Felicidade
Flear estava em seu quarto arrumando sua roupa no armário. Um sorriso permanente iluminava seu rosto. Ouviu uma leva batida na porta.
- Pode entrar! – disse virando-se para ver quem era. Sorriu ao ver a irmã – Que demora! Já estava ficando preocupada!
- Houve um contratempo.
- Que contratempo? – perguntou Flear.
- Oh, nada de importante. – disse Hilda reticente. Olhou para a irmã e notou que ela estava com um brilho diferente no olhar – O que houve? – perguntou sorrindo.
- Por que pergunta? – perguntou Flear enrubescendo.
- Você está diferente... Parece... Não sei... Radiante! Sim, você está radiante! – disse Hilda – Acho que toda essa felicidade deve ter algo a ver com um certo moreno de olhos azuis... Estou certa? – Flear olhou pra ela e abriu um enorme sorriso, segurando as mãos da irmã, a guiou para que se sentassem sobre a cama.
- Ah, Hilda – disse ela com um ar sonhador – Eu estou perdidamente apaixonada.
- Ora... Isso eu já sabia... – disse debochando. Flear olhou-a surpresa e sorriu.
- Mas o que você não sabe é que ele me pediu em namoro! – disse abraçando a irmã.
- Sério?! – perguntou Hilda. Flear confirmou – Que bom! Fico feliz por você! – as duas se afastaram – Me conta... Como foi? – Flear tomou fôlego e começou seu relato...
Retrospecto
Hagen estava ansioso. Decidira se declarar a ela na noite do baile, mas conforme o tempo ia passando e a hora em que a reencontraria ia chegando sentia a intensidade dos sentimentos que estavam aprisionados em seu peito durante os últimos meses consumi-lo e sua coragem e determinação iam se esvaindo e a insegurança se instalava lentamente. Seu coração clamava por liberdade ao mesmo tempo em que temia uma possível rejeição. Apesar do medo, não tinha a intenção de voltar atrás: iria se declarar a ela naquela mesma noite.
Quando a viu entrar no salão, foi como se todas as suas dúvidas e receios tivessem sido dissipados ao vislumbrar seu sorriso e só restasse em seu coração a certeza de que precisava dizer-lhe o que sentia ou acabaria enlouquecendo. Não sabia de onde tinha conseguido coragem para oferecer-se para acompanhá-la. Ficou radiante quando Flear aceitara seu convite e os dois, de braços dados caminharam juntos até a mesa.
Flear estava trêmula. Sentia que aquela noite seria especial e por isso estava ansiosa. Aproximaram-se de uma mesa e Hagen puxou a cadeira para que ela sentasse e se sentou de frente pra ela. Dessa forma podiam trocar olhares constantemente.
Eles ficaram conversando durante alguns minutos com Hilda e Siegfried enquanto Hagen tomava coragem para convidá-la pra dançar. Ele respirou fundo e se levantou. Flear olhou pra ele acompanhando seus movimentos. Ele estendeu a mão pra ela.
- Quer dançar, Flear? – ele a olhava em expectativa. Ela sorriu tocou a mão dele. Ele respirou aliviado e sorriu, conduzindo-a à pista de dança. Os dois se aproximaram e ele a enlaçou pela cintura, segurando a mão dela na sua e sentiu quando a outra mão o tocou no ombro.
- Eles formam um lindo casal, não? – disse Flear comentando sobre a irmã e o rapaz que ela esperava que fosse seu futuro cunhado. Flear e Hagen os observavam atentamente.
- Sim. – disse Hagen concordando enquanto olhava para os dois sentado à mesa – Ele já sofreu tanto... Merece ser feliz – comentou Hagen sem pensar. Flear voltou seus olhos pra ele. Hagen olhou pra ela intensamente, o que a fez baixar os olhos, constrangida. Hagen sentiu seu coração disparar e sem se conter, trouxe-a para mais perto de si. O gesto a surpreendeu e ela tornou a olhar para ele. A proximidade entre seus rostos a deixou desconcertada e ela estremeceu levemente. Hagen sentiu a mão que estava pousada sobre seu ombro deslizar suavemente para suas costas e Flear deitou a cabeça no peito dele. Ele ficou surpreso com a atitude, mas imensamente feliz. Sorriu. Eles dançaram por mais algum tempo. Não se afastaram nem um único segundo. A noite estava perfeita, mas infelizmente estava chegando ao fim.
- Acho que vou embora. Está ficando tarde. – disse ela
- Mas já?! – disse Hagen – A noite é uma criança.
- Eu tenho que estar manhã logo cedo na faculdade. Vou chamar Hilda. – disse ela encaminhando-se para onde Hilda e Siegfried estavam. Hagen a deteve.
- Deixo-os curtir mais um pouco. Hilda e Siegfried parecem estar se entendendo novamente. – disse ele. Flear olhou para o casal e depois para Hagen – Eu levo você pra casa. – ofereceu-se.
- Não precisa se incomodar, Hagen. Eu pego um táxi... – disse ela.
- Eu faço questão. Não vou permitir que volte pra casa sozinha. – disse ele.
- Que exagero Hagen! – comentou ela.
- Eu insisto. – disse ele. – Por favor... – o pedido soou tão doce que ela não conseguiu recusar.
- Está bem. – disse. Os dois se dirigiram à mesa onde estavam Hilda e Siegfried e Flear avisou-a que ia embora. Hilda fez menção de ir com ela, mas foi dissuadida pela irmã e pela doce insistência de Siegfried e ela cedeu.
O caminho de volta até a casa de Flear foi nervoso para ambos. Aquela sensação de antecipação e ansiedade não os abandonava. Hagen estava apavorado com a idéia de não conseguir dizer a ela o que sentia. Tentava camuflar seu nervosismo conversando animadamente. Em menos de quarenta minutos estavam parados em frente à casa dela. Hagen a acompanhou até a porta.
- Obrigada pela noite, Hagen. Foi maravilhosa. – disse ela. Os dois estavam parados, em frente à porta da casa dela, olhando-se intensamente. – Boa noite. - disse ela já abrindo a porta.
- Flear! – ela se voltou para ele – Eu preciso te falar uma coisa...- ele se aproximou dela.
- O que foi Hagen? – perguntou ela.
- Ah... Eu... Queria dizer que eu... - Meu Deus! Como é difícil! - Hagen respirou fundo e disse tudo de uma só vez – Fleareunãoconsigoparardepensar... – ele falara tão rápido que Flear não entendera uma única palavra.
- Hagen... Eu não estou entendendo nada que você está tentando me dizer. – ela sorriu, achando engraçado e não entendendo o nervosismo dele.
- Flear... Eu... – ele se aproximou. Tomou o rosto dela em suas mãos. Ela estremeceu ante ao toque dele e sua respiração se tornou difícil. Tê-la perto de si o fez esquecer de todo o resto e sem se conter ele tocou suavemente os lábios dela com os seus. Ela colocou as mãos sobre os ombros dele e fechou os olhos, apreciando o beijo. Hagen, os olhos ainda fechados, murmurou contra os lábios dela, roçando-os levemente enquanto falava: – Eu te amo, Flear... – ela abriu os olhos e ele se afastou. Ela não conseguiu dizer nada. A felicidade vibrando por todas as células de seu corpo – Desculpe-me... Eu não devia ter feito isso. – disse ele afastando-se. Ela o deteve segurando delicadamente sua mão. Hagen olhou para as mãos deles e viu-a entrelaçar os dedos aos dele. Fitou-a e a viu sorrir. Ela se aproximou dele e tocou seu rosto, contornando seus lábios com os dedos num gesto delicado e apaixonado.
- Eu te amo, Hagen – disse sorrindo, olhando fixamente para os olhos dele. Hagen sorriu e se inclinou para beijá-la novamente. Enlaçou-a pela cintura, e sentiu-a abraçando seu pescoço. O beijo desta vez era apaixonado e intenso. Eles se afastaram para poderem respirar.
- Você aceita namorar comigo? – perguntou extasiado.
- Claro! Eu tenho esperado por este momento há meses! – disse beijando-o novamente. Ficaram algum tempo namorando, trocando carinhos e declarações de amor até Hagen achar que era hora de ir. Despediram-se com um longo beijo e se separam sonhadores e felizes.
Fim do Retrospecto
- Ai que bom! – disse Hilda abraçando a irmã – Vocês formam um casal tão lindo...
- Eu estou tão feliz! Nunca pensei que pudesse amar alguém assim... Tão intensamente! – disse Flear com um ar sonhador. As duas se afastaram. Flear estava radiante. Hilda não pôde evitar sentir uma pontinha de inveja da felicidade de Flear.
- Ah Flear... Eu fico muito feliz por você, mas não posso deixar de sentir um pouco de inveja também. – disse Hilda envergonhada. Flear a abraçou.
- Você não tem motivo para me invejar. – disse Flear. Hilda afasta-se dela e a encara – Você tem alguém que a ama intensamente. – diz sorrindo, marota. Diante do olhar confuso de Hilda, Flear solta um suspiro – Siegfried, Hilda! Quando é que vocês dois vão criar coragem e assumirem o que sentem?!
- Flear... – Hilda estava muito confusa. Ela sabia o que sentia por Siegfried, mas o fato de não conseguir se lembrar de nada sobre sua vida a incomodava. Como ela poderia querer prender alguém a ela se nem mesmo sabia quem era?
- Não deixe que sua felicidade lhe escape por entre os dedos, minha irmã. – disse Flear acariciando o rosto da irmã.
- Flear... Como eu posso prendê-lo mim se nem mesmo sei que sou? – disse ela aflita.
- Ele sabe quem você é! Ele a ama... – Hilda se levantou lentamente.
- Boa noite, Flear! – voltou-se e sorriu para a irmã – Felicidades! – disse e saiu do quarto.
Hilda caminhou para seu próprio quarto, pensando na noite maravilhosa que tivera com Siegfried. Como ele a olhava durante toda a festa, como ela se sentira protegida nos braços dele quando dançaram juntos, a contida felicidade que sentiu quando ele a defendeu tão impulsivamente...
Ela chegou em seu quarto, trocou suas roupas e preparou-se para dormir, porém o sono demorou a chegar. Ela pensava nele e tentava avaliar seus sentimentos. Pelo que Flear lhe contara ela já estava apaixonada por Siegfried antes do acidente, então não corria o risco de se descobrir apaixonada por outra pessoa caso recobrasse a memória. Sentia um medo terrível de perdê-lo. Preferia tê-lo apenas como amigo a que correr o risco de perdê-lo.
Continua...
Resolvi atender a pedidos (de Therezinha-Fleur) e fazer uma surpresinha pra vocês. Espero que gostem. Sigam em frente...
