TODOS TÊM SEUS SEGREDOS
Capítulo 1
O Reencontro
Harry estava cansado dos Durleys. Aguardava com ansiedade o dia em que iria morar com Sirius, seu padrinho. Isto, porém, só aconteceria quando ele limpasse seu nome, o que parecia perto de acontecer. Na última coruja de seu padrinho, ele parecia bem animado. Talvez não demorasse muito, pelo menos era o que Harry pedia todas as noites.
Duda estava cada vez mais mimado, apesar de ter quase 17 anos. Continuava balofo, intratável e chorão. Harry tinha quase a mesma idade, mas crescera longe de ser mimado. Enquanto todas as vontades de Duda eram rapidamente realizadas, as de Harry eram continuamente desprezadas.
Com certeza Tio Válter e Tia Petúnia contavam o tempo que restava até Harry sair de sua casa, assim como o garoto, que se pudesse faria um feitiço para o tempo andar mais rápido. Sua vida naquela casa melhorara consideravelmente após seus tios saberem que o padrinho do garoto era um "perigoso" fugitivo de Askaban. Harry fizera questão de informar que ele era um "assassino". Assustadissímos, desde que Hagrid fizera crescer um rabo em Duda, começaram a tratar Harry um pouco melhor, mas sem esconder o desprezo que sentiam pela "anormalidade" que ele era.
Sentia muita falta dos amigos. As corujas de Rony estavam no mínimo estranhas, suas mensagens eram vagas e, pode-se chamar de cartas constrangidas. Rony sempre fora muito econômico em suas palavras, detestava escrever. Porém, ele agora escrevia pouco, e não dizia nada. As sempre curtas cartas do amigo traziam informações precisas sobre suas férias, sem detalhes, mas com clareza. Suas cartas atuais eram diferentes, nada falavam sobre as férias ou o que estava fazendo. Harry perguntara-lhe na última coruja que lhe mandara, se Rony estava chateado com ele, mas ainda não recebera a resposta, a qual aguardava com ansiedade. Rony era seu melhor amigo, mas tiveram problemas nos anos anteriores. Lembrava-se do quarto ano em que a briga fora séria, sendo que ficaram semanas sem se falar...Não queria isto de novo.
Hermione também estava diferente em suas mensagens. A garota nunca era econômica nas palavras. Sempre perguntava muito e gostava de descrever detalhadamente suas férias. Não que ele achasse isto ruim, muito pelo contrário, passava horas distraído, viajando junto com sua amiga. Agora suas corujas eram sempre breves e lacônicas. Dava a impressão de que ela não tinha, ou não queria, o que contar-lhe. Estava bem apreensivo com isto. Gostava demais dos dois e não queria que nada estragasse sua amizade.
Parecia que eles estavam escondendo algo de Harry. Não sabia se seria a mesma coisa, ou se cada um tinha algo para esconder. Chegou a suspeitar que estavam namorando e não queriam lhe contar. Logo colocou este pensamento de lado. Estranhamente, ele preferia ignorar este pensamento, que lhe causava um sensação dolorosa de perda e solidão. Porque doía pensar nos dois juntos? Eram os três amigos inseparáveis, e Harry sempre soube que Rony tinha uma queda por Hermione.
Querendo ser sincero consigo mesmo, Harry teve que admitir que no ano anterior sentira uma sensação esquisita vendo Rony e Hermione juntos, parecia que estava com ciúmes... Não entendia porquê, talvez porque os dois fossem seus melhores amigos. Só que sentia que não era por isto. Certa vez, teve vontade de tirar o braço de Rony dos ombros de Mione, tendo de se segurar para não agir. Não sabia o que se passava. Numa ocasião comentara estes pensamentos com Sirius, mas para sua decepção o padrinho nada esclarecera, apenas complicara.
"- Então você não entende porque tem estes sentimentos esquisitos, hein, Harry? – O padrinho lhe perguntara com ar de zombaria.
- Não, não entendo o que está acontecendo Sirius. O que você acha?
- O que "VOCÊ" acha, Harry?
- Ora, se achasse alguma coisa não lhe perguntaria, não é mesmo?
- Será que não são ciúmes?
- Ciúmes de Rony? Tá louco?
- Não, ciúmes de Mione, seu bobo!
- Claro que não! – Harry ficou nervoso com as perguntas. – Deve ser outra coisa, mas o que pode ser Sirius?
- Você sabe a resposta Harry, apenas é cego demais, ou tolo demais, para enxergá-la."
Harry ainda se sentia meio irritado com a resposta do padrinho. Ele não ajudara em nada, e ainda ficara com um sorrisinho meio torto nos lábios. Ora, ciúmes de Hermione? Ele estava mesmo maluco... Ela era sua amiga, sua melhor amiga. Gostava muito dela, mas com certeza não do jeito que o padrinho insinuara! Por que ele lhe chamara de cego? Tinha ido atrás de respostas e só encontrara mais dúvidas. Algo estava acontecendo e seus dois melhores amigos não queriam que ele soubesse. Isso estava deixando-o transtornado. Até Duda notara que Harry estava meio tristonho e zoava dele direto. As férias estavam sendo as piores de sua vida, só comparável as do 2º ano, quando não recebeu nenhuma coruja de seus amigos, porque Dobby as interceptou.
Rony olhava pensativo pela janela. Estava preocupado, coisa rara de acontecer. Sua expressão séria e concentrada traia a seriedade de seus pensamentos. Sua vida virara uma confusão nestas férias. Estava dividido entre a felicidade de amar e ser amado, e o desespero de ter traído seu melhor amigo. Sabia que teria que contar um dia a Harry, mas a última coisa que queria era magoar seu melhor amigo, coisa que tinha certeza que faria.
Droga, como as coisas saíram do controle dessa maneira?
Estar namorando era fantástico. Suspirou ao lembrar-se da garota pela qual se apaixonara perdidamente e sem querer. A garota a quem, sabia disso há tempos, Harry amava. Saber disso estava ofuscando o brilho do primeiro amor e do primeiro namoro. Ela estava inquieta com o segredo, não sabia porque tinham que se esconder. Não iria lhe contar dos sentimentos do amigo, não por medo, mas por respeito a ele.
Notou na última coruja que recebeu do amigo, onde ele perguntou se Rony estava chateado com ele, que Harry devia estar estranhando suas cartas. Não era para menos, como contar das férias, se a coisa mais maravilhosa que lhe acontecera fora o encontro acidental em Hogsmead? E isso, definitivamente, não poderia contar. Com certeza, Harry é que ficaria chateado com Rony, mas é como todos sempre dizem: não se manda no coração.
Tinha que tomar uma atitude, não podia perder a amizade de Harry, que era a coisa que mais valorizava em sua vida. Teve uma idéia. O melhor seria preparar Harry para a notícia aos poucos, sondando para ver se os sentimentos do amigo permaneciam os mesmos. Tendo tempo para provar a cada dia sua amizade com ele.
Rapidamente saiu do quarto e rumou para a cozinha.
- Mamãe, quero lhe pedir uma coisa! – falou de sopetão.
- Ora, ora, se não é um garoto estranho...Onde você tem andado Rony Weasley, que quase não lhe vemos? - Molly Weasley pôs as mãos na generosa cintura sorrindo.
- Estava no meu quarto... – ele falou constrangido.
- Você está com algum problema?
- Não! Eu queria saber se posso convidar Harry para passar o resto das férias aqui em casa? – perguntou já sabendo a resposta: sua família praticamente adotara Harry.
- Claro, estamos com muitas saudades dele! - respondeu a Sra. Weasley alegremente.- Estava até estranhando ele não vir! Ah, convide Hermione também.
- Vou fazer isto já!
Rapidamente Rony escreveu duas corujas para os amigos, exigindo que viessem passar o resto das férias na Toca. Observou-as decolar e sorriu. No final tudo daria certo, pelo menos era o que desejava fervorosamente.
Hermione recebeu a coruja de Rony e ficou pensativa. Sabia que o convite viria. Todos os anos passavam as últimas semanas das férias na Toca. Só que este ano algo mudara definitivamente. Sentia-se inquieta desde que descobrira que seus sentimentos por Harry extrapolavam a amizade. Sempre sentiu-se atraída por ele, como uma mariposa pela luz. Queria estar perto, ajudá-lo, apoiá-lo... Começou a perceber que não era apenas amizade, quando no quarto ano Rita Skeeter escrevera uma artigo dizendo que eram namorados. Lembrava-se da sensação horrível de Harry negando veementemente qualquer relacionamento mais íntimo entre eles. Aquilo machucara e abrira seu olhos. Começou a perceber que gostava realmente dele.
Tinha um medo constante e absurdo de trair-se quando estava próxima dele. Não queria que ele soubesse, seria humilhante. Tinha absoluta certeza de que ele nunca pensara nela dessa forma.
O problema é que estava cada vez mais difícil disfarçar. Gina já descobrira seu segredo. Talvez por estar amando sabia reconhecer o sentimento nos outros. Ela e Collin começaram a namorar no último ano. Foi bom vê-la esquecer a paixonite por Harry.
Harry estaria lá, tinha certeza. Ele sempre ia para a Toca!
Sentia tantas saudades dele, que chegava a doer. Estava dividia entre a vontade imensa de vê-lo, estar perto, e o medo de ser descoberta. Não sabia o que fazer. Recusando, ofenderia Rony, que não queria de modo algum, além de despertar a curiosidade sobre o motivo de sua recusa, o que era extremamente perigoso. Aceitando, corria o risco de se delatar, mas veria Harry, ouviria sua voz, enfim, estaria com ele do único modo possível.
Decidiu aceitar, prometendo a si mesma que tomaria todo cuidado do mundo para que ninguém percebesse o que se passava com ela. Harry não poderia descobrir. Conhecia ele e sabia que ficaria constrangido, talvez até a namorasse para não vê-la sofrer. Ele era assim.
Além dele, temia principalmente os gêmeos Fred e Jorge, que nunca lhe dariam paz se soubessem. Zoariam dela pela eternidade, sem contar Rony, que não perderia a oportunidade de brincar com o assunto.
Hesitante, enviou uma coruja a Rony aceitando o convite e avisando quando chegaria. Observou a coruja se afastar, já se arrependendo da decisão tomada. Era tarde demais. Agora teria de ser forte.
Harry recebeu com muita alegria a coruja de Rony. Aguardava o convite com ansiedade. Adorava ficar com os Weasley, eles o tratavam como alguém da família, algo que ele nunca tivera antes. Só de pensar que ficaria livre de Duda, Tio Válter e Tia Petúnia, seu coração acelerava. Estar livre da perseguição constante que sofria deles era um bálsamo. Isto é, se Tio Válter deixasse. Teria que pedir com muito jeito. Desceu rapidamente as escadas.
- Tio Valter!
- Que é pirralho? - Valter, que estava sentado rigidamente na poltrona lendo o jornal, perguntou com as sobrancelhas erguidas. Estava sempre pronto para negar qualquer coisa a Harry. Moleque anormal. Ele e sua raça envergonhavam a família. Além disto, estava furioso. Queria viajar com Petúnia e Duda, ganhara um bônus na loja e queria muito viajar. Mas o que fazer com Harry? Certamente não iria levá-lo.
- Tio Valter, meu amigo Rony me convidou para passar o restante das férias em sua casa. Posso ir? – Harry procurou não demonstrar sua imensa vontade de ir. Se tio Valter soubesse o quanto queria, não deixaria, só pelo prazer de estragar suas férias.
- São aqueles malucos da lareira? – Valter Dursley estava verdadeiramente dividido. Era a chance de se livrar do moleque e viajar, mas percebia o quanto Harry queria ir e gostava de negar-lhe as coisas que mais queria. Sentiria imenso prazer em dizer um redondo não.
- São os Wesley!- Harry procurou não falar secamente, mas não conseguiu se segurar. – O senhor deixando, o Sr. Wesley me pegara amanhã, mas não pela lareira.
- Hummm!- Tio Valter pensou mais um pouco. Sonhara com aquele viagem, e Duda teria um ataque se não fosse. "Ô pestinha!", pensou carinhosamente. Seria melhor não perdê-la, ainda mais por aquela aberração. – Pode ir, mas sem lareira!
Rapidamente Harry subiu a seu quarto e respondeu a Rony aceitando. Veria seu melhor amigo e tentaria descobrir o que estava acontecendo. Estariam juntos, com certeza Hermione também iria, não sabia porque, mas isto lhe dava uma imensa alegria.
A toca continuava exatamente como Harry lembrava: torta. Sentia-se em casa junto aos Weasley. Todos o tratavam com muito carinho. A porta se abriu e Rony correu e o abraçou.
- Cara, senti sua falta! – sem jeito Rony, olhou para o amigo.- Estava difícil junto aos Dursley? - perguntou num tom cúmplice.
- Terrível. Como estão suas férias?
- Iguais. – ele disse cabisbaixo. Harry achou o tom estranho, mas estava feliz demais para analisar aquilo. - Os gêmeos estão impossíveis. Querem testar seus produtos em todos. Mamães está quase tendo um treco!
- Harry, querido! Entre... entre...- A Sra. Weasley deu-lhe um abraço carinhoso e o empurrou para dentro de casa.
Logo toda a família veio abraçar o amigo. Gina, Fred, Jorge e Percy. Carlinhos e Gui trabalhavam fora do país. Harry gostou de se sentir querido. Era ótimo estar onde as pessoas o queriam. Depois de comer pouco e conversar muito, Rony levou Harry para seu quarto.
- Você não respondeu a pergunta que lhe fiz em minha carta, Rony. – Harry perguntou encarando o amigo.
- Pergunta? Que pergunta? – Ron se fez de bobo, mas sabia exatamente qual era a pergunta, só não queria ter que responder.
- Você está chateado comigo? Fiz algo que te chateou? – ele perguntou num tom direto e olhou nos olhos do amigo.
- Não sei de onde você tira estas idéias...é claro que não estou chateado. Pensa, se eu estivesse chateado, eu te convidaria para vir aqui? – ele deu um sorriso sincero. Afinal, não estava mentindo. Não estava chateado com ele, apenas o traindo.
- Não, acho que não...- Harry não estava convencido. Rony não olhava em seus olhos e o amigo parecia desconfortável. Algo estava incomodando Rony...Não insistiria, decidiu, uma hora o amigo lhe contaria. Tinha certeza. - Hermione virá?
- Ela disse que sim. – Rony estava muito feliz com a mudança de assunto - Deve chegar logo.
- Você a encontrou nas férias?
- Não, por que?
- As cartas dela estão mais estranhas que as suas....- ele foi até a janela. – Tão curtas, tão....vazias.
- Para mim elas estão normais. Imensas e cheias de perguntas se estou estudando, etc. - Rony observou Harry - Como assim "estranhas"?
- Parece que ela está escondendo algo de mim. Algo que não quer que eu saiba...- Rony observou as reações de Harry atentamente, mas o amigo parecia surpreso. – Parece distante, entende?
- Distante? Como assim? – Rony não estava entendendo aonde o amigo queria chegar.
- Parece que não saber sobre o que escrever...
- Acho que você está imaginando coisas, Harry! Está se tornando paranóico como a Mione.
Os dois riram só de imaginar que se tornariam tão responsáveis e preocupados com as regras como a amiga. Viviam zoando dela, afinal Mione não gostava de quebrar regras e evitava agir fora dos regulamentos, enquanto os dois não se preocupavam nem um pouco com isto, viviam quebrando as regras. Hermione geralmente os acompanhava, mas com a consciência pesadíssima.
Apenas dois dias depois Mione chegou. Harry já estava se preocupando com a demora da amiga. Estava ansioso com sua chegada. Sempre olhando a entrada da casa, não querendo se afastar demais da casa em excursões com os amigos, etc. Qualquer movimento o fazia pular, mas finalmente a amiga chegou, causando-lhe um imenso alívio. Correu e a abraçou com força e alegria.
Hermione sentia-se tonta nos braços de Harry. Como sentira sua falta! Sonhava sempre com ele, com seus beijos, que nunca receberia. Sugava neste abraço todo o carinho que ele tinha a lhe oferecer. Não era como gostaria, mas era o que teria.
Droga, seria uma tortura passar as férias ao lado dele, sabendo que ele sempre seria apenas seu amigo.
