Logo ao chegar à América, lugar muito diferente da minha velha Inglaterra,
fui ao encontro deste tal parente.
Admirava-me muito o aspecto dos americanos. Eram tão mais "à vontade" do que nós, ingleses. Não tinham problemas de etiqueta e nem tomavam chá às cinco. Tive de me acostumar a não tomar chá.
Comecei a dar aulas de DCAT, como os alunos chamavam a Defesa Contra as Artes das Trevas, num pequeno colégio em Nova Jersey. Sim, sim leitores... Minhas fantasias sobre ninfetas correndo para pegar a bola de gude que caíra em baixo de meu banco no Central Park foram por água abaixo. Logo fui mandado à Nova Jersey.
Os alunos eram em geral mal-educados. Mascavam chicletes nas salas de aula e sentavam com os pés para cima. Além das freqüentes bolinhas de papéis jogados de um lado ao outro da sala em dias de revolta. No terceiro ano eu gostava de ensinar a exterminar um bicho papão. Certas vezes vi o bicho papão transformar-se em Remus Lupin! Será que eu causava tanto medo naquelas crianças?!
Ninfetas? Oh, não, não... Eu sabia muito bem separar trabalho das minhas fantasias. Minhas alunas eram minhas alunas, por mais que fossem lindas, eu tentava não reparar nas áureas nínficas que pairavam sobre a aula.
Fiquei um ano dando aulas lá e já não agüentei mais. Os alunos me odiavam. Eu não conseguia tomar chá às cinco. Uma atmosfera muito perturbadora. As noites de lua cheia eram mil vezes piores nos Estados Unidos do que na Inglaterra. Eu estava totalmente sozinho. Minha classe britânica não se encaixava aos traços americanos. Cheguei a ter crises de pânico certas vezes por causa das transformações. Então esse meu parente, diretor da escola, mandou-me para uma "casa de repouso", como ele insistia em chamar, mas vocês, leitores, podem chamar de manicômio. Manicômio este que era no México. El México! Acho que precisava de um clima mais caliente e de ninfetas dançando em volta de um grande chapéu para melhorar.
Fiquei "repousando" durante seis meses, quando o médico me deu alta. Gostei do clima do México e quis ficar por mais alguns meses. Aprendi um tanto de espanhol e aprofundei meu paladar, inclusive comecei a apreciar a pimenta. As ninfetas que via passar na rua eram muitíssimo diferentes das minhas bonequinhas de porcelana inglesas ou até mesmo das roqueiras revoltadas americanas. Elas eram donas de cabelos escuros cheirando a canela com longas ondas. Olhos cor de chocolate. Corpos jovens bem delineados, com belas curvas cor de mel. Lábios carnudos e vermelhos que se abriam em largos e calorosos sorrisos.
Eu não era louco e nem tão cruel a ponto de tirar a pureza de uma menina. Talvez, isso me corrói até hoje, possa ter conturbado suas mentes com as minhas fantasias pedófilas, mas nunca ousei me deitar com nenhuma delas. Ouçam bem, há uma diferença sutil entre as ninfetas. Há aquelas que não sabem que são ninfetas, e há aquelas que sabem. As do primeiro caso, são inocentes meninas que param ao nosso lado para apenas amarrar os sapatos e saem correndo novamente para acabar de pular corda. E as do segundo, param ao nosso lado para amarrar os sapatos lançando olhares a sua própria perna e molhando os lábios repetitivamente, demorando alguns longos segundos ao seu lado e depois voltando para pular corda. Essa era Lolita. Porém eu ainda nem sonhava com Lolita nessa época.
Lembro-me de uma menina/moça, digo assim porque ela tinha 15 anos. Não era dona de rara beleza ou de magnífica inteligência, mas irradiava o mais verdadeiro sorriso que eu já vi. Parecia que estava sempre iluminada pelos raios de sol de sua própria alma. Esta pertencia ao segundo caso. Sabia-se que não era uma garotinha inocente. Atraía olhares maliciosos dos rapazes da rua e dava certa atenção especial a mim. O pobre homem que ficava sentado à varanda de seu prédio, vendo as pessoas passarem. Certa vez essa moçoila parou ao meu lado e pediu as horas, jogando seus longos cabelos de um lado para o outro, para espantar o calor. Acabou por sentar-se no meio fio da calçada na minha frente. Eu a observava da raiz dos cabelos até o final da espinha. Um corpo excepcional. As gotas de suor que escorriam pelas suas costas quase nuas, cobertas por um fino tecido de linha branco, faziam com que sua pele ficasse num tom mel brilhoso e convidativo aos olhos de qualquer homem.
Acostumei-me a olhar para as pessoas com olhar de professor. Um olhar monótono e calmo. Quando ela se virou para me fazer uma pergunta nada apropriada para uma moça, eu a estava analisando com esse meu olhar.
"Está calor, você tem um copo d´água?"
Ela me perguntou.
"Aqui não."
Respondi muito obviamente.
"Suponho que tenha água em sua casa."
Ela retrucou, tirando alguns fiapos teimosos do rosto.
"Suponho que sim."
"Estou morrendo de sede, vamos lá."
Ela disse, levantando-se e ficando de pé em alguns segundos na minha frente com um enorme sorriso.
Que mal faria levar uma garota de 15 anos para tomar um copo d'água em meu apartamento? Oras, que mal faria um pervertido como eu? Mas eu não era qualquer pervertido, sim? Ninguém diria sobre minhas fantasias. E, se a garota não me desse brechas, eu não faria nada.
Porém, muito felizmente para meus hormônios, ela deu brechas. Na verdade, ela foi bem direta no beijo que me deu logo depois de beber a água toda do copo. Nunca vou me esquecer daquele beijo quente e macio, cheio de fantasias de menina com um cara intelectual, bonito e misterioso como eu, devo dizer. Ela com os braços envoltos em meu pescoço, nas pontas dos pés e os lábios muito bem pressionados contra os meus, num esforço fora do normal para que eu correspondesse. Eu não temi desvirginá-la, pois isso já tinha sido feito há muito, provavelmente com algum desses adolescentes, namoricos de escola.
Achei estranha a atitude dela de flertar comigo de maneira tão direta. Acho que flertar não é a palavra certa, mas acho que vocês, leitores, entendem o que quis dizer. Primeiro porque ela não era bruxa, uma trouxa puríssima. Segundo, este estando entrelaçado com o primeiro, porque a maior parte das pessoas me achava estranho. Com minhas vestes largas, meu rosto cansado e meu cabelo nos ombros.
Mas logo isso foi esclarecido. Enquanto eu a olhava, nua em minha cama, coberta apenas nas partes baixas por um lençol branco, ela disse que me achava um tanto curioso.
"Todos aqui te achamos curioso. Está sempre sozinho, quieto. Veste coisas esquisitas."
"Eu gosto das minhas vestes, se não se importa."
"Claro que não! Acho que elas te deixam sexy."
"Hum, bom saber disso, uh?"
Disse, sentando-me na cama e pegando meus óculos na gaveta da mesa de cabeceira. Depois de colocados, fui até minha micro-escrivaninha e abri meu "diário", onde fazia anotações de algo que achava importante, às vezes pensamentos, frases ou poemas.
"O que está escrevendo?"
"Anotações."
Respondi. Estava tentando passar para o papel aquela diferente experiência que acabara de ter. Não é a toda hora que uma garota pede para se deitar comigo. Ainda mais uma ninfeta.
De repente ouvi uma voz sussurrada ao pé de meu ouvido, e doces lábios molhando os lóbulos de minha orelha. A voz parecida com atrizes de cinema, mas com certo toque realmente infantil, apesar de sua vontade de parecer madura.
"Você é ótimo na cama."
Pousei a pena no diário e acompanhei seus passos lentos e macios até a porta. Se ela soubesse que era a imitação de mulher o que eu menos queria! Se ela fosse natural, uma boba adolescente com andar misto de criança e mulher, eu me daria por satisfeito. Porém, depois de sua partida, desatei a rir com sua última frase, dita com tamanha empolgação! Realmente não duvido de sua experiência, mas o tom com que ela falou. Tão vulgar e tão sedutor. Como as próprias vagabundas de filmes aclamados de Hollywood.
Mercedes, sim, Mercedes! Minha caliente ninfeta mexicana! Uma ninfeta que sabia todo o poder que tinha, mas não sabia usá-lo. Se soubesse, não teria dado uma de mulher madura.
Depois desse episódio resolvi voltar a minha adorada fria e hipócrita Londres. Sim, voltava para lá. Para o meu chá das cinco. Para as farsas da democracia. Para as várias maneiras sutis de um não. Para minhas louras e rosadas ninfetas.
Era fato que eu estava quase na falência pois não trabalhava há quase oito meses. Consegui juntar o que tinha para voltar à Londres e me empreguei o mais rápido possível como professor de francês. Há horas em que ser poliglota pode tirar a sua barriga da miséria. Era um curso preparatório para alunos que iam mudar-se para a França, passando a estudar em Beauxbattons e abandonando a boa e velha Hogwarts.
Verdade que tinha amigos em Londres. Não, me desculpem, não eram amigos. Era somente um: Sirius Black. Outras pessoas que porventura falavam comigo na rua não passavam de colegas dos tempos de escola. Pedro Pettigrew? Não, esse era um traidor sujo que revelou o segredo de Tiago e Lílian. Um rato de esgoto. Um rato mesmo. Até hoje contorço minhas entranhas quando me lembro deste verme que por tanto tempo andei ao lado.
Porém Sirius não podia me receber em sua casa. Pois, na verdade, ele não tinha uma casa. Sua residência era Azkaban. Sim, meu pobre amigo fora acusado de ter matado vários trouxas no caso dos Potter, ter entregado o segredo e ter sido o responsável pela sua morte, além de ser aliado de Voldemort. Tudo uma grande mentira. Baboseira. Calúnia. Ele preso enquanto Pedro, o nojento e babão do Pettigrew, vagando solto pelos bueiros e esgotos de Londres.
Sendo assim, consegui com muito esforço, alugar um quarto numa pensão em Hogsmeade.
A dona da pensão era uma velha bruxa surda e corcunda. Havia três andares na casa. O primeiro andar mostrava uma grande, e bem mal arrumada, sala com uma pomposa e velha mesa de jantar. Tínhamos de comer com vários velhos carrancudos nos olhando e fazendo comentários indigestos do alto das paredes pintadas com um verde musgo.
Além de mim, havia mais três hóspedes. Uma mulher com seus trinta e cinco anos, mãe solteira que ficava o dia inteiro com um bebê de dois anos no colo. Um senhor de idade que abria O Pasquim e ficava soltando "Oh!" todo o tempo. E um estudante fracassado que acabara de sair de Hogwarts e não tinha nada.
E Lupin saía todos os dias de manhã e voltava à noite, depois de um dia cansativo dando aulas para montes de alunos sem nenhum jeito para francês, para sua sopa rala servida todas as noites. Queria poder sair rápido de lá, não me dava nenhuma alegria. Não podia ver ninfetas correndo pela rua. Não podia ler sossegado pois havia um maldito bebê de dois anos chorando e chorando. Não tinha uma refeição decente há dias. Porém essa infelicidade acabou na penúltima semana de agosto. Recebi uma coruja de Hogwarts. Mas desta vez não era uma carta contendo a lista de material. Era algo muito mais formal. Dumbledore me convidava para lecionar Defesa Contra as Artes das Trevas.
Três dias depois eu já arrumava minhas poucas coisas e saía daquela maldita pensão para sempre. Dumbledore me deu autorização para chegar na escola via flú. Não gostava muito daquela poeirada no meu nariz, mas era bem mais rápido do que esperar um carro, que provavelmente o diretor iria demorar um pouco a arranjar.
Sentia-me estranho estando de volta a Hogwarts. Lembranças de uma época que ficaram imobilizadas pelo tempo, que agora voltavam com tamanha agonia como se pudessem ser revividas. Os Marotos, sim, nós. Eu podia ouvir nossas vozes sussurradas tramando contra o zelador, inventando ataques aos corredores da escola, infernizando os cabelos das meninas. Como eram bons aqueles tempos! E Lilly. Lilly. Lilly. Às vezes me pegava sentindo o cheiro doce e provocante de seus cabelos vermelhos. Fechava os olhos e escutava nossos suspiros rápidos e cheios de desejo enquanto nos agarrávamos nos corredores vazios.
"Fico me perguntando se foi então, no resplendor daquele remoto verão, que se abriu a fenda em minha vida; ou será que meu excessivo desejo por aquela criança foi apenas a primeira manifestação de uma particularidade inata? Quando tento analisar minhas ânsias, meus atos e motivos, entrego-me a uma espécie de devaneio retrospectivo do qual brota uma infinidade de alternativas, fazendo com que cada caminho visualizado se bifurque sem cessar na paisagem alucinadamente complexa de meu passado. Porém, tenho como certo que, de alguma forma mágica e fatal, Lolita começou como Lilly." (Lolita, pág. 15, modificado)
Lilly, Lilly... Nunca vou me cansar de repetir seu nome melodioso.
Logo as aulas começaram. Não achava possível como Dumbledore não havia me dito tal coisa: eu daria aulas para Harry Potter. Sim, sim! E nesses meus devaneios, viagens e baboseiras de minha mente, não me dera conta de que o pequeno Harry já estava em seu terceiro ano na escola. Treze anos passam-se muito rápido. Um ótimo menino. Incrível sua semelhança com Tiago. Os mesmos cabelos muito negros e despenteados, os óculos redondos, o físico, até jogava no time de Quadribol como o pai na posição de apanhador! Mas os olhos, sem dúvida eram os de Lilly. Verdes, penetrantes. E o modo como juntava as sobrancelhas quando estava confuso, ah, Lilly, quantas vezes a vi fazendo o mesmo!
Via os namoricos nos corredores, bilhetes passados durante as aulas que corriam de mão em mão até chegar ao destinatário, que geralmente soltava um grande suspiro. Em somente treze anos, o romantismo todo desapareceu. Os rapazes eram rudes e as moças eram arredias. As meninas de primeiro e segundo anos não eram mais meninas, elas não brincavam mais, elas não corriam mais.
Nada podia ser comparado a mim e Lilly. "O espiritual e o físico haviam se fundido em nós com uma perfeição que jamais poderá ser compreendida pelos insípidos jovens de hoje, com seus modos grosseiros e mentes padronizadas. Muito tempo depois que ela morreu, eu ainda sentia seus pensamentos flutuando através dos meus." (Lolita, pág. 16)
E Lupin estava agradecendo aos céus por não reconhecer nenhuma pequena e diabólica ninfeta em suas classes quando uma cabeleira ruiva entrou afobada na sala.
"De-desculpe, Professor."
Ela disse, sem levantar os olhos. Algumas cabeças viraram-se e soltaram risinhos imbecis.
"Sente-se."
Mandei. A menina se dirigiu a carteira vaga mais próxima e sentou-se, pegando seu livro rapidamente.
"Como se chama?"
Perguntei.
"Weasley. Ginny Weasley."
"Hum, então procure não chegar mais atrasada, senhorita Weasley."
Disse, continuando a aula ao segundo ano.
Com certeza, uma ninfeta. Puríssima. Uma menina na qual as leves curvas já podiam ser notadas pelo uniforme escolar. Um garoto não notaria essas "leves curvas" que um pervertido nota. E a cada aula que eu era obrigado a ver aquelas lindas e delicadas sardinhas nas bochechas rosadas e no nariz, para depois notar grandes olhos cor de chocolate fixos em mim e captando cada palavra proferida pela minha boca, enquanto a sua própria entreabria- se em curtos espaços de tempo. Uma delicada menina que ficava com as bochechas rosadas à toa. Que deixava todos os livros caírem quando avistava Harry Potter. Que era toda enrolada com Poções. Que tinha que aturar as ofensas de Draco Malfoy e as superproteções de seu irmão. E uma corajosa menina que passara grande parte do ano anterior na companhia d'Aquele-Que- Não-Deve-Ser-Nomeado.
Foi difícil passar aquele ano na presença de uma ninfeta original, e com tanta semelhança física com minha Lilly. Mas, como bom pervertido que sou, contentei-me em fantasias e sonhos com a pequena. Principalmente quando ela ia à minha mesa e abaixava deixando seus cabelos com cheiro de canela – lembrando-me Mercedes, minha moçoila mexicana – muito vermelhos à altura de meu rosto, enquanto apontava para um ponto do livro, pedindo para que eu explicasse.
Ótimo ano em Hogwarts. Eu sentia que os alunos gostavam de mim, e eu dei aulas muito melhor do que todas as vezes que tentei em Nova Jersey. Tinha ótimos alunos. Tinha o filho de minha Lilly por perto e que gostava de mim. Tinha uma doce ninfeta para apreciar. Tinha um lugar para dormir. Tinha comida boa. Porém, logo descobriram que eu era um lobisomem. Escândalo. Os alunos passaram a ter medo de mim. Então Dumbledore teve que me mandar embora. Todos diziam que eu era um enorme perigo para a escola. Pois eu me pergunto: eu era um perigo para a escola quando ninguém sabia que eu era um lobisomem? Não, eu não era! Mas toda essa humilhação me trouxe uma coisa boa e fatal. Levou-me até Lolita.
Admirava-me muito o aspecto dos americanos. Eram tão mais "à vontade" do que nós, ingleses. Não tinham problemas de etiqueta e nem tomavam chá às cinco. Tive de me acostumar a não tomar chá.
Comecei a dar aulas de DCAT, como os alunos chamavam a Defesa Contra as Artes das Trevas, num pequeno colégio em Nova Jersey. Sim, sim leitores... Minhas fantasias sobre ninfetas correndo para pegar a bola de gude que caíra em baixo de meu banco no Central Park foram por água abaixo. Logo fui mandado à Nova Jersey.
Os alunos eram em geral mal-educados. Mascavam chicletes nas salas de aula e sentavam com os pés para cima. Além das freqüentes bolinhas de papéis jogados de um lado ao outro da sala em dias de revolta. No terceiro ano eu gostava de ensinar a exterminar um bicho papão. Certas vezes vi o bicho papão transformar-se em Remus Lupin! Será que eu causava tanto medo naquelas crianças?!
Ninfetas? Oh, não, não... Eu sabia muito bem separar trabalho das minhas fantasias. Minhas alunas eram minhas alunas, por mais que fossem lindas, eu tentava não reparar nas áureas nínficas que pairavam sobre a aula.
Fiquei um ano dando aulas lá e já não agüentei mais. Os alunos me odiavam. Eu não conseguia tomar chá às cinco. Uma atmosfera muito perturbadora. As noites de lua cheia eram mil vezes piores nos Estados Unidos do que na Inglaterra. Eu estava totalmente sozinho. Minha classe britânica não se encaixava aos traços americanos. Cheguei a ter crises de pânico certas vezes por causa das transformações. Então esse meu parente, diretor da escola, mandou-me para uma "casa de repouso", como ele insistia em chamar, mas vocês, leitores, podem chamar de manicômio. Manicômio este que era no México. El México! Acho que precisava de um clima mais caliente e de ninfetas dançando em volta de um grande chapéu para melhorar.
Fiquei "repousando" durante seis meses, quando o médico me deu alta. Gostei do clima do México e quis ficar por mais alguns meses. Aprendi um tanto de espanhol e aprofundei meu paladar, inclusive comecei a apreciar a pimenta. As ninfetas que via passar na rua eram muitíssimo diferentes das minhas bonequinhas de porcelana inglesas ou até mesmo das roqueiras revoltadas americanas. Elas eram donas de cabelos escuros cheirando a canela com longas ondas. Olhos cor de chocolate. Corpos jovens bem delineados, com belas curvas cor de mel. Lábios carnudos e vermelhos que se abriam em largos e calorosos sorrisos.
Eu não era louco e nem tão cruel a ponto de tirar a pureza de uma menina. Talvez, isso me corrói até hoje, possa ter conturbado suas mentes com as minhas fantasias pedófilas, mas nunca ousei me deitar com nenhuma delas. Ouçam bem, há uma diferença sutil entre as ninfetas. Há aquelas que não sabem que são ninfetas, e há aquelas que sabem. As do primeiro caso, são inocentes meninas que param ao nosso lado para apenas amarrar os sapatos e saem correndo novamente para acabar de pular corda. E as do segundo, param ao nosso lado para amarrar os sapatos lançando olhares a sua própria perna e molhando os lábios repetitivamente, demorando alguns longos segundos ao seu lado e depois voltando para pular corda. Essa era Lolita. Porém eu ainda nem sonhava com Lolita nessa época.
Lembro-me de uma menina/moça, digo assim porque ela tinha 15 anos. Não era dona de rara beleza ou de magnífica inteligência, mas irradiava o mais verdadeiro sorriso que eu já vi. Parecia que estava sempre iluminada pelos raios de sol de sua própria alma. Esta pertencia ao segundo caso. Sabia-se que não era uma garotinha inocente. Atraía olhares maliciosos dos rapazes da rua e dava certa atenção especial a mim. O pobre homem que ficava sentado à varanda de seu prédio, vendo as pessoas passarem. Certa vez essa moçoila parou ao meu lado e pediu as horas, jogando seus longos cabelos de um lado para o outro, para espantar o calor. Acabou por sentar-se no meio fio da calçada na minha frente. Eu a observava da raiz dos cabelos até o final da espinha. Um corpo excepcional. As gotas de suor que escorriam pelas suas costas quase nuas, cobertas por um fino tecido de linha branco, faziam com que sua pele ficasse num tom mel brilhoso e convidativo aos olhos de qualquer homem.
Acostumei-me a olhar para as pessoas com olhar de professor. Um olhar monótono e calmo. Quando ela se virou para me fazer uma pergunta nada apropriada para uma moça, eu a estava analisando com esse meu olhar.
"Está calor, você tem um copo d´água?"
Ela me perguntou.
"Aqui não."
Respondi muito obviamente.
"Suponho que tenha água em sua casa."
Ela retrucou, tirando alguns fiapos teimosos do rosto.
"Suponho que sim."
"Estou morrendo de sede, vamos lá."
Ela disse, levantando-se e ficando de pé em alguns segundos na minha frente com um enorme sorriso.
Que mal faria levar uma garota de 15 anos para tomar um copo d'água em meu apartamento? Oras, que mal faria um pervertido como eu? Mas eu não era qualquer pervertido, sim? Ninguém diria sobre minhas fantasias. E, se a garota não me desse brechas, eu não faria nada.
Porém, muito felizmente para meus hormônios, ela deu brechas. Na verdade, ela foi bem direta no beijo que me deu logo depois de beber a água toda do copo. Nunca vou me esquecer daquele beijo quente e macio, cheio de fantasias de menina com um cara intelectual, bonito e misterioso como eu, devo dizer. Ela com os braços envoltos em meu pescoço, nas pontas dos pés e os lábios muito bem pressionados contra os meus, num esforço fora do normal para que eu correspondesse. Eu não temi desvirginá-la, pois isso já tinha sido feito há muito, provavelmente com algum desses adolescentes, namoricos de escola.
Achei estranha a atitude dela de flertar comigo de maneira tão direta. Acho que flertar não é a palavra certa, mas acho que vocês, leitores, entendem o que quis dizer. Primeiro porque ela não era bruxa, uma trouxa puríssima. Segundo, este estando entrelaçado com o primeiro, porque a maior parte das pessoas me achava estranho. Com minhas vestes largas, meu rosto cansado e meu cabelo nos ombros.
Mas logo isso foi esclarecido. Enquanto eu a olhava, nua em minha cama, coberta apenas nas partes baixas por um lençol branco, ela disse que me achava um tanto curioso.
"Todos aqui te achamos curioso. Está sempre sozinho, quieto. Veste coisas esquisitas."
"Eu gosto das minhas vestes, se não se importa."
"Claro que não! Acho que elas te deixam sexy."
"Hum, bom saber disso, uh?"
Disse, sentando-me na cama e pegando meus óculos na gaveta da mesa de cabeceira. Depois de colocados, fui até minha micro-escrivaninha e abri meu "diário", onde fazia anotações de algo que achava importante, às vezes pensamentos, frases ou poemas.
"O que está escrevendo?"
"Anotações."
Respondi. Estava tentando passar para o papel aquela diferente experiência que acabara de ter. Não é a toda hora que uma garota pede para se deitar comigo. Ainda mais uma ninfeta.
De repente ouvi uma voz sussurrada ao pé de meu ouvido, e doces lábios molhando os lóbulos de minha orelha. A voz parecida com atrizes de cinema, mas com certo toque realmente infantil, apesar de sua vontade de parecer madura.
"Você é ótimo na cama."
Pousei a pena no diário e acompanhei seus passos lentos e macios até a porta. Se ela soubesse que era a imitação de mulher o que eu menos queria! Se ela fosse natural, uma boba adolescente com andar misto de criança e mulher, eu me daria por satisfeito. Porém, depois de sua partida, desatei a rir com sua última frase, dita com tamanha empolgação! Realmente não duvido de sua experiência, mas o tom com que ela falou. Tão vulgar e tão sedutor. Como as próprias vagabundas de filmes aclamados de Hollywood.
Mercedes, sim, Mercedes! Minha caliente ninfeta mexicana! Uma ninfeta que sabia todo o poder que tinha, mas não sabia usá-lo. Se soubesse, não teria dado uma de mulher madura.
Depois desse episódio resolvi voltar a minha adorada fria e hipócrita Londres. Sim, voltava para lá. Para o meu chá das cinco. Para as farsas da democracia. Para as várias maneiras sutis de um não. Para minhas louras e rosadas ninfetas.
Era fato que eu estava quase na falência pois não trabalhava há quase oito meses. Consegui juntar o que tinha para voltar à Londres e me empreguei o mais rápido possível como professor de francês. Há horas em que ser poliglota pode tirar a sua barriga da miséria. Era um curso preparatório para alunos que iam mudar-se para a França, passando a estudar em Beauxbattons e abandonando a boa e velha Hogwarts.
Verdade que tinha amigos em Londres. Não, me desculpem, não eram amigos. Era somente um: Sirius Black. Outras pessoas que porventura falavam comigo na rua não passavam de colegas dos tempos de escola. Pedro Pettigrew? Não, esse era um traidor sujo que revelou o segredo de Tiago e Lílian. Um rato de esgoto. Um rato mesmo. Até hoje contorço minhas entranhas quando me lembro deste verme que por tanto tempo andei ao lado.
Porém Sirius não podia me receber em sua casa. Pois, na verdade, ele não tinha uma casa. Sua residência era Azkaban. Sim, meu pobre amigo fora acusado de ter matado vários trouxas no caso dos Potter, ter entregado o segredo e ter sido o responsável pela sua morte, além de ser aliado de Voldemort. Tudo uma grande mentira. Baboseira. Calúnia. Ele preso enquanto Pedro, o nojento e babão do Pettigrew, vagando solto pelos bueiros e esgotos de Londres.
Sendo assim, consegui com muito esforço, alugar um quarto numa pensão em Hogsmeade.
A dona da pensão era uma velha bruxa surda e corcunda. Havia três andares na casa. O primeiro andar mostrava uma grande, e bem mal arrumada, sala com uma pomposa e velha mesa de jantar. Tínhamos de comer com vários velhos carrancudos nos olhando e fazendo comentários indigestos do alto das paredes pintadas com um verde musgo.
Além de mim, havia mais três hóspedes. Uma mulher com seus trinta e cinco anos, mãe solteira que ficava o dia inteiro com um bebê de dois anos no colo. Um senhor de idade que abria O Pasquim e ficava soltando "Oh!" todo o tempo. E um estudante fracassado que acabara de sair de Hogwarts e não tinha nada.
E Lupin saía todos os dias de manhã e voltava à noite, depois de um dia cansativo dando aulas para montes de alunos sem nenhum jeito para francês, para sua sopa rala servida todas as noites. Queria poder sair rápido de lá, não me dava nenhuma alegria. Não podia ver ninfetas correndo pela rua. Não podia ler sossegado pois havia um maldito bebê de dois anos chorando e chorando. Não tinha uma refeição decente há dias. Porém essa infelicidade acabou na penúltima semana de agosto. Recebi uma coruja de Hogwarts. Mas desta vez não era uma carta contendo a lista de material. Era algo muito mais formal. Dumbledore me convidava para lecionar Defesa Contra as Artes das Trevas.
Três dias depois eu já arrumava minhas poucas coisas e saía daquela maldita pensão para sempre. Dumbledore me deu autorização para chegar na escola via flú. Não gostava muito daquela poeirada no meu nariz, mas era bem mais rápido do que esperar um carro, que provavelmente o diretor iria demorar um pouco a arranjar.
Sentia-me estranho estando de volta a Hogwarts. Lembranças de uma época que ficaram imobilizadas pelo tempo, que agora voltavam com tamanha agonia como se pudessem ser revividas. Os Marotos, sim, nós. Eu podia ouvir nossas vozes sussurradas tramando contra o zelador, inventando ataques aos corredores da escola, infernizando os cabelos das meninas. Como eram bons aqueles tempos! E Lilly. Lilly. Lilly. Às vezes me pegava sentindo o cheiro doce e provocante de seus cabelos vermelhos. Fechava os olhos e escutava nossos suspiros rápidos e cheios de desejo enquanto nos agarrávamos nos corredores vazios.
"Fico me perguntando se foi então, no resplendor daquele remoto verão, que se abriu a fenda em minha vida; ou será que meu excessivo desejo por aquela criança foi apenas a primeira manifestação de uma particularidade inata? Quando tento analisar minhas ânsias, meus atos e motivos, entrego-me a uma espécie de devaneio retrospectivo do qual brota uma infinidade de alternativas, fazendo com que cada caminho visualizado se bifurque sem cessar na paisagem alucinadamente complexa de meu passado. Porém, tenho como certo que, de alguma forma mágica e fatal, Lolita começou como Lilly." (Lolita, pág. 15, modificado)
Lilly, Lilly... Nunca vou me cansar de repetir seu nome melodioso.
Logo as aulas começaram. Não achava possível como Dumbledore não havia me dito tal coisa: eu daria aulas para Harry Potter. Sim, sim! E nesses meus devaneios, viagens e baboseiras de minha mente, não me dera conta de que o pequeno Harry já estava em seu terceiro ano na escola. Treze anos passam-se muito rápido. Um ótimo menino. Incrível sua semelhança com Tiago. Os mesmos cabelos muito negros e despenteados, os óculos redondos, o físico, até jogava no time de Quadribol como o pai na posição de apanhador! Mas os olhos, sem dúvida eram os de Lilly. Verdes, penetrantes. E o modo como juntava as sobrancelhas quando estava confuso, ah, Lilly, quantas vezes a vi fazendo o mesmo!
Via os namoricos nos corredores, bilhetes passados durante as aulas que corriam de mão em mão até chegar ao destinatário, que geralmente soltava um grande suspiro. Em somente treze anos, o romantismo todo desapareceu. Os rapazes eram rudes e as moças eram arredias. As meninas de primeiro e segundo anos não eram mais meninas, elas não brincavam mais, elas não corriam mais.
Nada podia ser comparado a mim e Lilly. "O espiritual e o físico haviam se fundido em nós com uma perfeição que jamais poderá ser compreendida pelos insípidos jovens de hoje, com seus modos grosseiros e mentes padronizadas. Muito tempo depois que ela morreu, eu ainda sentia seus pensamentos flutuando através dos meus." (Lolita, pág. 16)
E Lupin estava agradecendo aos céus por não reconhecer nenhuma pequena e diabólica ninfeta em suas classes quando uma cabeleira ruiva entrou afobada na sala.
"De-desculpe, Professor."
Ela disse, sem levantar os olhos. Algumas cabeças viraram-se e soltaram risinhos imbecis.
"Sente-se."
Mandei. A menina se dirigiu a carteira vaga mais próxima e sentou-se, pegando seu livro rapidamente.
"Como se chama?"
Perguntei.
"Weasley. Ginny Weasley."
"Hum, então procure não chegar mais atrasada, senhorita Weasley."
Disse, continuando a aula ao segundo ano.
Com certeza, uma ninfeta. Puríssima. Uma menina na qual as leves curvas já podiam ser notadas pelo uniforme escolar. Um garoto não notaria essas "leves curvas" que um pervertido nota. E a cada aula que eu era obrigado a ver aquelas lindas e delicadas sardinhas nas bochechas rosadas e no nariz, para depois notar grandes olhos cor de chocolate fixos em mim e captando cada palavra proferida pela minha boca, enquanto a sua própria entreabria- se em curtos espaços de tempo. Uma delicada menina que ficava com as bochechas rosadas à toa. Que deixava todos os livros caírem quando avistava Harry Potter. Que era toda enrolada com Poções. Que tinha que aturar as ofensas de Draco Malfoy e as superproteções de seu irmão. E uma corajosa menina que passara grande parte do ano anterior na companhia d'Aquele-Que- Não-Deve-Ser-Nomeado.
Foi difícil passar aquele ano na presença de uma ninfeta original, e com tanta semelhança física com minha Lilly. Mas, como bom pervertido que sou, contentei-me em fantasias e sonhos com a pequena. Principalmente quando ela ia à minha mesa e abaixava deixando seus cabelos com cheiro de canela – lembrando-me Mercedes, minha moçoila mexicana – muito vermelhos à altura de meu rosto, enquanto apontava para um ponto do livro, pedindo para que eu explicasse.
Ótimo ano em Hogwarts. Eu sentia que os alunos gostavam de mim, e eu dei aulas muito melhor do que todas as vezes que tentei em Nova Jersey. Tinha ótimos alunos. Tinha o filho de minha Lilly por perto e que gostava de mim. Tinha uma doce ninfeta para apreciar. Tinha um lugar para dormir. Tinha comida boa. Porém, logo descobriram que eu era um lobisomem. Escândalo. Os alunos passaram a ter medo de mim. Então Dumbledore teve que me mandar embora. Todos diziam que eu era um enorme perigo para a escola. Pois eu me pergunto: eu era um perigo para a escola quando ninguém sabia que eu era um lobisomem? Não, eu não era! Mas toda essa humilhação me trouxe uma coisa boa e fatal. Levou-me até Lolita.
