Incertezas
O carcereiro deu um passo para o lado e a pessoa que ficara escondida por seu corpanzil foi revelada. Seus olhos azuis se arregalaram ao chocarem-se com os violetas.
Hilda entrou na cela e encarou Siegfried. Ele desviou o olhar. Uma coisa essa pessoa que havia colocado aquele maldito envelope em sua pasta conseguira: Ele não podia estar mais humilhado. Ele se levantou e deu as costas a ela.
- O que você quer Hilda? – sua voz soou inexpressiva e ele agradeceu por isso. Não queria que ela tivesse qualquer sinal do quanto estava magoado. Pior do que ter sido acusado; algemado; preso na frente dela foi ver que ela duvidava de sua inocência.
Hilda o olhou surpresa. Ele nunca falara com ela daquela forma antes. Frio, inexpressivo, distante. Nem quando tinham acabado de se conhecer ele lhe parecera tão indiferente quanto agora. Ela se aproximou dele.
- Eu precisava falar com você, Siegfried. – ela disse e tocou-o no ombro, mas ele se esquivou do toque e se voltou para encará-la. Os olhos dele estavam opacos, mas havia algo: Mágoa?
- Falar o que? – perguntou arredio.
- Eu... Eu sinto muito Siegfried... – disse ela. – Eu fui pega de surpresa... – ele riu debochado.
- Obviamente não mais surpresa do que eu... – disse sarcástico.
- Por favor, Siegfried... Eu vim... – ele a interrompeu.
- Eu não quero saber por que você veio, só quero que vá embora! – disse agressivamente.
- Siegfried... Por fav...- ele a interrompeu novamente e desta vez sua máscara de indiferença caiu. Ele fechou os olhos e baixou a cabeça.
- Vá embora Hilda. – ele murmurou. Hilda tentou tocá-lo mais uma vez, mas novamente ele recuou. Ela recolheu a mão junto ao peito e baixou a cabeça. Seus olhos ardiam por causa das lágrimas. Ela se virou:
- Tudo bem, eu vou embora. Mas não pense que vai escapar de mim tão fácil Siegfried Sigurd. – repetiu as palavras dele. Ela olhou por cima do ombro para ele, que ergueu a cabeça. Seus olhos se encontraram e ele viu quando uma lágrima deslizou pelo rosto dela. Aquilo o sobressaltou. – Nós vamos conversar, nem que eu tenha que amarrá-lo e amordaçá-lo pra isso. - dizendo isso ela saiu.
Siegfried deixou sair um suspiro exasperado e se sentou novamente e descansou os cotovelos sobre as coxas, apoiando a cabeça entre as mãos.
Já passava das vinte e uma horas quando o carcereiro abriu a cela e disse que ele podia ir embora. Ele pegou o paletó e saiu daquela cela parcialmente aliviado.
Estava em casa. Aquele tinha sido um dos piores dias de sua vida.
Jogou o paletó na guarda do sofá e subiu as escadas. Despiu-se e entrou de baixo do chuveiro. A água batia em sua cabeça e escorria por seus cabelos, rosto, ombros, deslizando por todo seu corpo. As mãos apoiadas contra a parede. Ele pegou uma esponja e esfregou seu corpo fortemente, buscando daquela forma apagar todo e qualquer vestígio daquele dia terrível. Ele terminou seu banho finalmente, desligou o chuveiro e pegou a toalha atrás da porta e secou-se. Saiu do banheiro e entrou no quarto.
Foi até o guarda roupa, abriu a primeira gaveta e pegou uma calça de pijamas. Vestiu-a rapidamente e caminhou até sua cama onde desabou, adormecendo quase que imediatamente.
Hilda não conseguia dormir. A lembrança da dor nos olhos de Siegfried não lhe saía da cabeça. Como ele estaria agora? Será que já tinha sido liberado? A lembrança mais forte era a do momento em que aquele policial colocou as algemas. Era chocante. Estarrecedor.
Por que não conseguira responder a pergunta de Siegfried? Ela jamais pensou que ele seria capaz fazer aquilo. Então por que não conseguiu lhe dizer isso?
Quando o viu na cadeia, ela percebeu o que a sua falta de palavras fizera a ele. Ele a evitou, a mágoa expressa em cada gesto, cada olhar, cada palavra que dirigiu a ela.
Hilda revirava na cama. O relógio no criado-mudo já marcava mais de vinte e três horas.
Continua...
Este capítulo ficou um pouco pequeno. Mas, tem mais por aí...
