Capítulo 15 - Busca

Quando Lyserg voltou de um de seus misteriosos passeios, estava diferente. Todos os X-Laws podiam ver isso em seus passos firmes, seus punhos cerrados, seu rosto erguido e seus olhos. Seus olhos, duros e decididos, cheios de altivez, mas conservando um pouco da suavidade e do temor que lhes eram característicos. Sem cerimônia, olhou para todos os X-Laws presentes e disse, firmemente:

- Por favor, se retirem. Preciso falar com Jeanne-sama.

Marco olhou gravemente para Lyserg por trás das lentes de seus óculos. O garoto sustentou aquele olhar que tanto temia, decidido a enfrentá-lo. Não podia demonstrar medo. Afinal, ele não sentia medo. Não sentia. Tinha certeza absoluta de que estava fazendo a coisa certa.

Marco, lançando um último olhar de desaprovação ao garoto, retirou-se do aposento, seguido pelos outros X-Laws, surpresos demais com a súbita mudança no doce e tímido garoto para contrariá-lo.

Finalmente estava ali, a sós com a Dama de Ferro. Que, para ele, tinha a aparência de uma garota tão delicada que mais parecia um espectro, de tristes olhos cor de sangue e cabelos brancos como a neve mais pura. Uma garota de aspecto frágil e angelical, mas cheia de força e pecado.

Ele pôde sentir seus olhos abrindo-se, olhando dentro dele, desmembrando cada pedaço da sua alma. Ele juntou toda a força que tinha e pôs-se a usá-la para contrariar aqueles olhos que ele temia e respeitava. Olhos que ele, acima de tudo, amava.

- Jeanne-sama...Há algo muito importante que devo contar. Não é algo que vá apreciar, mas deve ser dito.

Ele odiou o tom frio e impessoal que usou para falar. Mas não podia – não devia – deixar-se dominar pela emoção. A hora tinha chegado. A hora em que ele tentaria crescer, se libertar, e seu fortalecer o suficiente para atingir seu objetivo. Derrotar Hao. Não matá-lo, mas simplesmente derrotá-lo, superá-lo. Superar a dor que tinha destruído seu passado e o ódio que consumia seu presente, impedindo-o de viver, de crescer, de amar.

E foi isso que ele disse a Jeanne num impulso, rápido e nervoso, atropelando as palavras e suando as mãos. Quando acabou, restou apenas o silêncio entre os dois. Silêncio que não foi quebrado, mas que nem por isso impediu Lyserg de ouvir, em sua mente e em seu coração, a resposta Dela.

Sua partida a entristecia, mas não havia nada que pudesse fazer. Não queria impedi-lo de fazer algo que pudesse finalmente lhe trazer alguma paz e alegria, mesmo tendo poder para isso.

Lyserg sorriu para ela. Um sorriso sincero e gentil. Um sorriso de amor e de adoração. E então, sem olhar para trás, Lyserg deixou os X-Laws. E nunca mais voltou.

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Entrou no quarto, molhando as meias no chão que já começava a ficar alagado. Abandonado, foi a primeira palavra que veio à sua mente assim que olhou para as paredes caiadas de branco que deveriam formar um quarto agradável. Os baldes de plástico colocados quando a chuva começara, esquecidos há muito tempo, eram incapazes de agüentar toda a água que caía pelas inúmeras goteiras do quarto. Os pertences da garota que ocupava aquele quarto não estavam ali. O espelho, molhado e rachado, refletia apenas o vazio e a solidão do local.

Era óbvio que Liberté não estava ali.

Foi correndo até a saída, passando direto pelos outros xamãs, que o seguiram com o olhar perplexo, pedindo explicações. Mas eles não importavam, não no momento. Afinal, ela tinha desaparecido. E aquilo era o mais importante.

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Olhou para o céu, cansado. Deixou a chuva fresca cair em seu rosto, ajudando-o a manter-se acordado. Esfregou os olhos, tentando mantê-los abertos.

Ainda não podia acreditar no que tinha acabado de ouvir. Tinha que ser uma alucinação, uma ilusão. Mas não era. Era real, tão real quanto a sombra do garoto de longos cabelos castanhos desaparecendo no fim da rua, tão real quanto a chuva que continuava caindo sem parar, limpando a sujeira das ruas e o sangue dos campos de batalha.

Não conseguia pensar direito, não conseguia entender direito. Os últimos minutos voltavam à sua mente sem parar, confundindo-o e enchendo-o de ódio e tristeza.

--- Alguns minutos antes ---

Ele continuava andando pelas ruas desertas à procura dela, cansado, morto de frio, fome e cansaço. Mas mesmo sabendo que era inútil, não podia desistir. Não podia desistir dela.

- Sabe, isso é inútil. Você não vai encontrá-la.

Ren virou-se rápido, para encarar os olhos cruéis de Hao Asakura. Olhou para ele com arrogância e ferocidade, e disse:

- O que você quer?

- Eu? Não quero nada. Só quero abrir seus olhos. Não vai adiantar nada procurar Liberté. Ela não é burra, você sabe. Há essa hora já deve ter encontrado um lugar muito bom para se esconder.

- Você sabe onde ela está, não sabe?

- Eu? Não tenho a menor idéia.

- Mentira.

- Não, é a mais pura verdade. Mas você não precisa se preocupar. Daqui a pouco ela deve aparecer de novo. Afinal, ela nunca gostou muito de ficar sozinha.

- E por que você se daria ao trabalho de vir falar isso pra mim, no meio dessa chuva?

Hao suspirou, como o adulto que se cansa de responder às perguntas tolas de uma criança.

- Pra começar, eu não tenho medo da chuva. E depois, estou tentando ser gentil com o meu futuro aliado.

- Você deve estar brincando. Eu nuca vou ser seu aliado.

- Ah, vai sim.

Ren fez uma careta de desgosto, e por fim disse:

- Você fala da Liberté como se a conhecesse muito bem.

- Mas eu realmente conheço-a muito bem. Ela nunca te contou?

Ren simplesmente olhou desconfiado para Hao, que se sentou num banco e disse:

- Sente-se. Não é uma história curta, sabe? Começou há muito tempo atrás...

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Mesmo na escuridão quase completa do quarto, ele podia ver o vulto adormecido, magro e delicado da garota. Estava, como sempre, encostada à janela. O que ela tanto tentava ver por trás da monótona paisagem de ruas silenciosas e cobertas pela chuva ele não sabia, e preferia não saber. O pouco que sabia dela e de seus sentimentos já era o suficiente para confundi-lo.

Aquela confusão era uma lição de humildade para Hao, acostumado a saber e entender tudo. Era uma confusão estranha que o enfurecia e, ao mesmo tempo, o encantava. Anna era indescritível, incompreensível, inexplicável.

Uma palavra escapou dos lábios dela. Uma única palavra, pequena, simples, mas cheia de diferentes sentidos.

- Yoh.

A voz era angustiada, triste. O nome fora pronunciado quase como um pedido, como uma necessidade.

Ele fechou os olhos, tentando afastar, junto com a imagem dela, toda a confusão de sentimentos que experimentava sempre que a via. Não adiantava o quanto tentasse, ela nunca seria sua. Não completamente. Ela podia tentar, podia mentir, mas ele sabia que ela pertencia, de corpo, mente e alma, a outra pessoa.

Eles nunca poderiam ficar juntos, nunca poderiam construir a relação que tanto tentavam. Aquele teatro que ambos representavam não os levaria a lugar nenhum. Só traria mais dor e sofrimento. Era uma estupidez continuar com aquilo. No entanto, ele não conseguia afastá-la. Não conseguia dizer a ela que precisavam se separar, e duvidava que ela conseguisse. Era muito mais cômodo simplesmente deixar as coisas continuarem a acontecer.

Mas não era o certo.

Só havia um jeito. Ele tinha logo que acabar com aquilo. Não apenas com a sua relação (quase inexistente) com a poderosa bruxa, mas com tudo. O fim daquela história tinha que chegar. E logo.

Ele abriu os olhos e fitou por alguns segundos o corpo frágil largado sobre o chão E então abandonou o quarto.

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Oi!

Bem, o capítulo está entregue. Espero que tenham gostado.

Gostaria realmente de agradecer à Marine e à Akari-chan. Sem o apoio de vocês eu provavelmente não teria conseguido chegar até o capítulo quinze. Afinal, quinze capítulos é muita coisa. Nesse monte de palavras, eu coloquei os meus pensamentos, os meus sentimentos, as minhas emoções.

Estou um pouco sentimental, eu sei. Mas é que...Sei lá. A cada capítulo a minha dificuldade para escrever vai ficando maior. Por isso, realmente não sei quando o capítulo dezesseis vai chegar. Pra falar a verdade, não tenho a menor idéia nem do que vou escrever. Mas podem ter certeza de que eu não vou desistir! Terminar essa fanfic virou um desafio que eu espero vencer.

Lady Macbeth