~* ~ Prólogo ~* ~
Ele mudara da água para o vinho em apenas alguns minutos. Sua vida antes, repleta de felicidade, tornara-se sombria e sem sentido. Há oito anos sua vida era perfeita. Alcançara o sucesso profissional tornando-se um dos maiores historiadores do mundo com menos de vinte anos de idade, e encontrara a mulher de sua vida. Pelo menos era isso o que achava na época. Estava perdidamente apaixonado e seu casamento já estava marcado, não cabia em si de tanta felicidade. Mas, sua vida teve uma reviravolta durante a festa de seu vigésimo aniversário. Naquele dia, tudo no qual acreditava, ruiu diante de seus olhos.
Estava se divertindo muito com seus amigos, mas sentiu falta de sua noiva. Ela desaparecera já fazia algum tempo. Desculpando-se com os convidados, ele se retirou para o jardim a fim de procurá-la. Caminhou pelos jardins de sua enorme mansão. Já estava caminhando há alguns minutos e nada de encontrá-la. Acabou encontrando com seus melhores amigos. Estes pareceram apreensivos com a presença dele.
- Ora, vocês estão aí? – disse sorrindo – O que estavam fazendo? – perguntou se aproximando dos amigos.
- Você já tinha saído há algum tempo. Estávamos a sua procura, não é mesmo Fenrir? – disse acotovelando o amigo. Siegfried os encarou, franzindo o cenho. Seus amigos pareciam estranhos.
-É sim! – respondeu Fenrir, rapidamente - Ora, Siegfried... Vamos voltar para dentro, afinal sua festa está muito animada – comentou Fenrir tentando disfarçar seu desconforto.
- O que houve? Vocês parecem nervosos... – disse Siegfried, se aproximando dos dois rapazes.
- Siegfried... – apressou-se em dizer Hagen. Seu amigo parecia apreensivo. Siegfried estranhou a atitude dos dois amigos, mas sua atenção foi atraída por sons estranhos.
- O que foi isso? - perguntou intrigado. Os amigos se entreolharam apreensivos.
- Siegfried... Precisamos falar com você – disse Fenrir. Siegfried pediu para se calassem e pôde ouvir mais claramente. Escutou alguns sussurros e gemidos e resolveu seguir o som para saber a quem pertenciam. Caminhou em direção a um caramanchão, mas Hagen e Fenrir tentaram impedi-lo.
- Espere Siegfried!!! – Hagen o segurou – Você não está preparado para enfrentar uma situação como essa... – Siegfried olhou para o amigo já ficando preocupado e sem entender o que ele quisera dizer. Desvencilhando-se de Hagen e Fenrir, Siegfried continuou caminhando em direção àqueles sons que ficavam mais altos a cada passo que dava. Hagen e Fenrir o seguiram, tinham que impedir Siegfried. Este quando chegou ao caramanchão, dentre aqueles gemidos e suspiros, pôde entender algumas palavras:
- Não se preocupe... ah... meu amor - murmurou uma voz feminina - logo que conseguir por as minhas mãos no dinheiro dele... hmmm... ficaremos juntos... ah!
- Eu não agüento mais esperar... hmm... por esse dia... hhmmm! – respondeu uma voz masculina. Siegfried se aproximou um pouco mais para ver quem era aquele casal que estava desrespeitando sua casa daquele jeito. Pensavam que estavam onde?! Em algum motel?! Mas, nada poderia tê-lo preparado para o que estava preste a presenciar. Siegfried entrou no caramanchão disposto a acabar com a "diversão" do casal, mas o que viu o surpreendeu terrivelmente. Ficou chocado e paralisado com a cena que estava presenciando. Sua noiva, a mulher que amava estava nos braços de outro homem como jamais estivera nos seus alegando que não queria que ele se casasse com ela por obrigação, apenas por que ela haver se entregado a ele. Tudo mentira! Ela nunca o amou de verdade! Apenas o estava usando! Queria apenas o seu dinheiro! Seu coração batia descompassado, faltava-lhe o ar. A decepção e a mágoa tomaram seu corpo. A dor pungente da traição queimava-lhe o peito. Antes que pudesse se conter, um murmúrio angustiado escapou de seus lábios trêmulos:
- Freya... – o casal se afastou ao ouvir aquela voz e assustados olharam para Siegfried parado na entrada do caramanchão. O rapaz estava em choque, paralisado pela decepção. Freya arrumou a alça do vestido rapidamente e se aproximou de Siegfried. A visão do rosto dela o deixou enojado. Seu corpo parecia estar queimando, tamanha a raiva que sentia.
- Não é o que está pensando, Siegfried... – disse ela desesperada. Freya tentou tocá-lo, mas ele se afastou bruscamente.
- ACHA QUE EU SOU O QUE?!! IDIOTA?!! CEGO?!! BURRO?!! – gritou. Sua mágoa se transformando em um ódio profundo – Por que fez isso comigo? Como pôde?! – perguntou num fio de voz, sentindo todo o peso e a dor da traição oprimindo seu peito.
- Siegfried... – disse Alberich, aproximando-se do rapaz. Siegfried olhou para ele. Seus olhos azuis claros estavam quase negros, suas pupilas dilatadas pelo ódio. Alberich, ao ver aquele olhar se deteve assustado. Siegfried parecia preste a matá-lo.
- Se você se aproximar de mim... EU TE MATO, DESGRAÇADO!!! – explodiu Siegfried avançando para cima do rapaz. Hagen e Fenrir que presenciaram a tudo angustiados pela dor que viram no rosto do amigo, se adiantaram e detiveram Siegfried, segurando-o pelos braços – SAIAM DAQUI AGORA!!! – gritou para a noiva e seu amante. Freya não se abalara com o ocorrido, encarou Siegfried com frieza ao passar por ele, enquanto Alberich a envolvia pelos ombros e se retiravam. Vendo-os saírem juntos daquele jeito, abraçados, fez a raiva que Siegfried sentia aumentar ainda mais. Seu corpo todo tremia.
- Siegfried, acalme-se – disse Fenrir.
– ME SOLTEM!!! – gritou livrando-se dos braços dos amigos e se voltou para olhá-los - Vocês sabiam... sabiam e não me contaram. Estavam acobertando-os... – acusou-os - TRAIDORES!!! - gritou Siegfried, sentindo seu peito arder com o ódio que estava sentindo naquele momento.
- Nós não te traímos, Siegfried. Ficamos sabendo disso agora. Tentamos impedi-lo de vir até aqui porque sabíamos que iria sofrer quando descobrisse... – disse Fenrir.
- Iríamos te contar... só não sabíamos como... – disse Hagen, sentindo-se mal ao ver a dor que o amigo estava sentindo. Siegfried desabou, como se o peso daquela terrível descoberta fosse tão grande que seria impossível suportá-lo de pé. Estava ajoelhado no chão, sentia uma dor muito forte no peito, seus olhos vidrados, não demonstravam qualquer emoção. Naquele dia, o rapaz alegre e confiante morrera deixando em seu lugar uma pessoa amarga. Da forma mais dolorosa, ele descobriu que confiança não era algo que pudesse ter por qualquer pessoa, na verdade, passara a não confiar em ninguém.
