O Dragão se declara
Shunrei ligou o rádio e colocou um de seus Cds preferidos. Deitou-se no sofá e tentou relaxar. De repente uma música a fez pensar em Shiryu. Temia que não o visse mais depois de o caso estar resolvido. Ele sempre disse que a acompanhava por causa do trabalho, que era sua obrigação protegê-la. Agora essa proteção já não era mais necessária, mas ela não queria ficar longe dele. Tudo aconteceu tão de repente, que quando ela se deu conta, já estava perdidamente apaixonada por Shiryu.
When you love someone – You´ll do anything
You'll do all the crazy things that you can't explain
You'll shoot the moon - put out the sun
When you love someone
Quando você ama alguém - você faz qualquer coisa
Você faz loucuras que não consegue explicar
Você alcança a lua - esquece o sol
Quando você ama alguém
A música descrevia perfeitamente seus sentimentos por ele. Quando acordou aquela manhã no hospital, quase não acreditou que fosse ele ali ao seu lado. Ficara tão feliz em ver que ele se preocupava com ela de verdade e não apenas por ser sua obrigação.
You'll deny the truth - believe a lie
There'll be times that you'll believe you can really fly
But your lonely nights - have just begun
When you love someone...
Você nega a verdade - acredita na mentira
Você acredita ser capaz de voar
Mas suas noites só - há pouco começou
Quando você ama alguém ...
Por sua mente passavam imagens de momentos que tivera ao lado de Shiryu. Quando se conheceram; as caminhadas ao lado dele quando ia para casa; quando ele lhe salvou a vida evitando que ela fosse atropelada e é claro... aquele inesquecível beijo que haviam trocado há alguns dias. Ansiava por sentir aquela sensação novamente.
When you love someone - you'll sacrifice
You'd give everything you got and you won't think twice
You'd risk it all - no matter what may come
When you love someone
You'll shoot the moon - put out the sun
When you love someone
Quando você ama alguém - você faz sacrifícios
Você entrega tudo o que conseguiu em pensar duas vezes
Você arrisca tudo - não importa o que aconteça
Quando você ama alguém
Você alcança a lua - esquece o sol
Quando você ama alguém
A música terminou de tocar e nesse instante, Shunrei ouviu a campainha. Levantou-se para atender à porta.
- Quem será? - pensou. Abriu a porta e teve uma agradável surpresa. - Shiryu?!!! – não conseguiu conter sua felicidade. Abriu um sorriso que fez o coração do rapaz disparar. Shunrei ficou maravilhada ao ver os cabelos de Shiryu, que pela primeira vez estavam soltos, balançando com o vento. Aquela roupa o deixava ainda mais bonito, se é que isso é possível.
- Oi! – sorriu constrangido.
- O que houve? Algo errado, Shiryu? – de repente ela pareceu preocupada - Será que aconteceu alguma coisa para Shiryu ter vindo até aqui?
- Não... – disse desviando os olhos dos dela - Eu só vim ver se estava tudo bem com você... – apoiou o braço no batente da porta, baixando a cabeça e passando a mão pelos cabelos.
- Fico feliz que tenha vindo – ele tornou a olhar para ela ao ouvir essas palavras – Estou bem, sim... não precisava se preocupar.
- Você... não quer dar uma volta comigo? – perguntou olhando diretamente para os olhos dela. O convite surpreendeu-a, mas não pensou duas vezes em aceitá-lo.
- Claro, eu adoraria. Eu já volto – entrou apressadamente em casa e desligou o rádio, voltando em seguida – Pronto.
- O que você foi fazer? – perguntou vendo que ela não trouxera nada.
- Eu fui desligar o rádio... eu estava ouvindo música quando você chegou – explicou Shunrei.
- Ah... e então... vamos?
- Claro – ela viu o carro dele – podemos ir a pé? Caminharmos um pouco...
- Claro, se você quer assim, por mim tudo bem – ela sorriu e começaram a andar lado a lado conversando animadamente. Pela primeira vez, Shiryu parecia descontraído, e isso deixava Shunrei muito feliz. Passaram em frente a uma sorveteria self-service. - Gostaria de tomar um sorvete? – convidou-a.
- Adoraria – respondeu sorrindo. Entraram e preparam seus sorvetes. O de Shunrei era de chocolate, com cobertura de caramelo e calda de chocolate. O de Shiryu era de flocos, não gostava muito de cobertura, colocando apenas a calda de chocolate. Sentaram-se a uma das mesas e conversaram durante um bom tempo.
- Me diga, Shunrei... – estava curioso – Você chegou a desconfiar de Tatsume? Aquele dia na casa de Saori Kido, você ficou apreensiva de repente... Sabia que era ele?
- Não – respondeu ela.
- Mas... então por que ficou tão nervosa aquele dia? – perguntou Shiryu.
- Eu tive um sonho estranho um dia antes de irmos até a casa de Saori – Shunrei começa a falar sobre o sonho que tivera.
- Você nunca me falou de sonho nenhum... – diz Shiryu estranhando o que ela dissera.
- Eu achei que não tivesse importância, que era apenas fantasia minha, medo...
- Mas... como foi esse sonho?
- Bem... eu sonhei que estava naquele beco, estava tudo escuro, eu não conseguia ver absolutamente nada. Estava com medo, esperava por você, mas você não vinha. Eu comecei a ouvir passos, comecei a correr, mas parecia que a pessoa chegava cada vez mais perto. Então essa pessoa apareceu na minha frente, a escuridão não me permitia ver seu rosto, mas eu vi algo reluzir quando ele caminhou em minha direção. Então essa pessoa desapareceu e eu pude ver você, seu rosto apareceu pra mim. Você estava me pedindo ajuda, acho que era porque de alguma forma eu sabia, ou viria a saber quem era o assassino e poderia te ajudar.
- E como você percebeu que era o Tatsume, ou melhor, desconfiou que fosse ele?
- Eu vi, quando ele estava nos servindo, algo reluzir e me chamou a atenção. Eu olhei para ele, e não sei se ele desconfiou de que eu o tinha descoberto, só sei que me olhou de forma estranha, como se quisesse me intimidar.
- Devia ter me falado sobre isso naquele dia... poderíamos ter evitado muita coisa.
- Eu apenas estranhei o olhar dele, mas naquela noite eu tive aquele sonho de novo, só que dessa vez eu conseguia ver o rosto do assassino. Era o rosto de Tatsume. Mesmo achando que era bobagem, eu pretendia te contar sobre isso naquela dia, quando fosse me buscar.
- Foi o medalhão dele, não foi? Que você viu reluzir?
- Foi, sim. Bom, mas isso já passou. Viemos aqui para nos divertir e não para ficar pensando sobre coisas ruins. Aquilo já passou.
- Você tem razão... Então, me fale sobre você...
- O que você quer saber? – perguntou fingindo-se desconfiada.
- Ah... tudo – ela sorriu e ele retribuiu o sorriso. Shunrei contou que tinha ficado órfã e que fora adotada. Esmeralda era filha do casal que a adotou, elas se deram muito bem desde de o início.
- Agora é sua vez... – disse ela comendo um pouco mais de sorvete. Ele desviou os olhos dos dela, seu semblante entristeceu, Shunrei percebeu isso e se sentiu mal, não devia ter perguntado – Desculpe, Shiryu – disse cobrindo a mão dele com a sua. Ao tocá-lo, percebeu que estava trêmulo e sua mão estava gelada – Eu não devia ter perguntado... não precisa responder se não quiser – ele olhou nos olhos dela novamente e sentiu que poderia contar com ela. Ele ergueu a mão na qual ela tocava, segurando a mão dela, levou-a aos lábios e beijou-a delicadamente. Ela se surpreendeu com o gesto dele e estremeceu ao senti-lo beijando sua mão.
- Eu... – baixou os olhos novamente – é muito difícil falar sobre isso, mas eu... – olhou para ela novamente – sinto que devo contar pra você... – ele começou a contar para ela sobre sua vida: sua família e todos os problemas que havia passado. O acidente com seus pais; a morte de Roshi que fora como um segundo pai para ele; e o assassinato de sua irmã, Harumi. Shunrei se surpreendeu em saber que a garota daquele retrato no escritório dele era sua irmã e de como ela tinha morrido. Agora entendia perfeitamente os motivos que Shiryu tinha para ser tão triste e fechado como era. Ele explicou os motivos de seus desentendimentos com Ikki, mas garantiu que já estavam superados, entendera que Ikki não teve culpa do que acontecera, a raiva que ele descarregava em Ikki, era a raiva que sentia dele mesmo, por não ter podido fazer nada por sua irmã. Shunrei percebeu o quanto aquelas lembranças faziam mal a Shiryu, arrependeu-se de ter perguntado.
- Eu sinto muito, Shiryu. Não sabia que...
- Está tudo bem, Shunrei... estou feliz por ter revelado isto a você - Shunrei tratou de mudar de assunto, pois não queria vê-lo triste. Ele já tinha sofrido muito. Começaram a conversar sobre diversos temas e Shunrei pode ver um lado de Shiryu que ela ainda não conhecia, mas que a fez ficar ainda mais apaixonada. Ele era engraçado, inteligente, bem... isso ela já tinha percebido antes, e também muito gentil. Shiryu a olhava, o sorriso dela o hipnotizava. Era a primeira vez que conversavam de forma tão descontraída. Pode perceber o quanto ela era especial e o quanto a amava. Era tão bom estar perto dela. Mas ainda não encontrara coragem para se declarar. Mesmo lembrando-se das palavras dela pouco antes de ficar inconsciente, era muito difícil pra ele, expressar seus sentimentos. Há anos, tudo o que fez fora escondê-los e agora não sabia por onde começar a revelá-los. Lembrava-se de todas as conversas que tivera com Hyoga desde que a conhecera, os conselhos do amigo para que abrisse seu coração para ela. Ele perdera o medo de se entregar às emoções e aos sentimentos que nutria por ela, mas esse medo fora substituído por outro, o medo de não ser correspondido. Eles terminaram o sorvete, e como já estava ficando tarde, Shunrei achou melhor voltar para a casa, Shiryu a acompanhou. Ela estava feliz pelo dia que passara ao lado dele, mas triste por que esse dia tinha chegado ao fim, enquanto Shiryu pensava numa forma de dizer a ela o quanto a amava. Quando eles chegaram a casa dela, Shunrei se despediu dele.
- Tchau, Shiryu – se aproximou dele e beijou-o no rosto. Quando tentou se afastar, Shiryu não resistiu e segurou-a firme, mas gentilmente pela nuca, com a mão esquerda, enquanto a direita segurava a mão dela.
- Shunrei... – ele olhava nos olhos dela intensamente. Ela perdeu o fôlego ao vê-lo tão perto de si. Shiryu sentiu um calor percorrer todo seu corpo. Os rostos deles há apenas alguns centímetros de distância, permitia que sentissem a respiração um do outro. Os olhos dele se desviaram para os lábios entreabertos dela e ele se inclinou para ela – eu te amo... minha Shunrei – murmurou roçando seus lábios nos dela. Ao sentir o leve toque e ouvir as palavras doces que Shiryu lhe havia dito, Shunrei fechou os olhos e seu coração disparou. Sentiu os lábios de Shiryu tocando os seus, beijando-a suavemente. Esperou tanto por aquele momento e quando aconteceu não conseguiu esboçar qualquer reação. Ele se afastou dela, ela abriu os olhos e o viu olhando-a, havia insegurança no olhar dele. Ela não tinha reagido e Shiryu achou que tinha se precipitado – eu... desculp...
- Não sabe como eu sonhei com esse momento – disse interrompendo-o e encostando a testa contra o queixo dele. Shiryu sorriu e tomou o rosto dela em suas mãos, obrigando-a a olhar pra ele. Ela sorria, a felicidade estava estampada em seus olhos. A mesma felicidade que via nos olhos dele – Eu te amo, Shiryu – os olhos dele brilharam. Tornou a se aproximar dela, e tocou os lábios dela com os seus novamente. Só que desta vez, Shunrei correspondeu. Enlaçou-o pelo pescoço, e entreabriu os lábios, permitindo que ele aprofundasse o beijo. Ao senti-la corresponder, Shiryu abraçou-a pela cintura aproximando o corpo dela do seu. As mãos dela deslizaram por sua nuca e se enroscaram em seus longos cabelos negros. O beijo tornando-se cada vez mais apaixonado. Separam-se para recuperar o fôlego. Ele encostou sua testa contra a dela e sorriu. Ela deslizou a mão suavemente pelo rosto dele, sentindo-se imensamente feliz.
- Você me assustou, sabia? – disse ele ainda abraçado a ela – Pensei que aquela sua declaração tivesse sido apenas um delírio...
- Que declaração?! – perguntou surpresa, afastando o rosto do dele, mas ainda o abraçando.
- Como "que declaração"?!! Aquela que você fez pra mim no carro de Ikki, quando... – só de lembrar daquele dia, daqueles momentos de agonia que tinha passado... sentiu um arrepio só de pensar no que poderia ter acontecido a ela. Afastou esses pensamentos, recompondo-se – não se lembra?!!
- Não... eu não me lembro – respondeu sinceramente.
- Puxa! Aquela declaração foi que me deu coragem para vir aqui, falar com você... e você nem se lembra! – disse fingindo-se desapontado.
- Não seja por isso... – disse ela ficando na ponta dos pés e roçando os lábios contra os dele – Eu amo você, Shiryu Suiyama... desde o primeiro instante em que o vi. – ele fechou os olhos, ela sorriu. Ele olhou para ela carinhosamente. Abraçou-a com mais força.
- Mesmo eu a tendo tratado como um animal furioso? – brincou.
- Não, foi antes disso – ele olhou-a com curiosidade – Quando o vi naquele retrato, foi naquele exato momento que me apaixonei por você... Eu te amo.
- Não sabe como é bom ouvir isso – disse beijando-a mais uma vez – Eu também te amo, Shunrei Chang e nunca mais vou deixar você ficar longe de mim.
- E quem disse que eu quero ficar longe de você? Eu ainda não lhe agradeci por ter salvado minha vida... – ele tocou os lábios dela com os dedos, calando-a.
- Foi você quem salvou a minha – acariciou os lábios dela com o polegar – Obrigado! – disse olhando nos olhos dela. Shunrei ficara emocionada com as palavras de Shiryu, sorriu pra ele, que tornou a beijá-la apaixonadamente. Finalmente os dois encontraram a felicidade, depois de tanto sofrimento e infortúnios. Estavam juntos agora, e nada poderia separá-los.
Fim
Gente. A fic chegou ao fim. Obrigada pelos comentários. Vocês foram maravilhosos e me incentivaram muito. Nunca pensei que pudesse fazer amigo pela Internet, mas aconteceu. Muitíssimo obrigada. A música deste capítulo é When you love someone, do Bryan Adams, sou fã do cantor e achei que a música encaixava na história. Eu percebi agora que não coloquei o nome da música que eu usei no capítulo em que Hyoga e Eire ficam juntos, aí vai: a música é Frisson de Tunai, linda também. Vou sentir falta dessa história... gostei muito de escrevê-la. Bom, um beijão a todos e mais uma vez, obrigada. Até a próxima...
