AVISO: Quero deixar bem claro que não tenho preconceitos nenhuns com nenhuma religião, por isso daqui para a frente, se ou quando acontecerem confrontos religiosos, não o faço para denegrir ninguém. Apenas suponho, tal como muita gente, que a ressurreição de antigos deuses e o facto de pessoas de uma religião servirem um deus pagão traga certos e determinados problemas ao Santuário. É apenas uma suposição do que aconteceria o que, na nossa realidade, infelizmente, não coisa rara. Duvido que alguém se sinta ofendido pois nada digo de mal, mas, para o caso de ter ofendido alguém, deixo já aqui escrito e gravado as minhas mais sinceras desculpas, mas não foi com intenção.
"Desenvolvendo a mente e o coração"
by Ayan Ithildin
Os dias arrastaram-se pesados e sombrios, as nuvens negras pairando em ameaças de água e tempestades consumadas. Shaka não a levava à praia nem a lugar nenhum para treinar e os seus dias eram confinados à sala de treino e à sala de estar. O jovem mestre basicamente não falava com Dâmaris, chegando a haver dias em que a sua voz era ouvida cerca de três vezes apenas na mente da aprendiza. Sem mais ninguém com quem conversar, sabendo que falar com o mestre seria um monólogo, Dâmaris ficou silenciosa durante todos aqueles dias, dando apenas a entender mentalmente que compreendera as instruções do mestre. Após duas semanas sem abrir a boca, duas semanas em que ninguém entrou ou saiu da casa de Virgem enquanto a jovem lá estava, Dâmaris começou a duvidar se seria capaz de falar quando voltasse a abrir a boca. «Se voltar a abrir a boca» pensava a jovem enquanto via o mestre preparar as refeições ou indicar-lhe algumas tarefas. Não tinha noção se progredira ou não nas faculdades mentais e chegava a temer, à noite, no quarto da sua casinha de aprendiza, se seria por isso, por não progredir que o mestre estava zangado com ela e não falava.
O dia 23 amanheceu com réstias de nuvens no céu e uns tímidos raios de sol a iluminarem as verduras invernais. Dâmaris vestiu umas habituais calças brancas, uma blusa e o casaco de lã, também brancos e dirigiu-se para casa do mestre sacudindo dos caracóis molhados uns últimos pingos de água. Faltavam dois dias para o Natal e a casa do mestre não tinha um único enfeite e decerto não haveria consoada. Dâmaris esboçou um sorriso triste: isso não lhe era estranho, nunca soubera o que era o Natal. Na sua casa o Natal nunca passara de mais uma desculpa para exibição. A jovem sacudiu a cabeça, «águas passadas não movem moinhos».
Em cima da bancada da cozinha esperava-a um café com leite quente e duas torradas. Engoliu o pequeno-almoço à pressa e dirigiu-se para a sala onde Shaka a esperava. Sentou-se à frente do mestre e reparou que no chão, entre eles, estavam pousadas duas jarras de vidro.
«Quero que estilhaces uma das jarras» - a ordem do mestre foi clara mas Dâmaris não sabia como. Ele nunca lhe tinha pedido isso. Aguardou cerca de uma hora pensando e, sem resultados, tentou furar a protecção psíquica do mestre com uma única palavra.
«Como?»
«Quero que estilhaces uma das jarras» - uma onda de imagens e sensações invadiu a sua mente e Dâmaris ergueu instintivamente os braços à frente da cara para se proteger dos estilhaços da jarra que o mestre pulverizara a pó. - «Estilhaça a outra jarra até ao final do dia.» Sem mais palavras, o mestre entrou num transe profundo que Dâmaris sabia durar até ela estilhaçar a jarra ou, pelo menos até ao final do dia.
Dâmaris concentrou-se e entrou também em transe. A sua mente vagava no Cosmos, já não totalmente branco como no primeiro dia, mas povoado de pequenos núcleos de Cosmos e borrões de prisma em certos locais. Procurou sentir a jarra, vê-la no cosmos.
«Tudo tem uma essência. A essência é o cosmos trabalhado que dá origem a uma determinada forma, viva ou não: um gato, um homem, uma lagarta, uma árvore, uma nuvem, o mar, um peixe, um livro…»
«Um livro? Um livro não é natural»
«Mas é feito pelas mãos de algo que é natural. E esse algo põe no livro, ou em qualquer outra coisa, um pouco da sua própria essência. Esse pouco de essência molda-se ao livro e torna-se a essência do livro.»
«Isso acontece com tudo? Tudo o que o homem faz tem uma essência própria?»
«Tudo o que o homem faz, ou um deus faz, ou mesmo um animal ou o vento, ou o fogo, ou a água, ou a terra.»
«É possível ver o livro no Cosmos?»
«No Cosmos não se vê o físico, apenas a essência. Tens que conseguir sentir as essências, descodificá-las e atribui-las. Quanto mais essências vires, sentires, e atribuíres, mais colorido se tornará o Cosmos. Verás este mundo, que é a cópia material do Cosmos, reflectido no Cosmos, cada pedrinha com a sua essência. Poderás até andar de olhos fechados para o resto da vida que, mesmo que rebentes um colar de missangas, saberás onde se encontra cada uma».
Este fragmento de lição que o mestre lhe dera ecoava na sua mente. Dâmaris entrava cada vez mais no Cosmos, a sua essência vagueando em torno de um pequeno núcleo de essência estranha que, ao fim de muito tempo, conseguira encontrar, concentrando-se em torno dela, tentando encontrá-la, pintá-la, senti-la. A hora de almoço passou sem que Dâmaris sentisse fome. O núcleo ia tomando forma e cor e a jovem aprendiza vagueava em torno dele, girando, girando, girando…
… a sua essência fez aquilo que, na prática, seria dar um passo para trás, e observou a essência da jarra, colorida, viva, que pulsava fracamente no Cosmos. Dâmaris concentrou-se e preparou-se para invadir a essência da jarra.
«Ninguém invade o cérebro de ninguém, isso é impossível. O cérebro é uma máquina complexa, formidável, mas material e, como tudo o que existe neste mundo, bebe do Cosmos o que necessita. É-nos, é impossível à essência de cada um invadir o corpo de outrem. O que se pode fazer é invadir a essência na outra pessoa. Mas isso é muito doloroso para quem não está habituado. Então, quando começares esse treino, primeiro hás-de invadir a essência de pequenos objectos e seres.
Uma vez dentro de outra essência há muito que podes fazer. Podes somente ler registos e imagens da mente dessa essência, podes comandar essa mente, podes provocar ilusões, podes destruir a essência por completo. Sem essência não há existência no mundo temporal. Equivaleria a extinguir a vida ou a forma ou a existência de algo.
Mas há variantes. Por exemplo, comunicares telepaticamente não implica uma invasão total de uma essência, apenas o envio de mensagens para a outra essência. Na prática é bastante mais fácil, sobretudo com quem não tenha uma defesa psíquica apurada. Uma coisa é invadir-mos a essência de outrem, outra é comunicar com ela.»
Dâmaris meditou por momentos na recordação daquela explicação do mestre numa tarde em frente ao mar, mandou-a embora e forçou a invasão da essência da jarra.
Estar dentro de uma essência poderia ser comparado a estar dentro de um arco-íris cheio de energia. Mas existe sempre um ponto mais energético, mais luminoso. Foi esse ponto que Dâmaris procurou enquanto vagava na essência da jarra. Era algo maravilhoso, colorido, semelhante a nadar num oceano de cores. Então viu o "coração" da essência, um pequeno aglomerado de luz branca, brilhante e repleta de energia. Cautelosamente Dâmaris deixou um pouco da sua essência fluir na direcção do núcleo. A ordem que esse fluído energético transportou era concisa: destruição. Dâmaris retirou-se da essência da jarra com um sentimento de vácuo, viu a essência da jarra desaparecer do Cosmos e saiu do transe, tudo em menos de um segundo. Quando abriu os olhos, a única coisa que viu foi a jarra partir-se em mil bocados.
Levantou-se de um salto e começou aos pulos pela sala gritando vivas de vitória e contentamento. Parou quando se sentiu observada. Já levantado, de braços cruzados e um sorriso onde se misturava a ironia e a condescendência, Shaka dava de novo a estranha impressão de observá-la por debaixo das pálpebras.
- Muito bem, Dâ… - A jovem pendurou-se no seu pescoço aos pulos. Shaka franziu as sobrancelhas, deixou festejar mais uns segundos e, segurando-a pelos ombros, fê-la ficar quieta. – Muito bem, Dâmaris. Fizeste-o mais rápido, mais eficiente e com maior facilidade do que eu esperava. E, sobretudo, sem custos. – Dâmaris sossegara e olhava-o com uma expressão feliz. – Estou muito orgulhoso de ti, pequena. – disse, tocando-a na testa, no local do chamado "olho da mente", com o mesmo tom de voz que reservava quando dava conta que ela era, aos olhos dele, uma criança. O olhar de Dâmaris era uma mistura de alegria, gratidão e adoração. Fechou os olhos e curvou a cabeça.
- Obrigado, mestre. – No rosto do cavaleiro alargou-se um grande sorriso.
- Vamos comer qualquer coisa. – Antes de o seguir, Dâmaris olhou pela janela para o sol que, glorioso no mês de Dezembro, brilhava em pleno ás três da tarde.
Shaka estava realmente contente com ela, pensava Dâmaris, enquanto o via por sobre a mesa os mais diversos boiões de doces de fruta, fazia chá e torradas. Era preciso ver que Dâmaris, desde que chegara ao Santuário, nunca mais pusera nada de doce na boca. O mestre sentou-se à sua frente, levou a xícara aos lábios enquanto permanecia naquela mesma pose de observá-la de olhos fechados. Dâmaris barrou uma torrada com doce de damasco e deu-lhe uma dentadinha suave. Ao sentir o saboroso doce na boca teve vontade de engolir a torrada e lançar-se sobre os boiões de colher em punho. Mas isso seria de uma péssima educação e uma falta de classe. Além de um enorme disparate. Então preferiu ir dando pequenas dentadinhas na torrada, aproveitando ao máximo o sabor do doce. O mestre permanecia na mesma posição. Dâmaris pousou a torrada no prato, bebeu um gole de chá e tocou suave e rapidamente com o guardanapo nos lábios. Olhou o mestre. Shaka sorriu de um modo indecifrável e poisou a xícara.
- Amanhã há um jantar no Santuário.
- Não há jantar no Santuário todos os dias? – Dâmaris permitiu-se ao sarcasmo. Shaka sorriu ironicamente.
- O jantar de amanhã será… desagradavelmente memorável. – Dâmaris olhou-o espantada mas manteve o mesmo ar indecifrável de Shaka. Tão parecidos. – Diz-me uma coisa, minha jovem aprendiz, sabes quem é a Senhora do Santuário? – Dâmaris tomou outro gole de chá.
- A deusa Athena.
- Certo… e errado. Mas fico feliz por saber que sabes ouvir e filtrar o teor das conversas sem que os outros entendam… não estou a falar de mim. – acrescentou com causticidade.
- Não me permito julgar que possa algum dia enganar o meu sapientíssimo mestre… só estou de ouvidos. - Dâmaris, num gesto muito próprio, entrelaçou suavemente os dedos e apoiou o queixo neles, envolvendo Shaka no seu olhar que, de dia para dia, ficava mais profundo.
- Athena reencarnou à dezoito anos no corpo de Saori Kido. Temos a manifestação de duas personalidades no mesmo corpo: Athena e Saori, a deusa e a humana. Acontece que Athena poderia ter o corpo só para si se não achasse… injusto… que uma alma humana perdesse lugar neste mundo por sua causa. – Shaka franziu levemente as sobrancelhas – De modo que Athena só se manifesta quando há necessidade o que, actualmente, não acontece. E, evidentemente, mesmo partilhando o corpo com uma deusa, Saori Kido não deixou de ser… uma… simples humana. E como tal, quando a sua personalidade vem à tona, julga-se igual a Athena. O que, devo dizer, é uma mentira deplorável.
- Quem é que Saori convidou para o jantar? – Shaka sorriu de novo na sua maneira indecifrável.
- Agrada-me que compreendas a situação… qual supões ser o problema de teor ético que o santuário atravessa?
- Religioso. – a resposta foi dada sem hesitação.
- Bravo… - no entanto, Shaka assumiu uma expressão séria – A confluência de religiões neste Santuário é imensa e o facto de certos cavaleiros serem obrigados a pôr de parte a sua religião pelo serviço da Athena é realmente…
- Não era nisso que estava a pensar – interrompeu Dâmaris. Shaka fez-lhe um sinal com as mãos para que continuasse. – O facto de aparecem os deuses encarnados das religiões antigas, religiões essas que deram tanto trabalho a tentar fazer desaparecer, foi um rude golpe para a Igreja Católica, não foi?
- Bem, Dâmaris – começou Shaka após um longo silêncio – devo dizer que me surpreendes a cada dia que passa. E que os meus medos desaparecem rapidamente.
- Medos?
- O jantar de amanhã será conturbado não só para a organizadora como para todos os membros do Santuário presentes.
- Ahan… previsões do futuro? – a voz dela teve uma pequena entoação sarcástica.
- Trata-se do inevitável.
- E o que tenho eu a ver com isso?
- Tu irás a esse jantar. – Dâmaris ficou em silêncio – Irás comigo.
- Eu? Shaka, parece-me que te enganas… tu és cavaleiro. Eu, bem, eu só sou uma…
- Uma aprendiza. A minha aprendiza, para ser mais claro. E a tua presença foi requerida pela Senhora.
- Afinal quem são os convidados? – O sorriso de Shaka foi novamente indecifrável.
- Os altos membros da Igreja de Roma.
- O quê? – Dâmaris pareceu descontrolar-se por um segundo. Depois a voz voltou a ficar firme e serena. – Eu não vou.
- Vais sim.
- Não, não vou. – Shaka não queria entrar numa nova briga de crianças. Fez a abordagem por outro modo.
- Porquê?
- Eu… - a pele branca ficou avermelhada – tenho… problemas religiosos…
- Está na altura de aprenderes a pôr de parte os teus problemas para atingires um bem maior.
- Que seria? – o mestre ficou silencioso. – Eu não vou. – insistiu ela.
- Talvez finalmente tenha surgido um obstáculo que não consegues ultrapassar… - Shaka falou com uma voz arrastada – será que estás com medo?
- Medo… - a postura de Dâmaris ficou rígida. A garota passou a ponta da língua cor-de-rosa pelos lábios e olhos estreitaram-se quando olhou para Shaka. Depois sorriu ironicamente – muito bem, mestre, irei a esse jantar…
Shaka ia assentir quando começou a desconfiar. E, como era hábito, franziu as sobrancelhas.
- Vais-te comportar… - o tom de voz indicava uma ameaça velada.
- Certamente… - os lábios dela distenderam-se noutro sorriso irónico quando olhou para baixo e viu um blusa demasiado larga que tapava a cintura de umas calças largas de mais apertadas fracamente por um lenço branco. Dâmaris emagrecera muito. – E suponho que devo ir vestida… assim? – Tão ou mais irónico foi o sorriso de Shaka.
- Não te preocupes, minha querida, essas roupas ficam-te lindas.
Dâmaris começou a levantar a mesa. Olhou pela janela e viu que já era noite. Deviam ter ficado ali por horas. Começou a lavar a loiça, as mãos vermelhas com a água e detergente. Shaka levantou-se.
- Aparece cá amanhã por volta das cinco da tarde. A recepção começa ás sete. Ainda quero tratar uns pontos contigo. – fez uma pausa – Agradecia que ficasses por casa, amanhã terás tempo de sobra para conheceres os outros elementos do santuário. – nova pausa – Boa noite, Dâmaris.
- Boa noite… Mestre.
Dâmaris acordou ás onze da manhã do outro dia. Vestiu uma camisola que lhe chegava a meio das coxas, pegou em duas ou três peças de fruta e, colocando uma música suave de fundo, debruçou-se sobre o livro que estava a estudar: "Carta sobre a Tolerância", de John Locke. Nem de propósito.
Ás quatro foi tomar banho, vestiu um vestido branco. Ficava-lhe largo, mas não podia fazer nada. Mas, sinceramente, lá no fundo, isso não a preocupava. O.K.. Isto já era preocupante. Desde quando ela, Dâmaris, não se preocupava com o seu aspecto?
Chegou a casa do mestre faltavam cinco para as cinco. Empurrou a porta, acometida pelo mau humor e ouviu a voz do mestre chamá-la. Seguiu-a até uma sala onde nunca estivera, mas que poderia ser interpretada como quarto de vestir: tinha um espelho, uma cómoda, armários e dois sofás longos. Os olhos da jovem pararam no mestre. Sapatos pretos, calças pretas, camisa branca ainda meio desabotoada e com as mangas dobradas. O laço preto, por fazer, pendia-lhe de ambos os lados do pescoço e o cabelo ainda estava húmido. De novo sentiu que estava na presença de algo que era mais que humano. E de novo a sua voz impaciente destruiu essa impressão.
- Vá lá, despacha-te. Anda cá – disse ele de junto de um dos sofás – e descalça-te. – Dâmaris obedeceu e aproximou-se. Shaka deu novamente a ideia de a observar, debruçou-se sobre uma das muitas caixas que ali estava e retirou um vestido de seda prateada. Um vestido. Dâmaris ficou estupefacta. Um vestido. Um vestido lindíssimo, agora que o via a pender das mãos do mestre. De final alças de seda entrelaçada com um fio de prata, um decote em bico (talvez pronunciado demais) e cujo o efeito do tecido fazia ficar com a aparência de lasso, um lado da saia, cuja bainha era levemente cortada em ondulação, mais comprido que outro. – Vamos, vais vesti-lo. Andor, rapariga!
Dâmaris obedeceu. Entrou na casa de banho do quarto e saiu apreensiva. Realmente o decote era pronunciado. O lado mais curto da saia ficava um palmo acima do joelho e o lado mais comprido um palmo abaixo. Mas era sobretudo o facto do vestido se colar tanto ao corpo que a fazia sentir-se desagradável.
- Que tal? Então? Vê-te ao espelho, rapariga! – Shaka empurrou-a na direcção do espelho. Dâmaris abriu a boca. Ela não gostava de vestidos justos porque lhe salientavam a barriga e o traseiro. Só que ela já não tinha nem barriga nem traseiro, apenas suaves formas arredondadas. O vestido ficava-lhe bem. Mesmo bem. Sexy. Quando tomou noção disto ficou totalmente vermelha. Estar assim vestida, ao pé do mestre, deixava-a desconfortável. Habituara-se demais ás calças, vestidos, blusas simples, confortáveis, nada reveladores. Alheio a tudo, Shaka continuava a procurar algo nos embrulhos. – Então que tal? Nada mal, hã?
- É muito bonito… - murmurou ela.
- Anda cá, vá. – Shaka tirava novamente algo de dentro da caixa. Umas sandálias de salto alto, de tiras, também elas prateadas. – Experimenta, miúda, não tenho o dia todo! – Dâmaris calçou-as e levantou-se, talvez rápido demais, porque teve uma espécie de tontura de cima daqueles "andares". Shaka segurou-a por um braço. – Então? Nunca andaste com umas destas? Pensei que sim, as miúdas da tua idade fartam-se de usar sapatos assim ou ainda mais altos.
- Claro que sei andar de saltos! – a indignação dela veio à tona. Deu umas voltas para se habituar. Há meses atrás não seria problema, mas o hábito de uns sapatos baixinhos ou, normalmente, ténis impôs-se durante alguns segundos. Mas o que era mais estranho era que Dâmaris sentia que aquilo já não lhe dizia nada. Shaka estendeu-lhe umas caixinhas de maquilhagem.
- Consegues fazer sozinha? – numa situação normal, a rapariga ter-lhe-ia respondido torto, mas estava surpresa demais. Sentou-se cuidadosamente em frente ao espelho e passou uma maquilhagem leve como a seda do vestido que usava. Olhou as unhas, mas estas estavam, como sempre, perfeitas. Fora um dos poucos hábitos que Dâmaris fazia questão de manter. Encontrou frasquinhos de verniz e escolheu um transparente com brilhantes. Abanou as mãos para secar mais depressa. Shaka surgiu a seu lado e estendeu-lhe dois finíssimos pauzinhos de prata cujo cimo era enfeitado por estrelas. Dâmaris usou-os para prender o cabelo no cimo, num coque cuidadosamente desordenado sobre o qual escorriam os seus caracóis sedosos, agora um pouco mais compridos. Deixou que, de um dos lados da face, ficasse uma mexa de cabelo que se encaracolou num canudo fino largo e perfeito. Olhou-se no espelho sem ver. Quando sentiu duas mãos tocarem na pele macia do seu pescoço exposto. Olhou pelo espelho e viu que Shaka lhe colocava um fio de ouro branco ao pescoço do qual pendia uma pequena serpente enroscada no que seria um tronco feito de diamante. O fim do pendente ficou no início do vale dos seus seios onde começava o decote. Dâmaris ficou vermelha de novo. Para completar Shaka estendeu-lhe um bonito solitário de ouro branco e um par de brincos de metal igual, compridos, cada um uma única tira de ouro branco que serpenteava com diamantes. Dâmaris observou-se no espelho e olhou para Shaka que acabara de desenrolar as mangas e abotoá-las e começava agora a fazer o laço. Dâmaris riu-se.
- Vem cá, vá. – disse a rir-se, tentando imitar a voz do mestre, enquanto estendia as mãos para a fita de seda negra. Fez-lhe o laço com cuidado e ajudou-o a vestir o casaco.
- Realmente sabes-te mover nesta área… - disse o cavaleiro com aquela expressão indecifrável. Dâmaris não respondeu e olhou o reflexo de ambos no espelho grande, um de frente para o outro. E corou. De novo. – E agora vamos como um feliz casalinho a caminho do mais romântico jantar de sempre. – Shaka riu-se e Dâmaris corou mais ainda, se bem que achasse que o jantar iria ser, sem dúvida, romântico, sobretudo para quem gostava de guerra. A expressão do mestre ficou séria, Dâmaris viu-o pelo espelho – Quero-te pedir uma coisa. Vai-te soar estranho, talvez, e podes não compreender o porquê, mas não fales muito e, sobretudo, não te afastes de mim. – Dâmaris olhou para a face, não reflexo, séria do cavaleiro. – Por favor. É para o teu bem.
- Confio em ti, mestre. Farei o que me pedes, sei que nunca farias nada para me prejudicar. – as sandálias não eram altas o suficiente para Dâmaris ficasse da altura de Shaka. Este sorriu, um dos poucos sorrisos verdadeiros que ela já lhe tinha visto.
- Vou fazer tudo para que seja sempre merecedor dessa confiança, pequena. – disse naquele tom de voz carinhoso que guardava para a criança que via nela. Entendeu-lhe o braço. – Vamos?
Mas, ao dar-lhe o braço, quando os olhou pela última vez no espelho não pode deixar de reparar como pareciam um casal. E novamente tratou de correr essa ideia a pontapés.
N.A: Voltei mais cedo! Certo, vou estar quatro dias fora e não queria ficar mais uma semana sem postar (eu não sou má, o loirinho sim, eu não…só às vezes… :P)
Mari Marin = eu vou confessar uma coisa… eu por acaso… também tenho… uma queda pelo Aioria… Pronto, confessei! Apesar de ser impulsivo quando devia parar para pensar, o leãozinho é tão… gato… Leão? :P Gato é pouco, né?
Bjokas!!!!
Palas Lis = adorei receber a tua review. Eu estava com medo que achassem aquela última cena meio melosa, chata, mas achei importante para fazer o Shaka descer do altar. Adorei saber que gostaste dela . estava meio hesitante com ela.
Jokas!!!!
Paula Marques = É, o Mu é outro dos meus anjinhos (começo a desconfiar que gosto de TODOS os cavaleiros de ouro… porque será, hein?? :P). Mas o Mu é muito especial, ele é lindo, é meigo, é fofo e inteligente. Se o meu adorado supremo não fosse o Shaka (e o Shun!), eu faria a Dâmaris ficar com o Mu só para chatear o loirinho :P (Oh gosh, I'm sooooooo bad!), se bem que tenho uma cena preparada… (gargalhada maquiavélica) HAHAHAHAHAHAHAHA
E, oh, menina, presta atenção na facul! Não quero ser culpada de nada, hein? :P MENTIRA eu falo no Messenger durante as minhas aulas de informática :P :P :P e faço desenhos dos cavaleiros do Zodíaco nas aulas ( e já fui suspensa, etc e tal, por isso, mas ENFIM, não se é perfeito! não estava a falar de ti, Sha! )
Bjokas!!!
Beeeeeeeeeeeeeeem, eu SONHEI com o Shaka vestido assim… (NÃO vou contar o resto dos meus sonhos. Teoricamente, pelo signo biológico, eu sou de Virgem, então, há que manter as aparências :P…) Já agora, não duvidem da veracidade da escrita, porque EU SEI como é namorar um "durão" por experiência própria, e também sei como fazê-lo ser meiguinho… ainda que só comigo :P Por isso, há homens como o Shaka, se bem que ele é majestosamente… divino… (melhor parar de babar).
Quem quiser o meu e-mail e adicionar-me no Messenger ele fica aqui: ayanithildinmsn.com Só não vou poder falar até terça, porque não vou estar cá. Mas depois estejam à vontade. Adoro conhecer gente nova!!!!
Uma bjoka ENORME a todos os que seguem a fic e um agradecimento especial às super amigas que me têm dado uma força enorme (nem elas sonham) com as reviews!
(Sha, o que queres dizer com: "qualquer dia escrevo mais comentários que história?" eu só sou fofinha ., não sou a frieza em pessoa como tu, chato, durão, insensível, duh… não por muito tempo… (as risadas diabólicas de Ayan ficam a ecoar durante muito tempo))
Jokas!,
Ayan
Próximo capítulo: "A presença de dois anjos"
