Capítulo 2 - Chegada

O táxi largou-a na rua vazia e amplamente iluminada pelo sol - uma rua sem prédios que a sufocassem. Da paisagem faziam parte apenas algumas árvores altas e nuas e a casa a qual ela se dirigia.
Percorreu as mãos finas e claras pelos cabelos dourados longos e ondulados, sem pressa. Era uma figura estranha, bem mais alta que a maioria das garotas japonesas, e extremamente magra, com os olhos escondidos misteriosamente por lentes negras. As roupas sociais pareciam igualmente deslocadas naquele ambiente - uma saia cor de chumbo que escondia os joelhos pontudos, uma camisa branca social de mangas compridas e um sobretudo negro. Numa das mãos carregava uma mala pequena e preta, que parecia ter acabado de sair da loja. A jovem, que não poderia ter mais de quinze anos, exalava uma aura de limpeza, organização, disciplina e poder.
Com passos cuidadosamente medidos, a jovem entrou no jardim tomado por ervas daninhas, árvores selvagens e arbustos desordenados. Não encontrando nenhum obstáculo além desses em seu caminho, entrou na casa, que parecia vazia. Mas não estava. Faltando apenas dois dias para a partida, não tinha como a casa estar vazia. Muito pelo contrário, ela fervilhava de atividade.
Guiada apenas pelo seu sexto sentido, subiu as escadas à procura do dono da casa. Yoh Asakura.
O garoto, pela primeira vez desde a partida de sua noiva, sentiu seus sentidos despertarem. Havia alguém na casa. Alguém estranho. Um intruso.
Manta assustou-se ao ver Yoh levantar-se, o corpo ainda mais magro que de costume, os olhos assustados e ansiosos como nunca tinha visto antes. E assustou-se ainda mais ao ouvir uma voz sarcástica vinda da porta, que agora se encontrava aberta.
- Boa tarde, Asakura.
- Quem...Quem é você? - ele podia sentir algo estranhamente familiar na garota de cabelos dourados que o observava com um sorriso felino brincando nos lábios rosados e delicados.
- Então, não me reconhece, Yoh? É incrível que não se lembre dos tempos em que costumávamos brincar juntos. Eu, você e Anna-chan.
- ...Não pode ser você! Quero dizer...Me disseram que estava morta!
- Na prática eu realmente deveria estar.
- Hei, peraí! O que é que está acontecendo aqui, Yoh?

A garota, com um sorriso maldoso, virou a face para o pequeno garoto que acabara de falar, com sua voz infantil.
- Que gracinha...Você arranjou um mascote, Yoh?
- Hei, sua garota chata! Tenha mais respeito comigo!

De repente, um vento gélido e cortante percorreu o quarto. A garota de aparência delicada tornou-se uma sombra, ainda mais alta e misteriosa. De aparência letal. O aposento escureceu, e tudo o que podia-se ver era o brilho de seus olhos, vermelhos por trás das lentes negras.
- Calma, Mei-ann. Não precisa ficar nervosa...E afinal, o que está fazendo aqui?
- Ah, isso? - perguntou a jovem, voltando ao jeito sarcástico e preguiçoso de ser - Agora estou cansada, vou me deitar. Além disso, tudo o que precisa saber está nessa carta. É da Anna. Ela mandou para a família, rompendo o noivado.
- Mas o que você tem a ver com isso?
- Não seja grosso! Já vou explicar...Seja paciente. Bem, como eu ia dizendo antes de você me interromper, seria extremamente desinteressante para as duas famílias que você não tivesse noiva alguma, então resolveram que agora NÓS somos noivos. Lindo, não acha?
- Mas peraí...Você não estava morta? - perguntou Manta.
- Não. Como pode ver, estou perfeitamente viva.

Distraidamente, a jovem esfregou os pulsos, com marcas roxas e profundas. Sua face, inexpressiva, nada deixava revelar, mas nos olhos escondidos transparecia o terror e a fraqueza.
- Agora, se me permitem, vou me deitar. Tenham uma boa tarde. E não se preocupem em me mostrar o meu quarto, eu vou saber onde fica.

Os dois garotos observaram distraidamente a garota lhes dar as costas e caminhar devagar pelo corredor. Assim que se ouviu o barulho da porta de seu quarto batendo, Manta virou-se novamente para Yoh, perguntando:
- Quem é ela, afinal?
- É a irmã mais velha da Anna. - a voz do garoto tinha um ligeiro toque de melancolia ao dizer isso - E sempre foi uma garota muito poderosa, inteligente e bonita. As nossas famílias queriam que fôssemos noivos, e não posso dizer que a idéia me desagradava. No entanto, Mei-ann recusou, e de forma bastante efusiva. Ela fugiu de casa, e algum tempo depois recebi a notícia de que estava morta. Mas como ela disse, era mentira.
- Ela parece forte...
- Você não viu nem metade da força dela. A Mei-ann é realmente uma Xamã incrível. Tenho a impressão, aliás, de que ela está na Luta dos Xamãs.
- Mas Yoh...por que ela aceitou agora ser sua noiva? E por que te disseram que ela estava morta?
- Eu não sei, Manta. Eu realmente não sei.

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No quarto escuro, iluminado somente pela lua uma garota de longos cabelos dourados olhava para o teto, largada displicentemente no chão, tristeza, sofrimento e desejo de vingança passando-lhe pelos olhos escuros, contorcendo a bela face.
Tinha trocado as roupas sociais por um vestido branco e folgado sem mangas, que pouco disfarçava o estado debilitado do corpo, extremamente magro e com diversas marcas vermelhas ou arroxeadas percorrendo-lhe os pulsos finos, os braços delicados, as pernas compridas e o colo alvo.
- Não perca por esperar, Asakura...eu terei a minha vingança.

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Morro do Vento Uivante era um nome bastante apropriado para o lugar onde ela se encontrava. O vento sacudia seus cabelos dourados com força, e forçava-a a fechar os olhos negros. Suas roupas escuras ondulavam ao ritmo do vento, dando curiosa mobilidade ao seu corpo plácido, inatingível. A sua frente, um garoto de longos cabelos castanhos e sorriso sarcástico e desagradável.
- E então, o que me diz? É o que eu proponho. Vingança.
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E ENTÃO, O QUE ACHARAM????? DÊEM SUA OPINIÃO!
E o último quadro, o que será? Presente de uma, ou passado de outra? Ops, é melhor eu calar essa boca antes que estrague a surpresa.
Lady Macbeth

OBS: Sobre Mei-ann:
Tive uma grande dificuldade para decidir qual seria o seu nome. Estava extremamente indecisa entre Marian e Mei-ann, mas no fim decidi pelo segundo, por gostar mais de seu som.
Acho que a Mei-ann se encaixaria no perfil da Mary Sue, se não fosse por alguns detalhes.
Em primeiro lugar, não é a menina perfeita que parece ser, tendo uma personalidade bastante complexa, estando em constante conflito consigo mesma. Ela é pessimista, melancólica. E, não posso deixar de lembrar que ela é uma Kyôyama. Com alguma atenção, pode-se perceber que até certo ponto ela se parece bastante com a irmã. Então, aqui vai a ficha básica dela:

Nome: Mei-ann Kyôyama
Idade: 14 anos
Origem: 50% de sangue oriental, 50% de sangue inglês, segunda irmã mais nova da família Kyôyama.
Físico: 1.69m, 48kg (no momento encontra-se extremamente magra por motivo que será conhecido mais adiante), olhos negros, cabelo loiro comprido e ondulado, pele clara.
Cor Favorita: Branco.
Personalidade: Será desenvolvida no decorrer da história, sujeita a diversas mutações devido a seus brilhantes conflitos internos. No entanto, sabe-se que é uma pessoa cuja determinação e coragem chegam quase à loucura.