Capítulo 5 - Liberté

Os três garotos caminhavam pelas ruas da aldeia. Nunca imaginavam que fosse tão grande e barulhenta. Diversos xamãs, alguns de aparência pouco humana, passavam por eles, geralmente em grupos.

- Nunca imaginei que fossem tantos. Não é de surpreender que ainda não tenhamos achado Mei-ann... - comentou Yoh, calmamente - o que me preocupa é que ela ainda não tenha nos achado.

- Por que insiste tanto na força dessa garota? Você a conheceu há anos atrás, ela pode ter ficado mais fraca com o tempo. Talvez nem mesmo tenha conseguido entrar aqui.

- Duvido...O Guardião dela é a criatura mais poderosa que já encontrei, depois do Espírito do Fogo de Hao. E precisamos dela e de mais alguém para completar dois grupos de três pessoas.

- Estou com fome...Vamos entrar naquela lanchonete? Parece boa.

- Está certo, Horohoro.

- Você está sempre com fome. É lamentável.

Dentro da lanchonete, sua atenção foi desviada para uma garota que discutia com o vendedor, que obviamente não entendia nada do japonês que ela falava.

- Droga, será que ninguém nessa porcaria de lugar sabe falar japonês ou francês? - gritou ela, olhando exasperada ao redor, os compridos cabelos negros e ondulados movimentando-se preguiçosamente com a brisa que entrava pelas janelas. O rosto moreno e rosado pareceu relaxar um pouco ao perceber os três garotos que a observavam.

- Vocês falam japonês? - perguntou, os olhos escuros brilhando de expectativa.

- Falamos. - respondeu Ren, de má vontade.

- Graças a Deus! Tempos terríveis esses, em que quem não sabe falar inglês morre de fome, não acham?

- Er...

- Vocês sabem falar inglês não sabem? - o sorriso que iluminava sua face se desfez rapidamente.

- É claro que sabemos. - resmungou Ren, olhando com desconfiança para a garota, um pouco mais alta que ele, o corpo magro e elegante. Havia algo nela que fazia com que se lembrasse da garota de longos cabelos dourados de quem ele tanto desconfiava.

- Ótimo! Então vamos comer juntos e vocês me explicam o que tem nesse menu estranho. A propósito, meu nome é Liberté.

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Os quatro xamãs conversavam no quarto iluminado apenas pela luz da lua, cansados, porém satisfeitos. O assunto da conversa era uma certa garota que tinham conhecido naquele mesmo dia.

- Estou dizendo para não confiar nela! Mulheres são pouco confiáveis, e ela é estranha.

- Mas Ren, ela está sozinha e não sabe falar inglês, coitada. Pense bem, com ela e Mei-ann teremos dois grupos de três!

- E se for uma armadilha do Hao, ou de quem quer que seja? Além disso, ela parece fraca.

- Se ela é fraca, então não precisamos nos preocupar. Vamos, Ren. Deixe-a fazer parte do grupo.

- O patrão Yoh está certo. Além disso, é uma garota muito bonita. - disse Ryuu, extremamente alegre.

- Ryuu, você acha todas as garotas que encontra bonitas. Pra mim ela não tem nada de suspeito. É só uma garota que não sabe falar inglês.

- Sem contar que ela é terrivelmente mal educada! Mas nos conhece e já nos chama pelo nosso primeiro nome. E nem nos contou o sobrenome dela.

- Vamos Ren, deixe-a ficar. Parece até que tem aversão a mulheres! - disse Horohoro.

- O que você está insinuando? - gritou o garoto chinês, com a ponta de sua lança apontada para Horohoro.

- Sobre o que vocês estão discutindo?

Todos se calaram para ver a garota que tinha acabado de entrar, os cabelos úmidos colando-se nas costas, gotas de água escorrendo pelo corpo, usando uma yukata branca, sem qualquer enfeite além de uma barra escarlate no fim das mangas compridas. Sorria inocentemente para todos os quatro, caminhando calmamente até sentar-se no futon de Ren.

- Espero que não se incomode. - os outros três sorriram entre si ao ver o garoto geralmente sério e irritado ficar extremamente embaraçado, com as faces tão rubras quanto o obi da garota.

- Estávamos falando sobre você. Ren não quer que...

- Estávamos discutindo sobre como seriam os grupos. Serão dois de três, mas precisamos ainda decidir quem ficará em qual. Então, qual é o seu nome mesmo? - perguntou apressadamente o garoto chinês.

- Liberté. A maioria das pessoas não esquece, é um nome incomum. Bem, estou feliz por terem me deixado ficar no grupo de vocês. Agora vou para o meu quarto dormir. Estou morta de cansaço!

Sorrindo serenamente, a garota se retirou do quarto, ao som do murmurar suave da yukata um pouco comprida demais que se arrastava pelo chão. Uma vez em seu quarto, um aposento muito simples, porém limpo, arrumado e amplo, deixou-se largar em seu futon, o corpo relaxando e o sorriso desaparecendo da face. Ao seu lado deitou-se um espírito muito pequeno, que mais parecia uma fada esverdeada, de aparência aquática e contornos pouco definidos, quase como se pudesse mudar de forma.

- Minha querida Mizuno. Não precisa se preocupar. Em breve, muito breve, alcançaremos nosso objetivo. E então, minha querida Mizuno, poderemos partir desta horrível terra quente e seca, e voltar para a nossa terra. Mas você tem que colaborar comigo. Você sabe que eu sou fraca, e que sem você não teria chegado aqui. Por favor, não me abandone agora. Não podemos ter medo da morte. Nada, nada poderia ser pior do que aquilo. Vamos ter nossa vingança, ou morrerei tentando.

A pequena fada apenas continuou observando serenamente a garota cobrir-se e, depois de algum tempo, adormecer profundamente.

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-Ah, estou morta de cansaço!

As duas crianças caíram preguiçosamente sobre o macio tapete de pétalas rosadas que já caiam sem parar a vários dias, e continuaram caindo sobre suas faces tão macias e rosadas como as flores. A primavera naquela região era conhecida por sua beleza e exuberância, e havia muitas pessoas que vinham de longe apenas para ver a chuva de flores sob a qual se encontrava o pequeno casal.

Depois de algum tempo respirando ruidosamente, a menina colocou-se de joelhos, de frente para o garoto que, apesar de ser um ano mais novo, parecia bem mais velho.

Ela pousou a mão macia e delicada sobre a face do garoto, que continuou olhando para o fundo de seus olhos escuros serenamente. Gostava do sorriso dele, que sempre parecia tão calmo e gentil.

- O que foi, Liberté? Por que está me olhando desse jeito?

- Você já sabe o porquê. - disse a garota muito corada, olhando para os joelhos - você sempre sabe tudo o que se passa dentro de mim.

Após terminar de falar, a garota inclinou a cabeça até que ela parasse no ombro do garoto à sua frente, cobrindo-o com pequenos cachos castanho escuros.

As duas crianças já estavam assim há bastante tempo, parecendo um quadro com suas roupas vivas e alegres, as pétalas rosadas por todos os lados e o céu azul, brilhante e novo.

Delicadamente, o garoto ergueu a cabeça da garota, aproximando-se até poder sentir a respiração suave e quente dela em sua face. Então, gentilmente, colocou seus lábios sobre os dela, que eram macios e frescos.

Relutantemente, as duas crianças se soltaram. Então, muito corada, a garota levantou-se e saiu correndo, gritando ao longe:

- Tenho que ir comprar as coisas que mamãe pediu! Vá indo para casa, Hao!

Assim que ela desapareceu, o sorriso sereno e o ar gentil foram substituídos por um sorriso cruel, enquanto os olhos faiscavam cruelmente, refletindo o movimento das pétalas que caíam preguiçosamente.

- Adeus Liberté.

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Sentou-se no futon suada e ofegante. Assim que se acalmou, o seu pequeno Espírito Guardião deslizou pelo ar até alcançar as suas mãos, suadas e trêmulas.

- O mesmo sonho. O mesmo sonho de sempre, Mizuno. Mas está ficando cada vez mais nítido. Precisamos acabar logo com ele. Enquanto Hao Asakura estiver vivo, não poderei dormir em paz.

Devagar, preguiçosamente, caminhou até a janela de seu quarto, observando a rua escura, silenciosa e calma, tão diferente da rua em que os xamãs se amontoavam durante o dia, o sol brilhando inclemente sobre suas cabeças. Agora que a rua estava assim, vazia e silenciosa, era mais fácil captar os ruídos da natureza selvagem que resistia à multidão e ao crescimento da aldeia.

E no meio do suave som do vento, da musicalidade dos ruídos dos animais, seus ouvidos captaram um outro som. Passos humanos, no meio da noite, solitários e destemidos.

Uma garota apareceu no começo da rua, uma camisa social branca e uma saia cinzenta quase caindo sobre o corpo absurdamente magro. Os olhos inexpressivos observavam calmamente a rua, o corpo sensível ao frio da noite, todo o seu interior voltado à busca pelo ki de seu noivo. Os compridos cabelos dourados balançavam preguiçosamente enquanto andava, parecendo uma cortina muito brilhante e fina.

Abriu a porta da pensão, esperando encontrar apenas um aposento vazio e escuro. Suas previsões estavam erradas. No meio da recepção, aguardando-a, em pé, estava uma garota.

Tinha cabelos escuros, compridos e desalinhados, parecendo de certa forma com os seus. A pele morena exalava calor e energia de combate. Os olhos escuros observavam-na atentamente, desconfiados. Usava uma yukata branca que parecia grande demais mesmo para seu corpo alto e elegante. Foi tudo o que pôde perceber. Não conseguia saber se a jovem à sua frente era poderosa ou não, inimiga ou não. Era um enigma.

- O que você está fazendo aqui?

- Por acaso é proibido procurar lugar numa hospedaria à noite?

- Você está procurando alguém. Quem é?

- Yoh Asakura, meu noivo.

- Yoh?

- Você o conhece?

- Conheci hoje. Ele é seu noivo? Vocês não combinam em nada.

- Não pretendo discutir isso com você, uma garota estranha e desconhecida. Por que está aqui?

- Juntei-me ao grupo de Yoh.

- Por que ao grupo de Yoh?

- Não interessa. Por que está na luta dos xamãs, se o seu noivo também está?

- Não quero vencer a luta. Quero apenas impedir que uma pessoa vença. E você?

- O mesmo motivo. Quem quer impedir de vencer?

- Hao Asakura. E você?

- Também.

As duas se calaram, observando-se com desconfiança, tentando descobrir se uma estava contando a verdade à outra. Ficaram assim por um longo tempo, e poderiam certamente ficar assim pelo resto da eternidade, se não fosse uma pequena interrupção.

- Mei-ann, você chegou! Finalmente! E vejo que já conheceu Liberté!

As duas garotas voltaram-se, encarando o garoto tranqüilo e alegre à frente delas, seguido por seus três amigos.

- O que vocês estavam fazendo aqui? - perguntou Ren, desconfiado.

- Nada. - disse Liberté, mudando rapidamente a expressão facial, voltando a parecer apenas uma menina alegre e inocente - Senti um ki estranho se aproximar da pensão, e vim ver quem era. Mas parece que está tudo bem. Agora vou voltar a dormir. Com licença.

Sorrindo inocentemente, Liberté subiu as escadas que levavam ao corredor do segundo andar, deixando três xamãs muito confusos e dois pensativos.

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Vamos lá, aos comentários. Esse capítulo tem muitos.

Bem, e aí, o que acharam? Mandem reviews, ou não vou continuar a fic! Isso dá trabalho, e eu realmente gostaria de saber se todo esse trabalho está sendo visto e apreciado.

E o que acharam da aparição de Liberté? Sei que parece meio idiota colocar tantos personagens originais, mas eu decididamente precisava dessas duas para fazer uma história cujo foco principal é o...Desejo de Vingança! É melhor o Hao se cuidar, sim, sim...Além disso, faltavam dois xamãs para formar dois grupos de três (como no anime) e eu odeio o Chocolov e o Fausto! Não dá pra escrever sobre eles, é impossível.

Quanto à história de se falar inglês na aldeia do Patch...nunca vi nenhuma indicação de que falem japonês na aldeia do Patch, e como ela se situa nos EUA, acho natural que falem inglês lá.

Ficha da Liberté:

Nome: Liberté (sobrenome desconhecido).

Idade: 14 anos

Origem: 50% de sangue japonês, 50% de sangue francês. Dados sobre sua família desconhecidos. Serão revelados no desenrolar da fanfic.

Físico: 1.70m, 56kg, olhos castanho-escuros, cabelo castanho escuro longo e rebelde, pele morena.

Cor Favorita: Azul, Branco e Vermelho.

Gosta de: Comida, ser deixada em paz, conversar.

Não gosta de: Hao. Hao. Hao. Já falei Hao? Por quê? Aguardem o próximo capítulo.

Personalidade: Aparentemente é alegre, expansiva e sociável. No entanto, Liberté tem também seu lado melancólico. Um lado bem grande, pra falar a verdade. Não dá pra falar muito da personalidade dela, pois se desenvolverá junto à história.

Bem, como viram, a Liberté não gosta do Hao. Mas por quê? A cada capítulo, as histórias das duas novas personagens irão se revelar mais e mais. E no próximo capítulo, a história realmente começa! (Na verdade, até agora, estava apenas apresentando o cenário e os personagens). E por favor, reviews!!!!!!!!!

PS: Bem, eu realmente demorei para colocar esse capítulo. Ele já estava pronto há muito tempo, mas estava com dificuldades para usar o teclado. Felizmente meu dedo já está melhor!

Lady Macbeth