Baile de Formatura

Salão do baile de formatura

           

Hagen e Siegfried já estavam ficando nervosos. Quando estavam em suas respectivas casas, arrumando-se para a festa, parecia que o tempo passava tão rápido e agora... Os segundos pareciam horas.

A cada pessoa que cruzava a entrada do salão, o olhar dos dois imediatamente se desviava para a porta. Já estavam começando a achar que elas não viriam. Foram até a mesa e pegaram um copo de ponche.

Siegfried já estava tenso, com Hagen falando pelos cotovelos, só o enervava ainda mais.

Hagen falava sem parar, vendo se isso o acalmava. Ele se voltou para a porta enquanto bebia um gole e ficou estático. Uma beldade acabara de entrar.

Siegfried acabara de se servir e olhou para o amigo, estranhando seu silêncio. Hagen não parara de falar desde que chegaram àquele lugar. Vendo-o em "transe" seguiu seu olhar e sua reação não foi diferente. Seu movimento parou imediatamente. Estava extasiado. Uma deusa de cabelos prateados acabara de entrar no salão. Os copos de ambos esquecidos a meio gesto.

Hilda e Flear começaram a descer as escadas. Os olhos de ambas procurando discretamente por dois belos rapazes.

Acordando de seu transe, Hagen e Siegfried caminharam até as escadas. O coração de ambos disparados.

Os olhos de Flear encontraram-se com os de Hagen e ela sorriu, sendo correspondida prontamente. Ele estendeu a mão para ela que a tomou e os dois caminharam em direção às mesas.

Siegfried ficou ali parado, vendo sua amada no topo da escada, sendo abordada por alguns alunos. Ela ainda não o tinha visto e isso dava a ele total liberdade para observá-la. Nunca sentira seu coração bater tão forte quanto naquele momento.

Hilda sorriu e olhou para o salão. Seus olhos cruzaram com os de Siegfried e ela deu um tímido sorriso.

Siegfried ainda se sentia mal pelo que acontecera com ela, mas tinha medo de abordar o assunto e magoá-la mais uma vez.

Hilda se despediu dos alunos e começou a descer as escadas. A intensidade do olhar de Siegfried sobre ela a deixava encabulada. Ele acompanhava os movimentos graciosos e delicados completamente embevecido. Quando se deu conta ela já estava parada em frente a ele.

- Oi... – disse sorrindo para ele. Ele estendeu a mão e tomou a dela, levando-a aos lábios, dando-lhe um delicado beijo, sempre a fitando nos olhos. Ela acompanhara os movimentos dele e quando sentiu seus lábios tocando sua mão enrubesceu, e seus olhos buscaram os dele. Os olhos azuis a hipnotizavam, enquanto ele se sentia enfeitiçado pelos olhos violeta. Ele sorriu para ela e ofereceu-lhe o braço. Ela correspondeu ao sorriso dele e enganchou seu braço ao dele e deixou-o conduzi-la até a mesa onde Hagen e Flear já se encontravam sentados um frente ao outro, conversando animadamente. Siegfried puxou a cadeira para ela se sentar ao lado de Flear e deu a volta sentando-se ao lado de Hagen. Dessa forma os dois rapazes podiam contemplar suas belas acompanhantes sempre que quisessem.

Alguns alunos já se encontravam dançando animadamente no meio do salão, enquanto os quatro professores conversavam sentados à mesa. Hagen convidou Flear para dançar e deixaram Siegfried e Hilda sozinhos e um pouco nervosos. Depois de alguns minutos de silêncio e troca de olhares e sorrisos tímidos, começaram a conversar.

- Aqueles dois estão se entendendo muito bem. – comentou Siegfried fazendo um gesto com a cabeça em direção ao casal. Hilda olhou para o salão e sorriu ao ver Hagen e Flear dançando. Pareciam felizes. Invejou um pouco a irmã. Queria muito dançar com Siegfried. Siegfried a observa, tentado a convidá-la para dançar, mas ainda se sentia inseguro. Eles estavam aos poucos construindo um relacionamento, uma amizade, embora ele quisesse mais. Hilda olhou para ele sorrindo.

- Sim, você tem razão. Eles são perfeitos juntos. Flear gosta muito de Hagen... se é que você me entende... – disse ela com um sorriso maroto. Siegfried sorriu também e concordou. Conversavam animadamente, quando de repente o rosto de Siegfried tornou-se sério ao mirar a entrada do salão. Freya e Alberich acabavam de chegar. Ele não sentia mais nada por ela, ignorava-a. Na verdade descobrira, depois que conhecera Hilda, que nunca amara Freya. Agora, era como se ela nunca tivesse existido. Mas lembrava-se da última vez em que se falaram. Olhou para Hilda e aquela lembrança causou um aperto em seu peito. Hilda o fitou, percebera a súbita mudança no semblante de Siegfried. - Está tudo bem, Siegfried? Não está gostando da festa? – Siegfried sorriu e baixou a cabeça. Não conseguindo se conter tocou a mão dela e olhou em seus belos olhos violeta.

- Eu estou adorando cada minuto. – acariciando a mão dela suavemente. Sua atitude a fez sorrir e baixar a cabeça timidamente. Estavam conversando e Siegfried já estava totalmente esquecido da presença indesejável. Mas foi por pouco tempo.

- Olá. – disse uma voz que soava simplesmente irritante aos ouvidos de Siegfried. Freya estava parada ao lado da mesa deles, acompanhada de Alberich que parecia ligeiramente desconfortável – Como está Siegfried? – este não se dignou a respondê-la. Fitou-a friamente. Freya lhe sorriu com cinismo. – Hilda... – a jovem olhou para Freya, mas não a reconheceu.

- Desculpe, mas não me... – foi interrompida.

- Não se preocupe, Hilda. Eu já sei. Sinto muito pelo que aconteceu a você. – disse inclinando-se beijando Hilda no rosto. Ela se afastou e se voltou para Alberich, puxando-o pela mão. – Creio que você se lembra de Alberich, não é Siegfried? – Alberich olhou para Siegfried e seu desconforto aumentou.

- Por que aceitei vir com Freya até aqui? - pensava. Alberich não dirigiu a palavra a Siegfried. Sabia que seria ignorado e com razão. Arrependia-se do que tinha feito no passado. Não era feliz ao lado de Freya, mas amava-a. Faria qualquer coisa por ela. Era uma obsessão. Tinha que se livrar dessa obsessão se quisesse ser feliz, mas não tinha forças pra isso. Siegfried olhou de um para o outro inexpressivamente. Era como se não estivessem ali. Hilda olhou para Siegfried curiosa. Ele sempre fora reservado, mas também um cavalheiro. Aquela atitude não condizia com sua personalidade.

- Alberich... Esta é Hilda Njörd. – disse Freya apresentando-os - Hilda... Alberich Undur. – disse ela.

- Prazer senhor Undur. – disse Hilda estendendo a mão para cumprimentá-lo

- Muito prazer senhorita Njörd. – Alberich tomou a mão da jovem e começou a por o plano de Freya em prática, mesmo sem concordar com o que ela estava fazendo. Olhando-a intensamente, Alberich levou a mão da jovem aos lábios, beijando-a delicadamente. Pela primeira vez desde de que se aproximaram de sua mesa, Siegfried demonstrou alguma emoção. Indignação, pela atitude tão ousada. Mágoa, pelas lembranças que passaram por sua mente. Ciúme, um louco ciúme. E medo de perder a única mulher que realmente amara em sua vida. Hilda não podia ser comparada a Freya. Freya era uma cobra, ardilosa, traiçoeira. Hilda era doce, carinhosa e ingênua. Ao contrário de Freya que tinha um compromisso assumido com ele quando o traiu, Hilda e ele não tinham nada e ela era livre pra se envolver com quem quisesse e era exatamente isso que o assustava. Ele olha para Freya e vê seu sorriso debochado. Tudo isso se deu em apenas alguns instantes. Quando Siegfried acorda de seu transe, Alberich já se afastara de Hilda.

- Bem... – diz ela e engancha o braço ao de Alberich – Temos que ir agora. Com licença. – Siegfried parecia fuzilá-los com os olhos. Hilda olhou para ele e estranhou mais ainda sua atitude. Ele parecia furioso...

- Siegfried... Está tudo bem? – pergunta chamando sua atenção para ela – Já os conhecia? – perguntou ela.

- Infelizmente sim... – respondeu ele e tratou de mudar de assunto. Siegfried olhou para Hilda, que admirava os casais na pista de dança. O episódio o deixara inseguro e só de pensar em convidá-la, Siegfried sentiu seu coração disparar, mas se controlou. Respirou fundo: – Hilda... – ela olhou pra ele.

- Sim? – perguntou.

- Quer... Quer dançar comigo? – disse estendendo sua mão pra ela. Percebendo nesse instante que estava trêmulo. O sorriso dela o encantou. Ela colocou a mão sobre a dele:

- Adoraria... – disse gentilmente. Siegfried se levantou e Hilda o imitou. Depois ele a conduziu até a pista de dança. Param na frente um ao outro e ficaram se olhando por alguns instantes. Siegfried se aproximou dela e segurou sua mão direita e a envolveu pela cintura, puxando-a contra seu corpo.

Hilda, quando sentiu Siegfried puxá-la para si, pousou a mão esquerda sobre o ombro dele. A proximidade fez com pudessem sentir o perfume um do outro. Olhavam-se intensamente. Siegfried levou a mão que segurava a dela ao peito, encostou a testa na dela e fechou os olhos. Tê-la perto de si fez com que ele relaxasse e deixasse seu coração conduzir suas ações. Hilda fechou os olhos e sorriu. Siegfried sentia uma vontade imensa de se declarar a ela, mas queria fazê-lo num local mais reservado, só os dois.

            A noite estava perfeita, mas infelizmente estava chegando ao fim.

Hagen se oferecera para levar Flear pra casa e Siegfried convidara Hilda para ir com ele, com a desculpa de deixarem o casal a sós. Flear aceitou a oferta de Hagen e os dois se retiram da festa juntos.

Hilda e Siegfried foram alguns minutos depois. Siegfried pediu para que Hilda o esperasse enquanto ele ia buscar o carro. Hilda ficou esperando-o na frente do salão, quando Alberich apareceu. Freya passara a noite toda observando os dois.

- Oi. – disse se aproximando de Hilda. Esta se virou para ver quem a tinha chamado.

- Ah, olá senhor Undur. – disse ela.

- Alberich, por favor. – disse aproximando-se cada vez mais. Hilda deu um passo para trás para manter distância, mas o rapaz continuava avançando até que ela ficasse encurralada contra o muro. Ele tocou o rosto dela suavemente. Hilda não apresentava reação. Estava paralisada.

- O que está fazendo?! – perguntou assustada. Alberich continuou a acariciar o rosto dela.

            Siegfried encostou o carro e olhou em direção à frente do salão. Viu Hilda e Alberich quase colados um ao outro. Uma onda avassaladora de raiva e ciúme o tomou e as lembranças da decepção que passara oito anos antes voltaram com força total. Seu peito se apertou e seus olhos arderam. Não, Hilda não! Não podia perdê-la! Por que aquele infeliz sempre atrapalhava sua vida? De repente o gesto dela lhe chamou a atenção. Hilda estapeara Alberich.

Siegfried saiu do carro furioso e caminhou até eles quando o rapaz segurara o braço de Hilda. Siegfried puxou Alberich pelo colarinho e esmurrou-o jogando no chão de pedra.

O ruivo de olhos verdes sentiu o gosto amargo de sangue lhe vir à boca e ergueu o olhar para Siegfried que o encarava com fúria, um olhar ainda mais aterrador do que aquele que ele lhe dirigira oito anos atrás.

- Filho da... – Siegfried avançou, mas Hilda o deteve.

- Não! – o loiro olhou pra ela. Só então se lembrou da presença dela. Ficara cego pela raiva e ciúmes que tinha sentido – Vamos embora, Siegfried. – ele olhou para Alberich e para Hilda novamente e pareceu se acalmar um pouco. Pegou a mão dela e a conduziu rapidamente até o carro. Abriu a porta para que ela entrasse e deu a volta entrando pelo outro lado.

Alberich se ergueu passando as costas da mão pela boca, limpando filete de sangue que escorria do lábio inferior, cortado por causa do murro. Sorriu. Um peso lhe foi tirado dos ombros ao ver que o plano de Freya não surtira efeito. Acompanhou com o olhar o carro virar a esquina e tomou uma decisão. Precisava afastar-se de Freya.

Siegfried dirigia em silêncio. Não olhava para Hilda. Sua visão se mantinha fixa na estrada a sua frente. Hilda sentia-se incomodada com a situação, como se o que tinha acontecido fosse sua culpa. Sem conseguir se conter mais resolveu expor o que estava sentindo:

- Está zangado comigo, Siegfried? – perguntou. Siegfried olhou-a surpreso. Ela o olhava ansiosa e temerosa.

- Por que acha isso? – perguntou. Seu semblante estava mais suave.

- Eu... Não sei... Não queria... Que se envolvesse em uma briga por minha causa... – baixou a cabeça e continuou – A noite estava tão gostosa; divertida... – ele olhou pra ela e sorriu, feliz por ter tornado a noite dela agradável. Ela olhou pra ele. – Não ter estragado tudo... Desculpe-me.

- Não foi culpa sua. – disse ele voltando os olhos para a pista – Eu conheço aquele cara há alguns anos... Ele não tinha o direito de agir daquela maneira com você. – ele olhou pra ela e seus olhos pousaram sobre as manchas vermelhas no pulso dela, devido à pressão dos dedos de Alberich. – Ele a machucou? – perguntou. A raiva já brilhando em seus olhos azuis. Ele tornou a olhar pra frente.

- Não... Ele apenas me assustou. – Hilda ficou pensativa durante alguns instantes – Quando fomos apresentados, ele me pareceu uma boa pessoa. – Siegfried olhou para ela novamente um pouco contrariado – Não sei... a... Àquela hora... Lá na saída... Sua atitude parecia não combinar com ele... Foi estranho... – ela concluiu e olhou pra Siegfried.

- Nem sempre a primeira impressão é a que fica, Hilda. – disse ele desviando os olhos da estrada para olhar para ela novamente – Infelizmente eu sei por experiência própria que essa é mais pura verdade. - ficaram em silêncio alguns minutos até que Siegfried tornasse a falar – Você gostou da festa? – perguntou ele.

- Sim, eu adorei. Senti-me em casa, em meio a pessoas que não reconheço, mas que eu sinto que gostam de mim. – disse sorrindo pra ele.

- E gostam mesmo. – ele olhou intensamente para ela – Não há quem não goste de você... – disse deixando-a encabulada.

- Obrigada... – disse timidamente. Siegfried parou o carro em frente à casa dela. Fora devagar para prolongar o momento, mas a hora de deixá-la em casa chegou mesmo assim.

- Chegamos... – disse ele. Hilda olhou para a fachada de sua casa um pouco decepcionada e depois olhou para ele com um sorriso.

- É chegamos. Obrigada pela noite maravilhosa Siegfried. Eu adorei cada minuto. – ela se inclinou para ele e beijou-o no rosto. Ao senti-la tão perto de si, o coração de Siegfried disparou e ele precisou de todo seu autocontrole para não realizar seu desejo: beijá-la com todo o ardor e a intensidade do amor que sentia por ela. Ela sorriu e acariciou o rosto dele – Tchau, Siegfried – ela saiu do carro e antes de entrar na casa acenou para ele que conseguiu sair de seu transe e finalmente respondeu ao aceno. Ele ligou o carro e saiu. Fora por pouco. Estava orgulhoso e irritado consigo mesmo, contraditoriamente pelo mesmo motivo: Ter conseguido se controlar.

Hilda entrou como se estivesse flutuando. Seu coração estava disparado e ela não acreditava na ousadia de seu gesto. Subiu as escadas e foi até o quarto de Flear. A irmã já devia ter chegado a algum tempo.

Continua...

Esse capítulo ficou um pouquinho grande, não é mesmo? Espero que não estejam enjoados da fic... ela já está se encaminhando quase no fim...

Não deixem de comentar, beijos e todos a até a semana que vem. Tchau.