Capítulo 9
A Detenção
Harry largou Hermione de sopetão. A professora Serena, com um copo fumegante na mão, os olhava surpresa e reprovadora. Tentou falar, a voz não saiu. Percebeu que Hermione estava paralisada com o susto. Estavam bem enrascados: fora da cama depois do horário permitido e se beijando, ou melhor, se agarrando.
Bem, estou esperando!
Professora, não é o que você está pensando! – Harry estava totalmente atrapalhado.
Como sabe o que estou pensando, Potter? – A frieza da voz dela o assustou. – Lê mentes?
Nós não estávamos namorando...- Na hora em que as palavras saíram de sua boca, deu-se conta de seu erro. Agora, além da professora o olhar reprovadora, Hermione o fitava magoada.
Hermione, o que você me diz? – Ela dirigiu a Mione um olhar devastador.
Harry já disse! Não estávamos namorando...- a mágoa se fez clara. "Ele está me usando!" Ela queria muito gritar, mas as palavras não saíram.
Mione...- ele queria conversar, explicar.
Quieto, Potter. Granger está falando, não percebeu? – A professora falou de maneira irônica. – Continue, por favor, Hermione...- Ele notou que ela não falava com frieza com Hermione, ao contrário, parecia quase carinhosa.
Professora, não sei o que estávamos fazendo! Pelo que Harry falou, sei apenas que não estávamos "namorando"...- Hermione se afastou de Harry. Ele sentiu que não apenas seu corpo se afastou, mas sua alma também. "Eu e minha boca grande.", pensou desanimado.
Preciso resolver o que fazer, mas...- Ela olhou para o copo em suas mãos. – Preciso encontrar o professor Lupin! – Ela olhou dividida. –Vocês sabem aonde ele está?
Não havia ninguém aqui quando chegamos! – Hermione respondeu rapidamente.
Serena? – Lupin se aproximou da porta, vindo do corredor.
Professor Lupin...- Harry percebeu que a voz dela tornou-se, não sabia como, mais fria e cortante. – Seu remédio! – Ela estendeu a mão, mas não o olhou. Os garotos perceberam que ele ficou pálido, extremamente pálido.
Remédio? – Ele estava pasmo.
Severo não pôde trazer, eu trouxe. – Ela o olhou, um olhar irônico. – Algum problema?
Não, nenhum problema! Obrigado. – Ele tirou o copo das mãos dela e olhou os garotos. – O que está acontecendo aqui? Alguma reunião?
Granger e Potter estão fora da cama e, o mais grave, em atitudes impróprias. Ainda não explicaram o que estavam fazendo. – Ela o encarou com dureza. – Vá tomar o seu remédio! Eu cuidarei deles.
Professora, são jovens...Não precisamos ser tão duros! Já fomos jovens e cometemos nossos erros. – Para Harry parecia que ele não estava falando apenas dele e Hermione. Havia algo mais...
Eu sei que jovens cometem erros! Graves erros! – Ela parecia gelada e olhou para Lupin com mágoa. – Como disse, vá tomar o seu remédio! Cuido disto.
Lupin pareceu incerto em sair. Olhou para Harry e Hermione bem afastados um do outro. Percebeu que os lábios dela estavam meio inchados e arqueou interrogativamente uma sobrancelha para Harry. Hermione percebeu que as mãos da professora tremiam levemente e ela evitava olhar para o professor novamente. Notou também uma tensão entre os dois, mas não soube definir o que era. Ele pareceu se decidir e saiu com o copo na mão.
Ele não pode deixar de tomar o remédio. – Serena falou para si.
Nós sabemos do problema dele, professora. – Harry falou corajosamente.
Sabem? Ele contou? – Ela estava completamente surpresa.
Mione descobriu e ele nos revelou tudo depois. – Ele percebeu um brilho diferente nos olhos dela, interpretou como preocupação. – Não se preocupe, ele é nosso amigo.
Amigo? – A voz dela tinha um tom duro, irônico. –Não viemos discutir o professor Lupin. O que faço com vocês?
Professora...
Nós precisamos conversar Srta. Granger! - ela disse olhando nos olhos de Mione. – Potter, pode ir para o seu dormitório. Amanhã cumprirão detenção. – Ele hesitou em sair. Queria falar com Hermione. – Agora! Amanhã conversarei com você!
Harry tentou indicar para Hermione que precisava falar com ela, mas ela evitou seu olhar. Olhou para a professora e ao ver seu olhar interrogativo decidiu sair, se ficasse poderia complicar ainda mais as coisas.
Hermione, precisamos conversar. – Serena disse com gentileza. – O que estava acontecendo aqui?
Professora, estou tão confusa! Eu amo Harry há tanto tempo...- Ela parou embaraçada.
Pode falar comigo, Hermione. Será um segredo nosso, está bem?
Ele sempre me viu como amiga, somente pareceu me ver diferente. Ontem quase nos beijamos, e hoje...Bem, a senhora viu o que aconteceu.
Eu vi, com certeza. Você tem certeza do que sente por ele? Não será apenas um paixonite de adolescente?
Professora, uma paixonite não duraria quatro anos, duraria? – ela olhou segura para a professora. – Eu amo desde que o conheci. No começo não reconheci o sentimento, mas desde o último ano, tudo se tornou muito claro para mim: eu o amo de verdade! Pode ser que a senhora ache que seu seja jovem demais para reconhecer o verdadeiro amor, mas esta certeza vem do fundo da minha alma!
Eu entendo! Não duvido de seus sentimentos, Hermione. Eu sei o que é esta certeza, posso lhe dizer que não há idade para senti-los.
A senhora já amou?
Muito! Com todo o meu coração. – Havia dor na voz da professora.
Desculpe, mas a senhora parece...tão...- Ela escolheu a palavra com cuidado. - ...fria...
É uma conseqüência de quando se ama como você está amando, Hermione.
A senhora não foi feliz! – Hermione constatou com tristeza.
Eu fui muito feliz, mas era ilusão. Você sabe o que é ser lançada do céu ao inferno? Foi assim comigo. – ela olhou com firmeza para a garota a sua frente. Seu olhar tinha tanta dor, que Hermione sentiu vontade de chorar. – Ele nunca me amou, apenas me usou...Seu maior segredo eu só soube muito tempo depois. Ele não me amou, e eu o amei tanto!
Por que está me contando sua história, professora?
Porque não quero que repita meus erros! Tenha certeza antes de entregar seu coração e seu corpo...
Creio que para o coração é um pouco tarde! Já é dele.
Descubra o que ele sente por você.
Como?
Não acredite apenas em palavras! Palavras são facilmente esquecidas depois de ditas...Você o conhece bem, sempre foi sua amiga. Você saberá se sua boca e seu olhar dizem a verdade.
Obrigada, Professora Serena.
Nada do que foi dito deverá ser comentado, entendeu Srta. Granger?
Sim. Só mais uma pergunta, posso?
Posso não responder?
Se achar melhor...Você ainda ama este homem? – Nenhuma das duas percebeu o homem que estava para entrar na sala. Lupin havia percebido que a conversa era pessoal e resolveu se afastar, parou ao ouvir a pergunta de Hermione. Sabia de quem falavam.
Eu o odeio com todo o meu ser! – Lupin sentiu sua alma se perder. Afastou-se rápida e silenciosamente, antes que fosse percebido. – Eu não acredito mais no amor!
Esse homem...é o Professor Lupin, não é, professora?
Hermione, você só tinha mais uma pergunta, esqueceu? Vá para seu dormitório agora. Amanhã determinarei a detenção de vocês! – A garota concordou com um gesto e dirigiu-se para a porta. – Só mais uma coisa...pense sobre o que lhe contei, veja se está disposta a apostar seu futuro nisto.
Harry dirigiu-se a dormitório ansioso. Encrencara-se com a professora e com Hermione, tudo ao mesmo tempo. Estava bem próximo a torre quando viu Lupin parado. Aproximou-se do professor.
O que houve Harry?
Ela nos pegou quanto estávamos nos beijando! – Ele estava constrangido.
Onde está Hermione?
A megera quis falar com ela.
Megera? Serena? – O professor parecia confuso.
Tenho que ir, professor. Se ela me pegar aqui, estarei mais ferrado ainda.
Os dois se despediram. Lupin resolveu conversar com Serena sobre a detenção, o que acabou não fazendo por ouvir demais. Harry entrou na torre e resolveu esperar Mione voltar. Estava preocupado. Queria muito conversar com a garota. Infelizmente, ficaria frustrado novamente. A garota retornou muito mais tarde naquela noite, encontrou harry dormindo no sofá, mas resolveu não acorda-lo. Estava magoada, e a conversa com a professora lhe fez refletir sobre o que estava acontecendo. Ele foi muito rápido em dizer que "não estávamos namorando". O que estavam fazendo, então?
Deitada em sua cama, ela pensava. Tinha certeza do que sentia por ele, como afirmara para a professora, ainda mais depois daquele beijo devastador. Só que a dúvida se instalara. Professora Serena fez com que visse que este sentimento poderia ser unilateral... Não conseguia aceitar que um sentimento tão intenso não fosse correspondido. A decepção da professora fora muito grande, ela disse que não acreditava mais no amor.
Harry! Harry! – Rony sacudia o amigo com força. – O que você está fazendo aqui?
Rony...?- Ele olhou para os lados e percebeu que era dia claro. Que horas Hermione voltara? Porque não o acordara? – Você viu a Hermione?
Não. Porque?
Nada, nada...- Harry levantou-se, olhou para o relógio e correu para se aprontar para o café.
Não viu Hermione na mesa da Grifinória naquela manhã. Onde ela andaria? Será que estava cumprindo detenção? Ele queria muito explicar para ela que a amava, que não estava brincando com ela. Então, lhe ocorreu: era ela que o estava evitando. Ele a esperara, ela não o acordara. Ela era que não queria falar com ele. Será que ela estava brincando com ele? Precisava falar com alguém. Rony não servia, decidiu. A experiência romântica do amigo resumia-se a Cho. Sirius! Iria falar com ele, após as aulas. Talvez conseguisse falar com Hermione antes, e não precisasse ir até lá.
Realmente, ele conseguiu falar com Mione, foi no intervalo entre as aulas.
Hermione, eu preciso falar com você!
Eu sei... – O olhar dela estava banhado de tristeza. – Só que agora não é o momento. Preciso pensar. A professora Serena...ela me disse coisas que me fizeram pensar. Nos falamos a noite. Pode ser?
Pode...
Não tinha jeito. Teria que falar com o padrinho. No final da tarde foi até o escritório dele, lá estava Lupin com ele. Sirius o abraçou e mandou que sentasse. Cruzou as mãos no tampo da mesa e sorriu.
Bem, o que o traz aqui?
Estou encrencado...
Isto, Dumbledore já me falou... – O rosto de Sirius ficou sério – O que você estava fazendo fora da cama? O que você e Hermione estão bisbilhotando?
Ele não falou nada? – Harry parecia ansioso.
Ele me disse que Serena os encontrou andando nos corredores fora da hora. Ela mandou que voltassem para o dormitório e resolveu dar uma detenção para vocês. Aliás, você vai bater o recorde de detenções, se continuar assim. – Ele viu o garoto ficar corado. – Tem algo mais? Você estava lá Lupin, algo mais?
Acho que sim, mas cabe a Harry dizer...
A megera nos pegou quando estávamos nos beijando...
Harry! – Sirius sorriu, tentou disfarçar, mas sorriu. Depois ficou confuso. – Megera? Serena?
Sim, ele agora acha que Serena é uma megera... – Lupin olhava para o chão. – Porque acha isto, Harry?
Ela nos olhou de um jeito...tão duro. Parecia tão reprovadora...E tem mais, ela conversou com Mione separadamente. Não sei o que disse, mas Mione está diferente.
Custo a acreditar que Serena seja uma megera.- Sirius olhou desconfiado para Remo. – Quando a conheci era uma garota doce e alegre, muito bem humorada, sempre rindo...ALGUÉM deve tê-la magoado. Não acha, Remo? – A voz dele era dura e irônica.
Não sei o que fazer, Sirius. – Harry falou colocando as mãos na cabeça, num gesto de impotência.
Como foi o beijo?
Foi...- Ele corou violentamente. Estava constrangido. - ...devastador!
Ora, ora...você está se saindo bem , garoto.
Harry, posso lhe dar um conselho?- Lupin interferiu.
Claro, professor.
Não a magoe, de jeito nenhum. Você tem certeza do que sente?
Tenho. Ainda mais depois de beija-la.
Então, vá em frente. Tome cuidado para não feri-la...Mesmo sem querer...
Professor... – Harry percebeu que havia uma dor muito profunda em sua voz. Seus olhos estavam opacos, perdidos.
Harry, não podemos mais conversar. Você deve se apresentar a serena para cumprir sua detenção. – O garoto levantou-se e Lupin o imitou. – Remo, você fica. Temos que esclarecer algumas coisas...
O garoto saiu e dirigiu-se a sala de poções, que ficava nas masmorras. Encontrou Hermione já com a professora. As duas preparavam uma poção. Bateu na porta e se fez ver.
Potter! Pensei que tivesse esquecido...- Ela sorriu. Harry espantou-se. Ela parecia mais simpática, menos rígida. – Vocês cumprirão sua detenção me ajudando. Estava explicando para Hermione que estou desenvolvendo um remédio definitivo para o professor Lupin.
Achei que a senhora não gostasse dele...- Ele falou hesitante. Ainda não aprendera a guardar seus pensamentos.
Granger também perguntou-se isto...- Ela pareceu pensar. – Nós temos uma história, realmente. Não somos sequer amigos, hoje. Só que não posso deixar de ajuda-lo, se tenho conhecimentos para isto. Prometi a Dumbledore que faria o impossível. Jamais trairia a confiança dele.
Por que vocês não são sequer amigos? – Hermione não pode reter a curiosidade, apesar de já desconfiar da resposta.
Prefiro não falar sobre isto! – Ela suspirou, olhou para Hermione e retomou o ar sério. – Severo e eu temos trabalho bastante numa nova receita. Receio que não esteja ainda na forma definitiva...
O professor Severo a tem ajudado? Para curar Lupin? – O tom de Harry era de absoluta descrença.
Severo é um grande amigo, Potter. Não gostaria que vocês desmerecessem ele.
Desculpe...
Harry olhou disfarçadamente para Hermione, que também estranhou a defesa da professora. Snape sempre fora cruel para com eles, não conseguiam entender alguém ser amigo dele de livre e espontânea vontade.
Eles trabalharam bastante na poção. Alguns ingredientes estavm a mão, outros não tinham. Serena disse para não se preocuparem, ela sabia aonde achar os ingredientes restantes.
Eles estão na floresta proibida...Terei de colhe-los como manda a tradição. Alguns durante o dia, mas três deles colherei em outro momento. – Olhou com curiosidade para os dois. Vocês estão dispensados. Agradeço muito a ajuda, apesar da detenção. Hermione vá na frente, gostaria de falar com Potter em particular.
A garota parou na porta indecisa, mas por fim se afastou. Harry olhou desconfiado para a professora. O que ela poderia querer lhe falar? Estava curioso e, ao mesmo tempo, temeroso.
Bem, eu preciso conversar com você sobre o que aconteceu ontem a noite, Harry. – Ela olhou dentro de seus olhos e ele teve a sensação que ela leria sua alma. – Quando eu cheguei, voces doius estavam se beijando, um tanto ousadamente, para dizer o mínimo...
Professora...Eu...
Potter, não use sua amiga.
Eu não estou usando Mione!
Não? O que você sente por ela?
Eu...eu a amo.
Você tem certeza? – A voz dela era irônica. – É fácil falar...Você sabe o que é amor?
Acho que sei.
Harry, o amor pode nos levar ao céu, e no minuto seguinte nos lançar no inferno. A dor que ele pode nos causar, vai nos acompanhar pelo resta da vida...Não quero que você ou sua amiga sofrem isto. Tenham certeza antes...
Professor, o que sinto quando estou perto dela...Não sei dizer, parece que estou sem ar, minhas pernas tremem, não consigo pensar...- Ele parecia angustiado.
Harry, - ela colocou as mãos em seus ombros- não está confundindo atração física com amor? Muitas pessoas o fazem...Algumas se aproveitam de outras que as amam de verdade. Você tem certeza?
Professora...Não quero só o corpo dela...Eu gosto da maneira como ela pensa, de como é responsável, corajosa, leal, amiga...Enfim, eu quero o pacote todo. – Ele parou para pensar. – A senhora acha que ela não sente o mesmo por mim, não é isso?
Ah, eu não sei dizer. Você deve conversar com ela, esclareça as coisas. Diga tudo o que me disse, Harry. – Ela deu um sorriso triste. – Amor de verdade acontece uma vez só na vida...
Eu acho que o que sinto é tão imenso, que não pode ser unilateral...
Não se iluda, já vi grandes amores não serem correspondidos e jogados no lixo...- Ele achou que viu lágrimas no olhar da professora.
Ainda aqui, Potter? – A voz áspera de Snape interrompeu a conversa.
Severo, esqueci as horas! – Ela levantou-se apressada.
Vou lhe acompanhar! – Ele sorriu. Harry não quis acreditar: ele realmente sorrira. – eu achei que você ia mesmo esquecer do mundo...
Os três saíram juntos das masmorras. Harry viu os dois professores se afastarem conversando. Snape parecia mais suave perto dela. Lembrou-se de que tinha assuntos a resolver com Hermione e dirigiu-se rápido a Torre da Grifinória. Para sua decepção, ela não estava esperando-o.
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