Capítulo 3 – Agatha e o Jornal

"Você pode parar de estudar por um minuto, por favor?".

Definitivamente eu não merecia ouvir isso após horas de árduo estudo de transfiguração. Só porque o cérebro de Tiago era de certa forma privilegiado em relação à essa matéria, não quer dizer que o resto da humanidade não precise dar o sangue para conseguir uma nota aceitável.

"Eu estou tentando não me dar totalmente mal. Se você não pode ajudar, não atrapalhe.".

"Lily, você realmente esperava que eu fosse concordar em ficar três horas estudando uma coisa que eu já sei?". Eu fechei os meus olhos, e contei até dez.

"Para falar a verdade, eu esperava.".

"Esperava?".

"Você gosta de mim, não? Eu não acho que você queira me ver com olheiras homéricas, e com uma aparência completamente repulsiva, depois que eu pegar o meu lindo zero.". Tiago revirou os olhos como quem diz: "É, você vai ficar totalmente abalada, e um passeio nas masmorras da Sonserina lhe parecerá divertido. Que drama, Lily.". Mas como ele iria me entender? Ele nunca passou por isso. Não pelo menos quando o assunto é Transfiguração.

"Primeiro: você não vai tirar um zero. Então pare de falar como se você fosse tirar menos um. Em segundo lugar, não é preciso nem uma hora de estudo para entender Transfiguração.".

"Não é preciso para você."

"Lily, você quer que eu lhe ensine Transfiguração? Deixe-me fazer do meu jeito.". Ele parece tão 'todo poderoso' falando assim. Quem agüenta? Eu!

"E qual é o seu jeito? Sair transfigurando coisas por ai, e ver uma tartaruga simpática ser transformada num esquilo voador?".

"Eu não tinha pensado nisso... Mas de qualquer forma, você captou a sintonia da situação. Você tem que se divertir estudando Transfiguração. Deixar a sua imaginação ser livre. E pelo que eu conheço de você, você tem uma imaginação peculiar.".

"Sabedoria Potter. Eu não preciso de mais nada agora.". Ele quase riu, mas eu não estava realmente bem humorada para um dos ataques dele.

"Lily, meia hora de pausa, ok? Eu desisto. Não vou conseguir convencer você nunca! Eu não consegui convencer Remo, e eu convivo com ele há anos."

"O Remo é um cara sensato.".

"Sem dúvida.". Ele respondeu claramente pensando em outra qualquer atitude sensata do Remo. Ele nunca iria concordar que estudar para uma prova era sensato. Aparentemente, ele absorvia os fluidos de pensamento das pessoas durante os testes.

"Nós podíamos fazer um lachinho na cozinha. Sirius, Remo, Agatha e Pedro estão lá.".

"Vocês são uma péssima influência para a Agatha. Ela não costumava invadir a cozinha do castelo.".

"Os elfos tem companhia todas as tardes.".

"Devo considerar isso trabalho voluntário?".

"Nós vamos ainda hoje?".

"Meia hora?".

"O que você quer? Que eu coloque um feitiço no seu lápis para que ele volte correndo quando já tiver dado a meia hora? Ai você vai saber quando terá que voltar para essa tortura que você chama de estudo.".

Eu e Tiago caminhamos devagar até a cozinha, ou melhor, quase parando. Na verdade, parando literalmente. A nova mania do Tiago era me mostrar passagens secretas de Hogwarts. Eu descobri que moro numa escola parecida com aqueles queijos totalmente furados. Nunca vi tanto túnel num lugar só. Não sei como esse lugar ainda não desabou. São buracos, alguns gigantescos, no meio de rochas sólidas. Primeiro: quem foi o louco a construí-los. Segundo: como alguém passa sete anos os procurando. Só pode ter algum problema. Quer dizer, eu acho interessante saber algumas passagens triviais, como as que levam à cozinha em tempo record, mas sair a procura de buracos em Hogwarts é uma coisa meio toupeira de mais para a minha pessoa. Enfim, eu vou ter que começar a anotar os lugares das passagens secretas. São muitas.

De qualquer forma, quando chegamos à cozinha, Agatha estava toda à vontade, tomando chá, comendo bolinhos e lendo jornal. Lendo jornal? Temos de concordar, meu querido diário, ninguém normal na minha idade simplesmente lê o jornal. Assim, só para distrair. Mas Agatha não é normal, além de lê-los, ela guarda as reportagens que mais as interessa. Quer dizer, ela amontoa celulose e tinta em baixo da cama. Ela quer fazer as arvores renascerem espontaneamente? Enfim, o argumento dela é que eles podem acabar servindo para alguma coisa. Eu concordo. Quem sabe...Peso para porta, avião de dobradura... E apesar de eu demonstrar que estranho essa atitude, ela só fala: "Lily, me desculpe se eu gosto de estar informada do que acontece no mundo à minha volta...". E como se isso não bastasse, ela começa um discurso imenso de como existem pessoas carentes, maníacos destruidores e toda a sorte de coisas desagradáveis no mundo. Quer dizer, eu concordo que existam problemas, muitos problemas a serem sanado, mas o que amontoar celulose tem a ver com tudo isso? Ah, eu devo estar vendo pelo lado errado da questão. Eu sou mestra nisso.

Porém, apesar dessa minha característica de negar 'coisas novas', eu me pego aqui pensando num assunto que realmente me preocupou. Aquela história de maníacos. Agatha realmente pareceu interessada. Ela disse que vai começar uma espécie de relatório com todas as informações que tem à respeito deles.

"Agatha, de novo você e o jornal?". Eu logo perguntei quando me sentei a sua frente na grande mesa da cozinha.

"Sim. Nós formamos um par e tanto, não acha?". Ela rebateu debochadamente, e logo em seguida pegou mais um bolinho.

"Na verdade,". Sirius se pronunciou. "Você, o Remo e o jornal fazem um triângulo amoroso interessante.".

"É". Tiago fez uma colocação absolutamente relevante.

"Mas tem alguma coisa realmente acontecendo, Almofadinhas.". Remo se defendeu, e a pergunta dos apelidos flutuou novamente na minha mente, mas eu realmente estava interessada no que de emocionante o jornal poderia trazer para mudar de assunto.

"Exatamente. Eu vou começar um relatório sobre isso. Só pode estar interligado.". Agora, eu odeio, odeio mesmo, quando a Agatha começa a falar como agente secreto. Ela faz caras e bocas, e me joga – sem a minha permissão – num filme de suspense.

"O que está interligado, Agatha?". Eu disse irritada.

"É". Eu já comentei sobre os comentários indispensáveis da pessoa que vem a ser o meu namorado, não?

"Esses atentados inexplicáveis.". Ela começou com um grande ponto de interrogação em sua face. "Pensemos, quando uma notícia não é tão importante, ela é simplesmente jogada para o 'cantinho', e não passa de uma coluna desprestigiada. Mas eu sempre leio essas primeiro. E foi ai que eu comecei a reparar que alguma coisa estranha estava acontecendo.".. Porque exatamente ela fez uma pausa? Eu entendo que ela precisa respirar, mas bem, será que ela não podia deixar essa função fisiológica indispensável para depois?

"Depois de um tempo, eu comecei a reparar que a simples coluna estava 'tomando conta' do canto esquerdo do jornal. E sempre eram as mesmas situações. Nada que mereça uma manchete, mas intrigante... Algumas casas arrombadas, mas nunca nenhuma pessoa atingida, mortes ou qualquer coisa do tipo.".

"Pode ser apenas uma gangue nova na região...". Eu arrisquei.

"Foi isso que eu pensei no começo. Bando de arruaceiros que não respeitam a vida em sociedade. Aquelas pessoas que escolhem um jeito 'particular' de demonstrar sua aversão ao sistema. No entanto, esses maníacos me intrigaram, pois, de certa forma, eles estavam agindo com inteligência. Começando de uma forma quase imperceptível, desimportante o bastante para que o Ministério não agisse, entretanto, reunindo forças.".

"Eu tenho que concordar, gangues que só destroem não tem realmente muito cérebro". Eu disse, ficando realmente interessada naquele enigma.

"As reportagens começaram a crescer, e crescer, e eu não tenho dúvidas de que logo estaremos vendo uma manchete dos comensais da morte. Eles se apresentaram nessa edição. O único comentário do Ministério foi: "'Tem-se a informação de um novo grupo de vândalos, que atende pelo nome de Comensais da Morte. Nome ridículo, temos que concordar'. Pronunciou-se o Ministro da Magia, Kevin Mornic."

"Agatha, você devia ser a Ministra da Magia. Por Merlim! Quem nomeou esse sujeito?". Tiago fez uma observação realmente interessante dessa vez.

"De qualquer forma, o que me deixou com a pulga atrás da orelha foi o símbolo desses comensais. Eu posso estar sendo paranóica, mas a pessoa que criou essa marca estudou em Hogwarts, e na Sonserina.".

"Você esperava alguma outra casa?". Sirius disse com um ar totalmente Grifinório.

"Agatha, eu concordo que esses não são vândalos comuns, mas como você pode suspeitar que eles estudaram aqui?". Quer dizer, que loucura fazer esse tipo de ligação.

"O símbolo, Lily". Ela estendeu o jornal na mesa e começou a descrever àquele horrível emblema como se todos ali fossem cegos.

"Uma serpente saindo da boca de uma caveira, e as cores da Sonserina. Serpente, verde, preto...".

"Isso não prova que isso tenha a ver com Hogwarts.".

"Não prova". Remo se manifestou. "Mas que deixa uma dúvida, deixa.".

"O que isso prova.". Eu comecei um pouco transtornada. "É que esses seres humanos são realmente doentes. Se podemos chamar essas pessoas de seres humanos.".

"Mas,". Agatha começou totalmente sombria. " Se essas pessoas estudaram em Hogwarts, ou pelo menos uma delas, ela conhece detalhes dessa escola. Eu não sei, mas eu realmente me sinto mal com isso.".

"Ok, Agatha, agora você precisa de uma distração. Você fica realmente impressionada com essas coisas.". Eu disse soando um pouco como: Sai pensamento ruim. Vamos mudar a energia do ambiente, e coisas do tipo.

"Essa vez, eu só fiquei um pouco mais assustada, porque uma pessoa...realmente...morreu". 

Como se alguém tivesse pedido por um minuto de silêncio, todos naquela mesa simplesmente quase pararam de respirar. E, por mais que eu quisesse espantar aquele clima desagradável, era impossível.

"E...". Agatha continuou. Já não era notícia ruim o suficiente por um dia? "Era um pai de uma aluna da Lufa-lufa. Hogwarts, Lily, Hogwarts!".

Eu tive que registrar isso no diário. Quer dizer, uma coisa realmente ruim está acontecendo, e infelizmente, o meu espírito Grifinório me diz que eu tenho que fazer alguma coisa. Mas então eu me lembro de que não vivo num conto de fadas. Eu não posso simplesmente sair por ai caçando comensais da morte. Eu mal posso sair de Hogwarts.

Eu queria fazer alguma coisa, qualquer coisa, tudo que pudesse. Ou pelo menos gostaria de pensar que alguém está fazendo. Kevin Mornic parece tão interessado nesse caso quanto no nome do grupo.

Talvez eu só esteja exagerando exatamente por esse ser o 'baque inicial', mas é desconfortável saber que um pai de uma pessoa que eu conheço, mesmo que só de vista, tenha morrido sem motivo aparente. Pior, um familiar de uma pessoa de Hogwarts. E eu pareço ser a única a notar um detalhe um pouco esfumaçado. Alice Norton era o que esses Comensais da Morte chamariam de 'sangue-ruim'. Talvez nenhum dos marotos, ou Agatha tenham notado porque eles não são de família trouxa. Não bruxos. Sem varinhas. Mais vulneráveis. Isso me faz lembrar daquela estúpida idéia de superioridade, dos comentários dos sonserinos. E ai nós voltamos a Hogwarts.

Tiago percebeu que eu fiquei realmente triste com essa história. Ele simplesmente me abraçou, e sussurrou que tudo iria ficar bem. Mas eu sei, todos nós sabemos, que não é tão simples quanto ele fez parecer.

O pior é...

Eu não posso evitar pensar no meu pai... E seu fosse o meu pai? Eu queria que essa sensação ruim passasse. Por favor, por favor...

Nota da Autora:

- Mais triste esse capítulo, não? Estamos começando a ação.

- Eu tenho um aviso a fazer sobre o próximo capítulo. Não fiquem com receio dele. Não falo mais nada...

- Eu amo vocês por entupirem o meu e-mail! O meu e-mail ama ser entupido de reviews. Continuem agradando o pobrezinho.

Respondendo aos comentários:

Saky: Desculpe. Só quando eu havia postado eu me dei conta de que não tinha respondido a sua pergunta. O 'Magicamente' do título vai ficar mais claro conforme a fic for publicada. Eu posso adiantar que a Lily me parece estar 'encantada' com o Sr. Eu Sou O Melhor.

Sobre o Plagio: A Pessoa simplesmente copiou e colou. Eu, assim que soube do que estava acontecendo, falei com os administradores do site, a fic plagiada e a pessoa foram excluídas do banco de dados.

Próxima Atualização: Quarta-feira, dia 19 de maio.