~ * ~ Reencontro ~ * ~
O dia D chegou rapidamente. Tudo estava pronto para a palestra de Siegfried. Nenhum repórter estava presente e os cartazes estavam com ele pedira. Nunca desconfiariam de que aquele era o grande Hoenir Sleipnir. Hilda não sabia explicar porque estava tão nervosa. Não podia negar que aquele homem a impressionara. Sempre fora fã de seus livros e nunca imaginou que um dia viria a conhecê-lo, mas aconteceu. Surpreendera-se ao vê-lo. Esperava um senhor de uns cinqüenta anos, careca, baixinho e engraçado. Estava enganada. Ele era um jovem lindo, nunca vira um homem tão bonito quanto ele. Não sabia porque, mas apesar de toda o sucesso que possuía, ele lhe pareceu infeliz. Durante aquelas duas semanas, ela não conseguiu tirá-lo de sua mente. Estava ansiosa para revê-lo.
- Hilda? – Flear a chamou – Está tudo bem? – perguntou preocupada com a irmã.
- Ah, oi Flear. Está tudo bem sim, não se preocupe – respondeu.
- Está pensando nele de novo? – perguntou a garota com um sorriso malicioso nos lábios.
- Nele quem? - tentou disfarçar Hilda.
- Ora... "nele quem"... o palestrante – disse ela em tom de deboche – Você pensa nele desde que o conheceu, você mesma disse isso.
- Será que você pode ser mais discreta, Flear? Eu apenas fiquei impressionada com ele, oras! Ele é tão jovem e bonito Foi apenas por isso – disse se colocando na defensiva.
- Tá bom, eu vou fingir que acredito em você – disse Flear sorrindo. Nesse instante ouve-se uma batida na porta.
- Hilda, o palestrante acaba de chegar – disse a secretária.
- Ah obrigada, peça para ele entrar, sim? – ela ficou nervosa de repente. A mulher saiu e alguns instantes depois, a porta se abriu novamente. Mas desta vez, um jovem rapaz entrou em sua sala. Ele tentou permanecer indiferente a ela, mas não podia negar que uma ansiedade o assolou durante aquelas duas intermináveis semanas. Nunca ficara tão ansioso por causa de uma palestra.
- Como vai senhorita Njörd? – disse ele se aproximando para cumprimentá-la. Hilda estendeu a mão para ele que a tomou na sua e novamente aquela sensação de calor os assolou. Siegfried sentia que todas as barreiras que erguera ao seu redor ruíam quando a tocava e apesar de assustador, ele não conseguia se afastar daquele toque. Olharam-se intensamente por alguns segundos. Flear os fitava atenciosamente, com um sorriso nos lábios. Ela tossiu, chamando a atenção do casal que se afastou.
- Senhor Sigurd, esta é minha irmã Flear Njörd. Ela também dá aulas aqui. É professora de Teologia – disse Hilda, um pouco nervosa.
- Muito prazer, senhorita – disse Siegfried estendendo a mão para Flear.
- O prazer é meu senhor Sigurd – disse correspondendo ao cumprimento – Minha irmã me falou "muito" sobre o senhor – disse Flear sorrindo. Siegfried olhou para Hilda, com uma expressão de surpresa.
- Ora, verdade?! – perguntou não conseguindo se conter, sentindo-se ligeiramente orgulhoso. Hilda sorriu constrangida e lançou um olhar furioso para Flear. Siegfried sentia-se um pouco irritado por não conseguir se manter indiferente a Hilda. Tinha ciência de que não estava se revelando totalmente, mas sabia que não estava se preservando como fizera nos últimos anos.
- É verdade, sim – disse Flear – Ela não parava de falar no senhor e de como ficara impressionada – Siegfried sentiu-se um pouco constrangido e seu coração disparou, olhou para Hilda discretamente. Esta havia ficado vermelha e não sabia como esconder sua reação. Sentira vontade de esganar Flear.
- Vamos senhor Sigurd... – disse tentando se controlar e mudando de assunto – Os alunos já estão esperando pelo senhor.
- Claro – disse aliviado por escapar daquela situação que já o estava deixando nervoso. Acompanhou-as até o salão nobre da faculdade. Hilda subiu em uma espécie de palco e cumprimentou os alunos. Falou sobre a importância daquela palestra para o curso deles e começou a chamar os professores e convidados que comporiam a mesa. Depois de todos já em seus lugares, Hilda chamou o palestrante. Como em toda palestra, Siegfried estava nervoso. Mas, como tinha aprendido nos últimos anos, escondeu bem suas reações. Respirou fundo e subiu ao "palco". Os alunos aplaudiram sua entrada. Ele sentou-se ao lado de Hilda e esta pediu para que todos ficassem de pé para execução do hino nacional e só depois dessa solenidade foi que Siegfried deu início a sua palestra. Levantou-se e foi até a bancada onde começou a falar sobre sua grande paixão: história e mitologia. Ele prendera completamente a atenção dos alunos, não se ouvia um único som no salão a não ser o da bela voz de barítono de Siegfried. Mais uma vez, Hilda se impressionara com o rapaz. Quando o conheceu, percebeu o quanto Siegfried era frio e reservado, mas ali, naquele "palco", falando sobre sua especialidade para aqueles universitários... Parecia outra pessoa. Ele sabia ser engraçado sem se desviar do assunto sobre o qual estava tratando. A palestra estava incrível e o tempo parecia voar. Logo, ele chegava ao fim, mas ainda tinham as perguntas dos alunos. As perguntas eram feitas sem qualquer censura por parte dos professores ou da diretora. Claro, algumas tiveram que ser descartadas por causa da falta de tempo. Todas foram prontamente respondidas pelo rapaz. A palestra acabou e de repente Siegfried se viu cercado por alunos que queriam parabenizá-lo pela apresentação e algumas alunas, que queriam dar uma paquerada no belo palestrante. Ele agradeceu aos elogios que recebeu, se esquivou das cantadas de algumas alunas da forma mais polida que pôde e dirigiu-se, então até o gabinete de Hilda, mas acabou encontrando-a no caminho.
- Senhor Sigurd, sua palestra foi incrível – disse ela com sinceridade – Eu podia imaginar todos os deuses, os locais onde cada história se desenrolou, as situações... enfim, você foi sensacional, eu nunca vi aqueles alunos ficarem tanto tempo calados... – andaram lado a lado até o gabinete de Hilda.
- Obrigado, senhorita Njörd – disse Siegfried quando entraram no gabinete. Ele havia retornado a sua postura séria e reservada e ela percebeu isso. Hilda encostou a porta e foi até sua mesa. Abriu uma das gavetas e tirou um cheque de dentro dela.
- Tome, senhor Sigurd... - ela lhe entregou o cheque sorrindo - Sua palestra valeu cada centavo – Ele pegou o cheque da mão dela.
- Muito obrigado. Eu é que tenho que agradecer a oportunidade de falar sobre um assunto que me fascina – disse ele guardando o cheque. De repente uma idéia passou pela cabeça de Hilda.
- Senhor Sigurd... – chamou-o.
- Sim?! – ele disse tornando a olhar para ela.
- Você já deu aulas antes? – perguntou ela.
- Sim, mas já faz algum tempo – respondeu sem qualquer emoção em sua voz.
- Eu... sei que vai parecer uma ousadia de minha parte lhe fazer essa pergunta, mas você não gostaria de dar aulas aqui? Estamos precisando de um bom professor de História, pois o que temos além de ser muito antiquado na sua avaliação sobre os conhecimentos dos alunos, também não consegue prender a atenção deles... as reclamações são constantes – Siegfried olhou-a, como se estivesse avaliando as possibilidades – e então... você aceita? – Siegfried ficou alguns instantes em silêncio, então disse:
- Eu vou pensar. Eu confesso que sinto falta de dar aulas... mas... eu preciso pensar, senhorita Njörd – disse.
- Por favor, senhor Sigurd... me chame apenas de Hilda – disse ela sorrindo.
- Então, deve me chamar apenas de Siegfried – disse.
- Tem razão... Siegfried – ouvi-la dizer seu nome causou um delicioso arrepio em Siegfried.
- Até logo... Hilda – foi a vez se Hilda estremecer ao ouvi-lo. Ela estendeu a mão para ele que a tomou na sua e aquela familiar sensação passou pelo corpo de ambos e eles se afastaram, mas ficaram ainda alguns instantes perdidos no olhar um do outro. Então, Siegfried pareceu se recompor e se dirigiu à porta, brindando-a com um de seus raros sorrisos. Um sorriso que fez o coração dela disparar, e que foi retribuído, causando nele o mesmo efeito.
Continua...
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Oi pessoal. Gostaram? Não demorou nem um pouco para o reencontro né? Espero que tenham gostado. Beijos a todos. Tchau.
