Capítulo 6 - Intimidade
No salão de refeições, fresco e silencioso, comiam os dois jovens, sem trocar quaisquer olhares ou palavras. O rosto inexpressivo da jovem de cabelos dourados voltou-se para a porta da entrada da pensão, onde surgiram sombras recortadas contra o sol inclemente.
Ren, Horohoro e Ryuu entraram, suados, fazendo muito barulho com suas habituais brigas. Atrás deles, sorrindo serenamente, caminhava Liberté, o rosto tão vermelho e suado quanto os dos outros.
Seu sorriso alargou-se quando seu olhar captou os dois noivos sentados a uma mesa num canto obscuro e fresco. Foi até eles, com seu andar calmo e confiante.
- Já nos inscrevi.
- Obrigada, Liberté. Como ficaram os grupos?
- No primeiro grupo, você, Mei-ann e Ryuu. No outro, eu, Ren e Horohoro. Ren não pareceu ficar muito feliz com isso, mas não há nada que eu possa fazer quanto a isso. Foi o que deu no sorteio.
- Não se preocupe. Tenho certeza de que ele gosta muito de você. Se há alguém aqui de quem ele não gosta, sou eu. - murmurou Mei-ann, amarga. Yoh e Liberté fitaram Mei-ann, surpresos. No entanto, a expressão perplexa de Liberté logo foi substituída por um sorriso, enquanto ela se virou e foi caminhando em direção aos outros xamãs, que naquele momento pareciam bastante entretidos numa guerra de comida.
- O que você tanto olha na Liberté?
- Nada. Ela só é...Estranha.
- Você acha? Na minha opinião ela é uma pessoa muito divertida e gentil.
- Não seja idiota. Ela não é assim. Não de verdade.
- Você sabe de algo que nós não sabemos, Mei-ann?
- Isso não importa. Não agora, pelo menos. Mas tenho que tirá-la do meu caminho, antes que me atrapalhe.
Sem mais palavras, a jovem de cabelos dourados levantou-se e saiu do frescor da pensão para o calor abrasante das ruas, seguida pelo olhar inquieto e perplexo de seu noivo.
---
Afundou o corpo quente e suado na água gelada, num último mergulho. Finalmente mais um dia quente e angustiante tinha se passado. Depois do almoço, a animação e descontração deram lugar ao cansaço. Era com certeza aquele calor insuportável.
Levantou-se da banheira, sacudindo o corpo e torcendo o comprido cabelo escuro. Procurou em sua mochila uma muda de roupas limpas, a última. Vestiu a saia branca até os joelhos que começava a ficar apertada, e uma camiseta sem mangas vermelha, que caiu larga e molhada sobre o seu corpo.
Juntou as roupas sujas da poeira grudenta do deserto e foi ao terraço da pensão, onde havia um tanque onde poderia lavar suas roupas.
Sentia-se estranha, ali, no meio da noite fria em uma terra desconhecida. Sentia-se exposta. Trabalhava automaticamente, a mente em outro lugar.
---
Correu para chegar logo em casa, o cabelo curto, escuro e cacheado voando às suas costas. Tinha demorado mais do que pretendia. A mãe com certeza lhe daria uma bronca, e Hao estaria esperando-a preocupado.
Abriu o portão apressadamente, e correu pelo jardim o mais rápido que o campo cheio de pétalas de flores de cerejeira e suas pernas infantis permitiam. Abriu a porta fazendo muito barulho como sempre, apesar das constantes reclamações da mãe.
Parou, chocada. A mãe não estava aguardando-a preocupada. O pai não estava lendo o jornal, como de costume. E não havia sinal de Hao.
Caminhou para dentro da casa, respirando o ar impregnado pelo forte cheiro de sangue. Seus passos ecoaram pela casa silenciosa como um túmulo. Seus passos. Pisava em algo molhado, pegajoso, rubro.
Sangue.
Sangue por toda parte.
Sangue manchando o chão, os móveis, as paredes. Manchando o seu melhor par de sapatos. Que bronca a mãe lhe daria se estivesse vendo o estado dos sapatos.
Mas a mãe não poderia lhe dar bronca nenhuma. Também não poderia lavar os sapatos mais tarde, e nem mesmo consolá-la com um doce e um abraço.
Porque sua mãe estava no chão, seu corpo estraçalhado, seus olhos castanhos, aveludados e gentis abertos e vazios. Terror e tristeza distorcendo as belas feições.
E um pouco mais distante, seu pai. Morto também. Estraçalhado também.
Caiu de joelhos no chão, manchando a saia branca e nova, um pouco grande demais para ela, de sangue rubro, ainda quente. As mãos no chão não foram fortes o suficiente para sustentar seu corpo, que tombou de tristeza, terror, agonia, ódio.
As lágrimas escorriam abundantes pelo rosto ainda gorducho como o de uma criança. No entanto, a expressão no rosto sujo de sangue e lágrimas não era a de uma criança.
Por quanto tempo ficou lá, deitada, rolando pelo chão ensangüentado, soluçando e chorando sem parar? Quantas coisas passaram por sua mente, que agora não era mais a de uma criança?
Quando conseguiu reunir alguma força, algum controle, levantou-se, ainda soluçando fracamente. Odiou o gosto salgado de lágrimas e metálico de sangue em seus lábios. Odiou o cheiro de sangue e morte que entrava por suas narinas. Odiou aquela casa, aquele lugar. Odiou a vida.
Acima de tudo, odiou aquele tinha feito aquilo com seus pais. Sua família. Aqueles que ela amava.
Sem voltar-se para olhar uma última vez para os pais, saiu da casa.
Saiu para o pôr do sol frio, triste e vermelho.
Saiu, para continuar a viver.
Viver o mínimo possível. Viver apenas para cumprir o seu objetivo. Viver para a sua vingança.
---
- Liberté?
Não se virou para encarar o jovem chinês que a observava. Congelou, de costas para ele, chocada. Como podia ter se deixado arrastar por sua tristeza, sua miséria? Estúpida. Não sabia que, se soubessem quem ela era, se tentassem consolá-la, se tentassem se aproximar mais dela do que o estritamente necessário, tudo estaria perdido?
- Liberté? O que foi?
Ele fez menção de se aproximar, mas ela murmurou, tentando abafar os soluços:
- Não. Não se aproxime.
- Você está...Chorando. - ele parecia perplexo. Chocado, até. E preocupado. Como podia aquela garota tão alegre e confiante parecer tão triste? - O que aconteceu?
- Nada. Vá embora!
- Não.
Os dois permaneceram quietos, parados, envoltos pela noite fria e melancólica. Por fim, Liberté virou-se, olhando fixamente para frente, sem encarar Ren. Ia passar direto por ele, mas foi detida. Ele segurava seu braço, delicadamente, mas com força suficiente para impedi-la de escapar. Preparou-se para o inquérito.
- Você esqueceu as suas roupas.
- Como? - perguntou, surpresa.
- Não vou obrigá-la a falar, se não quer. Eu entendo...Que não...Espere compreensão de alguém como eu. No entanto...Se você quiser falar...Qualquer coisa...Bem, é só falar comigo. Pode não parecer, mas eu me...Preocupo com as pessoas.
Continuou calada, mas finalmente teve coragem de encará-lo. Sorriu, entre lágrimas. Os olhos ácidos, sarcásticos e até mesmo cruéis agora lhe pareciam gentis, acolhedores. O nó em sua garganta soltou-se, e ela abraçou-o com força, enterrando o rosto em seu ombro direito, quente e acolhedor.
Com surpresa, sentiu braços quentes ao seu redor, abraçando-a.
Não tinha idéia do que a perturbava tanto, mas não podia simplesmente ficar parado, de braços cruzados. Assim, sem parar muito para pensar, foi até ela, e encarou-a. Falou com ela. E abraçou-a.
Seu corpo morno e frágil sacudia-se com soluços violentos.Os olhos vermelhos piscavam repetidamente, tentando expulsar as lágrimas que escorriam sem parar por seu rosto.
Não sabiam quanto tempo tinha se passado. Sabiam apenas que foram ficando cansados. Sentaram-se, lado a lado, ela apoiando a cabeça no ombro direito dele, pressionando a manga de seu sobretudo negro como uma criança, soluços ocasionais escapando de seus lábios. A tempestade, porém, foi levada embora pela exaustão. Uma cabeça caiu sobre a outra e, ali mesmo, tendo como teto o céu de veludo escuro e como testemunhas as estrelas que brilhavam fracamente, dormiram.
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Foram acordados no terraço da pensão pelos primeiros raios de sol, que caíram diretamente em suas faces muito próximas.
Quem primeiro abriu os olhos foi Ren. Não se sentiu embaraçado como costumava ficar. Não parecia errado. Não havia malícia, ou sedução no modo como o corpo dela caía inerte sobre o seu. Não havia nada de sedutor nos olhos e no nariz ainda avermelhados, nos lábios secos e entreabertos, nos cabelos que caíam confusos e rebeldes sobre sua face, sobre seus ombros, sobre seus braços. Portanto, deixou-se ficar mais algum tempo aproveitando o calor e o conforto que a proximidade da garota lhe proporcionava.
No entanto, aquela paz tão grande não poderia durar. Foi interrompida por um som que, aos ouvidos já acostumados ao silêncio da noite, pareceu estridente, escandaloso. Ren olhou para o seu oráculo, de onde vinha o som. E Liberté acordou, confusa e abobada. Sentia o corpo dolorido, os olhos inchados. Mas não era uma sensação ruim, tirando isso. Ela nunca sentira um calor como aquele, tão agradável, tão gentil. Ergueu os olhos castanhos, e deu de cara com um outro par de olhos, verde-ácidos. O garoto chinês, sério e compenetrado, falou:
- Temos uma luta marcada para hoje ao pôr do sol.
- Ah...Certo.
Ele deixou um sorriso escapar, ao ver a confusão e o embaraço que tomaram conta da garota, que já tinha três faces. A adolescente alegre e sociável que costumava ser. A jovem angustiada e melancólica que conhecera na noite anterior. E agora, a garota inocente e confusa, que o observava sem entender muito bem o que estava acontecendo.
- Acho melhor irmos para os nossos quartos. Se nos virem aqui juntos vão ficar comentando e...Bem, é melhor evitar esse tipo de coisa, não acha?
- Ah...Certo. Quero dizer...Por mim tudo bem. Ainda está cedo. Vou dormir até a hora do café da manhã. É melhor dormir também, ainda é cedo. Veja, o sol ainda está nascendo!
- Tem razão.
Sem mais palavras, Ren desceu a escada que levava ao corredor escuro e abafado onde se localizavam seus quartos. Liberté ficou ainda alguns instantes a se recordar da noite anterior, até voltar a si e ir dormir.
Do alto de um prédio mais alto que a pensão, uma testemunha. Um homem, alto e magro, aparência felina, selvagem, e bela. Cabelos dourados curtos que voavam à brisa da manhã. Olhos estreitos, verdes como a grama que crescia nas montanhas no horizonte. Sorriso cruel, de dentes brancos e pontudos.
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Entrou no quarto onde, como sempre, reinava a penumbra, a fraca luminosidade que conseguia entrar pelas frestas das janelas fechadas. Em um canto do quarto, de costas para ele, repousava a sua jovem noiva de cabelos dourados.
Não se virou quando ele entrou, e nem esboçou qualquer reação quando ele se aproximou dela, sentando-se de joelhos à sua frente, e depositando o mais silenciosamente possível a bandeja com comida.
- Tire isto daqui. O cheiro me dá náuseas.
- Você tem que comer, Mei-ann. Está muito magra, e doente. Como poderá curar a doença de sua alma, se o corpo padece?
- Não me juntei a vocês para ficar ouvindo as suas bobagens.
Apesar do tom seco, Mei-ann abriu os olhos muito escuros, e começou a comer, sem pressa, diante de seu noivo.
- E então? Fez o que pedi?
- Bem...Observei Liberté o dia inteiro e não vi nada demais. Ela estava um pouco mais triste e cansada, mas não deve ter dormido bem, só isso. Ren também estava bastante cansado, e dormiu até tarde. Acabou de acordar.
- Sério? - pela primeira vez, ela pareceu realmente esboçar alguma reação. Uma de suas sobrancelhas se ergueu, e o tom de sua voz era descrente, cético.
- É...E esqueci de contar, hoje o grupo do Ren vai lutar. Talvez você saiba alguma coisa sobre o adversário deles.
- Por que eu saberia?
- Bem, você sempre sabe de tudo, então achei que talvez pudesse ajudá-los.
- Estamos numa luta. Não deveríamos ajudar ninguém.
- Não seja tão chata, Mei-ann...O que aconteceu com a garota alegre e fascinante que eu conhecia?
Surpreendeu-se. Mei-ann podia ter se tornado uma pessoa fria, séria, estranha. Mas nunca tentara realmente intimidá-lo. E agora, estava fazendo isso. Pela primeira vez, os olhos escuros de sua noiva penetraram nos seus com tanta força e, ainda assim, tão vazios, como túneis escuros intermináveis, onde ele poderia facilmente se perder. Alguns instantes depois ela quebrou o contato, voltando suas atenções à comida.
- Isso não importa mais, Yoh. Não importa.
E ele não se importou. Na verdade, estava agora muito alegre. Era raro agora Mei-ann chamá-lo pelo primeiro nome, ou simplesmente se dar ao trabalho de responder uma pergunta tão pessoal. Mentalmente, ele se repreendeu. Não deveria ter perguntado. Há alguns anos atrás talvez até pudesse, mas para conseguir descobrir o que acontecera a sua noiva teria que quebrar barreiras, e recuperar, de alguma forma, a intimidade que tinham quando mais novos.
Não trocaram mais palavras ou olhares. Continuaram sentados frente a frente, sem que um parecesse tomar consciência do outro. E mesmo naquele ambiente frio e desconfortável, o jovem casal compartilhava uma intimidade, estranha e cúmplice. Como que sobras de um passado distante.
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Olhou os contornos da garota virada de costas para ele, apoiada no peitoril da janela. Tão próxima, porém tão distante. Não conseguia imaginar a luta sem que ela estivesse ao seu lado, mesmo fazendo tão pouco tempo que ela se juntara a ele. E, de alguma forma, ele, que sempre olhava os outros com desprezo, foi desenvolvendo algum tipo de afeição pela ex-noiva de seu irmão.
Tolo fora ele, de descartar de seu baralho uma carta tão boa. Mas enfim, agora ele tinha outra, tão boa quanto a sua ex-noiva. Se não melhor. Ele queria aquela carta. Obsessivamente. Ainda tinha saudades do gosto amargo de sua boca. Gosto de sangue, ódio, repulsa. E ainda assim, ele não conseguia de impedir de querer beijá-la novamente.
E agora, seu irmão tinha uma nova carta. Uma carta estranha, que ele não conhecia, embora algo nela lhe trouxesse lembranças muito, muito antigas. Lembranças amargas, de uma família que o acolhera, e que ele matara. Lembranças de uma garota, a única outra que beijara. Não tinha se esquecido ainda do gosto da boca dela. Não tinha repulsa, ódio, sangue. Era macia, tímida, e tinha gosto de doces. Mas ela estava morta. Era bondosa demais, gentil demais para sobreviver sozinha.
Liberté estava morta.
- Anna...
- Sim? - veio a voz dela, um sussurro fraco e distante.
- Não fique triste por causa de Yoh. Você terá a sua vingança. E quanto à nova garota, descubra mais sobre ela. Mate-a se for necessário.
- Eu o farei.
- E Anna...
- O que foi?
- Não fique triste. Você não tem aquele que ama, mas tem a mim. Eu serei seu porto seguro. E você será o meu.
- Eu sei, Hao. Eu sei.
Ela sorriu para ele, fracamente. E depois foi embora, sem falar mais nada. Não precisava. Ele sabia como se sentia. E ela sabia como ele se sentia. E talvez um dia essa compreensão pudesse se tornar algo mais forte, algo que fosse trazer alívio às suas almas solitárias e perdidas.
Talvez...Se eles deixassem...Nascesse amor.
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Lá estava ela, muito pequena, entre as velhas e assustadoras bruxas. Bruxas sem idade, perdidas no infinito da vida. Bruxas que agora se curvavam à menina no centro do círculo. Era pequena, magra, delicada. Vestia sobre o corpo apenas uma yukata branca, simples, sem adornos, presa na cintura por uma fita de seda negra. Os cabelos, recém cortados, dourados e lisos, caíam desordenados sobre seu rosto, escondendo os olhos escuros e sombrios, os traços ainda infantis, mas marcados por uma seriedade que poucos adultos conseguiam demonstrar. Seriedade, dedicação, persistência, auto-controle. Eram as palavras mais adequadas para descrever a mais nova das três irmãs Kyouyama.
Ao seu lado, muda, o corpo ainda tremendo e os olhos ainda vermelhos, estava a irmã do meio. Era pelo menos um palmo mais alta que ele, e sua figura trágica o impressionava. Mei-ann era a única mulher da família Kyouyama que lhe dirigia a palavra normalmente. Na verdade, era uma garota como outra qualquer, e eles dois sempre tinham sido muito amigos. Ele a adorava quando comia doces até não poder mais, quando brincava com ele, quando iam juntos a lugares proibidos, quando ria, quando era gentil e maternal, quando treinava, extremamente concentrada e determinada, quando ficava simplesmente sem fazer nada, admirando o céu ou as montanhas. Sempre.
Mas naquele dia ela tinha realmente mudado. Ele não podia entender muito bem o que estava acontecendo, mas Mei-ann era muito mais inteligente que ele. E ela parecera entender toda aquela história de noivado.
Mei-ann não tinha falado mais com ele. Não tinha rido o dia inteiro, nem comido doces, nem nada. Ficara escondida o dia inteiro, e só aparecera agora, os olhos muito vermelhos e o corpo trêmulo.
O brilho dos olhos escuros da pequena bruxa no centro do círculo escapou por entre mechas de cabelo dourado. E caiu sobre ele.
Yoh Asakura.
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Oi! ^^
Eu adorei esse capítulo, apesar de ter me dado tanto trabalho. Foi difícil escrevê-lo sem que ficasse água com açúcar demais. Acho que meus esforços não adiantaram muito, mas deixa pra lá. Finalmente consegui voltar à história de fato, e aos verdadeiros personagens, aqueles que não foram criados por mim. Pouco a pouco, estava deixando Liberté e Mei-ann tomarem conta da história, mas acho que, com muita dificuldade, estou recuperando o jeito.
Outra coisa que eu gostei muito nesse capítulo foi o fim que ele deu nas especulações sobre os pares que seriam gerados. No começo, ia realmente fazer uma história Anna/Ren, como me sugeriram. Mas, pouco a pouco, fui conhecendo o Hao, e acabei ficando fascinada por ele. Parece que Anna/Hao é um casal muito mais...Não sei explicar. Funciona melhor.
Então, para substituir Anna (não no sentido romântico, pelo menos no começo), veio Mei-ann. Não ligo a mínima para o fato dela ser mais velha que Yoh. Ele precisa de uma pessoa mais séria e mais madura. E por isso que a personalidade de Mei-ann (que era para ser alegre e distraída) foi alterada.
Por fim, surgiu Liberté, por acaso. Estava ouvindo música (não sei qual) após ver um episódio sobre o passado do Lyserg. E veio a idéia, que foi se amadurecendo. Aos poucos, sem que eu percebesse, aproximei Ren e Liberté. Também não me importo se Liberté é mais alta que Ren. Nessa idade é comum que as garotas sejam mais altas que os garotos.
Talvez (só talvez) eu tenha um treco e resolva fazer uma bagunça nesses pares. Aliás, já tenho umas idéias bem boas. Esperem, e verão!
Lady Macbeth
No salão de refeições, fresco e silencioso, comiam os dois jovens, sem trocar quaisquer olhares ou palavras. O rosto inexpressivo da jovem de cabelos dourados voltou-se para a porta da entrada da pensão, onde surgiram sombras recortadas contra o sol inclemente.
Ren, Horohoro e Ryuu entraram, suados, fazendo muito barulho com suas habituais brigas. Atrás deles, sorrindo serenamente, caminhava Liberté, o rosto tão vermelho e suado quanto os dos outros.
Seu sorriso alargou-se quando seu olhar captou os dois noivos sentados a uma mesa num canto obscuro e fresco. Foi até eles, com seu andar calmo e confiante.
- Já nos inscrevi.
- Obrigada, Liberté. Como ficaram os grupos?
- No primeiro grupo, você, Mei-ann e Ryuu. No outro, eu, Ren e Horohoro. Ren não pareceu ficar muito feliz com isso, mas não há nada que eu possa fazer quanto a isso. Foi o que deu no sorteio.
- Não se preocupe. Tenho certeza de que ele gosta muito de você. Se há alguém aqui de quem ele não gosta, sou eu. - murmurou Mei-ann, amarga. Yoh e Liberté fitaram Mei-ann, surpresos. No entanto, a expressão perplexa de Liberté logo foi substituída por um sorriso, enquanto ela se virou e foi caminhando em direção aos outros xamãs, que naquele momento pareciam bastante entretidos numa guerra de comida.
- O que você tanto olha na Liberté?
- Nada. Ela só é...Estranha.
- Você acha? Na minha opinião ela é uma pessoa muito divertida e gentil.
- Não seja idiota. Ela não é assim. Não de verdade.
- Você sabe de algo que nós não sabemos, Mei-ann?
- Isso não importa. Não agora, pelo menos. Mas tenho que tirá-la do meu caminho, antes que me atrapalhe.
Sem mais palavras, a jovem de cabelos dourados levantou-se e saiu do frescor da pensão para o calor abrasante das ruas, seguida pelo olhar inquieto e perplexo de seu noivo.
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Afundou o corpo quente e suado na água gelada, num último mergulho. Finalmente mais um dia quente e angustiante tinha se passado. Depois do almoço, a animação e descontração deram lugar ao cansaço. Era com certeza aquele calor insuportável.
Levantou-se da banheira, sacudindo o corpo e torcendo o comprido cabelo escuro. Procurou em sua mochila uma muda de roupas limpas, a última. Vestiu a saia branca até os joelhos que começava a ficar apertada, e uma camiseta sem mangas vermelha, que caiu larga e molhada sobre o seu corpo.
Juntou as roupas sujas da poeira grudenta do deserto e foi ao terraço da pensão, onde havia um tanque onde poderia lavar suas roupas.
Sentia-se estranha, ali, no meio da noite fria em uma terra desconhecida. Sentia-se exposta. Trabalhava automaticamente, a mente em outro lugar.
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Correu para chegar logo em casa, o cabelo curto, escuro e cacheado voando às suas costas. Tinha demorado mais do que pretendia. A mãe com certeza lhe daria uma bronca, e Hao estaria esperando-a preocupado.
Abriu o portão apressadamente, e correu pelo jardim o mais rápido que o campo cheio de pétalas de flores de cerejeira e suas pernas infantis permitiam. Abriu a porta fazendo muito barulho como sempre, apesar das constantes reclamações da mãe.
Parou, chocada. A mãe não estava aguardando-a preocupada. O pai não estava lendo o jornal, como de costume. E não havia sinal de Hao.
Caminhou para dentro da casa, respirando o ar impregnado pelo forte cheiro de sangue. Seus passos ecoaram pela casa silenciosa como um túmulo. Seus passos. Pisava em algo molhado, pegajoso, rubro.
Sangue.
Sangue por toda parte.
Sangue manchando o chão, os móveis, as paredes. Manchando o seu melhor par de sapatos. Que bronca a mãe lhe daria se estivesse vendo o estado dos sapatos.
Mas a mãe não poderia lhe dar bronca nenhuma. Também não poderia lavar os sapatos mais tarde, e nem mesmo consolá-la com um doce e um abraço.
Porque sua mãe estava no chão, seu corpo estraçalhado, seus olhos castanhos, aveludados e gentis abertos e vazios. Terror e tristeza distorcendo as belas feições.
E um pouco mais distante, seu pai. Morto também. Estraçalhado também.
Caiu de joelhos no chão, manchando a saia branca e nova, um pouco grande demais para ela, de sangue rubro, ainda quente. As mãos no chão não foram fortes o suficiente para sustentar seu corpo, que tombou de tristeza, terror, agonia, ódio.
As lágrimas escorriam abundantes pelo rosto ainda gorducho como o de uma criança. No entanto, a expressão no rosto sujo de sangue e lágrimas não era a de uma criança.
Por quanto tempo ficou lá, deitada, rolando pelo chão ensangüentado, soluçando e chorando sem parar? Quantas coisas passaram por sua mente, que agora não era mais a de uma criança?
Quando conseguiu reunir alguma força, algum controle, levantou-se, ainda soluçando fracamente. Odiou o gosto salgado de lágrimas e metálico de sangue em seus lábios. Odiou o cheiro de sangue e morte que entrava por suas narinas. Odiou aquela casa, aquele lugar. Odiou a vida.
Acima de tudo, odiou aquele tinha feito aquilo com seus pais. Sua família. Aqueles que ela amava.
Sem voltar-se para olhar uma última vez para os pais, saiu da casa.
Saiu para o pôr do sol frio, triste e vermelho.
Saiu, para continuar a viver.
Viver o mínimo possível. Viver apenas para cumprir o seu objetivo. Viver para a sua vingança.
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- Liberté?
Não se virou para encarar o jovem chinês que a observava. Congelou, de costas para ele, chocada. Como podia ter se deixado arrastar por sua tristeza, sua miséria? Estúpida. Não sabia que, se soubessem quem ela era, se tentassem consolá-la, se tentassem se aproximar mais dela do que o estritamente necessário, tudo estaria perdido?
- Liberté? O que foi?
Ele fez menção de se aproximar, mas ela murmurou, tentando abafar os soluços:
- Não. Não se aproxime.
- Você está...Chorando. - ele parecia perplexo. Chocado, até. E preocupado. Como podia aquela garota tão alegre e confiante parecer tão triste? - O que aconteceu?
- Nada. Vá embora!
- Não.
Os dois permaneceram quietos, parados, envoltos pela noite fria e melancólica. Por fim, Liberté virou-se, olhando fixamente para frente, sem encarar Ren. Ia passar direto por ele, mas foi detida. Ele segurava seu braço, delicadamente, mas com força suficiente para impedi-la de escapar. Preparou-se para o inquérito.
- Você esqueceu as suas roupas.
- Como? - perguntou, surpresa.
- Não vou obrigá-la a falar, se não quer. Eu entendo...Que não...Espere compreensão de alguém como eu. No entanto...Se você quiser falar...Qualquer coisa...Bem, é só falar comigo. Pode não parecer, mas eu me...Preocupo com as pessoas.
Continuou calada, mas finalmente teve coragem de encará-lo. Sorriu, entre lágrimas. Os olhos ácidos, sarcásticos e até mesmo cruéis agora lhe pareciam gentis, acolhedores. O nó em sua garganta soltou-se, e ela abraçou-o com força, enterrando o rosto em seu ombro direito, quente e acolhedor.
Com surpresa, sentiu braços quentes ao seu redor, abraçando-a.
Não tinha idéia do que a perturbava tanto, mas não podia simplesmente ficar parado, de braços cruzados. Assim, sem parar muito para pensar, foi até ela, e encarou-a. Falou com ela. E abraçou-a.
Seu corpo morno e frágil sacudia-se com soluços violentos.Os olhos vermelhos piscavam repetidamente, tentando expulsar as lágrimas que escorriam sem parar por seu rosto.
Não sabiam quanto tempo tinha se passado. Sabiam apenas que foram ficando cansados. Sentaram-se, lado a lado, ela apoiando a cabeça no ombro direito dele, pressionando a manga de seu sobretudo negro como uma criança, soluços ocasionais escapando de seus lábios. A tempestade, porém, foi levada embora pela exaustão. Uma cabeça caiu sobre a outra e, ali mesmo, tendo como teto o céu de veludo escuro e como testemunhas as estrelas que brilhavam fracamente, dormiram.
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Foram acordados no terraço da pensão pelos primeiros raios de sol, que caíram diretamente em suas faces muito próximas.
Quem primeiro abriu os olhos foi Ren. Não se sentiu embaraçado como costumava ficar. Não parecia errado. Não havia malícia, ou sedução no modo como o corpo dela caía inerte sobre o seu. Não havia nada de sedutor nos olhos e no nariz ainda avermelhados, nos lábios secos e entreabertos, nos cabelos que caíam confusos e rebeldes sobre sua face, sobre seus ombros, sobre seus braços. Portanto, deixou-se ficar mais algum tempo aproveitando o calor e o conforto que a proximidade da garota lhe proporcionava.
No entanto, aquela paz tão grande não poderia durar. Foi interrompida por um som que, aos ouvidos já acostumados ao silêncio da noite, pareceu estridente, escandaloso. Ren olhou para o seu oráculo, de onde vinha o som. E Liberté acordou, confusa e abobada. Sentia o corpo dolorido, os olhos inchados. Mas não era uma sensação ruim, tirando isso. Ela nunca sentira um calor como aquele, tão agradável, tão gentil. Ergueu os olhos castanhos, e deu de cara com um outro par de olhos, verde-ácidos. O garoto chinês, sério e compenetrado, falou:
- Temos uma luta marcada para hoje ao pôr do sol.
- Ah...Certo.
Ele deixou um sorriso escapar, ao ver a confusão e o embaraço que tomaram conta da garota, que já tinha três faces. A adolescente alegre e sociável que costumava ser. A jovem angustiada e melancólica que conhecera na noite anterior. E agora, a garota inocente e confusa, que o observava sem entender muito bem o que estava acontecendo.
- Acho melhor irmos para os nossos quartos. Se nos virem aqui juntos vão ficar comentando e...Bem, é melhor evitar esse tipo de coisa, não acha?
- Ah...Certo. Quero dizer...Por mim tudo bem. Ainda está cedo. Vou dormir até a hora do café da manhã. É melhor dormir também, ainda é cedo. Veja, o sol ainda está nascendo!
- Tem razão.
Sem mais palavras, Ren desceu a escada que levava ao corredor escuro e abafado onde se localizavam seus quartos. Liberté ficou ainda alguns instantes a se recordar da noite anterior, até voltar a si e ir dormir.
Do alto de um prédio mais alto que a pensão, uma testemunha. Um homem, alto e magro, aparência felina, selvagem, e bela. Cabelos dourados curtos que voavam à brisa da manhã. Olhos estreitos, verdes como a grama que crescia nas montanhas no horizonte. Sorriso cruel, de dentes brancos e pontudos.
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Entrou no quarto onde, como sempre, reinava a penumbra, a fraca luminosidade que conseguia entrar pelas frestas das janelas fechadas. Em um canto do quarto, de costas para ele, repousava a sua jovem noiva de cabelos dourados.
Não se virou quando ele entrou, e nem esboçou qualquer reação quando ele se aproximou dela, sentando-se de joelhos à sua frente, e depositando o mais silenciosamente possível a bandeja com comida.
- Tire isto daqui. O cheiro me dá náuseas.
- Você tem que comer, Mei-ann. Está muito magra, e doente. Como poderá curar a doença de sua alma, se o corpo padece?
- Não me juntei a vocês para ficar ouvindo as suas bobagens.
Apesar do tom seco, Mei-ann abriu os olhos muito escuros, e começou a comer, sem pressa, diante de seu noivo.
- E então? Fez o que pedi?
- Bem...Observei Liberté o dia inteiro e não vi nada demais. Ela estava um pouco mais triste e cansada, mas não deve ter dormido bem, só isso. Ren também estava bastante cansado, e dormiu até tarde. Acabou de acordar.
- Sério? - pela primeira vez, ela pareceu realmente esboçar alguma reação. Uma de suas sobrancelhas se ergueu, e o tom de sua voz era descrente, cético.
- É...E esqueci de contar, hoje o grupo do Ren vai lutar. Talvez você saiba alguma coisa sobre o adversário deles.
- Por que eu saberia?
- Bem, você sempre sabe de tudo, então achei que talvez pudesse ajudá-los.
- Estamos numa luta. Não deveríamos ajudar ninguém.
- Não seja tão chata, Mei-ann...O que aconteceu com a garota alegre e fascinante que eu conhecia?
Surpreendeu-se. Mei-ann podia ter se tornado uma pessoa fria, séria, estranha. Mas nunca tentara realmente intimidá-lo. E agora, estava fazendo isso. Pela primeira vez, os olhos escuros de sua noiva penetraram nos seus com tanta força e, ainda assim, tão vazios, como túneis escuros intermináveis, onde ele poderia facilmente se perder. Alguns instantes depois ela quebrou o contato, voltando suas atenções à comida.
- Isso não importa mais, Yoh. Não importa.
E ele não se importou. Na verdade, estava agora muito alegre. Era raro agora Mei-ann chamá-lo pelo primeiro nome, ou simplesmente se dar ao trabalho de responder uma pergunta tão pessoal. Mentalmente, ele se repreendeu. Não deveria ter perguntado. Há alguns anos atrás talvez até pudesse, mas para conseguir descobrir o que acontecera a sua noiva teria que quebrar barreiras, e recuperar, de alguma forma, a intimidade que tinham quando mais novos.
Não trocaram mais palavras ou olhares. Continuaram sentados frente a frente, sem que um parecesse tomar consciência do outro. E mesmo naquele ambiente frio e desconfortável, o jovem casal compartilhava uma intimidade, estranha e cúmplice. Como que sobras de um passado distante.
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Olhou os contornos da garota virada de costas para ele, apoiada no peitoril da janela. Tão próxima, porém tão distante. Não conseguia imaginar a luta sem que ela estivesse ao seu lado, mesmo fazendo tão pouco tempo que ela se juntara a ele. E, de alguma forma, ele, que sempre olhava os outros com desprezo, foi desenvolvendo algum tipo de afeição pela ex-noiva de seu irmão.
Tolo fora ele, de descartar de seu baralho uma carta tão boa. Mas enfim, agora ele tinha outra, tão boa quanto a sua ex-noiva. Se não melhor. Ele queria aquela carta. Obsessivamente. Ainda tinha saudades do gosto amargo de sua boca. Gosto de sangue, ódio, repulsa. E ainda assim, ele não conseguia de impedir de querer beijá-la novamente.
E agora, seu irmão tinha uma nova carta. Uma carta estranha, que ele não conhecia, embora algo nela lhe trouxesse lembranças muito, muito antigas. Lembranças amargas, de uma família que o acolhera, e que ele matara. Lembranças de uma garota, a única outra que beijara. Não tinha se esquecido ainda do gosto da boca dela. Não tinha repulsa, ódio, sangue. Era macia, tímida, e tinha gosto de doces. Mas ela estava morta. Era bondosa demais, gentil demais para sobreviver sozinha.
Liberté estava morta.
- Anna...
- Sim? - veio a voz dela, um sussurro fraco e distante.
- Não fique triste por causa de Yoh. Você terá a sua vingança. E quanto à nova garota, descubra mais sobre ela. Mate-a se for necessário.
- Eu o farei.
- E Anna...
- O que foi?
- Não fique triste. Você não tem aquele que ama, mas tem a mim. Eu serei seu porto seguro. E você será o meu.
- Eu sei, Hao. Eu sei.
Ela sorriu para ele, fracamente. E depois foi embora, sem falar mais nada. Não precisava. Ele sabia como se sentia. E ela sabia como ele se sentia. E talvez um dia essa compreensão pudesse se tornar algo mais forte, algo que fosse trazer alívio às suas almas solitárias e perdidas.
Talvez...Se eles deixassem...Nascesse amor.
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Lá estava ela, muito pequena, entre as velhas e assustadoras bruxas. Bruxas sem idade, perdidas no infinito da vida. Bruxas que agora se curvavam à menina no centro do círculo. Era pequena, magra, delicada. Vestia sobre o corpo apenas uma yukata branca, simples, sem adornos, presa na cintura por uma fita de seda negra. Os cabelos, recém cortados, dourados e lisos, caíam desordenados sobre seu rosto, escondendo os olhos escuros e sombrios, os traços ainda infantis, mas marcados por uma seriedade que poucos adultos conseguiam demonstrar. Seriedade, dedicação, persistência, auto-controle. Eram as palavras mais adequadas para descrever a mais nova das três irmãs Kyouyama.
Ao seu lado, muda, o corpo ainda tremendo e os olhos ainda vermelhos, estava a irmã do meio. Era pelo menos um palmo mais alta que ele, e sua figura trágica o impressionava. Mei-ann era a única mulher da família Kyouyama que lhe dirigia a palavra normalmente. Na verdade, era uma garota como outra qualquer, e eles dois sempre tinham sido muito amigos. Ele a adorava quando comia doces até não poder mais, quando brincava com ele, quando iam juntos a lugares proibidos, quando ria, quando era gentil e maternal, quando treinava, extremamente concentrada e determinada, quando ficava simplesmente sem fazer nada, admirando o céu ou as montanhas. Sempre.
Mas naquele dia ela tinha realmente mudado. Ele não podia entender muito bem o que estava acontecendo, mas Mei-ann era muito mais inteligente que ele. E ela parecera entender toda aquela história de noivado.
Mei-ann não tinha falado mais com ele. Não tinha rido o dia inteiro, nem comido doces, nem nada. Ficara escondida o dia inteiro, e só aparecera agora, os olhos muito vermelhos e o corpo trêmulo.
O brilho dos olhos escuros da pequena bruxa no centro do círculo escapou por entre mechas de cabelo dourado. E caiu sobre ele.
Yoh Asakura.
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Oi! ^^
Eu adorei esse capítulo, apesar de ter me dado tanto trabalho. Foi difícil escrevê-lo sem que ficasse água com açúcar demais. Acho que meus esforços não adiantaram muito, mas deixa pra lá. Finalmente consegui voltar à história de fato, e aos verdadeiros personagens, aqueles que não foram criados por mim. Pouco a pouco, estava deixando Liberté e Mei-ann tomarem conta da história, mas acho que, com muita dificuldade, estou recuperando o jeito.
Outra coisa que eu gostei muito nesse capítulo foi o fim que ele deu nas especulações sobre os pares que seriam gerados. No começo, ia realmente fazer uma história Anna/Ren, como me sugeriram. Mas, pouco a pouco, fui conhecendo o Hao, e acabei ficando fascinada por ele. Parece que Anna/Hao é um casal muito mais...Não sei explicar. Funciona melhor.
Então, para substituir Anna (não no sentido romântico, pelo menos no começo), veio Mei-ann. Não ligo a mínima para o fato dela ser mais velha que Yoh. Ele precisa de uma pessoa mais séria e mais madura. E por isso que a personalidade de Mei-ann (que era para ser alegre e distraída) foi alterada.
Por fim, surgiu Liberté, por acaso. Estava ouvindo música (não sei qual) após ver um episódio sobre o passado do Lyserg. E veio a idéia, que foi se amadurecendo. Aos poucos, sem que eu percebesse, aproximei Ren e Liberté. Também não me importo se Liberté é mais alta que Ren. Nessa idade é comum que as garotas sejam mais altas que os garotos.
Talvez (só talvez) eu tenha um treco e resolva fazer uma bagunça nesses pares. Aliás, já tenho umas idéias bem boas. Esperem, e verão!
Lady Macbeth
