Shunrei conhece o Dragão
Na delegacia, o inspetor a conduz até uma sala e pede para que ela aguarde, pois o investigador viria interrogá-la. Ele sai e a deixa sozinha na sala. Shunrei se senta e começa olhar para a sala a sua volta. Sobre a mesa, estavam alguns papéis. Aquela era uma sala grande e bem organizada. As paredes eram brancas, tinha um computador, um telefone e no canto esquerdo, uma pequena estante. Havia ainda um porta-retratos caído em cima da mesa. Ela o pegou e virou-o para si, para que pudesse ver a foto. Era uma fotografia de um casal. Uma bela jovem de cabelos castanhos-acobreados e olhos azuis-claros. Ela sorria ternamente, não parecia ter mais de dezoito anos. O rapaz era tremendamente bonito. Shunrei nunca tinha visto um homem tão bonito quanto ele. Ele tinha longos cabelos negros cumpridos e soltos, eram muito brilhantes. Seus olhos azuis-escuros eram luminosos e tinha um sorriso encantador nos lábios. Aquele rapaz devia ter uns vinte e dois anos. Aquele casal parecia estar muito feliz. Pareciam se amar muito. Ela os invejou um pouco. Gostaria muito de viver um amor de verdade e não se sentir mais tão sozinha. Estava tão distraída, que não ouviu quando a porta foi aberta e um homem entrou, fechando a porta atrás de si. Caminhou em direção a ela e arrancou o retrato de suas mãos, guardando-o violentamente em uma das gavetas e em seguida, fechou-a bruscamente. Estava frente a frente com Shunrei que o olhava espantada. Ele tinha as mãos apoiadas sobre a mesa e a olhava repressoramente.
- Quem lhe deu permissão para mexer nas minhas coisas? – perguntou irritado.
- Perdoe-me, eu não quis... – aquele não poderia ser o rapaz daquela foto. As feições eram as mesmas, seus cabelos presos em um baixo rabo-de-cavalo também eram os mesmos da foto, negros, brilhantes e lisos... onde estava aquele brilho de seus olhos? Aquele sorriso encantador? Onde estava aquela alegria que ele expressava naquela foto?
- Foi a senhorita, quem testemunhou ao assassinato? – perguntou.
- Eu... – ele a interrompeu mais uma vez.
- Conte-me tudo o que aconteceu, com detalhes.
- Devia ser mais de meia-noite, eu estava passando pelo beco...
- O que a senhorita fazia andando sozinha naquele beco, àquela hora? – perguntou com uma sobrancelha levantada.
- Eu estava voltando do trabalho, como daqui a alguns dias é Natal, o movimento na loja aumentou e por isso tenho que ficar até mais tarde.
- Tudo bem, continue – disse ele, tomando nota das informações que ela lhe dava.
- Bem, eu estava passando pelo beco, quando ouvi um barulho que me pareceu um tiro. Escondi-me dentro de uma cabine telefônica...
- Por quê não ligou para polícia nesse momento? – perguntou ele sem olhar para ela.
- Eu estava assustada, não tinha certeza do que tinha ouvido. Eu não sabia se tinha alguém ali ou não...
- Sim, está bem. Continue! – disse olhando para ela. Por um instante, ela se perdeu naqueles belos olhos azuis-escuros, mas tão sem emoção - Continue! – disse ele tirando-a de seu transe.
- Ah sim! Desculpe. Esperei alguns minutos e vendo que não acontecia mais nada, saí de meu "esconderijo". Foi quando vi um vulto passar correndo alguns metros a minha frente. Apavorada, corri o mais rápido que pude. Então, tropecei em algo e caí. Olhei para ver o que era e pude constatar que se tratava de um homem. Estava com o corpo todo coberto de sangue. Sem pensar direito, voltei à cabine telefônica e chamei a polícia. – disse concluindo o seu relato.
- A senhorita...?
- Shunrei Chang. Achei que não perguntaria nunca – respondeu.
- Desculpe, eu sou Shiryu Suiyama. Senhorita Chang... – ela o interrompeu.
- Pode me chamar apenas de Shunrei.
- Tudo bem... Shunrei, você poderia me descrever a pessoa que viu? – perguntou mecanicamente.
- Eu não consegui vê-lo. Estava muito escuro. Eu só vi um vulto.
- Mas... era homem ou mulher?
- Eu não sei dizer, estava muito escuro. Foi tudo muito rápido, eu não consegui ver a pessoa.
- Mas é só isso o que tem a dizer?!! - disse num tom ríspido.
- DESCULPE-ME, MAS EU NÃO SABIA QUE ACONTECERIA UM HOMICÍDIO. SE EU SOUBESSE TERIA LEVADO UMA LANTERNA, UMA MÁQUINA FOTOGRÁFICA OU UMA FILAMDORA PARA O BECO!!! - disse furiosa com o tom de voz que ele usou com ela.
- EI, BAIXE A VOZ! VOCÊ NÃO ESTÁ EM SUA CASA! – diz ele não gostando da forma com que ela lhe respondeu.
- E QUEM VOCÊ PENSA QUE É?!! DESDE DE O PRIMEIRO INSTANTE VOCÊ ME TRATOU COMO SE EU FOSSE INFERIOR A VOCÊ! VOCÊ NÃO É MELHOR DO QUE EU!! - A essa altura, os dois já estavam de pé. E Shiryu a encarava furiosamente. De repente se pegou pensando em como ela era bonita, mas afastou esse pensamento imediatamente - Quem era o homem que foi assassinado? – perguntou, mudando de assunto para que pudesse controlar a raiva que estava sentindo - Que homem irritante
- Era o milionário Mutsumasa Kido – disse ele em tom mais calmo - Acho que já terminamos. Você já pode ir, mas não deve sair da cidade. Talvez precisemos de sua ajuda.
- Precisar de mim pra quê?!! Se você mesmo deu a entender que meu relato foi inútil!! Mas pode ficar tranqüilo, eu não sairei da cidade. Não teria para onde ir mesmo – disse ela se retirando da sala dele. Shiryu percebeu a tristeza na voz dela quando lhe disse a última frase. Uma tristeza que se assemelhava a dele. Ela mexeu com ele, assim como ele mexeu com ela. Mas, no que ele estava pensando, era seu trabalho. Não se permitiria envolver-se com ela de forma alguma.
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Continua...
Como eu já tinha postado o capítulo anterior... resolvi postar este também. Espero que gostem.
