~ * ~ De volta à sala de aula ~ * ~
Mansão de Siegfried - segunda-feira 18:30
Siegfried voltou do escritório. Entrou em sua casa rapidamente, tomou um banho, separou a roupa que iria usar para dar sua primeira aula depois de quase oito anos, desceu e preparou seu jantar. Comeu rapidamente, estava começando a ficar atrasado. Subiu para se trocar. Vestiu uma camisa preta de botões, uma calça jeans branca e uma jaqueta jeans azul. Pegou uma pasta de couro, onde guardava um livro e seu celular, pegou as chaves de seu carro e saiu de casa, trancando a porta. Montou em sua Harley Davidson e saiu apressadamente indo para a faculdade. Estava ansioso, não sabia se era porque estava voltando a dar aulas ou se era porque reencontraria a bela diretora que vinha atormentando seus pensamentos. Mesmo que se sentisse atraído por ela, estava decidido a manter-se afastado. Quinze minutos depois, entrava na faculdade. Entrou no grande prédio e começou a caminhar pelo longo corredor, apesar de já ter ido aquele lugar antes... Era a primeira vez que o observava atentamente. Nas paredes tinham algumas imagens de filósofos, quadro com o nome dos que já tinham se formado. Alguns avisos em quadros. Passou por várias salas... salas de aulas, secretaria. Aquele lugar era enorme. Esbarrou com Hilda que estava saindo de uma das salas, fazendo-a derrubar algumas provas.
- Hilda...
- Ora, olá Siegfried! – disse ela sorrindo feliz por vê-lo ali.
- Desculpe-me – disse, completamente atrapalhado.
- Está tudo bem, Siegfried – dizendo isso ela se abaixou e começou a recolher as provas.
- Eu a ajudo – disse se abaixando em frente a ela para ajudá-la.
- Siegfried, não precisa se preocupar – disse ela. Continuaram a recolher as provas, quando suas mãos se dirigiram para a mesma direção e, acidentalmente, se tocaram. Hilda ergueu o rosto ao mesmo tempo em que Siegfried e seus olhos ametistas encontraram as safiras dos olhos dele. O tempo pareceu parar, nada mais existia. Tudo se resumia na sensação de estarem se tocando suavemente e se perdendo, presos no olhar um do outro. Siegfried sentiu um calor subir por sua mão e se espalhar por todo seu corpo, seu coração disparou. Hilda sentiu seu corpo todo estremecer e seu rosto começar a esquentar. Seus olhares travando uma batalha ardente e fascinada. Siegfried retirou a mão de cima da dela e desviou o olhar. Hilda baixou a cabeça, tentando esconder o rubor que tomou seu rosto. Ele se levantou com algumas provas nas mãos, ela o imitou, ficando de pé na frente dele. Naquele momento ela pôde observar as roupas dele, estava usando uma roupa mais confortável, uma calça jeans preta e uma camisa jeans azul, e não os ternos com os quais ela já o tinha visto. A roupa revelava ainda mais seu corpo forte, deixando-a encabulada.
- Aqui está – disse ele entregando-lhe as provas e tentando a todo custo esconder seus sentimentos e suas reações. Ele entregou a ela o pacote de provas que estavam em seus braços – Desculpe-me – disse, tentando disfarçar seu constrangimento.
- Está tudo bem – disse recebendo as provas das mãos dele, evitando olhá-lo nos olhos - Você já pegou seu horário? - perguntou Hilda ainda sem olhar para ele.
- Ainda não. Estava mesmo indo falar com você sobre isso – disse ele passando a mão pela franja jeitosa.
- Venha até minha sala, eu o pego pra você – disse ela caminhando, com Siegfried a seguindo. Eles entraram na sala de Hilda e ela procurou na gaveta o horário das aulas de história – Aqui está – disse estendendo o papel para ele.
- Obrigado – disse pegando o papel da mão dela.
- Boa sorte em seu primeiro dia, Siegfried – disse Hilda sorrindo.
- Obrigado – disse – Eu tenho que confessar que estou um pouco nervoso.
- Não se preocupe. Você se sairá bem, eu tenho certeza – Hilda lhe indicou a sala onde deveria começar seu trabalho. Siegfried caminhou pelo corredor e parou em frente à porta. Pôde ouvir o barulho dos alunos conversando animadamente dentro da sala. Respirou fundo e abriu a porta da sala. Os alunos ainda não tinham percebido a entrada do novo professor. Ele arrumou suas coisas em cima da mesa e pigarreou, chamando a atenção dos alunos para sua presença.
- Boa noite a todos – disse ele – Eu sou Siegfried Sigurd, seu novo professor de História – os alunos se animaram, pois reconheceram o professor imediatamente. Siegfried percebeu, passando os olhos pela sala que havia algumas pessoas mais velhas do que ele naquela sala. Será que seria bem recebido por eles? Ficou um pouco inseguro.
- Se suas aulas forem tão boas quanto suas palestras... Então todos nós estaremos aprovados – disse uma senhora de pelo menos cinqüenta anos
- Muito obrigado! – disse Siegfried sentindo a tensão se esvair de seu corpo ao se ver sendo tão bem recebido por todos aqueles estudantes.
- Agora sim vamos ter um bom motivo para estudar História – cochichou uma aluna para a colega e as duas riram.
- Deixe eu me apresentar: meu nome é Siegfried Sigurd, eu tenho mestrado e doutorado em História, me especializei em história das civilizações e mitologia. Não vou pedir para que se levantem e digam seus nomes, pois acho isso uma bobagem, além de expô-los a um constrangimento desnecessário. Eu lembro quando eu estava na faculdade e me sentia um idiota falando meu nome, quantos anos eu tinha... Essas coisas das quais dali cinco minutos nenhum dos professores se lembrava. Eu era extremamente tímido e situações como essas só me faziam ficar nervoso e como eu não conseguirei guardar os nomes de todos vocês de uma vez só... Com o tempo eu vou conhecendo cada um - um rapaz levantou a mão – Pois não?
- Professor, como é que o senhor vai nos avaliar? – perguntou o rapaz.
- Muito bem... Nós vamos começar falando sobre a pré-história, chegando até os dias de hoje. Eu vou indicar alguns livros que são muito bons. Vocês os trarão, eu gostaria... claro para aqueles que tiverem tempo pra isso, mas eu ficaria satisfeito se vocês já viessem com os textos lidos, pois assim, na sala de aula nós apenas discutíramos o assunto. Gosto de uma aula participativa. Quero que vocês interajam comigo e me dêem sua opinião sobre como os fatos que iremos estudar influenciaram na história da humanidade. Eu não gosto de dar questionários, pois não quero que vocês decorem o que quer que estejam lendo, a não ser datas e nomes de personalidades importantes. Eu espero que vocês compreendam os fatos interligando-os uns aos outros, chegando até os dias atuais e vendo as influências de tais fatos nos dias de hoje. Eu vou dar uma prova com uma única questão, dissertativa onde vocês terão que dizer, com suas próprias palavras o que entenderam da matéria e buscando sempre fazer um paralelo com os dias atuais. Minha matéria é acumulativa, ou seja, na prova cai a matéria do ano todo.
- Mas professor... isso é muito complicado – disse uma aluna.
- Não se preocupem. Sempre que tiverem alguma dúvida, falem comigo. Eu os ajudarei no que precisarem. Não é o bicho de sete cabeças que vocês estão imaginando. Podem ficar tranqüilos – disse sorrindo – Aliás, alguém sabe me dizer de onde vem essa expressão: "bicho de sete cabeças?" – perguntou ele. Um rapaz levantou o braço – Você sabe? – o rapaz acenou afirmativamente – Então... levante-se e conte-nos.
- Vem da mitologia grega – Siegfried sorriu e confirmou com um aceno.
- Continue – pediu animado.
- Era um monstro chamado Hidra, que vivia no pântano de Lerna, ao qual Heracles enfrentou. Quando ele lhe cortava a cabeça, outras duas nasciam em seu lugar. Então ele percebeu que a única forma de derrotar aquele monstro era soterrando-o e foi o que fez. A expressão significa que algo não é tão complicado de se resolver quanto parece.
- Muito bem rapaz! Seu nome...? – perguntou ele
- Freir – disse o rapaz sorrindo.
- Meus parabéns! – disse pegando uma lista e marcando algo nela – Você já tem meio ponto – o sorriso do rapaz aumento ainda mais e ele tornou a se sentar - Pessoal, eu costumava, durante as minhas aulas, citar algumas expressões que tiveram sua origem na mitologia, geralmente mitologia grega. É mais extensa e, na minha opinião, a mais interessante das mitologias. Quem souber me explicar exatamente a origem de tais expressões, como nosso amigo Freir o fez, ganhará meio ponto. A prova valerá sempre dez, por isso quem não tiver tempo para pesquisar sobre o assunto não precisa se preocupar, mas vai ter que estudar para tirar nota. Esses pontos servirão para ajudar aos alunos que forem mal nas provas, mas, eu os aconselho a estudarem sobre mitologia também. Como o curso de vocês é Arqueologia, é sempre bom conhecer as histórias e mitos de uma civilização – dizendo isso, Siegfried começou sua aula e os alunos foram imediatamente cativados pelo jovem professor. A aula foi excelente, e o tempo passou depressa. Ao término, as alunas mais "assanhadas" e os alunos que ficaram com alguma dúvida foram cercar o professor. Siegfried respondia a todas as perguntas que lhe eram feitas. Quando saiu, encontrou-se com Hilda na sala dos professores.
- E então? Como foi? - perguntou ela curiosa.
- Não poderia ter sido melhor. Estou feliz por ter aceitado seu convite – Siegfried estava redescobrindo o prazer de dar aula. Estava convencido de que tomara a decisão certa.
Continua...
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Oi pessoal! E aí? Gostaram? Vou postar mais um capítulo hoje, tá?
