"Em Busca do Sonho"

Capítulo 1:

Não demorou muito, o sol brilhou iluminando meu quarto, eu tinha dormido com a janela aberta. Eu me espreguicei, e me arrumei para descer. Estava planejando mesmo levar a idéia de sair de casa adiante. Desci as escadas e caminhei até a cozinha. Barulho de pratos e um cheiro de café exalava de lá. Entrei, sentei na mesa, e engoli a seco ainda me decidindo em como falar. Eu tomei café, logo depois, comecei a conversa. Você, leitor, obviamente já discutiu com seus pais e sabe que isso é algo demorado e chato.. Então vou poupá-lo da discussão. Eu gostava muito dos meus pais, e isso tornava a decisão de sair de casa bem difícil. De inicio, ambos se irritaram falando que treinar era algo sem futuro, que eu não tinha maturidade para sair de casa, que eu ia voltar dentro de alguns dias, e blá blá blá. Mas eu já estava amadurecendo o plano a meses, e eles tinham consciência disso e já estavam se acostumando com a idéia. A conversa estava para terminar, e pairou o silêncio. Eles disseram então que eu poderia ir, mas que tomasse cuidado. Que sempre podia ligar, contar com eles, voltar pra casa. Minha mãe me deu uma quantia em dinheiro, e um cartão, falando que sempre eu teria uma quantia de mesada, para me manter, e podia retirar isso em qualquer Centro Pokémon. Eu estava triste por partir de lá, mas feliz por chegar ao mundo. Depois de mais conversa, tudo ficou decidido.. Confesso que chorei. Mas, esse era um preço a se pagar.. Era um domingo, eu ia partir na segunda. Subi para o meu quarto, e arrumei a minhas coisas. Havia ganhado algumas coisas de meus pais, uma mochila que eles haviam comprado para caso eu fosse mesmo viajar, um aparelinho que servia de celular, rádio, mapa, entre outras coisas, a chave de casa, e um albinho de fotos. Terminei minha bagagem e dormi cedo naquele dia. Planejava levantar antes do nascer do sol.

Então, o despertador tocou! Olhei mais uma vez para o meu quarto, desci aquelas escadas, que pareciam gigantescas, e saí pelas portas dos fundos; não queria ver os meus pais novamente, com medo de amarelar; pois era sem dúvida a coisa mais difícil que eu já havia feito, sair de casa daquela maneira. Olhei o corredor do prédio, fui até o elevador e saí. Ignorei as pessoas da portaria, apenas pedi para abrirem a porta. Saí do prédio. Dei uma ultima olhada para trás e senti um nó na garganta.. Então virei para frente; era algo bom, tinha que pensar em coisas boas! Tentei não pensar mais no lado negativo de tudo aquilo, engoli meu medo e fui andando pelas ruas.. A cidade de Celadon era muito serena de manhã. Poucos carros, poucas pessoas. Vi então um Ratatta correndo ao longe e percebi; era isso! Eu precisava arranjar um pokémon, afinal de contas, não pode se tornar um treinador sem ter um pokémon! Como não havia nenhum treinador em minha família, eu não tinha a mínima idéia do que eu tinha que fazer. Foi então que me surgiu a idéia de ir para o Ginásio local! Eu sempre passava por lá, porque, por sorte, morava no centro da cidade! Acho que dava para chegar lá a pé! Decidi botar o pé na estrada e seguir viagem, enquanto o sol ficava mais alto no céu, iluminando meu caminho.

Andei um bom pedaço, na minha velocidade de Slugma, mas enfim cheguei ao Ginásio. Nossa, nunca me pareceu que ele fosse tão longe! Estava vazio, afinal ainda era cedo. Nunca tinha parado para o olhar, era enorme! Parecia que tinha uma floresta lá dentro, protegida por uma enorme estufa, com umas janelas gigantescas de vidro! Enfim uma garota chegou e ficou me olhando, me vendo abobada diante do ginásio.

"Olá.." – Ela disse baixinho – "Você precisa de algo?"

"Eh.. E.. Oi! Tudo bom? Sabe, eu nunca vim aqui não, ao menos não parei, quer dizer, eu só passei mesmo e eu.. Eu.. eu quero treinar pokémons, sabe?" – Eu disse totalmente sem jeito.

Ela me encarou, me mediu.. Todas as suas roupas eram de marca, e era obvio que ela devia ser e uma família de classe alta da cidade.. Devia ter uns dez anos..

"Ah sim, claro. Mas você não está um pouco velha para iniciar uma jornada não?"

"Ahn. Não. Sim. Sei lá. Eu só sei que quero viajar por aí, conhecer o mundo! Você.. Faz isso ou quer fazer?" Ela riu.

"Oh não, não. Todo o treinamento necessário que preciso está aqui no ginásio, meu pais pagam o melhor curso de Pokémon que dão aqui. Viajar, é para os mais desafortunados. De qualquer forma, o ginásio está aberto. Se quiser, pode entrar, e ver se consegue algo.." – Ela sorriu – "Mas não conte com isso.." - Então, ela se virou e foi embora andando para dentro do ginásio.

Eu estava tão nervosa de como me colocar que nem me ofendi com aquela garotinha de nariz em pé. Arrumei minha roupa, que não era má, mas era apenas calça jeans, tênis e uma blusa qualquer. Aquele lugar parecia que exigia uma roupa um tanto mais fina. Tomei coragem e andei em direção a porta, que rangeu, fazendo todos do lugar olharem para mim, e começarem, prontamente, a fofocar. Aquelas garotas eram todas mais velhas que eu, diferente da menininha, e isso me deixava mais nervosa. Cheguei ao balcão e olhei para a moça que estava lá. Ela lixava as unhas, parou, e olhou para mim.

"Olá.." – Disse ela sem cerimônia – "Veio desafiar o ginásio?"

"Não senhora!" – A garota devia ter uns dezesseis anos, e o meu "senhora" arrancou risada de todos, me deixando com mais vergonha – "E-eu.. só.. Eu quero me tornar treinadora! Sempre quis! E eu quero um pokémon inicial! Só pra começar! E umas noções básicas!"

"Ah sim.." – Ela disse, pegando um papel – "Temos cursos de um mês, até quatro anos. Com vários preços, é claro! Qual deseja cursar?"

Eu parei para pensar, e disse: "Não é isso! Eu só.. Quero um pokémon pra começar, sabe? Só isso.."

Ela levantou a sobrancelha: "Não quer um curso, ahn? Bom, eu não resolvo casos assim.. Espera um pouco."

Ela virou para trás, e perguntou para a garota ao seu lado: "A Erika está aí?"

"Ah não, ela vai voltar dentro de um três dias de viagem.."

"Claro." – E ela voltou a falar comigo – "Olha, vá a uma sala no final do corredor do segundo andar, e converse com quem tiver lá. É uma sala de treinamento para quem tem mais experiência, talvez as estagiárias te arranjem algo interessante.." – Ela sorriu e piscou o olho – "Boa sorte!"

"Obrigada.." – Eu respondi.

Fui ao elevador, e subi até o segundo andar. Tinha um corredorzinho estreito, cercado de estufas com diferentes tipos de pokémon de planta. Se eu não estivesse tão nervosa, provavelmente ia parar para tentar brincar com algum. Enfim, cheguei até a sala. Abri a porta, me sentia bem mais confiante, e estava sorrindo. Havia apenas uma garota lá, me aproximei e disse;

"Oi! Tudo bem?? Eu quero começar uma jornada pokémon! Eu vim aqui pegar o meu primeiro pokémon! Pode me ajudar??"

Ela levantou, fez uma cara muito simpática e disse; "Não!"

"M-Mas.. porque?"

"Ora, o pessoal desse ginásio está muito folgado. Olha pra você, pirralinha, nem devia estar treinando, agora nem é de nossa academia e quer que eu te dê um pokémon assim, de mãos beijadas? Deixe de ser folgada, vai trabalhar ou pedir esmola, aí você pode pagar algum curso de segunda categoria.. O que está fazendo aqui? Dê o fora? Se manda, não vai ter nada para você! Xô!" – E ela me empurrou pra fora e bateu a porta na minha cara.

Eu estava arrasada, meus olhos se enchiam de lágrimas. Acabou tudo assim, eu era um fracasso, eu era tudo de ruim, e eu ia voltar pra casa em menos de um dia. Foi aí que ouvi um barulho, e olhei para o lado e vi a mesma garotinha de dez anos que havia visto na porta do ginásio. Ia me esculachar, provavelmente, e tudo o que eu queria era ouvir mais. Então levantei, para sair daquele lugar. Então ela disse;

"Eu ouvi tudo.. Sinto muito. Minha irmã é realmente muito chata.."

"Ahn? Mas.. Eu achei que você..."

"Ah, esquece o que eu falei lá na porta, viu? Estava parecendo minha irmã. Ela também me trata assim, aliás ela faz isso com todo mundo, aquela bobona. Vamos, pára de chorar! A Erika não gosta dela. Mas ninguém fala que ela é estúpida assim porque ela é uma das melhores treinadoras do ginásio.. Ahh.. O orgulho da minha mãe. Por culpa dela ainda não sou treinadora, ela sempre não deixa eu pegar um pokémon para mim.."

Eu enxuguei as lágrimas e melhorei de ânimo: "Ora, mas você estuda aqui! Em breve vai ter sua chance!"

"Olha, pra falar a verdade o que eu quero é viajar! Mas, mamãe diz que eu sou muito fina para isso. Bah. Toma essa pokébola, se minha mana ver que eu roubei um pokémon daqui ela me mata! Quando descobrirem vão tirar ele de mim mesmo! Vamos, pegue, e dê o fora!"

Eu peguei a pokébola e sorri – "Nossa, valeu, mesmo, mas tem certeza que eu..." – Nesse instante a porta ameaçou abrir –

"Vai embora! Se não vai estragar tudo! Anda! Leva eles!

Então eu saí correndo, nem peguei o elevador, fui pelas escadas mesmo. Desci, agradeci a moça da recepção, e saí do ginásio. Me afastei um pouco e parei em uma praça próxima ao ginásio. Eu estava radiante de alegria! Nem deu tempo de perguntar o nome da garota! Mas porque ela havia dito "Leva eles?" se só cabia um pokémon por pokébola? Eu examinava a bolinha, quando decidi que deveria averiguar o que havia nela.. Joguei no chão, e ela se abriu; uma luz brilhante e vermelha saiu de dentro dela, se dividiu em luzes menores e pararam enfim de brilhar. Me deparei então com vários ovinhos saltitantes que cantarolavam felizes o seu nome; Exeggute. Um Exeggute? Ahn? Como cuida de um Exeggute? Sorri para eles e chamei-os de volta, pensando onde poderia achar treinadores que pudessem me ajudar. Então levei um susto quando notei um cara todo de preto, com um quepe preto ocultando o rosto, ao meu lado. Ele disse numa voz rouca;

"Está sozinha, treinadora"

"Ah.. Sim.. Não! Isso não é da sua conta!" – Eu disse, tentando me afastar –

"Relaxa.." – Ele disse – "Só queria saber se você quer ir a um lugar cheio de treinadores legais, como você, essa noite.. Pode aprender muito.." – Ele sorriu.

"Não sei não! Eu não confio!"

"Tudo bem.. Não precisa confiar em mim.. Vai ter uma festa bacana nesse lugar.." – Disse, entregando um papelzinho - "Vai ter muita gente maneira, bebida por conta do dono da casa, e muitos pokémons.. Se tiver medo, não vá, mas treinadores de verdade tem que encarar desafios.."

"Não tenho medo!" – Eu disse, pegando o papel –

"Beleza. Não falte, vai ser um estouro.." E ele saiu correndo e sumiu por entre as casas.

O papel estava sujo e amassado. Olhei bem o lugar. Tinha escrito o nome.. "Rocket's Game Corner".. A tal festa era a noite.. Resolvi ir. Levantei, arrumei a roupa, peguei meu primeiro pokémon e saí andando pela rua, era longe, e eu ia demorar para chegar lá.. Mas antes disso, precisava comer algo!

...