Esses personagens infelizmente não me pertencem, e todo mundo sabe de quem são. Essa fic é slash, se não gosta, não leia. Simples assim.

Se gosta, ou tem mente aberta para algo diferente, leia e mande sua opinião.

Eu queria agradecer demais à minha beta Ptyx, valeu! Acho que se você não tivesse betado eu nunca teria coragem de publicar.

Você voltou, e eu nem sei como

Hogsmead – 10/08/2003

A primeira coisa de que Severus Snape tomou consciência ao acordar, antes mesmo de abrir os olhos, foi do braço do amante passado por sua cintura e da respiração dele às suas costas. Nos últimos cinco anos, havia sido sempre assim. A cama de casal no centro do quarto deles era enorme, mas eles sempre dormiam agarrados um ao outro, como se tentassem recuperar o longo tempo perdido

Muitas discussões tinham encontrado o fim assim, na incapacidade de dormir longe um do outro. Muitas vezes, principalmente nos primeiros tempos, quando ainda se adaptavam às enormes diferenças de personalidade que havia entre eles, as últimas palavras antes de dormir tinham sido: - Vem cá, me abraça. Eu ainda estou zangado com você, mas eu te amo. - Nas poucas noites que eles, por alguma razão, passavam separados, nenhum dos dois conseguia dormir direito. Snape costumava ler até à exaustão quando tinha de dormir em Hogwarts, mas mesmo assim, por mais cobertas que houvesse na cama, acordava sentindo frio.

Ele se espreguiçou, e voltou a se aninhar nos braços do surpreendente amor de sua vida. E com um suspiro baixinho, voltou a prestar atenção na janela a sua frente.

Quando haviam construído a casa, ele fizera questão de um quarto grande com muitas janelas; num arroubo de imaginação, seu amante construíra para eles um quarto que ocupava todo o último andar da casa, com janelas em todas as direções. Havia uma cama descomunal , sofás, estantes baixas repletas de livros e objetos mágicos, mas nada que obstruísse a visão das janelas — nem mesmo o guarda-roupas havia sido admitido no ninho. Em um dos cantos do quarto, havia uma escada que levava à parte de baixo da suíte; lá ficavam a sala de roupas, o banheiro e uma sala de estar de onde se tinha acesso ao resto da casa. Era uma casa que refletia a personalidade original de seus donos.

Severus escolhera o lado leste da cama como seu. Era a única cortina que sempre dormia aberta. Snape era madrugador, ao contrário do amante, e muitas vezes via o nascer do sol dali, exatamente como hoje, deitado de lado com seu amor abraçado a ele, e ainda dormindo.

A primeira coisa de que Sirius Black tomou consciência ao acordar, antes mesmo de abrir os olhos, foi do cheiro de Severus e do calor do corpo dele encostado à sua pele. Faro quase canino, era o que Severus costumava dizer.

Ele deslizou a mão pela barriga do outro bruxo e murmurou, sem abrir os olhos:

-O sol nasceu?

-Está nascendo agora. Como a cinco anos, Sirius.

Um calor bom aqueceu a alma de Black com a memória evocada por Snape. Hoje eles completavam cinco anos juntos.

-Como na nossa primeira noite. – Murmurou o animago, passando o nariz pelo pescoço do amante.

-Sim. – Severus levou a mão de Sirus até a boca e beijou cada um dos dedos dele – O sol nascendo para nós novamente.

-Vem cá.

Severus abandonou a contemplação do sol nascente para se virar de frente para Sirius.

-Sabia que eu amo você, Severus Snape? – Sirius depositou um beijo suave nos lábios de Severus.

-Eu sei. E eu amo você, Sirius Black. Mais do que eu mesmo consigo imaginar.

Uma necessidade urgente do toque do outro tomou conta deles, seus beijos se tornaram mais profundos, suas mãos percorriam os caminhos conhecidos do corpo do parceiro e eles se entregaram mais uma vez ao prazer de se amarem.

Hogwarts – 20/09/1996

Gina Weasley estava parada em frente ao professor de Poções tentando manter a calma, enquanto ele lhe mostrava a sala, no canto menos utilizado das masmorras de Hogwarts, que ela deveria limpar sem usar magia. Era mais uma detenção injusta de Snape. Ele andava ainda mais amargo do que costumava ser, e Gina sabia que reclamar só a faria ter outra detenção no dia seguinte e perder outro treino de quadribol, justo no ano em que a Grifinória precisava ajustar o novo trio de artilheiras. Portanto, tratou de fazer a tarefa o mais rapidamente possível — e o mais bem feito também, pois não podia dar desculpas ao Seboso, ou ele diria que a tarefa não tinha sido executada a contento.

As costas da garota doíam quando terminou de limpar a sala e, recolhendo o material, dirigiu-se ao encontro do Professor Snape para esperar a inspeção dele. Não havia andado nem dois passos quando ouviu um barulho em uma sala mais ao fundo. Era como o som de um corpo caindo ao chão, e depois o silêncio. Sacando a varinha, Gina foi se aproximando da porta fechada da sala, e testou a fechadura, que estava trancada. Por um instante a garota hesitou quanto ao que fazer, mas bom senso nunca fora a marca registrada da Grifinória mesmo:

-Alorromora.

A porta se abriu, revelando uma sala vazia, escura e empoeirada. No meio da sala, um homem caído. Gina se aproximou. A única luz vinha da varinha dela. Quando chegou perto o suficiente, a garota estacou com o choque.

-Sirius!

No final de junho, o animago caíra através do Véu da Morte durante uma batalha no Ministério, e todos, sem exceção, o acreditavam morto. E agora ele estava ali, com a respiração fraca, aparentemente inconsciente e gelado. Mas vivo.

Gina se lembrou de Snape. Apesar de desagradável e de não gostar nem um pouco de Sirius, ele era da Ordem, e estava perto. Gina usou um feitiço para tirar Sirius dali e o levar até à sala que havia acabado de limpar, onde havia um sofá grande o suficiente para acomodar o bruxo. Ela o cobriu com sua capa e saiu correndo para procurar Snape.

Foi uma Gina assustada que invadiu a sala do professor de poções sem nem mesmo se lembrar de bater.

-Senhorita Weasley, o que...

-Venha comigo, professor, aconteceu uma coisa incrível. Ele está ferido, eu não sei o que é. – Ninguém em seu juízo perfeito interrompia Snape. – Venha ver. Nós temos de avisar Dumbledore agora.

Talvez fosse o tom desesperado da garota, talvez fosse a aguda intuição que o mantivera vivo diversas vezes, mas Snape reagiu rápido e, agarrando uma caixa de poções curativas, acompanhou Gina pelos corredores das masmorras.

Enquanto corria atrás dela, Snape ouvia a garota tentando colocá-lo a par do que estava acontecendo, de forma não totalmente coerente.

-Eu ouvi um barulho na outra sala e fui ver. Ele está vivo. Oh Merlin! Vivo! Eu o trouxe para cá e o cobri. Ele está tão gelado, professor. Dumbledore e Harry precisam ver isso.

-Ele quem, garota?

Eles haviam chegado à porta da sala que Gina limpara. Ela escancarou a porta e apontou para o mago no sofá.

-Ele.

-Black! Como pode ser!

-O que a gente faz professor?

-Vigie a porta, não deixe ninguém que não seja da Ordem se aproximar. – Snape pegou uma serpente de prata no bolso e, com um toque da varinha, murmurou. "Dumbledore".

A rosto de Dumbledore surgiu após alguns segundos flutuando no ar com uma expressão preocupada.

-Sim, Severus. – o diretor de Hogwarts sabia que Snape nunca o chamaria usando aquele canal se não fosse muito urgente.

-Localize a sala onde eu estou, Diretor, e venha urgente, não tem como eu lhe explicar isso.

Momentos depois, Dumbledore saiu da lareira com Fawkes pousada no seu ombro e se deparou com Snape, que lhe apontou o sofá.

-Sirius! – até mesmo para Dumbledore aquilo era muito surpreendente.

-Ele está vivo, diretor, mas não me parece nada bem. A senhorita Weasley o encontrou.

Dumbledore se aproximou de Sirius e executou alguns feitiços curadores que fizeram um pouco de cor voltar ao rosto do animago, mas ele ainda continuava inconsciente.

-Severus, vou precisar da poção revitalizante mais forte que você tiver.

Com a ajuda de Snape, o Professor Dumbledore fez descer pela garganta de Sirius a poção verde-escura que Severus tirou da caixa que trouxera de sua sala. Recostando o bruxo desmaiado novamente no sofá, Dumbledore pediu:

-Cuide dele, Severus, enquanto chamo Minerva.

Pela lareira, Dumbledore disse a McGonagall onde estava, o que acontecera e pediu-lhe que buscasse Harry, Rony e Hermione e os trouxesse ali. Severus sentara-se em uma cadeira próxima ao sofá onde Sirius estava. Só agora, passado o susto, percebeu como se sentia.

Um vazio que se abrira em sua alma no dia que Black caíra através Véu, e que só agora ele percebia existir, parecia estar preenchido novamente. Desde quando a "morte" de Black o incomodaria? Desde quando Sirius Black faria algum tipo de falta para ele? Confuso, mas sem demonstrar o caos emocional que começava a se instalar em sua mente, Severus ouviu Sirius gemer baixinho. Antes que pudesse chamar o diretor, Black abriu os olhos e, olhando para ele, perguntou:

-Snape?! Mas o quê? Onde... onde está o Pontas?

-Calma, Black. Professor, ele acordou.

Mas antes que Dumbledore chegasse perto, Sirius desmaiara novamente.

-Ele chegou a falar algo, Severus?

-Me reconheceu. Parecia um pouco confuso e perguntou pelo Potter.

-Sim, claro, Harry.

-Não, James Potter. Ele falava como se esperasse ver o Potter quando abriu os olhos.

-E o que ele demonstrou quando viu você?

-Surpresa, eu acho. E um pouco de confusão também.

Nesse momento, a Professora McGonagall saiu da lareira, seguida por Harry e os outros. O garoto se precipitou para perto do padrinho e perguntou a Dumbledore:

-Ele está vivo, professor?

-Sim, Harry. Bastante fraco, mas, sem dúvida nenhuma, vivo.

-Mas o que houve?

-Isso, meu rapaz, nós ainda não sabemos. Ele chegou a recuperar a consciência por alguns momentos. Acredito que vá se recuperar e poderá nos dizer o que houve. Por favor, deixe Sirus descansar, Harry. Acredito que é o que ele mais precisa agora. Gina, por favor, tranque a porta e venha nos dizer o que aconteceu.

Depois de narrar como encontrara Sirius, Gina acrescentou que o tirara da outra sala por causa do frio, mas também por causa de uma sensação ruim que ela tivera lá dentro.

-Gina, você percebe o quanto temerária você foi? Era Sirius, minha criança, mas podia ser outro ser qualquer. Mesmo assim, acho que sua coragem o salvou. – O Professor Dumbledore parecia ter uma noção do que acontecera. – Você trancou a porta? Muito bem. Vou examinar a sala depois, mas antes precisamos cuidar de Sirius direito.

E Dumbledore se pôs ao trabalho. Era impressionante. Transfigurou o sofá em uma cama de hospital, enquanto McGonagall, que entendera as intenções dele, transfigurava as cadeiras em uma mesa alta, onde Snape pôs a caixa de poções. Devolvendo a capa a Gina, Dumbledore evocou cobertores para a cama. E materializou uma poltrona ao lado da cabeceira de Sirius.

-Sente-se, Harry, vai ser bom ele ver você ao acordar. Minerva, comunique- se com o Remus, ele está na casa de Sirius com Charles Weasley e Tonks. Diga-lhe o que aconteceu e peça que venha o mais rápida e discretamente possível. Tonks e Charles devem informar os outros membros da Ordem e marcar uma reunião para amanhã à noite. Apesar de ser uma ótima notícia, recomende máxima discrição. Meninos, vocês voltem ao dormitório e descansem bem, vamos precisar de vocês amanhã. Gina, oficialmente você apenas se demorou cumprindo a detenção. Rony e Hermione, se alguém lhes perguntar, digam que se tratava de uma noticia sobre a família de Harry, e que ele teve de ir para casa. Agora vão.

Quando os quatro saíram em obediência a Dumbledore, ele criou mais duas poltronas, e indicou uma delas a Snape.

-Sente-se, Severus. Acredito que ainda precisarei de você aqui, essa noite.

E a lenta passagem do tempo começou. A cada meia hora Harry ajudava Snape a dar a Sirius um pouco da poção verde. O que parecia um desmaio profundo foi aos poucos se tornando um sono pesado. Até que Sirius acordou novamente e encontrou o rosto preocupado de Harry.

-James! Não... você não é James... – Sirius estava fraco e ainda parecia confuso. – Você é Harry. Merlin! Eu estou vivo? – Ele tentou sorrir. – Achei mesmo que havia visto o Snape.

-Sim, Sirius, você está vivo. – Dumbledore se aproximou da cama.

-Professor Dumbledore! Onde estou? – Sirius fez menção de se levantar, mas foi impedido pelo mago mais velho.

-Em Hogwarts, meu filho, em Hogwarts.

-Então era aqui que eu caía.

-Caía, Sirius?

-Sim. Caía. Numa sala escura e fria. E depois era sugado de volta. Eu não conseguia sair da sala. Na primeira vez, gritei e bati na porta; eu não podia aparatar ou abrir a porta, eu não sei da minha varinha.

-Descanse, Sirius, depois conversamos.

Mas Black parecia precisar falar sobre o que acontecera.

-Então eu fui sugado de volta, voltei para perto de James e Lily. Vi seus pais Harry, falei com eles. Eles diziam que eu tinha de voltar, e eu continuava tentando, mas sempre caía na mesma sala. Fui ficando fraco, era cada vez mais difícil voltar, e cada vez eu era sugado mais rapidamente. Então eu caí na sala escura e desmaiei. Eu sempre desmaiava quando era sugado de volta. Quando acordei eu não vi James, vi Snape.

-A Gina tirou você da sala, Sirius. – Harry estava pasmo com a história. Se a Gina não estivesse ali, naquele exato momento, Sirius teria morrido.

-Tome essa poção, Sirius. – Depois de falar baixinho com Severus, o professor Dumbledore agora apresentava a Sirius uma poção azul clara. – Você vai descansar agora. Harry, fique com ele. Eu e o professor Snape vamos verificar a tal sala. Mandei chamar Remus, Sirius; ele, assim como Harry e todos nós, vai se alegrar muito com a sua volta.

Snape acompanhou Dumbledore para fora do aposento, sentindo, pela primeira vez na vida, um alívio por ver Sirius bem. Era confuso sentir-se assim, assustador mesmo, mas ele decidiu analisar seus sentimentos depois.