"Em Busca do Sonho"

Capítulo 2:

O dia enfim se demonstrou bonito, aquecendo todos com um sol grandioso, que parecia ter afastado todas as nuvens do céu. Eu cantarolava pela rua, e só uma coisa me passava pela mente.. "Caaaaara, eu.. eu tinha.. um Pokémon!!!" Isso mesmo! Que máximo, eu não tinha a mínima idéia do que fazia um exeggute, mas o fato é que eu tinha um exeggute! O que um treinador pokémon fazia? Hmm.. Claro! Eu tinha que desafiar os ginásios! Mas aquele ginásio de Celadon com certeza me deixou com medo.. E eu não tinha a mínima idéia de nada.. Precisava de alguém para me ajudar! Aquele refúgio de patricinhas não ia me servir de muita coisa, pensava.. De repente meu devaneio foi quebrado por um cheiro gostoso.. Que eu não sentia.. desde ontem! Ahh, eu saí de casa sem tomar café! Estava faminta! Eu parei em um restaurante meia boca qualquer, sentei no banco do bar e pedi Cheese Burger e um Refrí.. Eu não me agüentei e comecei a girar radiante na cadeira, e só parei quando percebi que algumas pessoas me olhavam feio. Comi o lanche, mas mal senti o gosto.. Queria qualquer lugar para poder conhecer melhor aquela criatura que eu tinha nas mãos.. Peguei um sorvete e paguei, saindo do lugar.

Celadon era uma das maiores metrópoles do continente, e eu ia demorar vários dias para atravessá-la a pé... Ao meu passo rápido, possivelmente poderiam ser semanas. Isso me deprimiu, e resolvi pegar um ônibus. Eu decidi ir a tal festa estranha que tinha sido convidada.. Que mal poderia haver em uma festa de treinadores? Eu estava cansada, não era do meu feitio levantar cedo, e muito menos andar muito.. Eu encostei a cabeça na janela e adormeci por uma meia hora. Eu sonhei que eu era uma treinadora muito forte, famosa e poderosa, e que ia dar uma entrevista para a Rádio Pokémon! Apareceria junto de celebridades, como o Professor Carvalho! E eu ainda podia ter meu próprio ginásio! O meu sonho estaria perfeito, se uma mão gélida não me despertasse de repente..

"Acorda, garota. Fim da linha, chegamos ao ponto final." – Dizia o cobrador –

Eu fiquei encabulada e me desculpei, saindo do ônibus rapidamente. Ao abrir a porta, eu senti um frio na espinha; estava na parte mais obscura da cidade.

Muros pichados, pessoas mau-encaradas pela rua. Haviam mendigos, me encarando.. E eu me arrependi amargamente de estar naquele lugar. Alguns me estendiam as mãos pedindo esmola, outros me observavam. Se no ginásio eu me martirizava por não estar com belas e finas roupas de marca, agora eu dava graças a Deus por não tê-las.

As ruas eram estreitas e simples, e eu ouvia o grito das crianças brincando na rua. Era um choque muito grande ver, de um lado a Celadon fina, com grandes prédios e firmas, e de outro lado, bairros necessitados e pessoas carentes. Havia uma pracinha, bem diferente da bela praça próxima ao Ginásio. Suas arvores eram tristes, e metade dos seus bancos estavam quebrados. Um rapaz solitário jogava migalhas de pão para os Pidgeys, que as devoravam com voracidade. Eu fui em um lado mais iluminado da praça, lado que alguns carros passavam, vagarosos.. Me sentia melhor ali. Olhei para a grama seca e joguei minha pokébola, de onde saiu o meu mais novo amigo.. Radiante e com empolgação! Até que um deles olhou para mim, e chamou a atenção dos companheiros. Eles me encararam, com cara de dúvida.

"Olá, amiguinhos! Tudo bem? Eu sou a nova treinadora de vocês!!" – Eu disse –

Eles continuaram me observando.

"Hm. Eu sei que a casa de vocês é no ginásio.. E que provavelmente eles treinaram vocês para isso.. Mas é que aconteceu um acidente e.. Bem! Vocês vão ficar comigo! O que acham??"

E ele pareciam imóveis, apenas piscando os olhos e me medindo. Eu suspirei profundamente..

"Vocês.. Me entendem? Alô?"

E... Nada. Aquilo começava a me irritar e eu começava a sentir um cansaço no corpo todo..

"Por favor! Vamos.. Conversar! Eu posso ajudar vocês a serem mais fortes! N- Não que vocês não sejam fortes! Mas.. Mas.. que.." – Eu dei um grande bocejo –

Eu sentia um sono bem forte, e meu corpo pesava uma tonelada. Manter as pálpebras abertas parecia cada vez mais um desafio.. Até que por fim, eu recostei a cabeça nas costas de minha mão, e no banco, começando um gostoso cochilo...

"Ei, ei, acorda, acorda!" – Me disse uma voz, enquanto me chacoalhava – "Volte a si, anda!"

Eu abri os olhos e vi uma imagem turva, que foi se juntando até aparecer um garoto.. Eu levei um susto e pulei, olhando para os lados. Eu reconheci que era o garoto que estava alimentando os Pidgeys naquela praça.

"O que vocês estava fazendo?? Não sabe que não se pode olhar constantemente para os olhos de um Exeggute? Eles.. Eles podem te hipnotizar!!"

"Ahn? Que? Como isso aconteceu?" - Eu coçava os olhos – "Onde está meu pokémonzinho??"

"O seu "pokémonzinho" tentou te deixar totalmente hipnotizada.. Por sorte eu vi, e peguei ele.. Aqui!" – Ele me entregou a pokéball – "Tomei a liberdade de pegar sua pokéball e guardar ele.. E de te acordar também!"

"Ah.. Valeu.. Você é treinador?"

"Éé! Sim! Mais ou menos! Eu trabalho com pokémons! Eu levo coisas de Centro Pokémon para Centro Pokémon! Minha tia de terceiro grau é uma Joy!" – Ele sorriu – "Por isso eu sei muito de pokémons. Muito mesmo!"

"Claro.." – Eu observava o garoto. Ele era mais velho que eu, sem dúvida. Gesticulava ao falar.. Era engraçado. E parecia meio convencido.. Eu levantei ainda meio tonta do banco e virei para ele - "Pode me chamar de Ixa! E você? Como posso te chamar?"

"Ahh.. Meus amigos me chamam de Tiko! Hehehe!"

Eu sorri. Era estranho, o apelido dele, porque ele era bem alto.. E o nome não combinava nadinha..

"Nossa, olha a hora! Eu preciso ir! Eu tô atrasado! A gente se vê! Tchauzinho!" – E ele saiu correndo –

A praça estava calma, e parei para abrir o negócio que meus pais haviam arranjado. Não parecia um objeto para treinadores, parecia mais um aparelho para acampar. Não tinha nome, nem marca, era bem estranho.. Resolvi chamar o objeto carinhosamente de Tró, o Troço. Eu fucei um pouco nos mapas que tinha lá, mas nenhum parecia me servir de ajuda. Então, guardei-o na mala.. Deveria ser útil alguma hora. Enrolei mais um tempo, fazendo nada, olhando para as nuvens e andando pelo lugar.. Os becos pareciam me assustar menos.. Até o sol começar a se pôr. Aí sim, deu medo. Resolvi achar logo o lugar da tal festa, e saí me localizando até achar a rua, graças aos mapas que havia olhado no Tró, tempos atrás. Foi útil, até mais rápido do que eu pensei!

O lugar era todo brilhante e repleto de luzes. Duas pokéballs gigantescas, cobertas de lâmpadas coloridas giravam no alto.. As luzes vermelhas deixavam o lugar meio assustador, e pessoas de todos os tipos entravam e saiam do enorme Cassino. Eram criaturas estranhas, gente da noite. Bebiam e gargalhavam, espalhafatosos, berrando e apostando em besteiras.. O meu coração batia forte, e eu estava morrendo de medo.. Eu nunca tinha ido a um lugar assim! Eu ia dar o fora, o quanto antes! Até que vi um cara, com o mesmo uniforme preto do que havia me dado o convite, rodeado de crianças da minha idade. Ele me chamou a atenção e pegou o meu braço.. Eu não ouvia a voz dele por causa do volume da música que tocava no cassino. Ele apertava um braço com força, talvez sentindo que eu queria fugir.

Então a gente se aproximou da porta, e entramos.. Eu nunca tinha ido a uma casa daquelas! Muito menos, em uma festa.. Festa de treinadores? Sei. Pessoas apostavam em vários jogos estranhos para mim, jogavam dados, carteados e berravam muito. Ele nos guiava para um canto na sala, até parar em um pôster, que anunciava algo sem muita importância.. Então apertou um ponto saliente no pôster, fazendo todos ouvirem o barulho de uma porta rangendo e abrindo. Depois disso, descemos uma escada meio escondida no canto direito do Cassino.. E havia, atrás da dispensa que deveria estar lá, uma porta, aberta.

O homem parecia irritado, e empurrou todos lá para baixo.. Aquela festa parecia cada vez mais estranha. Devia ter umas vinte crianças, contando comigo.. E nenhum de nós parecia muito a vontade naquele lugar.. Até acabarmos de descer as escadas. Lá em baixo, tinham balões de todas as cores, luzes, e uma mesa lotada de salgadinhos, doces e bolos de todo o tipo, que os garotos, famintos, começaram a atacar. Algo lá não me agradava nem um pouco, e eu fiquei junto com mais cinco crianças que decidiram não se aproximar do banquete..

O lugar, se assemelhava a um depósito. Caixas empilhadas e portas nos rodeavam, de todos os cantos, e as paredes metálicas davam um aspecto de fortaleza ao ambiente..

"Isso não é bom, não é bom.. Eu não devia ter vindo aqui hoje!" – Disse um dos garotos –

"Eu tô com medo, muito medo, temos que sair daqui!!" – Dizia uma garotinha atrás de mim –

Os murmúrios continuavam, mas eu permanecia em silêncio, matutando um jeito de sair de lá. A porta que nós havíamos entrado, tinha se fechado.. E o lugar não possuía uma mísera janela.

Não demorou muito tempo, as crianças que haviam comido as guloseimas ficaram insonadas, e uma a uma se recostaram e dormiram nos cantos.. Estava silêncio, quando ouvimos os passos de alguém..

"Hahaha! Muito bem, parabéns!" – Disse um cara estranho, que apareceu do nada – "Eu esperava mesmo que algumas crianças não fossem idiotas a ponto de se empanturrar de comida estranha!" – O homem nos observava, e na sua roupa, toda preta, havia um enorme "R" em vermelho –

"Eles.. mo.. morreram?" – Disse a menininha que estava atrás de mim –

"Ah. Não se preocupe.. Estão só dormindo. Mas, mesmo se não estivessem, o que importa é que você está viva, não é mesmo? Hahaha!" – Ele nos observava – "Podem me chamar de Cart, crianças. Bem vindos a uma das maiores bases da maior das organizações do mundo! Equipe Rocket!"

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