Dúvidas e Esclarecimentos
Flear chegara em casa decidida a conversar com Hilda. Subiu as escadas e parou na frente do quarto da irmã. Abriu a porta lentamente e viu Hilda deitada na cama, abraçada ao travesseiro. Parecia estar dormindo. Flear a olhou tristemente.
Hilda tinha um semblante carregado. Ela se aproximou da cama de Hilda e sentou-se a seu lado. Ficou a acariciar-lhe os cabelos. O gesto fez com que Hilda despertasse. Ela abriu os olhos e viu Flear sentada ao seu lado. As lembranças voltaram a sua mente e seus olhos arderam por causa das lágrimas que começavam a se formar. Sentou-se na cama e enxugou os olhos.
- Flear... – murmurou ela. Flear abraçou a irmã para consolá-la. Hilda deixou que as lágrimas corressem livremente por seu rosto.
- Schhh – Flear acariciava as costas da irmã – Hilda... Acalme-se – dizia ela.
- Ele... Ele... – ela não conseguia terminar.
- Você está enganada Hilda. Tudo não passou de um mal entendido. – Hilda se afastou bruscamente.
- Mal entendido?! – disse ela incrédula – Mal entendido, Flear?! – ela se levantou bruscamente. Flear ficou surpresa com a súbita reação da irmã – Eu vi... – disse num murmúrio.
- Hilda... Eu sei o que estou dizendo. Você está enganada! – Flear se levantou e aproximou-se de Hilda – Eu não sei ao certo o que realmente aconteceu entre Freya e Siegfried... Ele nunca comentou nada comigo sobre isso e eu também não quis perguntar a Hagen... Afinal era um assunto pessoal. Eu não tinha o direito de me envolver. Você precisa conversar com ele. Esclarecer tudo...
- Não. Eu não tenho nada a ver com a vida dele. Ele pode fazer o que quiser. Ele não tem que me dar satisfação...
- Então por que você está agindo dessa forma? – perguntou Flear. Hilda desviou o olhar.
- Eu o amo, Flear. Ele pode se envolver com quem ele quiser, mas eu não posso evitar que isso me machuque...
- Ele não está envolvido com ela, Hilda! – exasperou-se Flear – Dê-lhe uma chance! Converse com ele! Ouça o que ele tem a dizer!
- Flear...
- Hilda... Você precisa ouvi-lo! – disse Flear categoricamente.
- Eu me lembrei, Flear... – disse Hilda.
- O que?! – Flear perguntou surpresa.
- Eu me lembrei de tudo... – Flear abriu a boca para falar algo, mas foi interrompida – Me lembrei do beijo que ele trocou com ela naquela mesma sala. – voz de Hilda falhou e seus olhos marejaram
- Hilda... – Flear se aproximou da irmã e a abraçou.
- Ele a ama... – disse ela tristemente.
- Ele foi pego de surpresa por ela, Hilda. Por favor, ouça-o antes de tirar qualquer conclusão.
- Você precisa me colocar a par do que está havendo na faculdade... – Flear se assustou com a súbita mudança de assunto. – Agora que recobrei a memória não pretendo ficar um dia sequer sem trabalhar.
Siegfried chegara em casa com uma terrível dor de cabeça. Deixara seu casaco sobre o encosto de uma cadeira e subira para sua suíte. Depois de um longo banho, foi para seu quarto e deitou-se na cama. Os acontecimentos das últimas horas o estavam atormentando.
Será que nunca se livraria daquela mulher? Ficou horas pensando sobre o que faria para dar um rumo definitivo a sua vida. Depois de algum tempo, finalmente adormecera.
Quarta-feira
Siegfried nunca se sentira tão cansado e desanimado. Sua vontade era de voltar correndo pra casa e não sair nunca mais.
Ele foi à faculdade e encontrou Freya no corredor. Sua expressão desanimada mudou para fúria.
Ela o encarou sorrindo maliciosamente e ele caminhou em direção a ela. Sentiu que alguém tocou seu ombro e voltou-se para ver quem era.
- O que vai fazer? – perguntou Hagen.
- Minha vontade é de esganá-la! – disse tornando a olhar para Freya.
- Vamos... Já estamos atrasados. – Hagen fitava o amigo pelo canto dos olhos, como que temendo que ao passar perto da moça, o rapaz não conseguisse se controlar e partisse pra cima dela. Os dois passaram por Freya, ignorando-a completamente. Hagen e Siegfried caminhavam lado a lado.
- Eu não agüento mais, Hagen... – disse ele – Eu estou quase entregando os pontos.
- Do que está falando?
- Freya... Ela está fazendo de tudo pra estragar a minha vida mais uma vez... E está conseguindo. E o que é pior... Está envolvendo Hilda nisso! – disse ele exasperado.
- Você não pode fraquejar... – disse Hagen encarando-o – Vai deixar que ela consiga o que quer? Você já teve mais fibra...
- É muito fácil pra você falar, né Hagen? Você está vivendo um mar de rosas... Não tem do que se queixar. Não tem ninguém querendo atrapalhar a SUA vida...
- Abra o jogo com Hilda... Não deixe que ninguém fique entre vocês. É óbvio ela já percebeu que você teve algum envolvimento com Freya, mas ela não sabe de mais nada. Você precisa se abrir com ela... – Siegfried o interrompe.
- A gente se fala depois, Hagen... Eu estou atrasado... – Siegfried se afasta do amigo e vai para sua sala.
O tempo passa devagar. As horas parecem se estender, quando soa o sinal, Siegfried sai de sua sala e se dirige à diretoria. Queria falar com Flear, saber como Hilda estava. Ele se aproxima da porta e bate levemente.
- Pode entrar! – ele abre a porta e seus olhos se arregalam, surpreso. Hilda o fita, também surpresa.
- Hilda... – ele murmura. Ela se levanta ao vê-lo.
- Oi. – diz ela, sentindo seu coração bater disparado.
- Você veio visit... – ela o interrompeu.
- Não, Siegfried... Eu estou de volta ao trabalho. – disse ela com um ar triunfante.
-... – ele ficou sem palavras por alguns instantes, fitando-a intensamente. O olhar dele a deixou constrangida e Hilda baixou a cabeça -... Quer dizer que voc...
- Eu recuperei minha memória. – disse ela. Quando tornou a olhar pra ele... Perdeu o fôlego. Ele sorria amplamente. Ela nunca tinha visto aquele sorriso no rosto dele antes. Era um sorriso deslumbrado e deslumbrante. Mas de repente o sorriso dele desapareceu quando se lembrou de tudo o que havia acontecido com ela.
- Hilda... Eu preciso conversar com você... Eu preciso explicar...
- Você não me deve satisfação, Siegfried. – ele se aproximou dela e segurou sua mão.
- Por favor, Hilda... – ela o olhava atentamente – Eu preciso conversar com você.
- Eu estou ocupada agora. – ela disse desviando os olhos dos dele. Siegfried franziu o cenho. Ela não estava facilitando as coisas, mas ele não estava disposto a desistir. Ela tornou a olhar pra ele e viu quando um brilho iluminou seus olhos azuis. Ele a encarou.
- Tudo bem, Hilda. – fez uma pausa – Conversaremos quando tiver tempo, mas não pense que vai escapar de mim. – ele falou olhando-a seriamente. De repente ele piscou pra ela e sorriu. – Tchau! – disse saindo da sala. Hilda ficou olhando para porta fechada durante alguns minutos, surpresa com a atitude tão descontraída. Não pode evitar que o leve sorriso que lhe curvou os lábios e ela se sentou em sua cadeira, retomando seu trabalho. Precisava examinar os documentos da faculdade: gastos e o recebimento das mensalidades.
Depois de fazer e refazer as contas inúmeras vezes percebeu que faltava uma considerável soma em dinheiro. Não era possível. Ela e Flear eram cuidadosas com relação às contas da faculdade. Flear entrou na sala nesse instante. Hilda estava compenetrada que não ouviu a irmã.
- Hilda! – chamou pela terceira vez. Hilda ergueu a cabeça e a fitou surpresa. Não tinha visto ela entrar na sala. Flear estranhou o semblante carregado. – Algo errado? – perguntou.
- Flear... Está faltando dinheiro aqui. – disse ela sem rodeios.
- O que?! Não pode ser, Hilda! Conferi tudo certinho... Eu tenho certeza... – disse ela.
- Mas está faltando dinheiro, e não é pouco, não! – disse Hilda avaliando novamente os papéis em sua mesa.
- Mas... – Hilda pega a lista telefônica e tecla rapidamente – O que você está fazendo, Hilda?
- Schhh. – fez sinal para que ela se calasse. Flear se calou e olhou-a com curiosidade – Alô... Vocês fazem instalação de câmeras de segurança?... Sei... Sim, eu tenho uma câmera de vídeo em meu gabinete e gostaria de checar as imagens dos últimos... Um instante, por favor... – Hilda tapou o bocal do fone e se voltou para Flear – Quando foi a última vez que você checou as contas?
- Semana passada... Quarta-feira da semana passada. – Hilda tornou a falar ao telefone:
- Eu quero as imagens da última semana, mais precisamente desde a quarta-feira passada... Eu preciso disso pra hoje ainda... Tudo bem... Obrigada... Tchau. – apertou o gancho e tornou a teclar – Alô... Eu gostaria de fazer uma denúncia... Furto... O.k... Será que poderiam mandar alguém até aqui...? Sim... Por favor, eu gostaria que não fosse feito alarde... Isso... Para não espantar o possível ladrão... Tudo bem então. Estou aguardando. Obrigada, tchau. – Pronto.
- O que você fez? – perguntou Flear.
- Eu pedi para que o técnico consiga as fitas das da última semana, desde a quarta-feira passada. – disse ela guardando a lista telefônica na gaveta. – E também chamei a polícia. Temos que fazer uma denúncia. Talvez ainda peguem o ladrão. Essa pessoa só poderia agir aqui no período de aula... Já que a não há sinais de arrombamento na porta ou nas gavetas... E só quando estamos aqui é que portas e gavetas destrancadas, o que é uma tolice. Irresponsabilidade de nossa parte, mas nunca houve qualquer problema antes. A polícia vai vir até aqui fazer algumas perguntas. O responsável pela câmera de segurança me disse que é possível providenciar as fitas hoje. Ainda bem que não tenho aulas hoje... Posso cuidar de tudo pessoalmente. – Flear a olhou surpresa. Hilda sempre soubera agir rapidamente - Esse ladrão não vai durar muito. Não fale pra ninguém, o.k? Ninguém, nem mesmo Hagen...
- Você está desconfiando dele? – perguntou indignada.
- Não dele, mas... Ele pode acabar deixando escapar e minha idéia vai por água abaixo.
Algumas horas depois, entrou no gabinete de Hilda um homem de mais ou menos quarenta anos. Alto, esbelto, cabelos grisalhos, olhos verdes.
- Boa tarde senhorita Njörd – disse ele. Hilda estendeu a mão para cumprimentá-lo e pediu que se sentasse.
– Quer algo para beber senhor...? - perguntou.
- Hildegurd...
- Quer beber algo senhor Hildegurd?
- Não. Acho que devemos ir direto ao assunto. A senhorita desconfia de alguém?
- Bem... Não. Não consigo pensar em ninguém que fosse capaz de fazer algo assim.
- A senhorita deu por falta do dinheiro hoje... Quando foi a última vez que conferiu esses documentos?
- Eu estava afastada da escola por motivo de doença... Então quem estava vendo isso pra mim era minha irmã, Flear... Ela me disse que conferira as contas à semana passada. É rotina. Conferimos tudo semanalmente.
- E a senhorita julga sua irmã da mais inteira conf... – ela o interrompeu.
- Eu confio em minha irmã! – disse indignada com tal suposição. - Ela sempre me ajudou e não tem motivos pra isso, afinal esta escola é dela também.
- A sala fica sempre fechada? – perguntou.
- Não, só quando eu e Flear não estamos na faculdade.
- A senhorita notou sinais de arrombamento?
- Não. Nem na porta, janelas ou na gaveta. Pode ter sido hoje mesmo. Eu saí para ir até a biblioteca.
- Demorou muito por lá?
- Cerca de meia hora. Eu precisava de um livro, mas não conseguia achá-lo. Assim que o encontrei retornei para a sala... Tudo estava aparentemente como deixei. Depois disso eu não saí mais daqui.
- Bom... Se sua hipótese estiver correta... Então a pessoa que a furtou ainda está aqui e provavelmente seu dinheiro também. Se fizermos uma busca poderemos encontrar.
- Revistar a todos? – perguntou ela.
- É o único jeito. – dizendo isso, Hilda o convidou para que percorressem o prédio. Ela entrava nas salas e comunicava aos alunos, professores, funcionários, serventes o que estava ocorrendo. Hildegurd remexia cada bolsa e pastas dos alunos, vasculhando minuciosamente. Percorreu todas as salas até que chegou à sala dos professores. Estes foram chamados para acompanharem a revista. Não demorou muito e todos os professores estavam presentes, quase todos:
- Desculpem, eu estava na biblioteca quando soube da convocação. – disse Freya entrando na sala. O policial a mirou de cima a baixo e fez o mesmo com os outros professores. Hildegurd percebeu a troca de olhares discreta, mas intensa entre a jovem diretora e um dos professores. Ele abriu os armários e remexeu os materiais: Pastas, dentro de livros e cadernos... Deixando tudo um caos. Ele parou em frente a um armário e o abriu. Tinha uma pasta preta dentro e ele a pegou. Ele abriu a pasta, abriu os compartimentos, e tirou um envelope de papel pardo, mostrando-o a Hilda e pedindo que olhasse o que tinha dentro. Hilda ofegou ao ver os cheques. Seus olhos incrédulos encontraram o dono daquele armário.
- Siegfried?! – exclamou em choque. Siegfried estava atônito. Como aquele envelope foi parar em suas coisas? O policial olhou pra ele.
- Este armário é seu? – perguntou. Siegfried olhou pra o policial espantado. Não era possível...
- Sim... É meu. – ele respondeu sentindo-se anestesiado.
- O senhor está preso! – disse ele se aproximando de Siegfried que olhou pra ele e deu um passo para trás. Seus olhos buscaram os de Hilda.
- Eu não roubei nada... – disse ele olhando para Hilda. Siegfried tornou a olhar para o policial quando este fez um movimento em direção a Hilda.
- A prova está aqui, rapaz! – o homem pegou o envelope das mãos de Hilda e mostrou-o a ele. O policial se adiantou e pegou uma das mãos do jovem professor que viu, entorpecido, quando aros prateados rodearam seus pulsos. – Você tem o direito de permanecer calado; tudo o que disser pode e será usado contra você no tribunal; você tem direito a um advogado e a um telefonema.
- Isso só pode ser um engano... - Hagen se manifestou. O policial olhou pra ele – Ele é rico... Milionário! Por que roubaria algo?!
- A prova do crime estava na pasta dele. – Siegfried olhou para Hilda que ainda estava surpresa. Ele se aproximou dela. Tomou as mãos dela entre as suas. Precisava ter certeza de que ela acreditava nele.
- Você acredita em mim, não é? – perguntou ele num murmúrio.
-... - Hilda não conseguiu responder. Estava em choque. Apenas o fitava. Seus olhos marejados. Ele não seria capaz...
A hesitação dela o surpreendeu e machucou.
Ela viu a transformação em seu semblante. De apreensivo a magoado. Viu a dor nos olhos dele quando não lhe respondeu.
Ele soltou as mãos dela e desviou o olhar. Seu peito doía. A decepção expressa em seus olhos azuis. Sem olhar para trás, ele seguiu em direção à porta. Temia não conseguir se controlar. Poderia ter agüentado qualquer coisa, menos a desconfiança da mulher que amava. Aquilo o tinha ferido profundamente.
O policial se despediu dela e seguiu Siegfried que caminhava por si só até o carro parado à entrada da faculdade. Hagen os seguira. Quando chegaram à porta uma legião de fotógrafos os esperava.
Os repórteres praticamente os atacaram e faziam perguntas implacavelmente. É incrível como esse tipo de coisa se espalha. Parecia que tudo tinha sido armado.
Eles caminharam rapidamente até a viatura e Siegfried entrou, evitando os repórteres por todo o caminho até o carro. Ele se sentou no banco de trás e apoiou a cabeça contra o encosto do banco. Seus olhos ardiam. Humilhação. Era o que estava sentindo. Mas ao se lembrar da expressão no rosto dela, a falta de resposta...
Hagen viu-os se afastarem. Ele voltou imediatamente à sala dos professores. Hilda ainda estava lá. Seus olhos perdidos. Não sabia o que pensar.
- Não é possível... – disse Hagen. Hilda olhou pra ele – Você não acha que foi ele, não é? – Flear a olhou. Também achava que Siegfried não era capaz de uma coisa daquelas.
- Eu... Não sei o que pensar... O envelope foi encontrado nas cois... – ele a interrompeu.
- Foi plantado lá! – disse irritado – Eu achei que você gostasse dele! – Hagen não escondia sua revolta.
- Hagen... Eu... – ele a interrompeu.
- Você nunca permitiu que ele se explicasse! – disse ele – Aquele dia quando você viu aquela... Beijando-o... – Hilda estreitou os olhos pra ele - O que você fez...?! Fugiu! Sequer deu a ele tempo de se explicar! E o fez de novo! Ele só precisava ouvir que você acredita nele, mas se negou a...
- Hagen... – ela começou. As palavras dele a tinham irritado e magoado.
- Você não merece o sentimento que ele nutre por você! Depois de todos esses anos evitando qualquer um que se aproximasse... Ele encontrou outra mulher pra magoá-lo. – disse exaltado.
- Hagen! Já chega! – exclamou Flear. Hagen olhou pra ela. Ele olhou para Hilda mais uma vez, baixou a cabeça, balançando-a desaprovadoramente.
- Eu vou avisar o Fenrir... – disse saindo da sala.
- Hilda... Você não acha que foi ele, não é? – Flear perguntou. – Ele não precisa fazer isso Hilda. – Hilda olhou para ela. – Nem tudo é o que parece. Numa coisa Hagen tem razão... Você nunca ouviu o que Siegfried tinha a lhe dizer. Nunca permitiu que se explicasse sobre coisa alguma e eu sei que ele tentou. Você apenas concluía as coisas e evitava escutá-lo... Por mais que ele tivesse tentado se explicar. Eu vi isso.
- Eu... Eu... Eu preciso conversar com ele. – disse Hilda e saiu da sala rumando para o estacionamento.
Siegfried parecia amortecido. O policial se voltou pra ele e com o envelope nas mãos lhe disse:
- Quem diria que o famoso e milionário historiador acabaria na cadeia por roubar uma merreca como esta... – disse balançando envelope. Siegfried o encarou. Seus olhos estavam inexpressivos, como costumaram ser durante longos oito anos.
- Eu não roubei nada... – disse numa voz baixa e irritada.
- Ah... Então este foi um presente do papai Noel pra você? – disse cinicamente. – Rapaz a prova está aqui! – disse erguendo o envelope. Siegfried olhou pela janela do carro. Sua vida acabara.
Eles chegaram à delegacia e Siegfried foi encaminhado à sala do delegado para interrogatório. Ele entrou na sala e o policial retirou as algemas e o delegado mandou-o sentar.
Siegfried sentou-se e sentiu-se desconfortável com o olhar do delegado.
- Senhor Sigurd, meu nome é Ilmarinen Igdrasil.
- Infelizmente, dadas as circunstâncias, não posso dizer que é um prazer conhecê-lo. – disse Siegfried seriamente, sem o mínimo de paciência de se controlar. O delegado riu. Depois encarou Siegfried seriamente, apoiou os braços, as mãos com os dedos entrelaçados, inclinando-se sobre a mesa, encarando Siegfried com aqueles olhos castanhos pequenos e astutos.
- Como o senhor explica o fato de aquele envelope ter aparecido em sua pasta, senhor Sigurd.
- Eu não sei. Não peguei nada, não tenho motivos para roubar o quer que seja.
- Sei disso. O senhor é um milionário, dono de uma das maiores empresas do país, o maior historiador do mundo. Realmente eu não entendo o que houve.
- Bem... Senhor delegado... – disse ele estreitando os olhos. – Eu conheço meus direitos e não sou obrigado a responder às suas perguntas sem a presença do meu advogado. – o delegado se recostou na cadeira:
- Tudo bem. Pode fazer o seu telefonema. Hildegurd... Acompanhe o rapaz até a cela. Tenha um bom dia senhor Sigurd. – o homem sorriu e Siegfried estreitou os olhos e saiu acompanhado do policial. Siegfried foi conduzido a uma cela especial, por ter nível superior. Estava tão perdido que esquecera completamente do telefonema.
O policial que o prendera olhava para o envelope dentro de um saco plástico. Aquele cara era milionário... Não teria motivos pra roubar uma quantia tão pequena. Mandou o envelope para análise.
Hagen chegou meia hora depois junto com Fenrir, que era advogado de Siegfried. Os dois entraram na cela. Siegfried ergueu os olhos quando ouviu o barulho da porta da cela ser aberta. Ele se levantou quando viu Hagen e Fenrir entraram. Estava tão desnorteado que nem lembrara de ligar chamando o amigo. Ele abraçou o amigo que já não via há algum tempo. Lançou um olhar de agradecimento a Hagen e se sentaram.
- Como você está Siegfried? – perguntou Hagen.
- Melhor impossível! – disse asperamente. Quando olhou para Hagen e viu o olhar preocupado e magoado do amigo. – Desculpe, Hagen... É que eu não posso acreditar que isto está acontecendo.
- Eu entendo Siegfried. Mas Fenrir vai ajudá-lo, não é? – disse Hagen olhando para o amigo/advogado, que olhou para Siegfried.
- Siegfried... – começou Fenrir.
- Eu sou inocente! – ele disse imediatamente.
- Calma. Eu acredito em sua inocência. – disse ele. – Mas você sabe que as provas apontam contra você.
- Não é possível aquele envelope ter parado dentro das minhas coisas...
- Tanto é possível que estava lá. – argumentou Fenrir – Eu desde que éramos crianças. Cuido de todos os seus assuntos jurídicos. Sei perfeitamente qual o seu patrimônio. Sei que nem a sua décima geração terá necessidade de roubar algo. Mas de alguma forma aquele envelope foi parar entre as suas coisas. Eu não vou mentir pra você, Siegfried. Sua situação é bem complicada.
- Que ótimo... – disse Siegfried baixando a cabeça. Eles conversaram mais alguns minutos. Siegfried não conseguia achar uma explicação para o que estava acontecendo. Com certeza alguém colocara aquele envelope em suas coisas, mas por quê?! E quem teria interesse em prejudicá-lo dessa forma?
- Sabe de uma coisa? – disse Hagen atraindo a atenção dos amigos para si. – Na minha opinião isso foi uma armadilha preparada por aquela cobra. – disse cruzando os braços e recostando na parede.
- De quem você está falando Hagen? – perguntou Fenrir.
- Ah é mesmo! Você não ficou sabendo...
- Sabendo do que? – perguntou Fenrir olhando de Hagen para Siegfried.
- Aquelazinha... – Hagen fez uma pausa e lançou um olhar significativo para o amigo. Fenrir franziu o cenho e pensou em quem poderia ser a pessoa de quem Hagen estava falando. Por algum motivo ele tinha a impressão de Hagen se referia a alguém que ele também conhecia e que não deveria ser bem-visto aos olhos dos três amigos. Seus olhos azuis arregalaram quando pensou numa possibilidade.
- Não me digam que... – olhou para Siegfried que desviou os olhos. – Freya?! – perguntou olhando para Hagen.
- Ela mesma. – disse Hagen. – Ela tem atrapalhado a vida de Siegfried há algum tempo. – fez uma pausa e olhou para o amigo. – Não duvido nada que tenha sido ela.
- Hagen... Por que ela faria isso? – perguntou Siegfried. Hagen e Fenrir olharam-no incrédulos.
- Você não pode ser tão ingênuo, Siegfried. – disse Hagen encarando o amigo surpreso. – Ela disse que faria de tudo para atrapalhar sua vida... – Fenrir o interrompeu.
- Talvez esteja certo, Hagen. Mas não temos como provar o envolvimento dela nessa história e não podemos acusá-la sem provas. – voltou-se para Siegfried. – Siegfried eu vou impetrar um Hábeas Corpus, com sorte você estará fora daqui ainda hoje. - Fenrir fez mais algumas perguntas a Siegfried e ele e Hagen saíram. Siegfried não ficara feliz em rever o amigo naquela situação.
Siegfried permaneceu sentado pensando sobre o que estava acontecendo e tentando encontrar uma solução para tudo aquilo. O pedido de Hábeas Corpus já tinha sido feito pelo advogado. Era uma questão de horas. Ele encostou a cabeça contra a parede e fechou os olhos.
O barulho da porta da cela sendo aberta tirou-o de seu transe e ele encarou o carcereiro. Ele tinha outra visita.
Continua...
Bom... por hoje chega, né? Espero que tenham gostado deste capítulo. Eu tinha que colocar mais um obstáculo no caminho deles, não? Desculpem, a vida é assim. Eu tenho que deixá-los com um pouquinho de curiosidade, senão vocês desistem da fic. Acho que parei num momento propício. Devem faltar agora no máximo cinco capítulos para o "Grand Finale". Susu-chan, Eu espero que tenha gostado deste capítulo, acho que é o maior que eu escrevi até agora. Beijos a todos. Tchau.
