Cap. 8 – Beleza

Saga e Shaka tinham chegado à aldeia há algumas horas. Não se registara mais nenhum incidente. O Último Medo devia esperar a ocasião certa de atacar. Saga retirara-se para o interior do Templo, onde os Monges lhe trataram das feridas, e Shaka foi fazer uma ablução num pequenino altar perto de um poço, no pátio exterior, um pouco afastado da casa principal e dos anexos onde se arrumavam mantimentos e outras coisas necessárias à manutenção do pequeno santuário local.

Caminhava sem armadura, usando um punjab azul claro, muito fresco e leve, e os seus cabelos ainda estavam húmidos do banho. Chegado ao poço, ouviu uns leves gemidos, que quase pareciam miados de um gatinho pequeno. Apressou-se e começou a andar mais rapidamente para perto de uma densa camada de árvores, cheia de alta vegetação à volta.

E ali, deitada no chão, ensanguentada e ferida, quase moribunda, viu uma adolescente, que não teria mais de treze ou catorze anos. A sua face estava temporariamente desfigurada, cheia de hematomas. Tinha arranhões profundos por todo o corpo, e marcas de pancadas fortes As roupas estavam rasgadas, deixando-a seminua, e entre as suas pernas havia um rio de sangue. - Santo Buda! A jovem tinha sido brutalmente violada e espancada por aqueles malditos, da forma mais cruel que se pudesse imaginar . Shaka sentiu-se dominado pelo ódio, e ficou feliz por ter executado os homens capazes de uma tal atrocidade contra um ser tão frágil. Certamente ninguém tinha dado por ela, julgando-a raptada. Shura e Kamus tinham resgatado vários rapazes e raparigas raptados, a maioria deles ilesos, e os feridos já tinham sido devidamente tratados. Aproximou-se da jovem, mas estava sem palavras, a única coisa que conseguiu dizer foi: - Se queres vingar-te daqueles que te desonraram, segue-me. A pequena conseguiu acenar afirmativamente. Shaka, condoído, pegou nela com extremo cuidado , carinhosamente, e cobriu-a com o manto que usava sobre o punjab. Aflito, correu para junto dos monges. Ela morreria se não fosse assistida com prontidão.

Mal o viram , os monges desataram a chorar, numa incrível manifestação de dor.

- Mas é Lan! A filha adoptiva de Deer Shan! -como? – perguntou Shaka, depositando- a numa enxerga confortável num dos quartos. - Ela foi deixada aqui no Templo por uma viúva muito devota, nossa patrocinadora. Era sobrinha dessa senhora rica, mas não tinha mais família, e a tia estava à beira da morte. Assim, confiou-a a Deer Shan para que a educasse – explicou o monge tristemente, enquanto algumas mulheres e um outro monge, que estudara Medicina, se afadigavam em volta dela, não sem antes fechar a porta. -Era a alegria do nosso Templo, a jovem mais religiosa, boa, linda e pura que se possa imaginar. -lamento muito...não sabia que Deer Shan tinha adoptado uma jovem. Algumas horas depois, as mulheres vieram dizer que Lan se encontrava fora de perigo, e que dormia profundamente, sob o efeito de uma infusão calmante. A partir dali, Shaka não lhe largou mais a cabeceira. Tratava dela dia e noite, o que fez os companheiros estranharem tanta devoção. -é apenas uma adolescente, não me digas que te apaixonaste? – troçou Shura. -Cala-te, eu sinto que devo protege-la, ela tem...um cosmos muito especial. -Não me vais dizer que a queres para tua aprendiza! – exclamou Kamus – Ela é um pouco crescida para isso, não? -Se ela aceitar, porque não? A armadura de Pavão está livre, e creio que ela desenvolverá poder suficiente para usa-lo num tempo recorde. Creio que Athena concordará.