à sua tristeza.
- Como podem ver, você não é o único que sofre, Seiya - Mu disse.
- Mas ninguém sofre como eu.
- Isso você não pode afirmar. Saori era como uma filha para Aioros e uma velha amiga para Dohko e Shion.
- Mu... o que vou fazer?
- Lutar, lutar pelo que ela lutava, lutar por esse planeta que ela morreu defendendo.
- Entendo.
Eles se despediram e se retiraram.
- Mestre Mu - Kiki disse, olhando para ele - É verdade?
- Sim, Kiki. - Mu disse, com lágrimas nos olhos - Nós a perdemos.
- Mestre! - Kiki disse, abraçando Mu e soluçando. Mu abraçou seu pupilo com carinho e o reconfortou. Sentia a mesma dor em seu peito.


- Justius! - Shun disse, assim que entrou na casa.
Justius não passava de um ser. Estava de pé na frente da lareira, olhando para o nada, lágrimas correndo por seus olhos como um rio. Ele não respondeu Shun até que ele o sacudiu.
- Não acredito - ele murmurou - Mia... Saori... É injusto.
- A vida é assim. - Shiryu disse - Principalmente para um cavaleiro.
- Não, não é assim! Ela deveria estar viva! Nós devíamos protegê-la! EU devia tê-la protegido! Ela era tudo que me restava...
Hyoga olhou ao redor, mas não encontrou Seiya, ele havia saído correndo. Ele fez menção de ir atrás, mas Shun o segurou.
- Deixe. Ele precisa ficar sozinho.
Hyoga concordou com a cabeça e então, eles foram jantar. Os pratos permaneceram intactos, ninguém imaginara um dia não contar mais com a presença de Saori. Estavam prontos para morrer, mas não para enfrentar a morte dela.
Naquela noite, todos choraram.

Volta Capítulo 5