"What will become of my dear friend?

Where will his actions lead us then?

Although I'd like to join the crowd

in their enthusiastic cloud,

try as I may it doesn't last.

And will we ever

end up together?

No, I think not.

It's never to become

for I am not the one..."

(London After Midnight – Sally's Song)

Enquanto eu, Tiago e Pedro arrumávamos as caixas e o ponche, os firewhiskys, as cervejas amanteigadas e a infinidade de doces e mini-lanches provenientes de uma pequena viajem a Hogsmeade e à cozinha da escola, Remo, como o usual, estava recolhido no dormitório, num dos seus períodos de isolamento, que eu sempre adorava espreitar num canto escondido, onde nenhum deles pudesse me descobrir admirando Aluado dedilhar o violino e tirar dele um dos sons mais primoroso que meus ouvidos já haviam presenciado. Era realmente algo espantoso, que uma criatura viva fosse hábil o suficiente para produzir canções tão furiosas e embaladas por um amontoado de sensações que aparentavam se entrelaçar e acarinhar meus ouvidos, enquanto eu me escondia sob colchões. Remo não gostava de estar acompanhado quando fazia sua arte. Eu mesmo já ouvira de uma das garotas da Corvinal, a qual idolatrava Remo como um Deus de algum outro universo paralelo sibilar para as amigas "O Lupin tem um Stradivarius, um dos violinos de maior tradição e refino que já foi fabricado...e segundo fontes, ele toca terrivelmente bem. Invejável, não?" Até eu mesmo, um poço de ignorância nesses assuntos, sabia o que alguns nobres de sangue-puro batalhavam para conseguir uma réplica original de um verdadeiro Stradivarius. E ter refino suficiente para tocar o instrumento, bom, eu não conhecia nenhum vivo apto.

Não posso culpar a menina por venerar Remo. Essa é uma das tarefas mais fáceis e naturais que existem.

Após a nossa "conversinha de maroto para maroto", Tiago abandonou o dormitório, a fim de ir afanar mais garrafas de conhaque puro da cozinha, todavia, ele sempre conseguia me apanhar espiando alguém, esse alguém sendo, na maioria absoluta das vezes, o próprio Aluado. Sem que eu pudesse notar, ele se achegou por trás de mim, e pude ouvir sua voz, sempre debochada e escarniosa sussurrando no meu ouvido, com vagarosidade:

"Assegure-se de usar o" isso" no meio das suas pernas somente para o xixi, Almofadinhas..."

Depois do susto que conseguiu me pregar, fazendo o oxigênio me fugir dos pulmões, eu estava bem suscetível á arrasta-lo até a Casa dos Gritos pelo fígado. Um riso estridente ia sair de sua boca, mas eu a tapei a tempo e o domei, carregando-o para um local onde Remo não fosse nos ver. Quando já estávamos na área da Sala Comunal onde vários balões e fitas fluorescentes voavam acima da lareira e das poltronas, ele opinou" Até que ele toca muito bem, pra alguém da idade dele. Sabe, a única coisa que os Marotos ainda não fizeram, e olha que é bastante raro, foi formar uma banda. E, claro, convencer Evans que eu não sou uma besta apocalíptica de sete cabeças sedentas de sangue...Desde quando você o espia e não me conta, Sirius?" Eu tive que pensar um pouco para processar tudo o que Tiago falara numa sentença só e pensar numa resposta aceitável."Hum...Honestamente, desde sempre. Desde que você não é uma pulga irritantemente bisbilhoteira e fica me pegando de surpresa todas as vezes que eu faço isso, eu suponho." Ele pareceu pensar justamente na mesma direção que eu, depois de balançar a cabeça dez vezes mais larga pelo volume das mechas."É, bom argumento, Almofadas."

Quando a melodia fina pareceu cessar no dormitório, eu e Tiago entramos suavemente e Remo estava recostado no travesseiro da cama de Tiago, lendo distraidamente. Tiago procedeu três batidinhas na capa dura e antiga do livro, imitando alguma espécie de vizinho educado que bate para pedir permissão para entrar. Quando Remo levantou a apostila gigantesca, olhando para nós, que paramos como dois espectros na porta do banheiro, Tiago pôs-se a berrar, como uma matriarca autoritária: "Vocês dois, caninos, cuecas limpas, desodorante, uma colônia decente e cabelos no lugar! Circulando da cama, por favor, Aluado, meu homem...!" Remo saltou do colchão, apanhando uma roupa qualquer, sem sequer olhar para o modelo, e mirava Tiago com uma expressão divertida."Eu devolvo pra você o tópico do cabelo, Catástrofe Capilar. E pro seu governo, diferentemente de você e do Almofadinhas, eu uso cuecas limpas. Hábitos higiênicos, já ouviu dizer?" e saiu correndo em direção ao banheiro, Tiago logo no seu encalço, com uma escova nas mãos."Naaah, perdi da última vez que olhei dentro da sua mala, Aluado. Mas o Sirius é um completo suíno, Remo. Talvez você pudesse pelo menos ensinar ele a como pentear aquela cabeleira..." Remo riu gostosamente, ambos olhando pra mim com um sorriso amigável estampado no rosto. Mas a careta de Tiago era duplamente provocativa e sugestiva. Foi a vez de Remo recuperar o timbre humilde e pacífico."Sério, Almofadinhas? Se a situação estiver tão desesperadora eu posso ajudar o seu matagal tropical particular, no topo da sua cabeça. Você sabe, eu já tive irmãs pequenas..." Tiago fez um sinal positivo com as mãos, encorajador. "Ah, sim, Aluado, muito obrigado. É só eu me vestir..."

Apanhei minhas roupas, uma camiseta simples não tão reveladora, com uma foto antiga dos Ramones(o tipo de banda que me agradava, atitude rebelde e audaciosa, letras ousadas, justamente como eu me comportava) em preto e branco, cores cuja tonalidade, eu acho, ressaltava as minhas qualidades físicas. O preto, especialmente, valorizava meus cabelos e meus olhos, que são limpidamente azuis e envoltos por uma espessa e longa camada de cílios negros. A calça, de couro, naturalmente, uma aquisição que eu achava particularmente maliciosa, mal-comportada e atrativa, uma combinação que me extasiava. Peguei as botas debaixo da cama, e pude ouvir claramente Remo gritar, em meio ás risadas escandalosas de Tiago."Anda logo, Sirius! Ficar sozinho com o Tiago num banheiro masculino é perigo eminente de...AH, SEU CRETINO, EU SINTO C"CEGAS!" e ambos explodiram em risadas suspeitamente arfantes. Porcaria, eu também quero participar. Não me lembro de nunca ter amarrado uma enxurrada de cadarços tão rápido em todos os dias da minha vida relativamente grande. Coloquei um cigarro na boca tão velozmente quanto uma enfermeira colocaria um termômetro num paciente.

Aluado penteou meus cabelos tão cuidadosa e delicadamente que pensei que estaria desembaraçando as mechas de um imperador ou coisa do gênero. Mas ele procurava tratar a todos de forma especial separadamente, conseqüentemente, era difícil não se deixar cativar. Meus cabelos já estavam longos em excesso, e as pontas já alcançavam muito abaixo dos meus ombros, e, era uma das minhas características, presumivelmente, da qual eu mais me orgulhava. Meus cabelos são deveras fabulosos, escorridos e sempre penteados de uma forma despreocupada ou revolta, sempre eram açoitados pelo vento frio da escola e as melenas se dissipavam pelo rosto. Ainda que me convencesse tanto deles, os de Aluado eram esmagadoramente mais belos e lustrosos. Castanhos claríssimos, mudavam para um tom tão dourado quanto aquele que coloria seus olhos, quando expostos ao sol. Eles se dispunham em ondas delirantes e compridas, que se misturavam a tonalidade de seus olhos...E mesmo que Remo resmungasse sobre a herança dos cabelos grisalhos, e como ela se aproximava a cada ano, eu formava uma imagem altamente sedutora de Remo mais velho, com seus cabelos ondulosos (eu realmente tenho um fraco extraordinário por cabelos ondulantes) cobertos por mechas grisalhas, como um professor agradável e reverenciado, no entanto, incrivelmente enigmático. E lá vou eu me perdendo de novo...E ele está tão próximo, repartindo os fios á minha maneira bagunçada, precisamente como eu gosto. E Tiago, depois de ensaiar no mínimo, uma centena de vezes, como cumprimentar Lílian Evans de uma forma totalmente não-ofensiva, saiu do banheiro. Espera. "timo. O Maldito nos trancou no banheiro. Acredito que Remo seja levemente claustrofóbico, pois sacou a varinha maquinalmente, explodindo a porta em milhares de lascas (o monitor-chefe explodindo a porta do banheiro masculino não me soa muito aprovável, não? Como suspeitava.). Maravilha. E aí se vai meu cabelo...

Mal a festa começara, e Remo já estava envolto por uma corja de meninas afogueadas, desesperadas para conversar á sós com ele, de ter o privilégio de dividir uma dança com ele, ou outras coisas mais, que pretendo nem escrever, pois só fantasiar a possibilidade de que isso aconteça, bem ao meu lado, já faz meus ombros convulsionarem em calafrios horrorosos. Uma boa quantidade de garotas também formou uma roda ao meu redor, mas, por alguma razão inominada, todos que circundavam Remo pareciam trilhões de vezes mais intelectuais, interessantes, belos, sociáveis, charmosos e simpáticos. Talvez fosse devido à pessoa que era, Remo impelia sempre o de melhor para si, esforçando-se sempre para mimar e nunca desapontar até aqueles que não possuíam um milésimo do fulgor interior que ele tinha. Tiago tinha o time de Quadribol grudado na barra dos jeans, todos sorridentes e entusiásticos como o próprio. Até mesmo alguns Sonserinos embaraçados dialogavam na mesa do ponche. E Pedro, hum...bom, honestamente, eu não via nenhuma alma viva com ele neste exato momento, nada muito atípico."Bela festa, huh?O Aluado parece pensar o mesmo...cheio de companhias ele, não concorda? E se meus óculos não estão embaçados, eu não vejo nenhum Almofadinhas entre eles...Ah, perdão, esqueci que você adora uma concorrência..." Tiago sabia exatamente como me provocar, deixar meu sangue borbulhando nas veias."Acho que é algo que nós dois compartilhamos, Pontas, porque, se não há nenhum cisco no meu olho, o que eu acho muito difícil, acredito que acabei de ver o seu goleiro colocando uma mão não muito virginal na perna de uma Evans que eu conheço..." brinquei, fingindo roer as pontas das unhas, muito despreocupadamente, assim que as pupilas de Tiago dilataram e sua expressão se transformou de genuíno prazer para pânico evidente."Aaaah, nada melhor que uma boa concorrência..." suspirei, enquanto Tiago bailava nos próprios pés, procurando em cada teia de aranha rastro da sua ruiva mais requisitada. Enquanto isso, a noite se tornava cada vez mais obscurecida, e a madrugada mal começava quando a música atingiu o volume máximo.

Verdadeiramente, Remo e Evans estavam muito estranhos, um comportamento incomum que era indigno dos dois. Riam alto e vigorosamente, cumprimentavam e acenavam para todos os convidados, e na mesa dos dois, uma quantia alarmante de garrafas, copos e taças se amontoavam a cada cinco minutos. Não me surpreenderia se Lílian subisse nas escadas e Remo depositasse galeões nas suas roupas íntimas. O rubor habitual nas bochechas de Aluado pareciam assombrosamente maiores e mais intensas, igualando-se em muito à cor do cabelo de Evans, qualquer um poderia identificar dedo de bebida nesta. Quando me aproximei da mesa onde Remo, Evans e algumas pessoas quais nunca havia botado os olhos antes conversavam animadamente, todos com um coquetel diferente nas mãos, e Remo divagando com Lílian, sobre algum assunto peculiarmente incoerente."Vamos fazer um brinde, Rem?" eu observei de longe, assim que os dois trocavam sorrisos empolgados."Absolutamente, Evans, é por isso que eu gosto de você! Eu sabia que faltava alguma coisa...Ôpa. Eu não tenho mais conhaque..." constatou ele, com uma expressão chateada. Evans desatou num riso histérico."E nem cuecas, Rem. Você realmente não devia ter apostado. Vamos brindar ao quê?" perguntou, refreando o riso, enquanto Remo parecia assegurar-se, olhando dentro do jeans, que não havia pista de roupa íntima."Aos seus lindos olhos vermelhos, Lil...Sabe, eu gosto mais dele que dos seus livros." ele tinha um argumento, a íris esverdeada de Evans estava coberta por uma camada escarlate que denunciava o seu estado. Talvez fosse a sonolência entrelaçada à bebida. Ela parecia lisonjeada, visto que seus olhos eram verdes vivos."Rem...Você é tão inteligente...E tem pele e dentes bonitos...Se não fosse homossexual, eu juro que teria um filho seu..." Aluado salpicou um beijo estalado na bochecha da garota, e ambos brindaram, tilintando os copos e rindo, como se houvessem regredido para a infância, apoiando-se um nos ombros do outro e abraçando-se amigavelmente e Remo sibilando algo sobre como a unha do pé de Evans parecia reluzir sob a luz, e quão intensamente ele a amava por isso.

Espera. Espera. Espera.

Remo...homossexual? Alguém precisava urgentemente me inteirar das novidades, uma vez que estou me sentindo ultrajado por ser o último a saber disso. Remo era homossexual, eu sou homossexual, e basicamente ninguém havia avisado isso? Meu ego que me perdoe, mas eu nunca fui sagaz o suficiente para concluir isso. Remo raramente namorava, só nos períodos próximos à lua cheia, contudo, era muito incomum que eu não soubesse quem eram as vítimas em potencial...Talvez os dois estivessem afogados na bebida, de fato, notavelmente cada palavra que saía da boca dos dois parecia extraordinariamente desconexa. Era melhor não alimentar esperanças inexistentes, não antes que Remo recuperasse a sobriedade e sua gradação normal de pensamento. Melhor eu tira-lo daqui antes que ele vá se envergonhar durante a manhã...

Tiago aproveitou a deixa e carregou Lílian carinhosamente para o dormitório feminino (embora era parecesse muito mais disposta a dar petelecos nos seus óculos e tentar asfixia-lo com os próprios cabelos). Fui me encarregar de um risonho e singularmente falante Remo enquanto Pedro, na tarefa mais nobre que conseguira, fora expulsar todos para seus respectivos dormitórios. Aproximei-me enquanto ele parecia distraído na tarefa de acabar com um licor de chocolate, e falava sozinho em francês, possivelmente a receita de alguma poção que ele não havia decorado propriamente. Ele me encarou por um longo segundo."ALMOFADINHAS!" e se atirou nos meus braços, presenteando-me com um caloroso abraço, e agradeci compadecidamente a Merlin por todo o teor alcoólico no sangue de Remo."Almofadinhas...meu velho amigo...Você sabe que eu gosto muito de você, não sabe?" e seu indicador tocou de leve meu nariz, enquanto ele sorria descontroladamente."Claro, Remo, eu também gosto muito de você, mais do que imagina. E pra provar que isso é verdade, nós vamos para o dormitório tomar uma ducha gelada muito comprida...Que tal?" ele pareceu pensar na proposta, pôs a taça de lado, exibiu um sorriso grandioso e se jogou num outro abraço esfuziante, quase derrubando-nos da cadeira."Eu adoraria, Almofadinhas. Vamos tomar uma ducha...Quente. Eu não gosto de água fria...Principalmente de manhã, quando está frio, e eu fico tremendo. É tão frio. Brrrr...Você quer tomar uma ducha quente, Almofadinhas?" riu-se, abobalhadamente.

"Claro que sim, Aluado, mas não hoje, entendido? Hoje você tem que tomar uma ducha gelada." Ele pareceu não se deixar persuadir, e não se convencer de forma alguma, cruzando os braços no meio do peitoral, me encarando com aquelas orbes colossalmente atraentes, até quando estava ébrio. "Eu quero tomar uma ducha quente com todos aqueles que eu gosto." Teimou, num tom decidido."Remo, eu já falei q-" e um péssimo ouvinte igualmente."Você, o Pontas e a Lílian vão tomar ducha comigo...! Eu gosto do Pedrinho também, mas eu não queria tomar uma ducha com ele...você entende, não entende?...Eu não quero ver o "sabonete" dele..." pareceu pensativo e sentindo-se culpado por três segundos, olhando diretamente para o teto."...Mas você não tem uma toalha, Sirius!...Mas você não precisa chorar, eu te empresto a minha..." Levantou-se muito hesitante, tropeçando nos próprios passos. Eu estava particularmente paralisado. Ele se deteve na mesa de salgados, analisando-a atentamente. De súbito, agarrou a ponta da toalha vermelha que cobria a mesa, e a puxou com ferocidade, levando a toalha consigo, mas os potes, as jarras e todas as bandejas caprichosamente arrumadas e posicionadas se despedaçaram no chão com louvor, alto o bastante para despertar metade do Castelo. O lobisomem pareceu não se incomodar muito, levando a toalha de mesa segura e protegida por suas mãos, e a abriu como se estendesse um lençol e a colocou à minha volta."Olha só, Almofadinhas. Agora já temos uma toalha. Você quer alguma roupa emprestada? Azuapareceumpocopreta..."

Neste exato minuto, Pontas fez uma aparição atarantada, olhando em todas as direções, parecendo incrédulo e sobretudo exausto. Quando os olhos encontraram os cacos e os restos de sucos e comidas sob o chão, pareceu cinco anos mais envelhecido que já era, e transformou a face cansada numa careta de desgosto."Quem foi que fez esse...esse...inferninho miniaturizado?" perguntou, com a voz esganiçada e arrasada. Aluado olhou para mim com ternura e admiração, e levantou o braço esquerdo, imitando o movimento que o próprio fazia nas classes.""timo. Porque eu vou precisar de um bom Feitiço de Limpeza...E eu preciso de você sóbrio pra isso, Sr. Puritano Em Desgraça." Reclamou, apontando diretamente para o criador da desordem no Salão Comunal."Pontas...você é estúpido. Claramente eu não estou bêbado." Gargalhou Remo com a voz embargada, vacilante em passos trôpegos, e Tiago aparentou estar desafiado, pois o cansaço foi varrido de seu rosto. Depositou as mãos na cintura, arrogantemente, e levantou uma das mãos na frente do rosto, visivelmente."Ok, você não está bêbado, e eu sou um maníaco sexual interplanetário...Quantos dedos eu tenho aqui, Remo?" e divulgou três dedos obviamente em riste, esperando uma réplica, enquanto Remo apertava os olhos insistentemente, dando ares de estar enxergando com dificuldades."Hm. Depende do referencial." Foi sua resposta, para nossa incredulidade. Tiago chutou uma pilha de cacos ao seu lado, e Aluado se dobrou em gargalhadas gorgolejantes."Merda, Lupin. Até bêbado você tem poder argumentativo." Novamente, Remo se jogou numa das cadeiras, um sorriso debochado dando forma a seus lábios e um dedo não muito cavalheiresco à mostra.

"Faça um quatro com as pernas, Remo." Foi a minha vez de ordenar, e ele encarou com digna seriedade. Levantou-se e, cambaleando, tentou trazer uma das pernas por cima da outra, e, felizmente, perdeu hilariamente o equilíbrio, caindo para trás.(uma espécie de 'êpatrupessei') Com sorte, eu estava lá para ampara-lo da queda e toma-lo nos meus braços com cautela e esmero. Imediatamente ele adormeceu, adoravelmente brando e sutil, respirando pausadamente com os braços enrolados em torno de meu pescoço, os lábios rosados entreabertos. Até mesmo Pontas pareceu sensibilizado pela cena. Vê-lo tão doce e vulnerável era quase impossível para quem pretendia antes atirá-lo no chuveiro frio. Eu não seria capaz."Seu vira-lata de coração mole. O trabalho sujo sempre sobra pra mim." E Pontas tentou se incumbir de despi-lo, o que eu acho que foi um serviço não tão simples quanto aparentava ser, visto que explodira do banheiro, o rosto em brasas."Ele...ele...não está de cuecas...Por que você não me avisou?...Ah, maravilha, mais um trauma de infância pra lidar na maturidade...E eu que esperava ver a Lílian nua hoje, ganhei um lobisomem alcoolizado, e ela, as cuecas dele. Não é o balanço final que eu esperava dessa noite, francamente." ruminou, ofegante e uma máscara de fúria e acanhamento me afrontando.

"Coisas da vida, Pontas, acontece nas melhores famílias..." contrapus, com um sorriso de zombaria moldando minhas feições, acendendo um cigarro com o isqueiro, dando uma tragada prolongada. O relógio já apontava, ao menos, três horas da manhã, e nenhum de nós parecia sequer próximo a obter uma parcela de uma noite de sono aceitável."Porquê a euforia? Você por acaso não viu nada que te interessou, viu?", suponho que uma onda de ira perpassou minha voz, e meu olhar se tornou mais indiferente e nebuloso. Pontas estirou uma língua muito grande, depois de iniciar uma imitação perfeita de uma pequena garota enamorada e introvertida, enrolando uma mecha de um cabelo inexistente, com uma vozinha genuinamente espevitada.

"Mas não foi você mesmo que falou que adorava uma concorrência?"

Ele realmente mereceu a chuva de travesseiradas que se abateu sob ele.

Sutilmente, trouxe Remo para minha cama, e velei seu sono sereno por toda a extensão daquilo que restava da noite, escoltando cada suspiro e cada inspiração suave que expedia, e com tal visão tão notória e reservada, era muito improvável de que eu caísse adormecido, independente do quão sonolento estivesse. Talvez, sim, hipnotizado...