Por causa de um mal entendido, uma tragédia

Siegfried chegou cedo aquele dia e foi direto para a sala dos professores. Ficaria lá, esperando até que a hora da aula chegasse. Colocou sua pasta sobre a mesa, sentou-se e começou a ler um livro. Estava tão distraído que nem percebera quem acabara de entrar. Acordou quando alguém tomou o livro de sua mão. Esperava que fosse Hagen, pois este adorava provocá-lo, mas não era o amigo.

- Ainda gosta de ler esses romances mitológicos, Siegfried? – perguntou examinando o livro – Sempre achei isto uma idiotice! – Siegfried se levantou e tomou o livro das mãos dela. Ignorando-a – Por que foi embora, Siegfried? – perguntou ela se aproximando dele – Foi por minha causa? – ele tentou afastar-se dela, mas ela o encurralou contra a mesa – Não sabia que ainda se sentia tão atraído por mim, assim. – disse ela apoiando as mãos sobre o peito dele, deslizando-as até seus ombros.

- O que está fazendo? – perguntou ele – Afaste-se de mim! – disse tentando afastar-se. As mãos dela deslizaram até seu pescoço.

- Você ainda não me esqueceu... – disse se aproximando cada vez mais dele. Ele estava em estado de choque. Nunca pensou que ela fosse capaz de tamanha ousadia. Fora pego totalmente de surpresa. Os lábios dela tocaram os dele. Nojo... Foi o que sentiu quando ela o beijou. Não conseguira esboçar qualquer reação.

- Eu não sei Fle... – Hilda e Flear chegaram à sala naquele momento e presenciaram aquela cena. Hilda ficou em estado de choque. Sentiu seu mundo desabar. Seus olhos começaram a arder, mas ela se controlou. Não choraria na frente deles. Freya se afastou de Siegfried e encarou Hilda. O jovem professor estava incrédulo. Não acreditava que aquela mulher ousara tocá-lo. Ele olhou para Hilda e vislumbrou a decepção estampada nos olhos violetas – Des... Desculpem-me. Eu não quis atrapalhá-los – disse tentando se controlar. Sentiu-se mal por ter presenciado aquela cena – Com licença! – ela se virou e saiu da sala rapidamente. Flear não falou nada, estava surpresa com o que acabara de ver. Siegfried não acreditava no que tinha acontecido. Como aquela... Pudera fazer aquilo? Ficou apavorado com o que viu expresso nos olhos de Hilda. Mesmo não tendo culpa de nada, sentiu que a tinha magoado. Ele olhou com nojo para Freya. A vontade que sentia era de esbofetear aquela megera, mas ele só conseguia pensar em Hilda. Flear o olhava, decepcionada. Não se importando com o olhar dela sobre si, Siegfried passou por Flear e foi atrás de Hilda. Freya encarava Flear com um sorriso maquiavélico nos lábios. Com um ar vitorioso passou pela jovem e saiu. Quando Flear pensou em ir atrás de Hilda, Hagen chegou sorridente como sempre.

- Boa noite. – disse ele. Flear não o ouviu, estava distraída, preocupada com Hilda. Ele a encarou seriamente – Flear? – ela despertou de seu transe e olhou para ele – O que houve? – perguntou.

- Siegfried e Freya estavam se beijando – disse ela.

- O quê?!! – disse Hagen – Isso é impossível! Ele não a suporta!

- Será?! – perguntou Flear irritada – Eu só digo uma coisa Hagen... – disse Flear, seu semblante adquirindo uma expressão de raiva – Se é para fazer minha irmã sofrer... É melhor que esse "Don Juan" vá embora daqui – disse ela.

- Eu não acredito nisso! Ele jamais a beijaria! Ele está apaixonado pela sua irmã! – disse Hagen, exasperado. O que estava acontecendo?

Hilda andava rapidamente. Não queria acreditar no que tinha visto. Nunca pensou que pudesse doer tanto. Lutava contra as lágrimas. Não queria chorar. Aliás, por que sentia vontade de chorar? Ela não era nada dele. Ele não lhe devia qualquer satisfação, mas mesmo assim... Sentia-se magoada. Mas por que se sentia assim? Ele podia fazer de sua vida o que quisesse... Então por que aquela cena a machucava tanto? Depois do que vira tentava a todo custo negar que estava apaixonada por Siegfried.

- Hilda! – ele a chamava, mas ela continuava andando. Ignorando-o. Andando o mais rápido que podia, ele a alcançou. Segurou-a pelo braço, logo acima do cotovelo e puxou-a para si – Hilda, me ouça! – ela o encarou. Ele se surpreendeu quando fitou o rosto dela. Seus olhos estavam marejados pelas lágrimas que ela tentava a todo custo conter. Será que... – Hilda... Deixe-me explicar...

- Você não me deve explicação! – disse ela – Largue-me! – tentou se afastar dele.

- Mas, Hilda... – ela o interrompeu.

- Por favor, Siegfried! Você não me deve explicação alguma! Eu não tenho nada a ver com a sua vida! Você faz dela o que bem entender! Agora... Solte-me! – com um movimento brusco ela se desvencilhou dele e saiu rapidamente em direção ao estacionamento.

- HILDA!! – ele ainda tentou chamá-la mais uma vez, mas foi ignorado. Ela andou mais alguns metros e entrou em seu carro, saindo velozmente. Precisava sair dali o mais rápido possível. Siegfried olhava para a rua, preocupado. Estava com um mau pressentimento. Hilda saíra descontroladamente. Ele voltou para dentro da Faculdade e encontrou Freya o encarando. Flear e Hagen chegaram e ficaram observando os dois. Viram quando ele se aproximou daquela víbora.

- SUA... O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?! – disse furioso. Freya olhou para ele com um sorriso cínico.

- Ora... Siegfried vai dizer que não gostou do meu beijo! Eu me lembro muito bem o quanto você adorava meus beijos... – disse ela com um sorriso malicioso - Só pensei que você talvez quisesse matar as saudades...

- Eu tenho nojo de você! Você é repugnante! O que você quer de mim? Não está feliz com aquele cretino do Alberich? Ou seu amantezinho te abandonou? Talvez ele não tenha tanto dinheiro quanto você gostaria que ele tivesse... – disse amargamente. Freya sorriu.

- Como está enganado. Alberich e eu estamos muito bem, Siegfried. Mas, ao reencontrá-lo, eu não poderia perder a oportunidade... Você me humilhou. Pensa que eu esqueci? – disse ela – Não se livrará de mim tão fácil. Eu percebi que está apaixonado por ela... - os olhos de Siegfried brilharam furiosamente. Hagen e Flear presenciaram a conversa dos dois em silêncio – Eu não vou deixar que consiga o que quer. Jamais será feliz, Siegfried. – dizendo isso ela se afastou dele. Siegfried engoliu em seco. Onde estava com a cabeça quando decidira abandonar o refúgio de sua casa? Mas ele sabia perfeitamente a resposta para essa pergunta... Ele não conseguia mais ficar longe de Hilda.

Hilda dirigia velozmente. Estava arrasada, não sabia porque... Mas sentia-se traída. Estava apaixonada por Siegfried e vê-lo com outra a magoou. Sentia-se perdida. Será que ele estava apaixonado por Freya? Não era possível... A forma como ele a recepcionara quando ela chegara na escola... O jeito que olhava pra ela... Parecia desprezá-la completamente. Então por que a estava beijando? Hilda não via nada a sua frente. Parecia ter entrado em transe. A única coisa que via era aquela cena que tanto machucara seu coração. De repente... Um barulho de buzina e luzes surgindo por entre aquela escuridão fez Hilda despertar. Levou alguns segundos para que entendesse o que estava para acontecer. Ela arregalou os olhos, em pânico e virou volante, desviando do caminhão... Mas o movimento brusco a fez perder o controle sobre o carro. Tentou pisar no freio, mas era tarde demais... A árvore foi crescendo rapidamente a sua frente e então... Tudo escureceu.

Desesperado, Siegfried andava de um lado para o outro. Hagen se aproximou do amigo, sendo seguido por Flear.

- Siegfried... – disse tocando no ombro do amigo. Siegfried olhou para ele.

- Eu não devia ter voltado, Hagen... – disse ele, exasperado. Flear via o desespero estampado nos olhos azuis. Arrependera-se de ter pensado mal dele – Que ela faça algo contra mim... Pouco importa. Eu posso suportar qualquer coisa... Mas Hilda?! Eu não posso permitir que ela faça algo contra Hilda! – disse ele descontroladamente.

- Acalme-se, Siegfried! – disse Hagen – Ela não conseguirá fazer nada contra Hilda. – nesse instante, o celular de Flear começara a tocar. Ela se afasta para atender.

- Alô?... O que?! – a exclamação desesperada de Flear chamou a atenção dos dois homens que se voltaram pra ela. A moça parecia assustada. O coração de Siegfried disparou de repente. Sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Aquela estranha sensação que teve quando Hilda foi embora voltou a assolá-lo – O que aconteceu?!... Ela está bem?! Tá... Eu estou indo... – ela desligou e foi em direção a saída, quando Hagen foi até ela e tocou seu braço. Ela o olhou e ele pôde ver o medo estampado em seus olhos verdes.

- Flear... O que houve? – perguntou preocupado.

- Hilda... – disse Flear num sussurro. Sua voz estava trêmula e seus olhos marejados – Ela sofreu um acidente de carro... – disse com a voz embargada e as lágrimas escorrendo por seu rosto. Hagen a abraçou e olhou para Siegfried que, por estar um pouco afastado do casal, não ouvira uma palavra do que haviam dito, mas mesmo assim estava sentindo uma sensação estranha – Preciso ir vê-la – disse ela se afastando de Hagen e se encaminhando até a porta. Ele a deteve:

- Eu levo você... – disse ele olhando-a nos olhos - Você não está em condições de dirigir – sem conseguir se conter, ela se jogou em seus braços e ele a enlaçou fortemente, tentando passar através desse gesto um pouco de conforto e segurança. Ver Flear chorando fez Siegfried entrar em pânico. Sentia que algo muito ruim acontecera. Aproximou-se do casal. Olhou para Hagen. O amigo pôde ver o desespero nos olhos de Siegfried.

- O... O q... Que houve? – perguntou com a voz trêmula. Hagen o olhou entristecido.

- Ela... Sofreu um acidente, Siegfried... – disse Hagen, sem saber o que fazer para confortar Flear e Siegfried.

- Hilda... – murmurou. Suas pernas tremerem. Seu peito se apertou e seus olhos se embaçaram. Ele sentia uma dor que parecia que o iria sufocar. Lágrimas escorriam de seus olhos azuis. Sentia-se culpado.

Continua...

Próximo capítulo já postado.