A porta da casa dos Potter abriu-se devagar, deixando quatro vultos entrarem.

- Max lux - todas as velas da casa se acenderam.

- Solta, mamãe - Harry se forçou para baixo, querendo descer do colo da mãe.

- Você tá ficando independente demais, sabia? - ela se abaixou e colocou-o sentado no tapete em frente à lareira. Harry levantou e caminhou vacilante até um dos brinquedos coloridos espalhados pela sala.

- Vou fazer um chá - Lily sumiu pela porta da cozinha. Tiago e Sirius sentaram no sofá, observando Harry destruir uma torre de blocos.

- O feitiço vai dar certo, cara - Sirius quebrou o silêncio.

- Eu sei - Tiago não tirava os olhos do filho - Mas ainda tenho medo, por Lily e Harry.

- Não teria como eles estarem mais seguros do que isso. Não é, Harry? - Sirius ajudou o menino a subir no sofá, tirando-lhe altas gargalhadas com cócegas.

Lily voltou segurando uma bandeja com três canecas e uma mamadeira.

- Sinto muito pelo seu irmão, Sirius - ela distribuiu as canecas e deu a mamadeira a Harry, que se aconchegou no colo do pai, quase dormindo.

- Por favor, não sinta - ele tomou um gole - Regulus era um fraco. Eu não tinha a mínima dúvida de que terminaria assim.

- Esse seu espírito fraternal me comove, sabia? - Tiago riu, sendo repreendido por um olhar de Lílian.

- Ora essa, Pontas, você sabe o quanto eu admiro e tenho orgulho da minha família! - sua expressão era falsamente indignada - Principalmente da minha querida mãezinha.

Lílian olhou para Sirius. Achava aquela história delicada demais, por isso preferia não opinar.

- Você coloca o Harry na cama? - ela tirou a mamadeira das mãos do bebê, que ressonava baixinho.

- Deixa ele aqui mais um pouquinho, Lily - ele suplicou.

- Eu posso com isso? - ela olhou para Sirius.

- Quem diria, hein! - Almofadinhas fez cara de deboche - Tiago Potter, o maior pegador que Hogwarts já viu (depois de mim, é claro) se tornou um pai babão e um marido responsável. Esse mundo tá perdido! - ele olhou para o teto - Meu Deus, o que vamos fazer para continuar com a linhagem dos transgressores de regras!?

- A culpa é toda dela - Tiago apontou Lily - Eu sou apenas uma vítima das circunstâncias!

- Pois fique sabendo que a mudança não foi nem um pouco significativa - ela estreitou os olhos - Ele continua o mesmo maroto cheio de si e alérgico a regras.

- Ei! - era a vez de Tiago ficar indignado - Tá reclamando, é?

- Você sabe que não, meu amor - ela riu e roubou-lhe um beijo.

- Vocês não têm jeito... - Sirius meneou a cabeça - Bom, a conversa tá muito boa, mas eu tenho que ir. Vou dar uma voltinha de moto com Marina.

- O que aconteceu com a Kaila? - Tiago perguntou enquanto se levantava e ajeitava Harry no colo.

- Meu caro Pontas, - Sirius se aproximou e colocou a mão no ombro do amigo - Enquanto você se diverte com fraldas e mamadeiras, eu me divirto com as garotas, compreende?

- Quando é que você vai se arranjar, hein? - já estavam na soleira da porta.

- No mesmo dia em que nós fundarmos um fã clube do Ranhoso, Lily - ele deu um beijo no rosto dela e abraçou Tiago - A gente se vê amanhã, cara?

- Eu não perderia a sua corrida por nada nesse mundo - eles se afastaram e Tiago deu um tapa nas costas de Sirius, enquanto este despenteava os cabelos de Harry.

- Até mais, galera - ele subiu na moto e logo se tornou um pequeno ponto brilhante no céu sem estrelas.

- Agora você vai deixar o Harry dormir em paz? - Lily ergueu as sobrancelhas.

- Como quiser, senhora Super Proteção - eles entraram e Tiago subiu as escadas para deixar o menino no quarto.

Encontrou Lily sentada de frente para a lareira, procurando algo em um imenso livro de capa azul. Ele arrumou algumas almofadas no tapete e se recostou nelas, puxando-a para perto de si.

- Sabe, eu estive pensando… - ele interrompeu o silêncio gostoso que invadira a sala - A gente podia arranjar um irmãozinho pro Harry, né?

- Não acha que estamos indo rápido demais? Ele só tem um ano, Tiago!

- Eu não acho que tem problema. Seria legal ter tido um irmão... se bem que Sirius é mais que isso pra mim. De qualquer forma, eu quero um time de quadribol. Aí Harry não vai ficar sozinho.

- E nada de pena de mim, não é? - ela apoiou o queixo no peito dele.

- Sinta-se feliz por ser a mãe dos meus filhos...

Tiago se arrependeu instantaneamentede suas palavras ao ver Lily se sentar indignada.

- Seu… seu…presunçoso! Arrogante! Metido! - uma chuva de almofadas bombardeou Tiago - Eu te odeio, Tiago Potter!!!!

- Você não me deixou nem terminar de falar!! - ele se encolhia das agressões. Ela parou com uma expressão emburrada. Tiago sentou também, os óculos pendurados em uma orelha e os cabelos arrepiados.

- Como eu ia dizendo antes de você quase me arrancar um olho: sinta-se feliz por ser a mãe dos meus filhos - ele foi de gatinhas até ela e chegou muito próximo de seu rosto - E por ser a mulher que eu mais amo nesse mundo.

Lílian perdeu todas as armas diante das palavras e do sorriso de Tiago. Ia beija-lo, mas Orfeu entrou rapidamente pela janela e pousou no ombro dele.

Era um bilhete curto, numa letra rápida e tremida:

"Voldemort descobriu. Saiam daí o mais rápido possível! A Ordem está chegando. Dumbledore"

Tiago não sabia como tinha conseguido (já que suas pernas ameaçaram perder a estabilidade por um momento), mas subiu correndo as escadas, o rosto lívido. Encontrou sua varinha em cima da mesa de cabeceira e voltou para a sala, onde Lílian também tinha a varinha em punho.

- C-como ele descobriu? - ela engoliu em seco - Como, Tiago? O que deu errado!?

- Eu não sei, mas temos que sair dessa casa.

Um estalido alto foi ouvido do lado de fora. A porta começou a tremer enquanto era bombardeada por vários feitiços. Tiago levantou a cabeça em alerta.

- É ele. Lily, pegue Harry e saia daqui. Eu dou cobertura a vocês.

- E você?!

- Alcanço vocês depois! Agora vai embora, Lily!

- Eu não vou te deixar aqui!! - ela olhou para a porta, lágrimas rolando pelo rosto.

Tiago a olhou por um momento.

Quase correndo, abraçou-se a Lílian, beijando-a com urgência. Sentiu o gosto das lágrimas dela misturadas às suas. Não queria sair dali, não queria deixar os lábios da mulher que mais amava, não queria aquela saudade antecipada e muito menos aquele mundo totalmente errado. Queria amá-la para sempre. Nada mais.

Lembrou-se de Harry. Seu filho merecia viver.

- Eu te amo. Não importa o que aconteça, eu vou te amar pra sempre.

- Eu sei - suas testas ainda estavam juntas - Eu também te amo mais do que tudo.

- Agora vai. Vai, Lily, corre! - viu-a subir para o segundo andar aos tropeços.

A porta foi lançada longe.

- Você não vai passar daqui.

- Ora essa, senhor Potter - uma voz suave e cortante respondeu - Quero apenas fazer uma visitinha à sua família.

- Passe por cima de mim então - Tiago se colocou em posição de ataque.

- Como quiser - Voldemort adentrou a sala.

O duelo destruiu o cômodo todo. Depois de muita resistência, Tiago foi derrubado e encurralado ao pé da escada, enquanto um fio de sangue lhe escorria pelo rosto e sua visão era turvada pela recente maldição. Ouviu ao longe as risadas dos comensais.

Voldemort segurava a varinha na direção de seu peito.

- Tenho que admitir que é corajoso, senhor Potter. Outros já estariam implorando para que eu os matasse.

Não houve resposta. Não morreria como um covarde. Não quando Lily e Harry dependiam dele. Reunindo todo o filete de força que lhe restava, deu um chute no rosto do outro bruxo. Voldemort soltou um grunhido enquanto sangue saía de seu nariz. Tiago levantou-se, pronto para lançar outro feitiço, mas não teve tempo. Voldemort apontou-lhe a varinha.

- Avada Kedavra!

Sentiu-se lançado para trás.

Estava entrando no quartinho das estrelas. Harry olhou-o risonho do berço, estendendo-lhe os bracinhos, os olhos verdes faiscando.

Alguém lhe tampou a visão por trás. Lily. Ela sorriu. Pôde ler as palavras "eu te amo" nos lábios dela. A imagem sumiu tão repentinamente quanto aparecera.

Seu corpo caiu inerte no chão.

Come what may

I will love you

Until my dying day

A porta do quarto bateu com força. Harry olhou sério para a mãe.

- Vem com a mamãe, meu amor - Lílian estendeu as mãos trêmulas e tirou-o do berço.

- Papai - Harry olhou para a porta branca interrogativamente.

- Ele já vem, Harry - Lílian sabia que tinha que correr. Tinha que tirar seu filho dali. Mas não sabia de onde vinha aquela dor, a tremedeira e a vontade de apenas chorar quando o barulho de coisas quebrando parou no andar de baixo - O papai vai ficar com a gente, meu anjo.

Ela repetia isso baixinho, enquanto pegava uma manta para Harry no armário. Por mais que dissesse pra si mesma que Tiago entraria no quarto dali a pouco - com nada mais do que alguns arranhões no rosto - dizendo que a Ordem tinha feito os comensais baterem em retirada, sabia que não era verdade. Tiago estava morto. A formulação dessas palavras a deixou em choque.

Apoiou as costas na parede ao lado da cômoda e escorregou até o chão ainda com Harry nos braços. Parecia que a alma lhe tinha sido arrancada sem piedade. Sentia-se vazia, perdida, morta. Fechou os olhos com força.

Tiago fora a única pessoa que a fizera acreditar que ser feliz e fazer os outros felizes valia a pena. O único que continuava lhe dando forças quando todo o resto caía por terra. Sentiu Harry se mover inquieto em seu colo. Seu filho era o que lhe restava de Tiago, era a razão pela qual ela lutaria.

A reação que se esperaria quando a porta do quarto foi aberta com um simples alohomora não foi a que aconteceu. Lílian não gritou, não sentiu medo. Apenas levantou-se com Harry, encarando o bruxo que entrava a passos lentos.

- Boa noite, senhora Potter.

Ver Voldemort à sua frente era a prova definitiva de que Tiago nunca mais estaria com ela. Lílian sentiu as pernas fraquejarem e a garganta arder, como se estivesse sendo rasgada. Mas continuou em pé, a expressão impassível apenas denunciada pelas lágrimas.

- Nos deixe em paz.

- Paz é algo que a senhora não verá em muito tempo - ele deu uma risadinha debochada - Agora seja boazinha e me dê o garoto.

- Nunca.

Lílian sabia que não tinha chance contra ele. Seria inútil lutar, mas havia algo que ela poderia fazer por Harry. Deu as costas a Voldemort e abraçou o menino. Sentiu as mãozinhas ao redor de seu pescoço, o coraçãozinho batendo de encontro ao seu. Lílian fechou os olhos, sussurrando palavras incompreensíveis.

- Feitiços de última hora não funcionarão, menina. Não seja tola.

Embalou Harry como todas as noites. Como se as vidas de seus amigos não estivessem sendo destruídas, como se sua própria vida não estivesse quase no fim, como se o homem que mais amava não estivesse morto. Por fim, colocou Harry no berço, beijando-lhe a testa com carinho. Ele fechou os olhinhos com o toque da mãe.

- Você nunca vai tocar no meu filho - Lílian colocou-se na frente do berço.

- Sabe, senhora Potter - Voldemort caminhava de um lado ao outro - Sua morte não seria necessária, mas se insiste...

Lílian não fechou os olhos. O feixe de luz verde a envolveu por um momento. Harry teria que ser forte agora. Poderia parecer que estava abandonado à própria sorte, mas Lílian o protegeria com seu amor.

Muitas vidas foram destruídas naquela noite. Muitos sonhos e horizontes se dissiparam no ar. O mundo nunca mais seria o mesmo.

No entanto, algumas conquistas sempre prevalecem. Independente do que aconteça, o amor sempre é maior que guerras e planos mirabolantes; sempre ultrapassa barreiras; e sempre se torna eterno...

N/A: Bem, eu não quis simplesmente copiar o que estava em O Prisioneiro de Azkaban, quando o Harry está treinando patrono e ouve a voz da Lílian. Ficaria forçado, sem falar que TODO MUNDO faz isso. Eu acho que acabei colocando mel demais nesse capítulo (nesse? Em todos!). Sabe como é, causar comoção no público dá certo, hehehehe. O asterisco na parte do Sirius é uma charadinha pra vocês. Quem matá-la, me manda um e-mail falando, tá? A música faz parte da trilha sonora do filme Moulin Rouge, tudo de bom. Quem tiver a oportunidade de ouvir não vai se arrepender, eu prometo! Oh, Deus, não sei de vocês, mas eu chorei como uma mangueira pra escrever esse capítulo! Fiquei meio em choque quando terminei, pensando "Eu matei Tiago e Lílian Potter!" e minha mãe levou um baita susto ao me ver com os olhos vermelhos. Vai, é isso que dá mexer com gente maluca! Pra minha total infelicidade, minhas provas começam nesse mês, então vou ter que abrir mão do pc e do epílogo (sim, tem um epílogo, e vocês terão que me aturara até lá!). Mas eu já tenho tudo montadinho na minha cabeça. Beijos!!! E té mais!!! Gabi Delacour