As vezes eu queria que Tiago não me olhasse tão marotamente. De uma forma divertida e inexplicável ao mesmo tempo. Isso me assusta. Mais ainda se eu estou escondendo algo, e o olhar é capaz de ver mais do que um sorriso pode mostrar. E acredite, de sorriso o Tiago entende.
Talvez seja involuntário. Talvez eu que esteja sendo paranóica, o que não é incomum se tratando da minha pessoa. Mas eu acho que há mais naquele olhar do que um observador pouco atento pode captar. Ele confunde. Sorri. Finge falta de importância. Eu acho que ele continua desconfiado. Eu definitivamente deveria contar.
Natal é natal. As pessoas devem esquecer as rivalidades, certo? Não que eu tenha comprado um incrível presente para o Snape. Eu não cheguei a uma total alienação. Mas, quando saí da ala hospitalar, eu o procurei para desejar um feliz natal, e lhe entregar uma 'recordação'. É incrível como podemos passar anos sem notar as coisas, mas Snape sempre fica para comemorar a data junto com as bolas natalinas de Hogwarts. Eu digo com as bolas, porque eu sempre o vejo sozinho. Melhor as bolas brilhantes e fofas do que seus companheiros sonserinos. Bolas, que aliás, eu passei horas arrumando decentemente. Talvez ele tenha um irmão ou irmã Petúnia, ou quem sabe mãe e pai Petúnia. Eu me arrisco a dizer que Petúnias são problemas evolutivos da humanidade. Quer dizer, talvez o mundo tenha selecionado parentes com uma expressão de constante mau-humor, corações endurecidos e com uma curiosidade surreal – apesar de não admiti-la – para que revistas desinteressantes sejam compradas, programas de televisão igualmente desinteressante sejam assistidos, e para que irmãs e irmãos sensatos permaneçam na escola no natal. Afinal, a natureza busca o equilíbrio. O mundo precisa de Petúnias e Lilys.
Voltando ao Snape. Ele não me desejou feliz natal. Quer dizer, era muito dizer um "igualmente"? Afinal, natal é algo muito maior do que rivalidades idiotas. Aparentemente ele prefere continuar com essa falta de delicadeza. Eu já estou me cansando. Eu devia tentar um mantra antes de dormir. Relaxantes e completamente infantis. Afinal, o mais legal de você ficar repetindo uma mesma coisa centenas de vezes, é ela lhe fazer rir da situação. O que seriam dos mantras sem os pensamentos idiotas? Na verdade, mantras já me parecem idiotas por si sós. 'Quem se importa com o Snape? Pense nos atentados dos sádicos! Quem se importa com o Snape? Pense nos atentados dos sádicos! Quem se importa com o Snape? Pense nos atentados dos sádicos!'. Quem se importa com o Snape? Eu quero informações sobre comensais!
Mas eu sou idiota e grifinória. Eu me importo com o Snape. Tanto me importo que estou mantendo tudo isso em segredo. Pior, eu me peguei cogitando a possibilidade do próprio Snape ser um comensal. E sabe, eu realmente fiquei chateada com o meu próprio pensamento. Que tipo de pessoa sádica se puni por pensar na desgraça alheia? A desgraça é alheia, afinal. E eu não acho que Snape se importa por eu ter achado ruim a possibilidade dele ser um comensal. Ele parece não ligar para absolutamente nada. Quem se importa?!
De qualquer forma, é nesse ponto que entra o primeiro olhar assustador do Tiago. Na manhã de natal, após eu ter decidido que daria 'feliz natal' a Snape, eu emudeci. Eu estava preocupada com a reação dele. Não que eu seja uma pessoa desesperadoramente falante, mas não sou de não me entrosar numa discussão. Ser feliz com besteiras de café da manhã. Tiago notou. E eu pensando que ele era totalmente desconectado.
Sem explicação eu me vi sendo encarada por um par de olhos castanhos preocupados. Ele vacilava entre rir naturalmente e me olhar inquisidoramente. Como se estivesse incerto do que via. E como se tentando me animar com um olhar ele sorria por ele. Espantoso. Eu respondia sorrindo da única maneira que eu sabia fazer. Não que ele tenha se convencido, mas foi uma tentativa.
"O que você tem?". Ele me perguntou no caminho para a ala hospitalar. Iríamos passar toda a manhã com Remo, e almoçar lá. Os marotos seriam responsáveis por convencer gentilmente os elfos a cederem um pouco de comida.
"Nada.". Eu menti sem muita convicção.
Ele me abraçou sem precedente, e definitivamente não aceitou aquela resposta murcha. Eu respondi-lhe a única coisa que me veio na cabeça: "Tristeza natalina!". É claro que aquilo não fez nenhum sentido no cérebro dele. Nem no meu fazia. Mas eu acho que ele pensou que aquele fosse o tipo de resposta que homens não entendem, e que, no entanto, faz um total sentido no cérebro feminino.
"Que tipo de coisa estranha é essa?". Ele perguntou satirizando o meu suposto sentimento inexplicável.
"O tipo de coisa estranha que definitivamente não deve permanecer por muito tempo.". Eu sorri em resposta, e acho que o assustei quando o beijei de súbito. Na verdade, eu tenho certeza que o assustei. Ele fez uma cara muito engraçada. Daquelas que você ri só pela conversa não estar seguindo algum caminho possível de se acompanhar.
"Você positivamente devia sofrer mais vezes de tristeza natalina!". Ele não é o besta mais encantador do mundo? Eu revirei os olhos, e comecei o arrastar – ele parecia querer ficar parado no meio do corredor para sempre – para a ala hospitalar. De uma forma bem boba, eu estava totalmente saltitante. Conseqüência inexplicável. Não me pergunte! "Você não faz nenhum sentido!" foi a única resposta de Tiago. E ele tem razão. Sempre tem!
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Remo sorriu e verdadeiramente parecia feliz por ter companhia na sua jornada mensal na ala hospitalar. Agatha foi literalmente correndo checar se ele todo estava inteiro. É incrível como ela fica angustiada quando ele está sobre o efeito da lua. Se ela pudesse, falaria algo como: "Nunca! Nunca mais mesmo faça isso comigo.". Mas não é como se Remo pudesse evitar.
Sirius acha toda essa reação muito engraçada. Ele faz questão de encabular o coitado do lobisomem. E ele consegue tanto isso como uma Agatha com os braços cruzados, uma batida de pé ritmada e uma frase: "Sirius, não brinque com isso!". Sempre a mesma coisa. Risadas marotas e eu tentando não brigar com Tiago enquanto Agatha me intima a dar um jeito na situação. Como se eu pudesse fazer alguma coisa.
Sabe, foi uma das melhores manhãs dos últimos tempos. O tempo estava colaborando, e um sol simpático entrava pela janela da enfermaria. E apesar disso, o dia não estava quente. Aquelas raridades. Um verdadeiro milagre de natal, exatamente por estarmos no natal. Quer dizer, neve é uma coisa muito mais provável. Porém, frio com sol é muito mais agradável.
"Você está bem, Remo?". Agatha perguntou pela qüinquagésima vez.
"Agatha, está tudo bem!". Ele respondeu sem demonstrar cansaço por já estar o fazendo pela milésima vez, e riu. Deuses! Que pessoa paciente.
"Sabe, e acho que nunca vou me acostumar com isso. Quer dizer, COMO eu vou conseguir algum dia simplesmente dormir tranqüila sabendo que você está lá fora sofrendo.". Eu acho que estou cansada de ouvir o mesmo discurso. E talvez por isso eu tenha olhado para qualquer lugar menos Agatha. E qualquer lugar inclui Tiago Potter, um olhar e uma risada embutida suspeitíssimos. Ele notou que eu fiz uma cara de quem não entende do que ele está rindo. Eu cruzei os braços como quem espera a resposta chegar. Qualquer pessoa normal teria disfarçado e me feito pensar que eu vira errado. Mas Tiago não é normal. Ele simplesmente explodiu numa risada escandalosa enquanto Sirius tentava abafar o inevitável. Perguntas. Entretanto, não era como se o Tiago tivesse fôlego para responde-las, ele gastava tudo que tinha rindo escandalosamente. Sirius aparentemente não tinha idéia do porque da risada sem sentido, e acabou que todos ficaram com suas dúvidas guardadas dentro de um baú no fundo da memória. Parece que eu não sou a únicas com segredos...
"Falando em dormir.". Eu lembrei de algo realmente surreal. "Eu sonhei com o Dumbledore.". Eu fiz uma cara desconcertada, e a risada do Tiago voltou a ecoar. Sinceramente! Não é possível que alguém seja tão feliz assim!
"Você sonhou com o diretor?". Agatha perguntou toda confusa.
"O que eu posso fazer? Não é como se eu controlasse os meus sonhos!".
"Eu já sei.". Sirius demandou como quem vai expor uma de suas pérolas. "Foi influência do natal. Você sonhou com o bom velhinho.". Dumbledore com roupa vermelha e um capuz não é uma imagem fruto de uma imaginação sadia.
"E o que afinal você sonhou?". Tiago perguntou, e eu tentei lembrar. Fora um sonho um tanto quanto embaçado, para falar a verdade.
"Eu lembro que o vi em uma sala não muito grande e ele parecia expor uma espécie de plano. Vários mapas estavam espalhados na mesa a sua frente, e eu me arrisco a dizer que um grupo de dez pessoas estava presente. Mas eu não sei sobre o que falavam. Era como se fosse um filme mudo.".
"Bem, Dumbledore e discurso cabem numa mesma frase.". Tiago ponderou. "Não deve ser nada.".
"Eu ainda acho que foi influência do natal.". Sirius. Onde estava a Belle para dar um jeito nele?
"Cheguei!". Eu fiquei decepcionada quando percebi que não era a Belle. Pedro entrou na ala hospitalar carregado com caixas de sapos de chocolate. Ele foi distribuindo-as e depois sorriu satisfeito. "Feliz Natal!". Eu confesso que fiquei tocada. Deve ter sido um esforço e tanto ele ter se desfeito de seu petisco favorito. No entanto, não era como se ele não fosse receber o mesmo presente da minha parte. Eu me senti até um pouco constrangida de "devolver" a caixa, mas o que eu poderia fazer? Chegou a ser ridículo quando Pedro ganhou cinco caixas se sapos de chocolates. Ele, no entanto, pareceu extremamente feliz com os presentes.
Belle chegou meia hora atrasada. Nós já estávamos aflitos para distribuir os presentes. Afinal, Remo tinha mais uma noite desagradável pela frente.
Eu ganhei presentes muitos legais. O de Tiago foi o meu preferido, apesar de eu não ter admitido isso para ele. Gigantescos ego!
Sirius e Belle me deram um presente em conjunto. Com os quais eu estou escrevendo nesse momento, a propósito. Uma pena com uma espécie de suporte para mão, muito mais confortável. Meus dedos agradecem! E um tinteiro que não vira. Invenção revolucionária!
Eu mencionei que comprei o presente de Tiago numa loja de artefatos para quadribol, não? (É claro que eu mudei as cores, mas eu não podia ter conjurado um pomo). Enfim, eu não me dei ao trabalho de mudar de loja para comprar o do Sirius. Uma loção para polir vassouras me pareceu bem legal.
Para Belle eu comprei um estoque enorme do novo e delicioso doce da Desdodemel. Ela merecia. Ela foi mesmo muito legal tendo uma idéia para a surpresa.
Agatha ganhou um abraço caloroso, uma poção calmante para os dias de transformação e uma das bolas brilhantes que decoram as árvores de natal em Hogwarts. Eu lembro de ter a ouvido dizer que adorava aquelas grandes, e brilhantes bolas. Sabe, ela ficou realmente entusiasmada com o presente. Uma BOLA! Vai entender!
Para a minha injustiça, eu ganhei mais um presente em conjunto. Agatha e Remo me deram um livro com uma dedicatória muito estranha:
"Lily,
Leia! Você está num livro e não sabia. A protagonista é igual a você.
Carinho,
Agatha e Remo".
Eu dei uma folheada e descobri que é um diário. Agatha ainda disse que eu vou perceber as minhas atitudes antes de ficar com o Tiago, o que eu considerei mais sem sentido do que a dedicatória. Enfim, eu vou considerar que a Agatha estava alterada por causa da BOLA.
Na verdade ela estava realmente fora de si. Quando Remo a cobrou o presente dele, ela sorriu de uma forma muito 'marotos' e simplesmente esqueceu que não estava sozinha com o Remo naquela ala hospitalar! Ela esqueceu que estava numa ala hospitalar. Ela o beijou TÃO apaixonadamente. Quer dizer, ela me disse que era para ele lembrar dela durante a lua cheia. E Remo realmente parecia ser capaz de lembrar. Acho que por uma fração de segundos ele superou em tamanho o sorriso de Tiago. Ele ainda ganhou uma caixa de bombons e inúmeras piadas da parte do resto dos marotos. Garotos são estranho as vezes.
Depois daquilo só faltava o presente do Tiago, e eu virei para ele totalmente anestesiada pela cena da Agatha e do Remo. Nós trocamos os presentes e enquanto eu ria, e xingava o ego dele mentalmente ao ver o meu presente, ele disse algo como "Lily, você é estranha. Como você inverte as cores do pomo?". Sério, até parece que eu violei alguma regra do quadribol! (Violei?)
"Invertendo.". E como se ele já tivesse rido o bastante, eu me vi em mais um ataque de riso Tiago. Eu queria revirar os olhos, mas eu definitivamente não consegui não me contagiar, e me peguei rindo de mim mesma. No final, é claro, eu precisei de um grande esforço para lembrar do que estava rindo.
O presente do Tiago? Um diário. Um diário com a foto dele na primeira pagina, e o mesmo feitiço que revela paginas ocultas.
"Lily,
Agora estamos quites. Digo, quanto a senha. (Eu tive que falar que o amava para as páginas se revelarem)
Eu sempre soube que algum dia você iria perceber o óbvio. Mas não posso dizer que não me desanimava com a sua teimosia.
Eu sempre soube que não tinha como não ficarmos juntos. Mas não era como se em todos os momentos eu acreditasse nessa pré-destinação.
Eu sempre soube que você sempre me amou. E desse detalhe eu nunca duvidei.
Eu ainda não sei como esse natal vai terminar, mas acredite quando eu digo que foi o melhor da minha vida.
Amo você.
Tiago Potter".
Eu sou tão besta. Eu chorei. Besta, besta, besta! Mas eu não pude evitar. E quando eu encarei Tiago com os meus olhos todo embaçados, ele sorriu daquela forma toda especial, e me fez desabar de vez. Tem horas na vida que você se sente tão ridícula!
A propósito, ninguém sabe o Sirius e Belle se deram. Mas eles realmente riam.
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Nota da Autora:
Sobre o capítulo:
- Não, o livro que a Agatha e o Remo deram para a Lily não existe na vida real. Não se preocupem, a Lily ainda vai falar do livro.
- Não, a Lily não sabe o que a Belle e o Sirius se deram. E não vai saber. Então, infelizmente, todos nós ficaremos curiosos.
Comentários:
- Obrigada mesmo por todos os comentários, elogios. Sério, é besta, mas eu fico emocionada. Hauauhauhau .
- Obrigada para quem disse que eu escrevo bem, para quem disse que o capítulo ficou engraçado (mérito da Lily), para quem disse que ficou fofo, etc...
- Resumindo: Obrigada!!!
- Próxima Atualização: Sábado, dia 5 de junho! (Depois de PdA .)
- Para quem vai no encontro. Hauhauhau Nos vemos lá! Procurem a Pichi e vocês irão me achar!
Beijokas,
Manza