Capítulo 5 - Sofrimento
Ele entrou na 13ª Casa sem ser visto. Caminhou decididamente na direção do quarto dos fundos, o local mais protegido do Santuário, mas não precisou abrir a porta. Ali, a poucos passos de distância ele pôde vê-la. Seu coração se acelerou e ele correu ao seu encontro.
- Saori! Achei... achei que você tinha morrido!
Ela o olhou com carinho e depois sorriu, se aproximando.
- Quase morri...
- Estou tão feliz que você está viva! Não tinha razão pra viver sem você!
- Seiya...
Seiya falava sem parar, desabafando tudo que queria ter falado pra Saori antes do ataque. Saori apenas o olhava e sorria. Um sorriso doce que o deixava extasiado.
-Por favor, me perdoe, eu não consegui te salvar...
-Shhhh - ela colocou seu dedo sobre os lábios de Seiya - não vamos falar dessas coisas...
Seiya sorriu. Uma esperança se acendeu em seu peito e seu coração estava tão disparado que ele estava ofegante. Na sua mais intensa vontade, ele desejava que Saori o correspondesse no amor que ele sentia por ela. No amor que só agora ele entendera, que só agora ganhara lugar no seu coração. Por mais que tenha tentado se envolver com outras garotas, pensar nelas, era em Saori que ele acabava pensando no fim das contas. Quantas vezes sonhara que estava com ela e quando acordava, não era ela ao seu lado e sentia seu coração se apertar, ficar pequenininho. Tivera várias vezes oportunidade de ir vê-la, de dar notícias, mas não o fez. Tudo por orgulho. Achava que se ela gostasse dele, ela teria que ir atrás dele. Anos mais tarde descobrira que cometera o pior erro de sua vida.
Por uns dias ele mal conseguira dormir, pensando que a tinha perdido, que tinha perdido a única mulher que amava. Não um amor vulgar, comum. Um amor tão forte que só de pensar nela longe dele, lhe faltava o ar.Mas agora estava tudo bem, Saori estava ali e ele sentia que finalmente ela o amava. Talvez a sua quase-morte tivesse mostrado que o amava, assim como ele descobrira que a amava mais do que tudo assim que a vira novamente. Lamentava por ter sido tão tolo, ter passado tanto tempo longe dela. Hoje, não conseguiria. Se tivesse ficado ao lado dela em vez de sumir, talvez hoje eles estivessem juntos e ele a teria protegido. Talvez eles estivessem até casados.
Seiya sorriu ao pensar em casamento. Essa palavra o assustava, mas olhando para Saori agora, era a coisa mais plausível que ele poderia fazer. Ele a abraçou delicadamente, com medo de machucá-la. Ela encostou sua cabeça em seu ombro e suspirou.
- Saori, tudo que importa é que você está aqui.... - ele acariciou seus cabelos - comigo.
Ela se aninhou em seus braços e Seiya sentiu seu corpo se inundar com a mais pura felicidade. Como ele conseguira ficar tanto tempo longe dela? Parecia impossível.
- Eu te amo, Saori - ele levantou o rosto dela e repetiu a frase, para que ela o ouvisse falando enquanto a olhava em seus olhos - Eu te amo.
- Seiya.... - seus olhos se encheram de lágrimas - também te amo.
Sem que Seiya percebesse, duas lágrimas rolaram de seus olhos. Ele se sentia completo naquele segundo. Eles se amavam. Nada mais importava, somente os dois juntos.
- Ah Saori! - ele disse, sua voz cheia de uma felicidade tão completa que ele ainda nem a tinha conhecido. Ele aproximou seus lábios dos dela e dessa vez ela não se afastou.
Seus lábios tocaram os de Saori trêmulos a princípio, sôfregos, e então, cheios de paixão. Ele nunca iria esquecer esse beijo. Não era um simples beijo, era o beijo que ele trocara com a mulher que amava. Após o beijo ele a abraçou, carinhosamente e sorriu.
- Sou o homem mais feliz do mundo!
Saori riu e sua risada soou como a mais bela das melodias para Seiya. Ele a pegou pela mão e os dois saíram juntos, caminhando pelo Santuário. Foram as horas mais alegres da sua vida. Ainda mais do que quando ele encontrara Seika. Era uma felicidade diferente, plena.
Os momentos que os dois passaram juntos foram mágicos. Ele só tinha olhos para Saori e sua beleza. E ela, finalmente o olhava com o amor que ele tanto ansiara por receber. Os dois se sentaram em um dos jardins do Santuário, Saori se recostou em uma árvore e Seiya se deitou em seu colo. Ela lhe fez cafuné até que ele adormeceu.
- Seiya!!!!
Ele acordou com o grito de Saori. Ela não estava mais lá. Seu sangue gelou. Ele olhou ao redor e a viu sendo envolta por uma sombra, que a levava. Ele correu em direção dela.
- Saori!!!
- Seiya!!!!!!
Ele corria, mas não conseguia alcançá-la. A sombra a levava e ele não podia fazer nada. Ele correu, correu e então ela sumiu levada pelas sombras. Seiya caiu de joelhos.
- Saoriiiiii!!!!! Nãooooo!!!
- Seiya, Seiya! Acorde! - uma voz o chamava.
Seiya abriu os olhos devagar, sentindo ainda as lágrimas em seu rosto.
- Seiya, você está bem?
Ele reconheceu o rosto de Shun. Estava na cabana.
- O que estou fazendo aqui? Saori! Ela está viva, foi raptada! - ele disse, tentando se levantar. Shun o segurou.
- Acalme-se Seiya. Você estava sonhando.
- Não! Foi tão real.
- Saori se foi, Seiya. Shiryu te encontrou adormecido e o trouxe para cá. Você esteve sonhando a noite toda. Não queria te acordar, mas então...
Seiya se sentou na cama e olhou para Shun, incrédulo. Como algo tão real podia ter sido um sonho? Talvez isso era o reflexo do que ele desejava que acontecesse, que Saori estivesse viva e o amasse. Lágrimas corriam por suas faces enquanto olhava para Shun. Sonho, fora tudo um sonho...

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- Como ele está?
- Está estático, Shiryu - Shun respondeu. - Ele sonhou que Saori estava viva.
- Sinto pena dele - Hyoga disse. - Perder alguém logo depois que descobre que a ama.
- Eu ainda não acredito que ela morreu - Shun disse, se sentando. - Ela sempre resistiu a tudo...
- Talvez o impacto tenha sido realmente demais para ela - Shiryu disse, sem querer pensar no quanto Saori poderia ter sofrido.
- Ou então, ela quis morrer.- Ikki disse, entrando na casa.
- Ikki! - Shun disse, o reprovando.
- Shun, você sabe melhor do que eu o que ela queria. Ela deve ter te contado.
- Sim, mas eu nunca imaginei que...
- Meu irmão, você não viu o olhar dela ultimamente, não? Ela sofreu muito. Talvez ela preferisse voltar à sua divina morada e deixar-nos livres de vez, para que pudéssemos ter uma vida completamente normal. - Ikki disse, sério.
- E desde quando você se preocupa com ela, Ikki? - Seiya disse, hostil, olhando furiosamente para Ikki - Desde quando você se preocupa com algum de nós? Você só se preocupa consigo e com mais ninguém.
- Seiya... - Ikki disse frio, impassível - Se você se preocupasse tanto assim com ela, teria mandado pelo menos um cartão de natal pra ela e não teria devolvido aquele lenço. Você foi o maior responsável por isso. Saori te amava e não sabia viver sem você.
- Mas eu voltei... - ele disse com a voz fraca, as palavras de Ikki martelando em sua cabeça.
- Tarde demais, Seiya. Você acabou com ela. Ela tentou se recuperar, mas não conseguiu. - ele se aproximou de Seiya - você é o cara mais imbecil que eu já conheci.
- Cala a boca, seu desgraçado! O que você entende de amor? - Seiya disse, partindo para cima de Ikki, puxando seu colarinho. Ikki manteve-se imóvel, olhando com desprezo para Seiya.
- O bastante pra saber que nunca se despreza alguém como Saori. Agora, a menos que você esteja com pensamentos suicidas, me largue ou te mando pessoalmente pro inferno.
- Tenta, seu babaca!
- Opa!!! - Hyoga disse, se metendo entre os dois - Parem os dois. Estão agindo como dois retardados.
- Eu não me importo em morrer! - Seiya disse, seu olhar vago, buscando em seu coração imagens de Saori. - Perdi tudo o que tinha, perdi a razão de viver.
- Pena que percebeu isso tarde demais - Ikki disse, saindo. - Se eu fosse você, tentaria me redimir o dia que encontrá-la.
Seiya olhou para Ikki sem entender o que ele queria dizer. Depois tombou sentado, chorando novamente.

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Justius treinava furiosamente. Usava toda a sua força e energia naquilo. Não queria pensar que Saori morrera, que perdera a última pessoa que realmente amava, aquela que mudara a sua vida.
- Pega leve, garoto.
- Aioria... - ele olhou para seu mestre. Os olhos de Aioria estavam extremamente tristes, mas ele não deixava um segundo de ser um cavaleiro. - Como você consegue?
Aioria fitou o garoto por alguns segundos. Sentia pena dele.
- Mantendo a memória dela viva. Um dia todos vamos morrer. Nós cavaleiros temos uma perspectiva de vida muito curta, mas apesar disso, nunca imaginamos que Athena possa ir antes de nós. Somos seus protetores, é natural que morrêssemos antes dela. Mas se ela não se faz presente, temos que continuar.
- Não é Athena, é Saori! Como vou viver sem ela?
- Viva pelo trabalho dela. Ela sempre se sacrificou por este planeta. Honre a memória dela lutando por tudo aquilo que ela sempre lutou.
- Sei disso, mas... É difícil, Aioria. Muito difícil. Eu ainda nem acredito que ela se foi. Só vou acreditar quando vir o corpo dela.
- Ela é Athena. Nunca que o corpo dela seria exposto. Ela é um ser sagrado e sua morte deve permanecer imaculada, longe dos olhos dos mortais.
- Vocês não participaram?
- Sim, participamos. Apenas os cavaleiros de ouro e o Mestre podem se aproximar nessa hora, para renderem suas homenagens.
Justius se deitou no chão, com os braços atrás da cabeça, pensando.
- Queria que tudo fosse apenas um sonho, que pudesse acordar e vê-la novamente.
- Não é o único. Todos a queríamos de volta.
Justius deu um sorriso triste e continuou olhando pro céu. Aioria o observou por alguns momentos e se retirou para sua respectiva Casa.
"Se houvesse um meio..."

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Tatsumi olhava aturdido para o telefone. Estava ali havia vários minutos, quando Jabu entrou correndo.
- Onde está Saori? - ele perguntou - O cosmo dela sumiu! Onde ela está?
Tatsumi continuou calado. Jabu o sacudiu.
- Fala seu estúpido, ONDE ESTÁ A SAORI?
Tatsumi começou a chorar e soluçar. Jabu olhou para ele, compadecido. Então, finalmente percebeu porque ele chorava. Jabu se apoiou na mesa que estava próxima. Parecia que o chão havia desaparecido.
- Não... Não pode ser... Saori...
Jabu se sentou em uma poltrona e lá ficou de cabeça baixa, por várias horas. Quando uma criada o chamou para jantar, ele se levantou e foi até o seu quarto. Só saiu de lá no dia seguinte, com um destino, o Santuário.

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- Shion, e agora? - perguntava Aioros
- Agora temos que nos virar sem ela - ele respondeu amargamente - Nunca vou me perdoar por não ter conseguido protegê-la.
- Estava acima de nós, Shion. Ela sabia o que ia acontecer, ela te salvou. Ela nem pensa que você é o culpado. Você sabe como ela é, sempre querendo nos proteger.
- Devia ser o contrário.
- E os cavaleiros de bronze? Como estão?
- Pelo que me disseram, arrasados. Dizem que Seiya é o que mais está sofrendo.
Aioros deu uma risada e depois olhou para Shion, sério.
- Tenho vontade de dar uns tapas nesse moleque, caro amigo.
- E por quê? Já salvaste tantas vezes a vida dele...
- Ora, se soubesse que ele ia fazer aquilo tudo com minha pequena, eu teria deixado ele morrer logo.
- E então ele não teria protegido Athena. Você sabe que, apesar dele ter errado, e muito, com Athena, ele foi o que mais se esforçou para salvá-la. E é o mais forte.
- Discordo - disse Aioros, com um sorriso maroto - Sabemos muito bem quem é o cavaleiro de bronze mais poderoso. Pena que ele é tão cabeça dura quanto Athena.
Shion deu uma risada.
- É o jeito dele. Ele teve que ser o mais forte de todos, porque sofreu muito mais. Mas acredito que o tempo o fez mudar.
- De certa forma, mas ele no fundo, ainda é o mesmo. Ninguém muda tanto...
Um cavaleiro se aproximou e se ajoelhou perante Shion.
- Mestre...
- Cavaleiro de Aquário.
Kamus se levanta e olha para Shion, sério.
- Não posso continuar com isso... - ele disse, embargando a voz - Achei que seria fácil, mas não o é.
- Pensas em contrariar uma ordem do Mestre? - Shion respondeu, com sua voz poderosa.
- Não, é que apenas... Está acima de mim, Mestre. Sem Athena...
Shion ficou olhando alguns segundos para Kamus, impassível, e então se dirigiu a ele com uma voz calma e serena.
- Kamus, volte para a Sibéria. Creio que seria mais proveitoso para você retornar o seu treinamento. Treinando você não terá tempo para pensar em besteiras.
- Não. -Kamus disse, olhando nos olhos de Shion.
- Como ousa ...
- Mestre. Sabemos muito bem que nenhum de nós pode sair de seu Templo no presente momento. Eu me recuso.
- Kamus de Aquário! - Shion disse, asperando sua voz.
- Espere, Shion - Aioros disse. - Creio que Kamus tem razão. Não podemos abandonar o Santuário numa hora como essa. O ataque a Athena foi o primeiro passo. Com certeza virão atrás de nós, agora que Athena não está mais aqui.
Shion pensou por alguns instantes e respirou fundo.
- Sorte sua que Aioros no momento está mais racional do que eu, ou terias sérios problemas, Kamus.
- Sei disso, Mestre. Mas realmente, é muito perigoso deixar o Santuário. Não sabemos quem é o inimigo e muito menos o que ele quer. Tem certeza de que não se lembra de nada, Mestre? Talvez reconhecesse o cosmo...
Shion se levantou rapidamente e saiu da sala do Mestre, se retirando para a parte posterior, onde foi até a estátua de Athena. Se encostou nela e ficou de cabeça baixa.
- Shion... - Aioros disse, quando o mesmo se retirou. Ele olhou para Kamus - Meu amigo, volte para a casa de Aquário. O Mestre não está suficientemente recuperado para discussões.
- Eu sei o que ele tem, e estaria no mesmo estado.
- Huh?
- Culpa. Ele se sente culpado. Ele como Mestre, como o mais poderoso cavaleiro de Athena, não foi capaz de protegê-la, sequer tentar protegê-la. Não é culpa dele, mas somos cavaleiros, nos culparíamos se algo acontecesse com Athena quando ela estivesse conosco. Eu mesmo me culpo por não ter conseguido protegê-la.
Aioros deu um sorriso brando e se aproximou de Kamus.
- Vamos, vamos voltar as nossas Casas. Shion precisa ficar sozinho. E você tem razão, Kamus - Aioros disse, com os olhos marejados de lágrimas - Meu coração dói profundamente toda vez que penso que não pude protegê-la...
Os dois desceram as escadarias, deixando Shion quieto em seu canto, de olhos fechados, relembrando tudo o que aconteceu. Ele ficou assim por várias horas até que caiu de joelhos, na frente da estátua, as lágrimas correndo por sua face.
- Athena, me perdoe!- ele disse, enquanto esmurrava o chão. - Como pude ser tão cego? Como pude não perceber? Não merecia ser um Cavaleiro de Ouro e muito menos o Mestre. É a segunda vez que isso acontece, que venho aqui e não a encontro. E cada vez isso dói mais.
Ele arrancou seu capacete e seu colar, símbolos do Mestre.
- De que me vale a longevidade, a experiência, o poder, se não consigo sequer cumprir com minha missão? Se não posso proteger a pessoa que mais amo nesse mundo? - Ele gritou com todas as suas forças - Athena! Perdoe-me!
A raiva de Shion crescia rapidamente. A noite já estava avançada quando ele voltou para a sala do mestre e se sentou em seu trono, pensativo. Foi quando ele sentiu um cosmo o envolver. Um cosmo acalentador, quente, calmo, mas extremamente poderoso. Um sorriso apareceu em seu rosto contorcido pela dor, e uma lágrima escorreu de seus olhos.
- Obrigado, Athena... - Ele disse, suavemente.

Mas ele não foi o único a sentir esse cosmo reconfortador. Centímetro por centímetro, o Santuário foi invadido por esse magnífico cosmo, reconfortando a todos os cavaleiros.

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- Saori! - Seiya disse, correndo pra porta da cabana em que os cavaleiros de bronze estavam.
- Segura o Seiya! - Shun disse, se levantando correndo. - Ele vai atrás da Saori de novo!
Seiya estava quase alcançando a porta quando bateu em algo e caiu no chão.
- Ai!! - ele disse, olhando pra cima - Sai da frente, Ikki!
- Tá pensando que vai aonde?
- Vou atrás da Saori.
- Você não vai subir as doze casas para dar com a cara na parede, vai?
- Eu senti o cosmo dela, Ikki! Ela está viva!
- Pobre alma - Ikki disse, sarcástico - Cada dia mais burro. Não percebe que este cosmo é de Athena? Que ela o está mandando do Olimpo, para reconfortar seus cavaleiros?
- Cala a boca, Ikki! Você não sabe de nada!
Ikki saiu da frente de Seiya.
- Eu falei como um amigo, como um irmão, se não quer me escutar, vá. Vá e sofra ainda mais, pois quem sabe, encontre o túmulo dela. Preferes ir e enfrentar a verdade dura e cruel ou preferes ficar com a lembrança do sorriso de Saori em vez da lembrança de seu nome em um pedaço de pedra?
Seiya olhou para Ikki, incrédulo. Depois seus olhos se encheram de lágrimas.
- Mas é que dói tanto... - A dor que Seiya demonstrou deixou até mesmo Ikki com pena.
Ikki abraçou Seiya. Compartilhava a dor da perda de Saori e sabia muito bem como era perder a mulher que amava. Conhecia a dor, a revolta, a sensação de impotência perante o destino. Sabia o quanto isso podia ser prejudicial para alguém. Ele mesmo tivera vontade de morrer assim que vingou a morte de Esmeralda, mas tinha seu amado irmão, Shun, que precisava dele, que o amava. E foi por ele que Ikki não renunciara à vida, e também ao pedido de Esmeralda. Sentia que como irmão de Seiya, também deveria lhe emprestar o ombro, pelo menos naquele instante.
Os outros, ao verem aquela cena, abraçaram os dois, e as lágrimas afloraram nos olhos de todos, inclusive de Ikki, que teimava em tentar escondê-las. Foi nesse instante que o cosmo de Athena os envolveu.
- Saori.... - foi a única coisa que Seiya conseguiu pronunciar.

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- Aonde pensa que vai? - Kiki perguntou
- Ver Saori.
- Outro! Vou colocar uma plaquinha aqui. Ninguém pode subir as doze casas pra ver o corpo de Saori, porque ela não é um animal pra ser exposta.
- Mas Kiki...
- Ouça, Jabu. Sei como você se sente. Mas não podemos fazer mais nada. Conforme-se e volte. Não perturbe mais os cavaleiros de Ouro, eles já estão sofrendo o suficiente.
- Não Kiki. Eles não sofrem como eu...
- Não podemos medir os sentimentos dos outros.
Jabu deixou Kiki ali e se dirigiu até Seiya, que estava na porta da cabana. Seiya ao vê-lo ia falar alguma coisa, mas antes que ele falasse, Jabu lhe deu um soco.
- Seu desgraçado!
Seiya ficou caído no chão, olhando pra Jabu, que pulou em cima dele e começou a bater nele. Os dois começaram a se bater, com socos e pontapés. Era uma briga de homens, não de cavaleiros. Nenhum dos dois usaria seu poder.
- Era você que devia ter morrido! Seu desgraçado! Você é pior do que qualquer deus que tenha tentado matá-la!
Seiya parou e olhou para Jabu.
- Por que?
- Porque você foi o único que conseguiu matá-la. Foi o que a feriu mais profundamente... - Jabu disse, limpando o sangue da boca. - Mas pelo menos agora ela parou de sofrer.
- O que você quer dizer com isso?
- Você é tão burro assim? Só você nunca percebia que ela era apaixonada por você. Ela até tentou sair comigo, mas me disse que não podia, que não era justo comigo porque ela só pensava em você.
Seiya ficou olhando pra Jabu. Ele abaixou os punhos. Não podia acreditar que só ele não percebera. Seiya tinha vontade de se bater, de tanta raiva que estava de si mesmo. Não conseguia entender como fizera tanto mal a alguém que gostava tanto.
- Quer saber? - Jabu disse, interrompendo os pensamentos de Seiya - Você não vale meu tempo. Você não merece sequer que eu continue te batendo!
- Por que não me mata de uma vez? - Provocou Seiya. Naquele momento, ele queria realmente morrer. Sua amada se fora e agora percebera quanto mal fizera a ela.
- Porque eu quero você vivo. Quero que você viva muito, que viva sem ela e que viva com a culpa de ter sido responsável por isso!
- Não fui eu que a ataquei, Jabu!
- Ela morreu aqui - Jabu colocou a mão no peito - A pior das mortes. Pra quê ela ia lutar para viver, se a vida não tinha mais sentido? Você a matou e por isso não é digno de morrer, tem que sofrer o resto da sua miserável vida!
-Chega vocês dois! - Shiryu disse, se interpondo entre eles - Seiya, se levante e aja como um verdadeiro cavaleiro, e Jabu, se você realmente gostava dela, faça algo para ajudar-nos ou então vá embora.
Jabu olhou para Shiryu. Ia xingá-lo, mas resolveu deixar isso pra outra hora. Nesse momento ele ia deixar Seiya em paz. Ia procurar todos os cavaleiros que conhecia e descobrir o que acontecera com Saori. Não iria descansar enquanto não vingasse a morte dela.
Shiryu estendeu a mão para Seiya, que se levantou.
- Obrigado amigo.
- Páre de se lamentar como uma criança, Seiya. Ninguém agüenta mais você reclamando - Ikki disse, chegando com a caixa de pandora nas costas.
- Vai aonde?
- Não te interessa. Agora, honre a sua armadura. O inimigo não demorará a chegar. Sejam fortes e acabem com eles, se não conseguirem, só me chamar.
- Ikki - Shiryu começou
- Estarei por perto...

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No quarto que outrora pertencia a Saori, Shion estava sentado em uma poltrona, olhando fixamente pra cama. Ele se levanta e vai até a casa de Sagitário.
- Aioros, meu amigo, preciso ir a Star Hill - ele diz, assim que avista o amigo.
- Acabei de voltar de lá, está tudo tranqüilo.
- Mas eu preciso ir...
- Não, seja prudente. Precisamos de você na sala do mestre, caso algo aconteça. Não se preocupe, estou de olho em tudo, estou tomando conta de tudo.
- Confio em você, Aioros. Não há melhor pessoa do que você para essa missão.
Aioros dá um sorriso e espera que Shion vá embora, para então se sentar, exausto.
- Essa é a mais difícil missão que já enfrentei. Preferia enfrentar todo um exército de inimigos sozinhos do que fazer isso.
Enquanto isso, Shion se recolhia aos seus aposentos, pensativo. Nunca imaginara que iria se sentir assim. Já a vira partir uma vez, mas porque não havia nenhum perigo, todos os inimigos haviam sido derrotados e não haveria como voltarem tão cedo, mas dessa vez foi diferente. Ele a vira ferida mortalmente, seu corpo frágil ferido de tal forma que bastava olhá-la para saber que não lhe restava muito tempo. Mas ela não pensara nela em nenhum momento. A primeira coisa que Saori perguntara era se Shion estava bem, se estava ferido.
Shion fechou os olhos, relembrando aquele sorriso doce.
- Consegui... – ela dissera, sua respiração ruidosa e sua fala quase inexistente.
- Não deverias ter se preocupado comigo, Athena! Eu deveria protegê-la!
- Se... se eu não fizesse... – Athena falava pausadamente, uma expressão de dor em seu rosto. – ambos morreríamos
- Mas nossa missão é proteger sua vida, a qualquer custo!
Ela sorriu, um filete de sangue escorreu pela sua boca. Shion apressou-se em limpá-lo.
- Eu morreria de qualquer maneira... mas não iria suportar saber que eu não pude protegê-lo pelo menos uma vez...
- Saori... – ouviu-se uma voz embargada pela dor, um choro contido na garganta e a porta se abrindo.
- Aioros... – ela tentou se levantar, sendo impedida por Shion, que a impediu delicadamente.
- Não se mova... – ele fez um sinal para que Aioros se aproximasse – Por favor, cuide dela... eu não aguento ver isso... vou falar com os outros, me chame qualquer coisa.
- Não se preocupe, meu amigo... – Aioros disse, se aproximando devagar. Ele se sentou ao lado de Saori, na cadeira que Shion ocupara instantes antes, e segurou delicadamente a mão de Saori, com marcas deixadas pela sua queda.
- Aioros...
- Saori... resista... por favor. Não faça isso com a gente, não faça isso comigo!
- Queria te ver antes de mo...
- Não fale asneiras. Você não vai morrer.
Ela olhou pra ele com doçura, tentando disfarçar a dor. Sua respiração ficava mais difícil e fraca a cada instante. Aioros já não mais escondia as lágrimas. Vê-la assim era doloroso demais.
- Não queria que isso acontecesse. Eu disse para você não ir lá!
- Eu precisava...
- Você não pode ir... o mundo não está pronto pra sua partida, eu não estou pronto pra vê-la partir. Eu te amo, Saori, como uma filha e você não pode morrer antes de mim!
Ela demorou quase um minuto pra responder, estava juntando suas forças. Lágrimas se formavam em seus olhos e desciam lentamente pelo seu rosto machucado.
- Eu te amo... papai.
Era a primeira vez que ela o chamava assim. Uma crescente onda de amor o assolou. Mas ele não teve tempo de regojizar esse sentimento, porque os olhos de Saori se fecharam e sua mão afrouxou seu aperto.
- NÃO!!! – o grito de Aioros soou pela 13ª Casa, a porta se escancarou e os cavaleiros correram ao encontro de Aioros. Mas eles pararam ao constatar o que havia acontecido, petrificados com a realidade.
Aioros, abraçado ao corpo de Saori, soluçando como um bebê, enquanto Shion ia olhar o que havia acontecido, o que não era preciso, mas ele queria ter a certeza, era tão inacreditável. Ela demonstrara uma melhora naquele dia e então isso. Aioria se aproximou e abraçou o irmão, chorando. Shion ajeitou os cabelos de Saori e se afastou um pouco, querendo esmurrar as paredes.
Um a um os cavaleiros foram se aproximando, vendo por seus próprios olhos o que acabara de acontecer. Rapidamente eles saíram do quarto, deixando apenas Aioros, respeitando a dor de quem acabara de perder sua filha.
- Minha menina... – Aioros sussurrou...