Buscando Lembranças

Hilda já tinha saído do hospital e voltara para casa. Sentia-se sozinha, apesar de a irmã estar sempre ao seu lado... Hilda não a conhecia... Era uma estranha pra ela. Ficava em seu quarto, deitada em sua cama, esforçando-se para se lembrar de alguma coisa. Ela olhava a tudo atentamente.

Desde de que chegara do hospital, ficara trancada no quarto. Sentia-se um pouco deprimida. Já estava cansada de ficar presa, por isso resolveu sair daquele quarto e dar uma olhada pela casa, talvez a ajudasse a se lembrar de algo.

Caminhou pelo corredor até as escadas que iam para a o andar de baixo, na sala. Desceu, observando os quadros na parede. Eram enormes retratos. Num deles estava um casal e a julgar pela semelhança da mulher com sua irmã, Hilda supôs que devia ser sua mãe. A jovem do quadro era loira e os olhos eram verdes como os de Flear. O homem, com cabelos curtos e lisos, penteados para o lado tinham um tom prateado e seus olhos eram lilases como os de Hilda. O casal estava abraçado. Estavam sorrindo e pareciam muito felizes e apaixonados. A julgar pelas roupas, devia ser uma foto do casamento de seus pais.

Ela continuou descendo prestando o máximo de atenção em todos aqueles retratos. Tinha um com uma menina de mais ou menos dez anos, era Flear. Era um close enorme. Os cabelos ela estavam presos em um rabo-de-cavalo, à pequena tinha um sorriso nos lábios.

Num outro quadro, também em close estava uma jovem, seus longos cabelos prateados presos em uma trança que caia sobre seu ombro esquerdo estavam enfeitados com rosas brancas, cor-de-rosa e champanhe. Usava um vestido branco, com os ombros caídos. Devia ser uma foto de sua festa de quinze anos.

O último quadro naquela parede estava o casal e suas duas filhas. O homem carregava a pequena de cabelos loiros enquanto enlaçava a jovem mulher que tinha a menina de cabelos prateados no colo. Todos sorriam felizes. Hilda ainda não conseguira se lembrar de nada, mas ver aquelas fotos lhe trouxe a certeza de que tivera uma infância muito feliz.

Continuou seu caminho até chegar à sala. Esta era ampla, com um enorme lustre cheio de pingentes de cristal. Os móveis perfeitamente escolhidos davam à casa uma sensação de conforto e alegria.

Continuou com sua exploração por toda a casa: cozinha, banheiros, jardim, os outros quartos, mas não conseguia se lembrar de nada. Sentia-se frustrada. De nada estavam adiantando seus esforços. Será que nunca mais conseguiria se lembrar de seu passado? A frustração a tomara novamente. Sua "excursão" pela casa de nada adiantou.

Voltara para seu quarto e permanecera lá. Ficara desanimada, pois de nada adiantaram seus esforços. Flear acabara de chegar do centro da cidade, estava super atrasada para ir para a faculdade, mas não podia sair sem ver a irmã. Hilda estava olhando alguns papéis que estavam guardados em sua escrivaninha. Uma batida leve na porta chamou sua atenção.

- Hilda? – disse Flear entrando no quarto – Como você está? – pergunta se aproximando da irmã calmamente.

- Eu estou bem, obrigada. – disse Hilda. Sentia-se horrível. Aquela jovem tão preocupada com ela e nem sequer se lembrava... Os olhos dela se encheram de lágrimas. Hilda baixou a cabeça enquanto tentava se conter. Flear se surpreendeu com as lágrimas da irmã.

- Hilda... O que foi? – perguntou tocando o queixo da irmã fazendo-a olhar em seus olhos.

- Eu sinto muito... Eu não consigo... Eu já procurei em tudo o que podia e não consigo... – o choro irrompeu ruidosamente. Flear abraçou Hilda, tentando acalmá-la.

- Eu sei! Não fica assim, por favor. Você vai se lembrar, eu sei que vai. – afastou-se e olhou nos olhos vermelhos e molhados da irmã, seus próprios olhos cheios de lágrimas – Eu vou estar sempre ao seu lado, minha irmã. Você pode contar comigo sempre. – abraçou-a novamente.

- Obrigada. – disse se acalmando.

- Eu preciso ir para a faculdade agora... - de repente uma preocupação tomou Hilda de repente. Flear lhe falara que ela lecionava em uma faculdade. Como estariam os alunos? Será que estavam sendo prejudicados por causa de seu estado? Não podia ficar com essa dúvida.

- E quanto às minhas aulas, aos alunos? Você disse que eu lecionava em uma faculdade...

- Não se preocupe com isso, Siegfried assumiu temporariamente suas aulas... – respondeu casualmente.

- Siegfried? – aquele nome lhe pareceu familiar.

- Sim. Ele estava no hospital aquele dia, quando você acordou... – respondeu Flear sem perceber a reação da irmã.

- Eu me lembro dele... Daquele dia, no hospital. – murmurou ela.

- Ele está muito preocupado muito com você. – Hilda olhou para Flear.

- Esse rapaz... Siegfried, né? – Flear confirmou, feliz pelo interesse da irmã.

- O que tem ele? – perguntou Flear fazendo-se de desentendida.

- De onde eu o conheço? – perguntou desviando o olhar para a janela do quarto.

- Bem... Você o conheceu quando foi procurá-lo para convidá-lo a apresentar uma palestra lá na faculdade. – Hilda olhou para ela novamente – Você ficou muito impressionada com ele...

- Eu?! Por que? – perguntou ruborizada.

- Bom... Por ele já ser tão famoso apesar de tão jovem e pelo seu inegável charme... – disse sorrindo, mas não querendo induzir os sentimentos da irmã, Flear omitiu que Hilda, antes do acidente, estivera apaixonada pelo belo professor.

- Ele me pareceu bem preocupado aquele dia... Eu fiquei com medo dele no começo, sabe? – confessou.

- Medo de Siegfried?! Por que?! – perguntou Flear surpresa.

- Ah, eu não me lembrei dele... Não sabia quem ele era, mas quando olhei em seus olhos... Eu vi que não tinha motivos para temê-lo... – ela abaixou a cabeça, confusa.

- Ele ficou muito preocupado com você. Vocês se tornaram bons amigos... Será que ele poderia vir até aqui, conversar com você?

- Conversar comigo?! – perguntou surpresa. Por que aquele rapaz iria querer conversar com ela? Era do rosto dele a primeira lembrança que ela tinha depois de ter recobrado a consciência. Quando o viu no quarto, no hospital e não o reconheceu, ficou com um pouco de medo dele. Mas, depois do susto inicial, ao olhar para aqueles penetrantes olhos azuis-claros, viu a dor quando não o reconheceu e a preocupação estampada em seu belo rosto. Sentiu que não tinha por que temê-lo. Uma sensação diferente a envolveu... Era tão boa... Sentia-se protegida perto dele e agora estava sentindo falta dessa proteção. Não sabia porque, mas sentia falta dele. Queria vê-lo de novo, saber exatamente quem ele era.

- É, eu posso pedir para que ele venha vê-la. –Hilda ergueu a cabeça e encarou a irmã – Talvez ele a ajude a se lembrar de algo... – Hilda a olhou pensativa. Queria poder rever aquele rapaz, se desculpar por sua reação tão grosseira ao vê-lo.

- Pode... – disse - Eu gostaria de reencontrá-lo e apagar a impressão que ficou da última vez que nos vimos... Ele deve ter ficado chateado pela forma como que o tratei...

- Ele sabe o que aconteceu... Sabe que você não se lembrava... E estava muito preocupado com você... Bem, eu vou pedir para que ele venha visitá-la. Tchau, querida. Eu já estou atrasada. – disse Flear beijando a testa de Hilda e saindo do quarto rapidamente. Hilda ficou pensando em tudo que a irmã acabara de lhe contar. Amigos... Eram bons amigos, então.

Flear chegou à Faculdade e encontrou com Hagen e Siegfried. Ela abriu um sorriso e cumprimentou-os.

- Olá rapazes, como estão? – disse sorrindo.

-Você me parece mais animada... – comentou Hagen, feliz por ver o sorriso voltar à face dela – Sua irmã está bem? – perguntou ele. Siegfried olhou atentamente para Flear, esperando por sua resposta.

- Ela está bem. Está interessada em se lembrar das coisas... Ficou um pouco chateada, pois procurou pela casa toda e nada lhe acendeu a memória... Mas o médico disse que o fato de ela se interessar já era meio caminho andado. Agora é uma questão de tempo. – Siegfried baixou a cabeça ao ouvir as palavras dela. A culpa ainda o corroia – Ela quer revê-lo, Siegfried. – as palavras de Flear chamaram sua atenção. Ele ergueu a cabeça e olhou para ela e Hagen.

- O que?! – ele não conseguia acreditar no que ouvira.

- Por que o espanto? Vocês são "amigos", não são? – disse Hagen com um sorrisinho maroto – Além do mais... Você foi a primeira pessoa que ela viu quando recobrou a consciência, ela deve estar estranhando o fato de que você não foi mais vê-la.    

- Estranhando... Ela não deve nem se lembrar de que eu estive lá... – disse tristemente.

- Você está enganado, Siegfried... – ele olhou para Flear – Ela se lembra de você no hospital e de como você pareceu magoado quando ela não o reconheceu...

- Magoado?! Eu não tenho direito de me sentir magoado, Flear... Ela está assim por minha culpa...

- Mas que coisa!!! Quando é que você vai entender que continuar se culpando não vai ajudá-la em nada, Siegfried! – disse Hagen, tentando colocar um pouco de bom-senso naquela cabeça dura.

- Eu vou preparar um jantar pra amanhã lá em casa... Você e Hagen estão convidados. – disse Flear.

- Presença garantida! – diz Hagen animadamente.

- Que bom, Hagen – diz ela não contendo sua felicidade, ruborizando-se em seguida – E você, Siegfried? – pergunta.

- Eu não sei Flear... – foi interrompido por ela com uma ameaça.

- Se você não for e ela me perguntar alguma coisa... Vou dizer que você não quis vê-la por que não se importa com ela! – disse irritada.

- Você não teria coragem de dizer uma coisa horrível como essa... – disse Siegfried incrédulo.

- Quer pagar pra ver?! – desafiou-o.

- Está bem, eu vou. – cedeu diante de tal ameaça - Mas... Não seria melhor um lugar "neutro"?

- Como assim? – perguntou Flear.

- Sei lá... Um lugar em que ela ficasse à vontade... Não precisasse se preocupar com nada... Um lugar onde ela não tivesse que sentir como uma anfitriã desatenta, pois na casa de vocês ela seria uma das anfitriãs e isso pode deixá-la ainda mais nervosa. – Siegfried ponderou – Talvez um lugar para que ela pudesse relaxar.

- Eu acho que ele tem razão. – Hagen disse olhando para Flear.

- Por mim tudo bem, contanto que eu faça esses dois se reencontrarem... – disse apontando para Siegfried - E aonde iremos, então? – perguntou ela olhando para Hagen.

- Não precisa se preocupar com isso... Nós iremos buscá-las. – disse Hagen sorrindo para ela. Flear correspondeu o sorriso timidamente.

- "timo! Amanhã às oito! Agora eu preciso ir. Tchau rapazes – disse ela se afastando deixando um Siegfried contrariado e um Hagen perdidamente apaixonado.

- Ela é incrível, não é? – disse Hagen, olhando-a extasiado.

- Ela é sádica, isso sim. Como ela acha que eu vou me sentir nesse jantar... Hilda não sabe quem eu sou e...

- Se você falar que é sua culpa... Eu vou esganá-lo, Siegfried! – disse Hagen olhando para o amigo – O que Flear disse é verdade... Ficar se culpando não vai ajudar Hilda em nada. Talvez você a ajude a se lembrar de alguma coisa... – Siegfried nada disse, perdido em pensamentos e preocupações.

Continua...

Gente... eu juro que esta fic acaba bem. Por favor, não desistam e não esqueçam os comentários. Beijos e até a semana que vem. Tchau.