Lembranças perdidas
Hagen, Flear e Siegfried chegaram ao hospital e foram direto para a recepção para saberem como estava Hilda.
- Vocês são parentes dela? – perguntou a atendente.
- Eu sou irmã dela... – Flear estava ficando irritada com as perguntas e o aparente descaso da moça, esta continuava a fazer anotações sem dar atenção às pessoas a sua frente - Será que você pode me responder logo? Como está minha irmã? – perguntou irritada.
- Ela está na cirurgia. – disse sem olhar para Flear - Terão que esperar para falarem com o médico que a está operando... – a moça pegou uma folha e estendeu para Flear – Deve preencher esta ficha. - Flear pegou a folha das mãos da atendente. Seus olhos de fixaram na folha, mas ela não conseguia ler nada. Seus olhos estavam embaçados por causa das lágrimas. Hagen olhou para ela e percebeu que ela não conseguiria preencher aquele papel sozinha. Suas mãos estavam tremendo.
- Venha, vamos nos sentar ali. Depois você preenche esta DROGA! – disse lançando um olhar reprovador para a atendente. Como ela podia querer que Flear conseguisse preencher aquela porcaria sabendo que a irmã estava sendo operada? Ela e Hagen se sentaram em um banco num dos corredores do hospital. Flear deitou a cabeça no ombro do rapaz e se entregou a um choro silencioso. Hagen envolveu-a pelos ombros, enquanto acompanhava com os olhos os movimentos de Siegfried. Este andava de um lado para o outro no corredor. Passava a mão pelos cabelos. Sua expressão era de puro pânico e preocupação. Hagen ficou em silêncio vendo a dor de Flear e de Siegfried e nada podendo fazer para confortá-los. As horas passavam e nada. Nenhuma notícia. Depois de cinco horas de espera, a porta da sala de operações se abriu e um médico veio conversar com eles.
- Vocês são parentes da moça que sofreu o acidente? – perguntou o médico. Flear e Hagen se levantaram ao ouvir a voz do médico, enquanto Siegfried se virou para olhá-lo. Era um homem alto, de mais ou menos cinqüenta anos, usava um par de óculos de aros finos e dourados, tinha os olhos castanhos e os cabelos grisalhos e barba também grisalha. Sua expressão e sua voz passavam calma e tranqüilidade.
- Eu sou irmã dela, doutor. – respondeu Flear – Como ela está?
- Eu sou o Dr. Louhi Väinämöinen. A senhorita precisa ficar calma... – o médico procurou as palavras calmamente, mas não havia outra forma de dar a notícia - Ela teve traumatismo craniano. – Flear levou a mão à boca e as lágrimas tornaram a escorrer de seus olhos. Siegfried olhou assustado para o médico, sentiu como se tivesse levado uma punhalada no peito ao ouvi-lo. Hagen vendo o choque dos dois resolveu pedir mais detalhes:
- Ela vai ficar bem? – perguntou. O médico se voltou para o rapaz.
- Tudo vai depender das próximas horas. Ela está em coma... - os três estavam muito preocupados - Temos que esperar que ela acorde para sabermos as conseqüências das lesões... – voltando-se para Flear – Ela vai precisar muito de vocês quando ela acordar...
- Eu posso vê-la, doutor? – perguntou Flear saindo de seu transe.
- Sim, mas apenas uma pessoa de cada vez. – o médico olhou para os três jovens a sua frente com pena, vendo a tristeza que passava nos olhos deles – Eu preciso ir, assim que os exames dela ficarem prontos... Eu a avisarei – disse afastando-se. Hagen, Flear e Siegfried nem se deram conta do afastamento do médico. Flear levantou-se, foi até a recepção e preencheu aquela ficha, pois era a única forma de poder visitar sua irmã. Ela passou pelos dois rapazes e entrou no quarto em que Hilda estava. Siegfried sentou-se ao lado de Hagen, a cabeça baixa, o semblante carregado. Hagen o conhecia desde de que eram crianças e nunca o vira tão preocupado. Siegfried ergue a cabeça olha para o amigo.
- Foi minha culpa, Hagen... – disse ele não conseguindo conter a lágrima que escorrera por seu rosto.
- Não diga isso, Siegfried. Você não teve culpa de nada... – disse Hagen.
-Você não viu os olhos dela, Hagen... Ela estava... Ela parecia... – ele se levantou e começou a andar nervosamente pelo corredor. – Eu devia tê-la impedido, Hagen... Eu não podia tê-la deixado sair daquele jeito... Eu senti que algo ruim ia acontecer... – Hagen se levantou e pôs a mão no ombro do amigo.
- Se culpar não vai adiantar nada, Siegfried... – se afastando Hagen o olhou. Siegfried mantinha a cabeça baixa – Você está apaixonado por ela, não está? – a pergunta fez o rapaz erguer o rosto para fitar o amigo. Depois de tudo o que acontecera... Depois de tudo o que dissera... Não podia mais esconder o que sentia – Você a ama, não é? – repetiu a pergunta, agora o olhando nos olhos.
- Sim... – respondeu ele – Eu a amo. Pela primeira vez em minha vida... Estou amando de verdade. Eu nunca senti por ninguém o que estou sentindo por ela...
- Nem mesmo por Freya? – perguntou Hagen com uma sobrancelha levantada.
- Ninguém! – afirmou veemente - Hoje eu sei que o que eu senti por Freya não era amor... Eu confundi as coisas. – deu um suspiro angustiado – Devo agradecer a Alberich por não ter cometido a tolice de me casar com aquela... – ele se interrompeu e olhou para a porta do quarto onde Flear tinha entrado – Será que ela ficará bem? Será que ela me perdoará pelo que aconteceu? – perguntou ele tristemente.
- Em primeiro lugar: ela não tem que perdoá-lo, você não fez absolutamente nada de errado, e em segundo lugar: é claro que ela ficará bem. Você ainda vai ter muitas chances para dizer a ela o que sente – diz Hagen dando um sorris, tentando animar o amigo.
- Não diga tolices, Hagen. Você fala como se ela sentisse algo por mim...- Siegfried mantinha a cabeça baixa, sentia-se muito mau pelo que estava acontecendo a Hilda.
- Você não pode ser tão cego, Siegfried! – o rapaz voltou seus olhos para o amigo – Eu percebi que ela o ama desde de o primeiro momento em que os vi juntos... O sentimento que nutrem um pelo outro está expresso nos olhos de ambos. – Siegfried ouviu aquelas palavras, mas depois do que acontecera, não se via merecedor do amor de Hilda. Aparentemente ele entrou na vida dela para fazê-la sofrer.
Já se passaram vinte dias desde o acidente. Hilda já não estava mais na UTI, mas ainda não recobrara a consciência. Todos os dias Flear, acompanhada por Hagen e Siegfried iam visitá-la.
Era um sábado. O sol tinha aparecido depois de quase um mês inteiro de tempo fechado e chuva constante. Flear tinha saído um pouco para comer algo, e Siegfried ficou com Hilda. Estava em pé, olhando pela janela, vendo o lindo pôr-do-sol. O céu ostentava várias colorações que iam desde de o vermelho, passando pelo laranja e amarelo até encontrar o azul, deixando o céu em um tom esverdeado para depois, ganhar uma coloração azul escura que ia escurecendo gradualmente a até quase o negro. Algumas estrelas já podiam ser vistas decorando o firmamento e a lua também se apresentava, cheia, brilhante, imponente. Os olhos azuis de Siegfried abandonaram a paisagem para se fixar na bela jovem que permanecia desacordada. Olhava para Hilda com pesar e se lembrava de uma conversa que teve com Flear:
Retrospecto
- Eu vi como ela estava transtornada... –– Siegfried andava de um lado para o outro no corredor do hospital. Estava muito preocupado e sentindo-se extremamente culpado pelo acidente – Eu deveria tê-la impedido. Foi minha culpa... - disse ele.
- Não foi sua culpa, Siegfried! – disse Flear pela milésima vez.
- Como não, Flear?! Quando vi o quanto ela estava magoada... Eu fiquei perdido... Não consegui esboçar qualquer reação... Não havia motivos para ela ter ficado tão zangada... Eu não compreendo porque ela ficou daquele jeito... – Flear olhou para ele com um olhar de dúvida.
- Não compreende mesmo, Siegfried?! – a pergunta fez com ele se voltasse para encará-la. Ao ver o olhar confuso de Siegfried ante a sua pergunta, Flear decidiu ser bem clara - Ela te ama, Siegfried! – os olhos azuis se arregalaram ao ouvi-la - Ela vai ficar furiosa comigo quando souber que eu lhe contei isto, mas... Ela me confessou, naquele dia em que você voltou à faculdade, que tinha sentido medo de nunca mais revê-lo. Ela ama você e eu posso ver por suas atitudes, pelos seus olhos, que você a ama também.
- Flear... – tentou argumentar, mas a moça o interrompeu.
- Pare de agir como se fosse sua culpa. Hilda não é criança, ela não devia ter saído daquele jeito e mesmo que você tivesse algo com Frey...
- Eu não tenho nada com ela, Flear – disse ele, um tanto irritado por ela ter levantado aquela hipótese.
- Mesmo que você tivesse algo com Freya... – retomou de onde tinha sido interrompida, apesar do olhar indignado de Siegfried - Não seria desculpa para Hilda agir com agiu. Vocês não têm nenhum compromisso e tanto você quanto Hilda pode se envolver com quem quiser – Siegfried desviou o olhar e sua expressão tornou-se desolada. Não agüentaria ver Hilda com outro. Flear sorriu ao ver a expressão no rosto dele – Não se preocupe... – ele olhou para ela que completou como se tivesse lido seus pensamentos – É a você que ela ama.
Fim do Retrospecto
Mesmo agradecido pelas palavras da amiga, querendo a todo custo acreditar no que ela lhe tinha dito, mesmo assim, Siegfried só conseguiria se sentir bem, e feliz quando ouvisse da própria Hilda que o perdoava. Ele se afastou da janela e pegou uma cadeira, colocando-a ao lado da cama da jovem. Ele tomou a mão direita dela entre as suas mãos e levou-a aos lábios, beijando-a de leve. Ficou a acariciar suavemente as costas da mão de Hilda. Olhou para o rosto de Hilda. Como queria ver seus lindos olhos violetas olhando para ele, ver seu sorriso... Ficou um bom tempo segurando a mão dela, lutando contra o sono. Queria estar acordado quando ela recobrasse a consciência... Queria vê-la despertar... Mas o cansaço foi maior e ele adormeceu.
Siegfried acordou no dia seguinte sentindo terríveis dores nas costas. Dormira debruçado sobre a cama de Hilda, e em momento algum soltou sua mão. Ele olhou para ela e se inclinou em sua direção. Tocou o rosto dela. Um toque suave e gentil acariciando-lhe a face amorosamente. Sentiu que ela estremeceu, mas foi uma reação tão sutil que achou que estava imaginando coisas. Continuou a carícia e sentiu-a apertando sua mão. Surpreso, ele olhou para sua mão que segurava a dela e pôde ver quando ela, mais uma vez apertou-a. Com um sorriso no rosto, ele olhou para o rosto dela novamente e perdeu o fôlego ao ver duas ametistas o fitando com curiosidade.
- Hilda! – exclamou feliz. A jovem olhou para ele. Parecia confusa, arregalou os olhos, assustada. Puxou a mão da dele e se afastou um pouco. Siegfried olhou para ela, surpreso com aquela atitude. Mesmo sabendo que era culpado pelo que acontecera, não pode deixar de sentir-se magoado. Será que ela o odiava?
- Quem é você? – perguntou assustada. Quem era aquele homem? O que ele estava fazendo ali? Por que a olhava como se a conhecesse?
- O que?! – Siegfried sentiu seu coração se apertar. Ele não podia acreditar no que tinha escutado. Não... Aquilo não podia estar acontecendo. Ele a encarou e, apesar de todo seu nervosismo, se forçou a falar, rezando para que tivesse ouvido mal – Hilda, sou eu... Siegfried.
- Eu... Eu não conheço você... Conheço? – perguntou ela, o susto inicial passou, mas ela não se lembrava dele. Aquelas palavras foram como punhais ferindo o coração, já bastante machucado de Siegfried. Aquilo não poderia estar acontecendo. Ela não se lembrava dele. Hilda estava com amnésia.
Continua...
Oi pessoal! Espero não estar deprimindo ninguém... Por hoje é só pessoal. Até semana que vem e não esqueçam de comentar. Beijos, tchau.
