Uma semana depois eu e Agatha resolvemos nos arriscar na nossa missão suicida. Tiago ficou exatos cinco dias jogando pensamentos negativos enquanto eu o ignorava e repetia insistentemente que não havia nada a temer. Sonserinos também são pessoas.
De qualquer forma, eu percebi um ponto que me parece favorável na aproximação com sonserinos. Eles passam muito tempo sozinhos. E eu tenho que admitir que isso facilita bastante a coisa. Tiago dizia que isso só acontecia porque eles são tão anti-sociais que não se dão bem nem com os seus iguais. E eu respondia, principalmente com os seus iguais. Comigo e com Agatha seria diferente. No entanto, no final do dia eu me encontrava bastante entretida numa conversa sem sentido.
"Essa fogueira não está cumprindo a função dela.". Eu, que até então estava sentada na poltrona do são comunal, levantei-me irritada. Tiago me olhou cheio de dúvida, e um pouco divertido.
"E qual exatamente é a função que ela não está desempenhando?".
"Bem...". Eu vacilei. "Ela é uma fogueira, certo? Ela deveria nos manter quentes e felizes?".
"Felizes?". Remo levantou os olhos de seu livro.
Eu olhei para a configuração daquela conversa e percebi que as coisas nunca mudavam. Remo e Agatha ocupavam o sofá, Sirius se jogava estrategicamente na poltrona central, eu e Tiago ocupávamos as mais próximas à lareira, e Pedro sentava no chão, normalmente comendo alguma coisa.
"É, quentes e felizes. Como se estivéssemos com um cobertor fofo e confortável num dia de frio intenso. Isso deixa qualquer feliz!". Eu respondi, realmente sonhando com aquela situação. Principalmente na parte em que eu deveria estar feliz.
"Eu me sinto muito bem aquecida". Agatha respondeu. Depois eu é quem sou a esquecida! Parecia que Agatha não se lembrava de absolutamente nada que nos aconteceu naquele dia. Ela estava lá, totalmente confortada nos braços de Remo. Sinceramente, ela esquece que existe civilização desse jeito. Até parece que só eu vivo nesse mudo, e sofro com as reações naturais. Só eu me irrito, noto como está o tempo, e me alegrou ou entristeço dependendo da situação. Sabe, talvez eu seja sensível de mais. Ou anormal. Enfim, isso não muda os fatos...
"Pois eu me sinto péssima!". Eu soltei um muxoxo e me joguei novamente na poltrona.
"Eu avise sobre os Sonserinos.".
"Eu nem mais lembrava desse detalhe.". Menti com desdém. É claro, que eu sabia que era aquilo que estava me deixando naquele estado. No entanto, eu não admitiria. Que namorado eu fui arrumar. Agatha era confortada por Remo, enquanto eu ainda era lembrada, de que insisti em fazer algo realmente suicida, por quem deveria me apoiar e dizer que estava tudo bem, e que compreendia o meu esforço, e porque não? Orgulhava-se da minha atitude. Mas Tiago é Tiago. Como eu posso o amar? Coração totalmente ilógico! Totalmente! Mas eu já devia desconfiar que essa coisa de sentimentos não está para ser entendida. Afinal, eu sofri com diversas partes traidoras, que na verdade não estavam me traindo, mas que eu insisto em colocar que agiam de forma contrária a esperada. No final, eu me vi jogada irracionalmente nos braços do ser de olhos perturbadores.
Tiago fez cara de quem não acredita, mas acha melhor não contrariar. E eu digo que algum tempo de relacionamento o ensinou alguma coisa. De qualquer forma, eu acho que ele já sabia desse detalhe antes de realmente ficar comigo.
"Bem...". Eu levante-me mais uma vez. "Eu acho que vou dormir.".
"Você sempre faz isso quando está irritada.". Tiago deduziu brilhantemente.
"Incrível!". Eu respondi sem paciência. Eu comecei a andar rapidamente para a escada que levava ao dormitório, quando ouvi Tiago me chamar e levantar rapidamente.
"Lily". Ele veio andando manso em minha direção. "Não fique brava.". Ele disse tão simplesmente, ou magicamente. Dois segundos depois eu me vi envolvida em seus braços, e estupidamente sorria. Eu não conseguia nem mais lembrar porque ele tinha me dito para não ficar brava.
"Você não devia fazer isso". Eu disse desconcertada.
"O que?". Ele respondeu meio rindo.
"Acabar com as minhas defesas dessa maneira. Eu não consigo ficar brava com você. E isso não devia acontecer!".
"Eu não faço isso. Deve ser alguma parte traidora.".
"É deve ser. Eu não brigo mais com elas. Elas são loucas, mas eu definitivamente estou adorando a falta de sanidade delas.".
"Adorando, é?". Ow! Porque ele sempre tem que parecer totalmente confiante?
"Não me faça repetir, Potter". E ele não me fez. Não mesmo. O fato é que Tiago era muito experiente em me desarmar. Ele sorria, ou ria, e me beijava. Eu não devia me deixar levar tão facilmente, mas é realmente difícil não sorrir de volta, até rir. Eu não sei, ele nasceu com algum tipo de poder esquisito. Só pode ser.
Quando eu finalmente consegui pensar no dormitório, eu voltei a pensar no caso do sonserino. Talvez eu estivesse desistindo muito cedo. Sonserinos precisam de tempo para se habituar com frases mais gentis, ou quem sabe alguém com quem compartilhar as coisas. Aquela manhã havia sido frustrante, mas eu não podia simplesmente desistir.
Então, uma idéia ainda pior surgiu. E é ela que agora me faz sentir uma traidora. Mas eu juro que não estou fazendo por mal. Eu realmente acho que há alguma coisa estranha acontecendo. Eu sinto como se tivesse que fazer isso. E eu não posso compartilhar com ninguém. Nem mesmo a Agatha eu contei. No entanto, eu tenho plena consciência de que os marotos e ela vão acabar descobrindo, e a coisa realmente vai ficar tensa para o meu lado.
No dia seguinte ao da manhã frustrante, eu tentei novamente uma aproximação com o sonserino que havia julgado apropriado para aquela missão. Snape não percebeu a minha aproximação, caso contrário, tenho certeza que teria feito alguma coisa para impedir aquela tentativa de diálogo.
"Oi". Eu disse, me fazendo ser nota. Ele parou de andar, e por alguns segundos continuou a encarar o quadro ao lado da sala de transfiguração. Depois, virou-se e me encarou. Eu não tive que pensar muito para identificar a cara de 'pare de me perseguir!'.
"Sabe, você deveria responder quando as pessoas falam com você.". Eu disse um pouco emburrada por estar sendo ignorada. Quer dizer, uma vez eu poderia agüentar, mas essa já era a segunda que ele tomava a mesma atitude.
Ainda assim, ele não disse nada. Cruzou os braços como quem diz, "É mesmo!", num tom totalmente sarcástico.
"Olha, eu só quero tentar uma conversa amigável.". Eu realmente senti as minhas veias latejarem depois da terceira resposta com apenas uma mudança de expressão. Ele erguera apenas uma das sobrancelhas como quem diz: "Amigável!?".
"Ok.". Eu cruzei os braços. "Vamos lá, diga qualquer coisa! Sai daqui sangue-ruim estúpida ou qualquer coisa do gênero. Mas diga alguma coisa!".
"O que você quer Evans? A mando do Potter?". Ele respondeu! Eu realmente fiquei feliz, porque mesmo que tenha sido palavras rudes, em um tom igualmente rude, fora alguma coisa.
"Eu quero conversar. E sabia que você é realmente paranóico com essa coisa do Tiago?".
"Claro, eu me aventurei nessa conversa para ser chamado de paranóico.". Ele soou como se estivesse se punindo.
"Eu não quero brigar nem discutir. Só quero conversar.". Eu estava descobrindo uma paciência, que nem eu sabia que tinha.
"Conversar? Eu não quero conversar.". Eu fiquei um pouco desconcertada. Quer dizer, sonserinos são realmente explícitos.
"Olhe, me dê uma chance.". Eu pedi de modo bem grifinório. Mas tudo que recebi foi um olhar bem estranho, e um Snape virando-se e seguindo seu caminho. Eu suspirei derrotada.
Mas eu estava decidida. Era como se fosse um desafio pessoal. Eu voltei a procura-lo no dia seguinte, e no outro, e outro. Eu não sei quantas vezes apenas fui ignorada, ou recebi respostas que esperavam me afastar para sempre. Eu só sei que ontem aconteceu alguma coisa realmente diferente. Eu ainda estou tentando descobrir se foi algum tipo de alucinação, ou se realmente vi, por uma fração de segundo, uma relutância em me ignorar. Quer dizer, sonserinos também ficam curiosos, não? E por mais que qualquer assunto que eu possa ter não o interesse, ainda sim cria-se uma certa expectativa.
Ok, eu estou me sentindo a pior pessoa de todo o universo. Eu sou tão ingênua. Eu pensei que as pessoas não iriam desconfiar das minhas sumidas estratégicas. Pior, Agatha disse que Tiago está até um pouco chateado, mas é óbvio que ele não vai admitir. Imagine se Tiago descobre que eu estou tentando uma amizade, ou sei lá Merlin como isso chama, com Snape! Snape! O Seboso! Ranhoso e similares. Seria o fim do mundo! A terceira guerra mundial! Seria tão terrível! Eu não consigo nem pensar sobre o assunto que já me apavoro.
Eu estava escrevendo no diário quando Agatha entrou no dormitório. Ela me olhou até um pouco chateada, mas seguiu para sua cama. De repente, quanto guardava alguma coisa em seu malão, disse-me em um tom nada compreensivo.
"Aparentemente, há algum tempo, apenas o seu diário sabe o que acontece com você.". Eu gelei! Juro! Pensei que as válvulas das minhas veias, as que fazem o sangue fluir, para que ele possa ser bombeado pelo coração, tinham tido um ataque. Elas simplesmente paralisaram.
"O que?". Eu tentei soar desentendida. Agatha suspirou.
"Lily, se você não quer compartilhar o que anda fazendo, tudo bem. Só não minta mais do que já está fazendo. Não ajuda a melhorar a situação.". Ela estava sendo tão...tão não Agatha. Será que eu a tinha deixado naquele estado?
"Situação? A situação está ruim?". Eu queria saber em que ponto as coisas estavam.
"Qual é o problema , Lily? Fale comigo!". Como eu iria fazer Agatha entender que não podia contar. Eu gesticulava com as mãos meio desesperada.
"Eu não posso dizer".
"Está bem. Quando você quiser se abrir, você sabe que pode falar comigo. De qualquer forma, eu acho que você deveria tentar um diálogo com o Tiago, sabe? Ele anda bem preocupado!". De repente uma idéia assustadora me ocorreu.
"Ele está me seguindo?". Agatha ficou verdadeiramente brava.
"Você não ouviu nada do que eu disse? Nós estamos só preocupados. É claro que não estamos lhe seguindo. Acho que você já tem idade o suficiente para saber o que faz. Se quer continuar escondendo seja lá o que for, continue escondendo. Pronto!". Agatha saiu com ferocidade do dormitório.
Em que situação eu fui me meter? Porque eu tenho que dar uma de grifinória pode tudo? Porque eu fui escolher logo o pior inimigo de Tiago? Porque eu tenho que me sentir tão culpada? Afinal, eu só estou tentando fazer alguma coisa boa. Isso é tão incompreensível!
Eu acho que devia escrever. Aparentemente, eu ando me comunicando mais com o meu diário do que com os meus amigos, e Tiago. Quem sabe uma carta não deixe as coisas um pouco melhores.
Tiago,
Me desculpe! Eu não posso contar o que está acontecendo! Eu amo você.
Lily
Ow! Ele vai me matar. Isso é revoltante, não reconfortante. Como se ele já não tivesse percebido que eu não posso falar. Sério, essa coisa de escrever uma carta ao invés de falar pessoalmente é tão não grifinório. Será que espírito sonserino é contagioso? Eu não ia agüentar simplesmente olhar para Tiago e dizer isso.
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Nota da Autora:
- Comentários: obrigada! Mesmo, mesmo, mesmo!
Madame Mim: eu não vou falar nada sobre a ordem por enquanto...
- Nós estamos definitivamente começando a ação. Tsk...tsk...Snape.
- Pergunta: quem vai no EP do dia 5 em São Paulo? Eu vou o/
- Próxima Atualização: dia 26, quarta-feira.
