Capítulo 11 - Declaração
Enquanto a chuva caía sobre nós, que olhávamos estupidamente para o simples quadrado de pedra nova, minha mente divagava. As coisas iam de mal a pior. Mei-ann estava morta. Se Yoh e Ryuu não encontrassem logo um substituto para ela seriam desclassificados. Ren se recusava a me olhar. E eu tinha certeza de que estava sendo seguida.
A sensação já tinha começado há muito tempo, mas eu dizia a mim mesma que era paranóia. No entanto, ultimamente a sensação vinha ficando cada vez mais forte. E naquela noite - maldita noite - em que eu saí da casa do Hao para a noite escura e chuvosa, dei de cara com a tal pessoa que vinha me seguindo. Eu tinha certeza de que era ela.
Seus lábios se abriram num sorriso felino, como o do animal que vê a sua presa. Seus olhos - verdes como a grama - se estreitaram. E ele começou a falar algo, mas eu simplesmente passei direto por ele.
O som do oráculo me tirou das minhas reflexões. Estava começando a odiar aquele barulho. Com uma pontada de culpa, olhei para Ren, que se mantinha em pé precariamente com a ajuda de Ryuu, mas portava o olhar de sempre, cheio de orgulho e dignidade. Como poderíamos lutar com o grupo do jeito que estava?
Senti uma mão morna e gentil sobre meu ombro. Olhei para trás, para me deparar com os olhos duros de Horohoro. Havia algo naquele olhar que, ao mesmo tempo em que me fazia sentir aliviada, aumentava ainda mais a culpa que sentia.
- Liberté...Vamos indo.
- Mas Yoh...
- Yoh precisa ficar um pouco sozinho. Mais tarde você volta aqui, se quiser. Mas agora...
Sorri tristemente para Horohoro, dando a entender que eu já tinha compreendido. Ele sorriu também, um sorriso amargo.
- Não fique chateada com o Ren. Ele tem seus motivos por não querer falar com você.
Não disse nada. Qualquer coisa que dissesse soaria ridícula, e ele não conseguiria entender de qualquer forma. Simplesmente comecei a andar entre a chuva, com ele ao meu lado.
Não olhei para trás, onde Ren caminhava dolorosamente com a ajuda de Ryuu.
Não olhei para trás, onde Yoh caía ajoelhado sobre o túmulo de Mei-ann.
Eu não queria. Eu não precisava. Eu podia sentir as lágrimas dos dois.
---
Mãos delicadas enfaixavam o ombro do garoto ferido, enquanto a mão dele repousava sobre a face da garota que cuidava dele naquele momento.
Fazia seu trabalho resignadamente, sem olhar para o garoto que tinha matado sua irmã. Ela sabia o que encontraria naqueles olhos. Tristeza, raiva, desejo, sarcasmo. Por um tempo, achara que poderia salvar e encontrar a salvação naqueles olhos. Mas isso nunca seria possível. Aqueles olhos guardavam tanto coisa ruim...
- Anna...
O toque na sua face tornou-se um pouco mais forte, obrigando-a a virar seu rosto de forma a encará-lo. O rosto dele, com aqueles olhos cruéis, aproximava-se cada vez mais. Alguns fios do seu cabelo comprido e sedoso caíram sobre o colo dela, que se desviou rapidamente.
- Não... - ela olhou para baixo, livre da mãos que prendiam seu rosto. Juntando coragem, olhou para ele, nos olhos - Não vou ser um brinquedo seu. Não vou servir para te lembrar da minha irmã que matou. Não vou...
- Não vai o quê? Trair Yoh?
A voz era cruel, sarcástica, e machucou até o fundo da sua alma. Sim, era verdade. Ela se mantinha estupidamente presa a ele, como somente uma garota apaixonada faria. Estupidez. Mas estupidez maior seria negar o que sentia. Ela já tinha tentado, e não tinha dado certo.
- Fique quieto.
Calmamente, ela voltou a enfaixar o ombro ferido.
---
A chuva ainda não tinha parado, mas tinha diminuído. Por isso, mesmo com lama e água por todos os lados, vendedores gritavam tentando atrair a multidão que passava pelas ruas da aldeia, fazendo compras, indo visitar pessoas, ou simplesmente pegando um pouco de ar.
No meio da multidão, andava uma garota de longos cabelos negros. E no meio da multidão um garoto de cabelos verdes a seguia, tentando não ser notado.
Sem resultado.
A garota atraiu-o até uma rua vazia, e virou-se furiosa, para encarar o garoto.
- Você de novo! - disse ela. Ao ver quem ele era disse, com uma nota de decepção na voz - Achava que era outra pessoa. O que você quer agora?
- Eu queria...Conversar.
Ela olhou melhor para o garoto. Seus traços bonitos, até mesmo um pouco femininos, revelavam tristeza, raiva e confusão. Fazia bastante tempo desde a última vez em que ela se esforçara para entender alguém. Mas daquela vez, só daquela, ela tentou.
- Sobre o que quer conversar?
---
O restaurante estava vazio e silencioso. Os dois jovens, cada um bebendo o seu copo de suco, olhavam um para o outro disfarçadamente, embaraçados. Lá fora a chuva tinha voltado a cair com força total, e goteiras caíam pelo chão do restaurante. As ruas também estavam vazias e silenciosas. Era como se tudo tivesse parado, e só eles dois continuassem a sentir o tempo passar. Olhando a paisagem pela janela, Liberté perguntou mais uma vez:
- Sobre o que quer falar?
Como antes, resposta alguma veio.
Já que ele não falava, falaria ela.
E então ela começou a contar a sua história. Em pouco tempo toda a atenção do garoto estava nela. E um pouco depois, também ele começou a contar a sua história.
E quando suas histórias acabaram, o silêncio caiu mais uma vez sobre o ambiente. Liberté sorriu para Lyserg, deixou algumas moedas sobre a mesa, e saiu.
Os olhos que a seguiram tinham mudado. Pareciam mais leves, mais alegres, mais vivos.
---
Contou os passos até a porta do quarto dela na escuridão. Colou o ouvido à porta, ouvindo o ressonar suave da garota. Seus lábios se alargaram num sorriso. Não o habitual sorriso sarcástico e cruel. Um sorriso que poderia ser considerado gentil e suave, considerando-se que quem sorria era Tao Ren.
Abriu a porta do quarto dela, sem fazer qualquer barulho. Seus olhos procuraram avidamente a imagem da garota dormindo no chão, a cascata de cabelos negros espalhando-se à sua volta como um cobertor. Ela não podia ser considerada exatamente bonita. Mas havia algo nela que o atraía, sem motivo algum. Um feitiço, algo misterioso que pertencia a ela e somente a ela.
O corpo trocou de posição vagarosamente, ficando de frente para ele, que suspirou aliviado ao ver os dois olhos fechados.
Vinha evitando aqueles olhos há bastante tempo. Quando a vira pela primeira vez, pareciam os olhos de uma garota como qualquer outra. No entanto, quanto melhor a conhecia, mais pesados, carregados de tristeza e melancolia, aqueles olhos pareciam. E agora, nos últimos tempos, os olhos tinham mudado novamente. Sempre que ele os observava, estavam cheios de determinação e serenidade. Carregavam ainda ódio e tristeza, mas havia algo nela que tinha mudado.
Ele não sabia se gostava mais ou menos desses novos olhos, mas sabia que estava contente por ela parecer mais contente.
E sabia também que, não importando o quanto mudassem, ele continuaria amando aqueles olhos.
O sorriso nos lábios dele se desfez. Ele resolveu falar. Mesmo que ela não ouvisse, já seria um alívio falar ali, na frente dela. Passou a língua pelos lábios secos e falou, com a voz baixa e rouca.
- Eu te amo.
---
Oi!
Finalmente o Ren se declarou...Não sei se foi exatamente uma declaração, já que SIM, a Liberté estava dormindo. Não vou fazer aquela cena clássica do rapaz se declarar quando acha que a garota está dormindo, quando na verdade ela está ouvindo tudo. Não, obrigada. Minha história já tem clichês demais, tá? Espero que tenham gostado. E por favor, não pensem que a Liberté agora vai pegar o Lyserg. Eu só quero que eles sejam amigos. Afinal, sempre que eu não sabia sobre quem ou o que escrever, eu usava o meu coringa, a Mei-ann. Só que ela morreu, então a situação ficou obscura. Aí pronto, taquei o Lyserg no meio da história. No entanto, esse capítulo ficou meio estranho. Droga. Eu sou realmente um desastre literário.
Enquanto a chuva caía sobre nós, que olhávamos estupidamente para o simples quadrado de pedra nova, minha mente divagava. As coisas iam de mal a pior. Mei-ann estava morta. Se Yoh e Ryuu não encontrassem logo um substituto para ela seriam desclassificados. Ren se recusava a me olhar. E eu tinha certeza de que estava sendo seguida.
A sensação já tinha começado há muito tempo, mas eu dizia a mim mesma que era paranóia. No entanto, ultimamente a sensação vinha ficando cada vez mais forte. E naquela noite - maldita noite - em que eu saí da casa do Hao para a noite escura e chuvosa, dei de cara com a tal pessoa que vinha me seguindo. Eu tinha certeza de que era ela.
Seus lábios se abriram num sorriso felino, como o do animal que vê a sua presa. Seus olhos - verdes como a grama - se estreitaram. E ele começou a falar algo, mas eu simplesmente passei direto por ele.
O som do oráculo me tirou das minhas reflexões. Estava começando a odiar aquele barulho. Com uma pontada de culpa, olhei para Ren, que se mantinha em pé precariamente com a ajuda de Ryuu, mas portava o olhar de sempre, cheio de orgulho e dignidade. Como poderíamos lutar com o grupo do jeito que estava?
Senti uma mão morna e gentil sobre meu ombro. Olhei para trás, para me deparar com os olhos duros de Horohoro. Havia algo naquele olhar que, ao mesmo tempo em que me fazia sentir aliviada, aumentava ainda mais a culpa que sentia.
- Liberté...Vamos indo.
- Mas Yoh...
- Yoh precisa ficar um pouco sozinho. Mais tarde você volta aqui, se quiser. Mas agora...
Sorri tristemente para Horohoro, dando a entender que eu já tinha compreendido. Ele sorriu também, um sorriso amargo.
- Não fique chateada com o Ren. Ele tem seus motivos por não querer falar com você.
Não disse nada. Qualquer coisa que dissesse soaria ridícula, e ele não conseguiria entender de qualquer forma. Simplesmente comecei a andar entre a chuva, com ele ao meu lado.
Não olhei para trás, onde Ren caminhava dolorosamente com a ajuda de Ryuu.
Não olhei para trás, onde Yoh caía ajoelhado sobre o túmulo de Mei-ann.
Eu não queria. Eu não precisava. Eu podia sentir as lágrimas dos dois.
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Mãos delicadas enfaixavam o ombro do garoto ferido, enquanto a mão dele repousava sobre a face da garota que cuidava dele naquele momento.
Fazia seu trabalho resignadamente, sem olhar para o garoto que tinha matado sua irmã. Ela sabia o que encontraria naqueles olhos. Tristeza, raiva, desejo, sarcasmo. Por um tempo, achara que poderia salvar e encontrar a salvação naqueles olhos. Mas isso nunca seria possível. Aqueles olhos guardavam tanto coisa ruim...
- Anna...
O toque na sua face tornou-se um pouco mais forte, obrigando-a a virar seu rosto de forma a encará-lo. O rosto dele, com aqueles olhos cruéis, aproximava-se cada vez mais. Alguns fios do seu cabelo comprido e sedoso caíram sobre o colo dela, que se desviou rapidamente.
- Não... - ela olhou para baixo, livre da mãos que prendiam seu rosto. Juntando coragem, olhou para ele, nos olhos - Não vou ser um brinquedo seu. Não vou servir para te lembrar da minha irmã que matou. Não vou...
- Não vai o quê? Trair Yoh?
A voz era cruel, sarcástica, e machucou até o fundo da sua alma. Sim, era verdade. Ela se mantinha estupidamente presa a ele, como somente uma garota apaixonada faria. Estupidez. Mas estupidez maior seria negar o que sentia. Ela já tinha tentado, e não tinha dado certo.
- Fique quieto.
Calmamente, ela voltou a enfaixar o ombro ferido.
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A chuva ainda não tinha parado, mas tinha diminuído. Por isso, mesmo com lama e água por todos os lados, vendedores gritavam tentando atrair a multidão que passava pelas ruas da aldeia, fazendo compras, indo visitar pessoas, ou simplesmente pegando um pouco de ar.
No meio da multidão, andava uma garota de longos cabelos negros. E no meio da multidão um garoto de cabelos verdes a seguia, tentando não ser notado.
Sem resultado.
A garota atraiu-o até uma rua vazia, e virou-se furiosa, para encarar o garoto.
- Você de novo! - disse ela. Ao ver quem ele era disse, com uma nota de decepção na voz - Achava que era outra pessoa. O que você quer agora?
- Eu queria...Conversar.
Ela olhou melhor para o garoto. Seus traços bonitos, até mesmo um pouco femininos, revelavam tristeza, raiva e confusão. Fazia bastante tempo desde a última vez em que ela se esforçara para entender alguém. Mas daquela vez, só daquela, ela tentou.
- Sobre o que quer conversar?
---
O restaurante estava vazio e silencioso. Os dois jovens, cada um bebendo o seu copo de suco, olhavam um para o outro disfarçadamente, embaraçados. Lá fora a chuva tinha voltado a cair com força total, e goteiras caíam pelo chão do restaurante. As ruas também estavam vazias e silenciosas. Era como se tudo tivesse parado, e só eles dois continuassem a sentir o tempo passar. Olhando a paisagem pela janela, Liberté perguntou mais uma vez:
- Sobre o que quer falar?
Como antes, resposta alguma veio.
Já que ele não falava, falaria ela.
E então ela começou a contar a sua história. Em pouco tempo toda a atenção do garoto estava nela. E um pouco depois, também ele começou a contar a sua história.
E quando suas histórias acabaram, o silêncio caiu mais uma vez sobre o ambiente. Liberté sorriu para Lyserg, deixou algumas moedas sobre a mesa, e saiu.
Os olhos que a seguiram tinham mudado. Pareciam mais leves, mais alegres, mais vivos.
---
Contou os passos até a porta do quarto dela na escuridão. Colou o ouvido à porta, ouvindo o ressonar suave da garota. Seus lábios se alargaram num sorriso. Não o habitual sorriso sarcástico e cruel. Um sorriso que poderia ser considerado gentil e suave, considerando-se que quem sorria era Tao Ren.
Abriu a porta do quarto dela, sem fazer qualquer barulho. Seus olhos procuraram avidamente a imagem da garota dormindo no chão, a cascata de cabelos negros espalhando-se à sua volta como um cobertor. Ela não podia ser considerada exatamente bonita. Mas havia algo nela que o atraía, sem motivo algum. Um feitiço, algo misterioso que pertencia a ela e somente a ela.
O corpo trocou de posição vagarosamente, ficando de frente para ele, que suspirou aliviado ao ver os dois olhos fechados.
Vinha evitando aqueles olhos há bastante tempo. Quando a vira pela primeira vez, pareciam os olhos de uma garota como qualquer outra. No entanto, quanto melhor a conhecia, mais pesados, carregados de tristeza e melancolia, aqueles olhos pareciam. E agora, nos últimos tempos, os olhos tinham mudado novamente. Sempre que ele os observava, estavam cheios de determinação e serenidade. Carregavam ainda ódio e tristeza, mas havia algo nela que tinha mudado.
Ele não sabia se gostava mais ou menos desses novos olhos, mas sabia que estava contente por ela parecer mais contente.
E sabia também que, não importando o quanto mudassem, ele continuaria amando aqueles olhos.
O sorriso nos lábios dele se desfez. Ele resolveu falar. Mesmo que ela não ouvisse, já seria um alívio falar ali, na frente dela. Passou a língua pelos lábios secos e falou, com a voz baixa e rouca.
- Eu te amo.
---
Oi!
Finalmente o Ren se declarou...Não sei se foi exatamente uma declaração, já que SIM, a Liberté estava dormindo. Não vou fazer aquela cena clássica do rapaz se declarar quando acha que a garota está dormindo, quando na verdade ela está ouvindo tudo. Não, obrigada. Minha história já tem clichês demais, tá? Espero que tenham gostado. E por favor, não pensem que a Liberté agora vai pegar o Lyserg. Eu só quero que eles sejam amigos. Afinal, sempre que eu não sabia sobre quem ou o que escrever, eu usava o meu coringa, a Mei-ann. Só que ela morreu, então a situação ficou obscura. Aí pronto, taquei o Lyserg no meio da história. No entanto, esse capítulo ficou meio estranho. Droga. Eu sou realmente um desastre literário.
