Capítulo 18 - Derrota

No canto mais escuro e escondido do estádio estava sentado um estranho e jovem casal. Embora fosse possível sentir a confiança que um tinha no outro, não parecia haver qualquer laço ligando-os, fosse ele de amor, sangue ou amizade.

O garoto não olhava para a luta. Para ele o resultado era óbvio. O único resultado possível.

Um sorriso cruel formou-se em seus lábios, e ele voltou suas atenções para o casal que estivera observando alguns instantes antes.

Eles tinham mudado. E muito. Estavam quase irreconhecíveis. O jovem chinês segurava possessiva, mas respeitosamente o pulso da garota, sem um toque da timidez que garotos como ele costumavam sentir ao redor de garotas. Observava atentamente a luta, apreensivo e irritado, mas o contato com a pele macia e avermelhada dela parecia acalmá-lo. Como se ela fosse tudo de que ele precisasse para viver.

E a garota...Bem, Liberté tinha crescido, amadurecido e se tornado digna de seu nome. Não era mais uma garota tímida e delicada, mas uma jovem cuja força e rebeldia emanavam de seu corpo, sua mente e sua alma. E ainda assim ela conseguia confiar plenamente no jovem ao seu lado, como se ela pertencesse a ele, e ele a ela. Presa, mas ao mesmo tempo livre, Liberté tinha escapado dele para sempre, tornando-se alguém fora do normal e completamente além de sua compreensão.

Hao resolveu abandonar pensamentos tão perturbadores para prestar atenção à luta, como a garota ao seu lado.

Anna, é claro, sabia para quem Hao estivera olhando. Para uma das poucas pessoas que realmente despertavam seu interesse. A garota que fora seu passado e que, de alguma forma, tinha um papel no seu futuro.

Mas isso era problema dele. O que a preocupava agora era o rumo que a luta estava tomando. Ela tinha certeza de que tal rumo tinha a ver com o sinistro sorriso nos lábios do garoto ao seu lado.

- O que você fez, Hao? – disse ela, com a voz cheia de raiva e suspeita, apesar da face inexpressiva. O sorriso de Hao alargou-se ainda mais, e ele respondeu calmamente, mas de um jeito que fez os pêlos na nuca da garota de arrepiarem.

- Você realmente quer saber? Então eu vou te contar.

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Liberté contorceu-se horrorizada em sua cadeira.

Aquilo não podia estar acontecendo. Impossível.

Yoh, em quem ela depositava tanta confiança, estava sendo derrotado. Ela mal podia sentir a energia dele, de tão fraca que estava. E quanto a Lyserg e Ryu...Bem, eles estavam num estado pior ainda.

Aquelas três...Algo estava errado. Elas não eram xamãs normais. Não podiam ser. Havia alguma coisa por trás daquilo. E ela daria tudo para saber o que era.

- Ren...Você está entendendo o que está acontecendo? – disse ela, com a voz fraca, vendo Lyserg ser esmagado contra o chão pelo espírito de uma delas, um enorme monstro de terra, pela milésima vez.

- A única coisa que estou entendendo é que eles estão levando uma surra. E não é como se eles fossem fracos. Elas é que são...Fortes demais.

Lágrimas escaparam dos olhos da garota enquanto Yoh caía mais uma vez no chão. Ela quase podia ouvir o barulho da pele se rasgando, dos ossos se quebrando.

- Alguém, por favor...Pare com isso. Por favor...

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Yoh levantou-se rapidamente, limpando displicentemente o sangue que escorria pelo canto da sua boca. Alguma coisa estava errada. Eles estavam atacando com todas as suas forças, mas nenhum dos golpes parecia atingir as três beldades que eram suas adversárias. E enquanto a energia deles desaparecia cada vez mais rápido, a delas parecia crescer mais e mais. Na verdade, a energia que elas liberavam era tão forte que, se eles chegassem muito perto, seriam destruídos. Parecia que não tinha jeito. Daquela vez as coisas não iam terminar bem.

Lyserg e Ryu caíram ao seu lado, ainda mais feridos e exaustos que Yoh.

- Alguma coisa...Não está certa. Isso não é normal. Ninguém pode ser tão forte assim. – disse Lyserg, com sua voz fina e enfraquecida.

- Talvez se nós três atacarmos uma de cada vez... – disse Ryu, esperançoso.

- Não. – disse Lyserg, triste – Impossível, não vai adiantar. Elas estão mais fortes do que antes...E nós estamos mil vezes mais fracos. Não tem como ganhar.

- Mas não podemos desistir. – disse Yoh, muito calmo.

- De qualquer forma, foi um prazer lutar com vocês. – disse Lyserg.

Juntando toda a força dentro dele, Lyserg correu até as mulheres. Yoh estava certo. Eles não podiam desistir. Talvez...Se ele entrasse no campo de energia delas e conseguisse ferir alguma delas...As chances deles aumentariam.

A energia que emanava do corpo delas era tão forte que parecia formar uma parede. E a parede estava cada vez mais próxima. Lyserg entrou e lançou o seu ataque, sentindo toda a energia de seu corpo se esvair.

Ele não pensava mais na dor, na derrota ou na sua vingança. Tudo em que ele conseguia pensar era numa garota de doces olhos da cor do sangue e cabelos brancos como a neve mais pura. O que será que ela pensaria se soubesse que ele tinha se ido assim?

Ele só esperava que ela não ficasse muito desapontada. Afinal, de alguma forma, ele estava lutando não por sua vingança, ou por seus ideais. Ele estava lutando por tudo o que havia de belo e bom no mundo. Ele estava lutando por ela.

Exausto, Lyserg caiu no chão.

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Hao sorriu de contentamento ao acabar de falar, enquanto Anna olhou para ele num misto de terror, admiração, aversão, surpresa e ódio. Enquanto a garota tentava assimilar o que ele tinha acabado de dizer, Hao voltou a observar Liberté. Sentiu mais contentamento ainda ao ver que a incompreensível e corajosa jovem tinha voltado a ser a frágil e medrosa menina que ele conhecera. Seu rosto estava escondido nas mangas do sobretudo do jovem chinês, mas pelo jeito que seus ombros sacudiam, ele sabia que ela estava chorando.

Sentindo a jovem ao seu lado voltar a si, ele olhou para ela carinhosamente, esperando a resposta dura que viria em seguida.

- Você é diabólico...Como pode pensar assim? Como pode usar a morte de outras pessoas para despertar a força dentro do Yoh? Como você pode fazer algo assim? – gritou ela. As pessoas ao seu redor, no entanto, não olharam. Estavam todas assustadas demais com o poder das três mulheres para dizer qualquer coisa, ou simplesmente reparar na jovem revoltada.

- Anna, acalme-se. – disse ele, com sua voz suave e gentil, tentando segurar as mãos da garota, que se afastou dele bruscamente para aproximar-se mais uma vez e acertar um tapa no rosto do xamã, que olhou para ela surpreso.

- Não encoste em mim seu louco...Você é sujo, é perverso, Hao.

Sem dizer mais nada, Anna Kyôyama pôs-se a correr até a arena, desenrolando seu colar de contas azuis do pescoço. Ela tinha que fazer alguma coisa. Qualquer coisa que estivesse em seu poder. Xamãs lutavam contra xamãs. Bruxas lutavam contra bruxas.

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Oi!

Capítulo pequeno esse, não? Mas também, olha a rapidez com que eu atualizei! Hoje estou decididamente inspirada.

Acho que esse capítulo saiu meio confuso. Muitas emoções intensas, uma luta tratada de forma bastante indireta, um título que só saiu depois de eu pensar bastante. Mas não venham dizer que não é certo derrotar o herói do anime. Simplesmente esperem o próximo capítulo.

Ai, como eu estava com saudade do meu Hao lindo! Mas acho que nesse capítulo falei bastante dele, não é mesmo? Até porque eu ando com o péssimo hábito de só falar do Yoh, da Anna, do Ren, da Liberté e, muito de vez em quando, do Lyserg.

Me baseei em duas idéias para fazer esse capítulo. A primeira, Yoh não podia vencer sozinho. Quero dizer...Ele precisaria de uma ajudinha de alguém. A segunda idéia custou a sair. Eu queria que essa luta fosse diferente, que as três adversárias do Yoh não fossem xamãs. Eu pensei em fazer com que elas fossem deusas, espíritos, sei lá. Mas no fim eu tive essa idéia. Assim, elas viraram bruxas, e a corajosa Anna tentará detê-las! Será que ela consegue? E o pobre Lyserg? Espero que não esteja morto, afinal, eu já matei alguém nessa fanfic. Morte demais cansa, né?

Voltando ao assunto, eu imaginei (vamos fingir, certo?) que itakos (bruxas) bem treinadas são muito mais fortes que xamãs preguiçosos que só treinam de vez em nunca. ^^

Então, acho que faz sentido fazer os pobrezinhos sofrerem um pouco, não é?

Agradeço a todos vocês que têm me mandado reviews. Ando meio sem tempo para respondê-las, mas juro que leio e aprecio todas.

Continuem mandando, por favor!

Lady Macbeth