Você

Capitulo um: anti-herói

Estava tudo diferente agora, tudo acelerado, sentia-se mais vivo, mais confiante, mais forte, mais poderoso do que jamais fora; porém estava também mais perigoso, pois "ganhando" tudo isso perdera grande parte de seu senso. Vivo como nunca, decidiu se divertir.

"De que me adianta ter todos esse poderes se não posso usa-los a meu favor?!", e com esse pensamento, saiu em busca de companhia.

Sua primeira atitude foi ir a Talon (na tradução da versão do sbt é Tailor), afinal mesmo não estando sob seu "juízo perfeito" ele continua sendo Clark Kent. Ao chegar, se frustrou, pois, por sorte dela, Lana havia saído pouco antes.

"Tudo bem, azar o dela, companhia não vai me faltar" foi o que pensou.

Logo depois, saiu a procura de sua estepe: Chloe. Partiu assim para a redação da Tocha, afinal onde mais sua jornalista favorita poderia estar. Entrou afoito na sala, mas não a viu, parou durante alguns instantes para decidir o que fazer, já que não sabia exatamente aonde ir depois, quem seria a próxima da lista; então antes de sair decidiu dar mais uma olhada, só para ter certeza. Ao olhar ao redor percebeu que a sala não estava vazia, Chloe não estava, mas havia alguém ali, alguém desconhecido, mas por quem logo se interessou.

Uma Garota, com rosto um de menina, mas um corpo, um corpo de mulher, com notáveis curvas; tinha uma pele clara toda salpicada com sardas, longos cabelos encaracolados em tons castanhos e olhos azuis como o céu, uma beleza frágil, mas não menos interessante; durante alguns instantes ficou parado só a observa-la.

Pronto. O sorriso interessado estampado em seu rosto não deixava dúvidas, já havia definido um novo alvo. No entanto, a garota também percebeu que não estava sozinha, e enquanto Clark estava pardo na porta a admira-la, ela levantou-se, virou para Clark e disse:

— Está procurando a Chloe?

— Não estou mais...
Mas você...Não te conheço, não é? - disse Clark depois de alguns segundos de um silêncio constrangedor.

— Não, meu nome é Lissa. Acabei de me mudar, por isso estou aqui, esperando a Chloe.
Ele ficou de me mostrar à escola...

— Bom já que ela não esta eu poderia fazer isso.

— Obrigada...

— Clark - disse enquanto estendia a mão para cumprimentá-la.

— Obrigada Clark - disse enquanto o cumprimentava - Mas Chloe já deve estar chegando...

— Tudo bem, aqui esta ótimo para mim. - disse enquanto se aproximava dela, pois vendo que suas investidas não haviam funcionado decidiu partir para uma abordagem mais direta.

Puxou-a para seus braços, aproximou sua boca dos grossos lábios de Lissa e beijou-a, beijou com tamanha intensidade que a deixou estática por alguns instantes, mas assim que voltou a si, se deu conta do que estava acontecendo e consegui afastar-se de Clark, falou:

— O que você esta fazendo?

— Estou te dando as boas vindas... - disse com um ar cínico enquanto tentava beija-la
novamente.

— Não! Pára, não faça isso! - disse Lissa enquanto tentava se esquivar de Clark - Pára, eu não quero! Pára!

— Ah! Vai dizer que você não gostou nem um pouco. - disse ele enquanto a perseguia.

— Claro que não!

A cada passo que Clark dava em direção a ela, a garota dava um passo para trás. Até chegar parede, encurralada ela começou a tatear uma mesa a seu lado procurando alguma coisa com que poderia se defender.

Ele estava se aproximando cada vez mais, e o medo dela aumentava proporcionalmente à distância que diminuía. Finalmente consegui pegar algo em cima da mesa com que pudesse se defender, uma tesoura. Assim que a pegou, apontou-a para ele, que em tom de deboche falou:

— O que você vai fazer com isso...

— Depende do que você fizer.

— Então vamos ver...

— Olha, eu não quero fazer isso, então não me obrigue.

Mas ele simplesmente a ignorava, e estava cada vez mais, e mais próximo. Até que, por reflexo, Lissa tentou acerta-lo no braço com a tesoura, que assim que tocou o corpo de Clark se quebrou em muitos pedaços. Vendo aquela cena impressionante, assustada ela disse:

— O que......é você?

Aproveitando que ela, pasma, "baixou a guarda" Clark a segurou, e prendendo seus pulsos contra a parede continuou com suas "investidas". Durante um tempo ela lutou para escapar dele, mas qualquer esforço era inútil diante de Clark, que cada vez a segurava com mais força, sendo assim, continuou com a única coisa que podia fazer no momento:

— Pára, você esta me machucando!

— Se você colaborasse, eu não ia precisar fazer isso...

— Mas eu não quero! Para!

O que não adiantou, novamente, percebendo que nada estava funcionado até cedeu por alguns instantes, mas poucos segundos depois continuou:

— Pára! - disse com uma voz mais cansada, um pouco atrapalhada pelas lágrimas - Não faça isso... por favor...

Percebendo que a garota estava chorando, afastou-se um pouco e ao olhar seu rosto, seus olhos, antes tão azuis, agora vermelhos e sua expressão amedrontada, lhe ocorreu um flash de lucidez. Imediatamente afastou-se totalmente dela, virou-se, colocou a mão no bolso, tirou um fragmento de uma espécie de pedra que logo arremessou com toda a sua força pela janela.

Durante alguns instantes ficou parado, sentindo repulsa de si mesmo e tentando entender o que ocorria ali, tentando descobrir algum por quê para ter feito todas aquelas coisas horríveis, e condenáveis; mas havia algo muito estranho em tudo aquilo, mesmo que aquele fragmento que há instantes arremessara pela janela fosse um pedaço do meteoro vermelho, aquilo nunca havia ocorrido; pois das outras vezes que estivera sob efeito dele sua personalidade havia mudado, com um estilo carpe diem, agira de maneira inconseqüente, tendo atitudes até mesmo cafajestes, mas aquilo, aquilo foi diferente, desta vez passou de todos os limites, ele havia atacado uma pessoa só por "diversão". Nisso lembrou-se da maior vítima de tudo isso: Lissa.

Logo, virou-se para tentar se explicar, ou pelos menos se desculpar pelo seu "mau comportamento", mas já era tarde para isso, assim que teve oportunidade a garota saiu correndo dali, levando em consideração o tempo em que ficara parado pensando sobre o que acabara de acontecer, a menina já devia estar longe. "Bom, foi melhor mesmo. Acho que não iria adiantar muito qualquer coisa que eu falasse para ela agora" pensou Clark um pouco antes de ser interrompido:

— Clark, algum problema? - disse Chloe assim que entrou e o viu pensativo.

— Não. - disse meio assustado por não ter percebido a chagada de Chloe - Tudo bem...

— Ta bom então.- disse, não muito crente da resposta do amigo.
Clark, não tinha ninguém aqui quando você chegou?

— Não, por que? Deveria? - ele disfarçou.

— É... Tem uma menina, acho que o nome é Lissa, que acabou de se mudar para
Smallville. Acho que ela veio de outro país ou algo assim. Nós combinamos de nos
encontrar aqui, eu ia lhe mostrar a escola...

— Não, não tinha ninguém aqui quando eu cheguei - reforçou Clark.

— Estranho...Bom, vou procura-la então...Tchau - disse enquanto saia da sala.

— Tchau

Como o dia foi longo para ele, não parou um só minuto de pensar sobre o ocorrido, tentando encontrar uma forma de se desculpar pelo que fez. Mas essa não era a única dúvida que lhe passa pela mente. Muitas coisas entranhas envolviam tudo aquilo, era óbvio que desta vez algo diferente tinha acontecido, o fato de não se lembrar exatamente o que acontecera, (a única coisa que tinha eram flashs de memória) naquele dia de manhã, não se lembrar de onde encontrara aquela pedra, ou qualquer coisa antes de ir ao Talon e a Tocha, agravavam um pouco; mas havia uma coisa mais estranha mesmo em tudo aquilo:

Pouco depois de sair da "redação", tentou usar sua visão de raios-X, para tentar achar um livro em seu armário, e não conseguiu; percebeu assim, que seus poderes estavam falhando, e não era só sua visão raios-X, eram todos. Tentou mais algumas vezes, mas era inútil, não adianta tentar lutar contra os fatos.

Chegou assim a conclusão de que não conseguiria resolver aquilo sozinho, e não havia outra alternativa, a não ser falar com seus pais, não seria fácil, mas fazer o que teria responder por seus atos.

— Como?! Como você pode fazer isso Clark? - disse Jonathan totalmente exaltado.

— Na verdade eu não lembro direito... - respondeu ele envergonhado.

— Como assim não se lembra?! Você não se lembra do que fez?

— Eu me lembro de estar no celeiro, depois tem um vazio... mas eu, infelizmente me lembro do que fiz... - disse já de cabeça baixa.

— Então, você não se lembra de pegar um pedaço do meteoro vermelho! Você se lembra pelo menos do porquê de pegá-lo? - retrucou seu pai não acreditando no que ele disse

— Você não se lembra mesmo... - Martha disse com um tom mais calmo, e tentando acalmar seu marido.

— Não, e eu também não acho que aquilo era um fragmento do meteoro vermelho.

— Como assim?

— Tem muita coisa estranha nisso; além de não me lembrar exatamente o que
aconteceu, meus poderes estão falhando.

— O que? - disse seu pai em tom de surpresa.

— É, eu estou sem os meus poderes!

— Clark isso é muito sério.

— Eu sei, por isso eu vim falar com vocês!

— Mas, e a pedra cadê?

— Eu arremessei pela janela, até pensei em procura-la mas preferi manter distancia.

— Mas a menina? - perguntou Jonathan, já mais compreensível depois de
alguns instantes de reflexão.

— Não sei, ela sumiu, na hora ela saiu correndo, achei melhor não ir atrás, achei que
não adiantaria; depois da aula até a procurei, mas, não a encontrei.

— Mas e se ela contar a alguém?! A polícia, afinal você a atacou. Além disso, ela viu.
uma tesoura se quebra quando te tocou. - preocupou-se sua mãe.

— Não há nada que possamos fazer agora...- respondeu Jonathan.

— Ta, mas e depois, o que eu faço? Conto tudo para ela?

— Não - exclamou Martha.

— Não tenho idéia, acho melhor, esfriar a cabeça para depois decidir o que fazer -
finalizou seu pai.

O dia também não passou muito rápido para Lissa, que ainda estava meio atordoado com o que vira naquela manhã. Além da intrigante cena da tesoura, que não saiu de seu pensamento um só instante, outra coisa que também remoia era a lembrança do olhar dele. E de quão drástica foi a forma com que ele se transformou de um olhar obcecado e bastante assustador para um olhar totalmente assustado como se não entendesse nem o que acontecera e nem o por quê de estar ali. Isso foi o que a levou, depois de pensar muito e muito sobre isso, a decisão de não contar aquilo a ninguém, pelo menos não até descobrir o que havia acontecido.

Continua...