"A presença de dois anjos"
by Ayan Ithildin
Após as mil e uma voltas que deram dentro do Santuário, finalmente desembocaram no enorme salão da festa. Mu moveu-se apressado na sua direcção assim que passaram pela porta, os cabelos presos frouxamente com sempre, os olhos doces com uma expressão entre o alívio e a preocupação, extremamente elegante, seguido de perto por um rapaz grande demais para a magreza que tinha, os cabelos ruivos revoltos e espetados com gel.
- Shaka, por Buda, pensei que não vinham…
- Realmente gosto de me sentir desejado. – a resposta irónica foi dada distraidamente. Dâmaris sabia que embora a forma física de Shaka não tivesse passado da porta, o seu espírito já tinha visto e revisto, analisado e ponderado cada presente, detalhe e situação da sala.
- Maldito Virgem… - resmungou Mu dando uma olhadela ao rapaz que tinha a seu lado, que por acaso olhava de uma maneira pouco discreta para Dâmaris que ficou pouco à vontade. – Kiki, esta é Dâmaris, a aprendiza de Shaka. – Dâmaris esperou ao menos uma cortesia, mas o rapaz permanecia mudo a olhá-la. – Ai, estas idades parvas… - suspirou Mu enquanto abanava levemente a cabeça.
- Encantado em conhecer tão bela dama… - murmurou o rapaz, pegando-lhe na mão e beijando-a suavemente. - … e uma agradável companhia para uma noite tão secante como a que se adivinha.
- Encantada. Apenas não posso assegurar a companhia. – A face de Dâmaris possuía a mesma expressão indecifrável de Shaka. Kiki corou, murmurou umas desculpas, e afastou-se para junto de um grupo de aprendizes. Mu parecia sufocado de riso.
- Desculpa, Dâmaris. Kiki é muito novo, apesar da altura e do aspecto. E permite-me dizer-te que estás lindíssima. – Dâmaris não conseguiu evitar um sorriso. Afinal, quem conseguiria não sorrir em frente aos doces olhos de Mu?
- Deixa lá isso. – Disse bruscamente Shaka. Evidentemente, apenas o cavaleiro de Virgem. -As reacções não foram das melhores.
- De facto, não. Aliás, penso que até possam haver alguns pequenos problemas de incontinência verbal. – Mu fez um gesto discreto em direcção a um grupo que se encontrava junto de uma janela. Shaka sorriu pela primeira vez.
- Compreendo a tua urgência em relação à minha chegada. Fénix e Câncer… Vamos até lá. – Dâmaris não precisou de chegar ao centro do salão para sentir todos os olhos postos em si. Sentiu-se gelar por dentro, mas conseguiu manter o auto-controlo. O que menos precisava era de envergonhar Shaka naquela noite. «E do que estavas à espera, palerma?», pensou sarcasticamente.
«Não te importes com ninguém, Dâmaris.»
«Eu sei.»
«Não precisas de falar.»
«Eu sei, mestre.»
«E não te esqueças…»
«Eu sei, Shaka!»
«Pronto, pronto! Ia-te dizer que vou estar sempre ao teu lado, mas como a minha poderosa aprendiza nunca precisa de ajuda…»
O sarcasmo do mestre acalmou-a. Não tinha porque estar nervosa. Estava a ser uma tola.
«Obrigado, mestre». – Dâmaris podia jurar que o mestre lhe sorrira por breves instantes, mas seria pouco provável dado que tinham acabado de chegar ao pé do grupo. Há meses atrás Dâmaris teria tido pensamentos pouco puros face àquele grupo de homens lindos e elegantes, agora permaneceu calada, quieta, observadora. E sondou-os. De facto, o ambiente não era dos melhores. Eles estavam irritados. E muito. Foi quando o seu instinto, sempre a funcionar, a preveniu de perigo. Mas nesse momento alguém falou.
- Se me vens acalmar, Virgem, volta pelo mesmo caminho que vieste. Já não me basta esta merda, ainda tenho que te aturar? – a voz paradoxalmente quente de um atraente cavaleiro que permanecia de braços cruzados, cabelo revolto de um negro azulado e olhos cheios de raiva distraíram Dâmaris. Um bonito cavaleiro de cabelos compridos e sedosos e olhos azul-piscina, talvez bonito demais para um homem, fez-lhe menção que se acalmasse.
- Deves pensar que me dei ao trabalho de vir a este jantar por tua causa, Câncer. – Dâmaris tinha a certeza que não usaria aquele tom de voz com o cavaleiro – E olha o nível. – Câncer fez menção de responder – Não sejas idiota, Carlo, não combina contigo. O que queres mostrar? Que o ideal de unidade dos cavaleiros de Athena não passa disso mesmo, um ideal? Talvez seja verdade, mas até a mentira seria mais proveitosa a assumir isso. – O cavaleiro fez uma expressão irritada e começou a andar na direcção da mesa do cocktail. O homem dos olhos azul-piscina murmurou um pedido de desculpas e juntou-se-lhe. E o instinto de Dâmaris deu-lhe um segundo aviso.
- Sábias palavras, amigo, mas nunca pensei ouvir o nosso Buda dizer que preferia a mentira. – Não era Saga, disso Dâmaris tinha a certeza, mas era igualzinho a ele. Shaka não respondeu, talvez por não ter tempo. O terceiro aviso veio ao mesmo tempo de uma voz de pura troça.
- Isso é porque o nosso Buda anda-se a descuidar nas maneiras. – Era o mesmo cavaleiro dos cabelos escuros que estava com Shaka na cidade. – Não nos apresentas a tua companhia?
- Vá lá, Miro… - começou um jovem com cabelos de um louro acastanhado.
- Não é uma companhia. É a minha aprendiza, Dâmaris. – Shaka afastou um pouco o corpo e Dâmaris foi de novo assaltada por aqueles olhares que detestava.
- Dâmaris? Bem, bem, bem… quem diria. Uma gatinha assanhada disfarçada de gatinha de salão. Não descurando a beleza, claro… - Miro calou-se ao ver o aço verde gelado em que os olhos de Dâmaris se haviam tornado.
- Dâmaris? – a reacção do outro cavaleiro foi contrária – O velho Shaka permitiu-te essas roupas? Finalmente abriste os olhos no Nirvana, Virgem? Eu realmente tinha uma coisa para te dizer… espera aí… - respirou fundo e falou temeroso como se enfrentasse um temível perigo, tal qual um assustado navegador português em frente ao monstruoso Adamastor quando tentava passar o Cabo da Boa Esperança. – Shaka, posso dizer à tua aprendiza, sem segundas intenções, como ela está um espectáculo e é, sem dúvida, a dama mais bela deste salão? – Shaka riu-se e concordou com a cabeça – Então, Dâmaris, deixa-me dizer-te que estás um espectáculo e és a dama mais bela deste salão. - Tirou a mão direita detrás das costas e quando pegou na mão de Dâmaris deixou-lhe uma rosa vermelha entre os dedos, os quais beijou delicadamente – Aioria, cavaleiro de Leão ao seu serviço para toda a vida. – Dâmaris estava divertida com o teatro do rapaz. Sorriu-lhe e inclinou-se numa cortesia.
- Encantada em conhecer tão amável cavaleiro e não mais temerei pela minha vida agora que haveis entrado nos meus serviços.
O cavaleiro parecido com Saga estendeu-lhe a mão e apertou-lhe levemente os dedos: - Kanon de Gémeos, prazer. – O prazer é todo meu.
Enquanto o mestre falava com Kanon acerca das «Saídas de Emergência» em caso de conflito verbal, Dâmaris embrenhou-se nos seus pensamentos.
Aioria era o mais simpático e brincalhão, sem dúvida, se bem que Dâmaris suspeitava que não gostaria de estar perto dele num acesso de fúria. Kanon era prático e educado, e a intuição de Dâmaris dava-lhe a certeza que era um bom amigo para quem fosse seu amigo. Miro… Deu-se conta que o olhar do cavaleiro ainda não a haviam abandonado. Fixou os seus olhos nos orbes azuis escuros.
«O que se passa, Dâmaris?»
«Nada, mestre.»
«Então porque não deixas de olhar para Miro?»
«Ele não deixa de olhar para mim…»
- Miro, há algum problema? – a voz fria do mestre fê-la estremecer imperceptivelmente.
- Absolutamente nenhum, Shaka. – os olhos do cavaleiro finalmente se afastaram dos da rapariga – porquê?
- Parecias disperso…
Dâmaris baixou os olhos intrigada. Miro era–lhe estranhamente familiar. De onde conhecia ela as linhas daquele rosto? Definitivamente não se conseguia lembrar. «Devo estar a fazer confusão.»
- Ok, Virgem, desculpa lá aquilo de há bocado… - pelos vistos Carlo estava de volta. E o outro cavaleiro também. Shaka fez um trejeito engraçado, como se tentasse a todo o custo não rir, tal como Mu, e fez um assentimento com a cabeça.
- Shaka, ainda não me apresentaste esta linda rapariga. – a sua voz era doce.
- Dâmaris, este é Afrodite de Peixes. – o bonito rapaz aproximou-se dela e deu-lhe dois beijinhos.
- Muito prazer, Dâmaris. É bom ver que finalmente Shaka encontrou alguém à sua altura para passar os conhecimentos…
- O que tu queres dizer é que Virgem estava a tornar-se realmente pedante com a mania de que era único e insuperável… - a voz de Carlo era de troça. Shaka ergueu a sobrancelhas e abanou a cabeça.
- Algum problema, Miro? – perguntou Afrodite com um grande sorriso ao cavaleiro que, agora Dâmaris reparava, voltara a fixar os olhos em si. E também reparou que o sorriso de Afrodite não lhe chegara aos olhos.
- Chegaram os de bronze. Vamos lá ter com eles – Leão começou a mover-se na direcção de um novo grupo.
- Vem comigo, querida. – Afrodite deu o braço a Dâmaris. Esta sentiu-se um pouco inquieta.
«Podes confiar a tua vida a Afrodite, Dâmaris. Quando gosta de alguém faz tudo para o proteger.»
«E porque gostaria ele de mim, mestre?»
«Ele gosta, e isso basta.»
Até chegarem ao outro lado do enorme salão Dâmaris teve tempo para pensar que o Santuário não era afinal um centro de amor e amizade como se previa. Mas quando um homem não consegue deixar de ser um homem, mesmo sendo cavaleiro continua a ser um homem.
Dos cinco cavaleiros que ali estavam, todos mais ou menos da idade de Dâmaris, só um parecia estar realmente feliz.
- É Seiya de Pégasus – murmurou baixinho Afrodite.
- E o peluche da cama de Saori também… - murmurou não tão baixo Carlo que estava a seu lado. Afrodite lançou-lhe um olhar de censura e Carlo rebolou os olhos, de um modo que Dâmaris achou adorável. Naquele cavaleiro, diga-se. - O quê? Vais dizer que não é verdade?
O rapaz não dera conta da conversa e falava pelos cotovelos. Dâmaris suspeitou que a cara aborrecida dos outros quatro se devia em parte a terem que o aturar. Carlo inclinou-se para perguntar qualquer coisa ao ouvido de um rapaz muito alto e bem constituído com uns atraentes olhos azuis e cabelo desalinhado. Este assentiu, mantendo uma expressão carrancuda. Carlo ostentava agora um sorriso maldoso.
- Carlo, per favore... - murmurou Afrodite. O outro fez cara de descaso. Afrodite olhou para Mu que deu um toque em Shaka que por sua vez se virou para eles.
- Ah, Fénix…
- O que foi? – interrompeu bruscamente o jovem. Dâmaris lembrava-se bem do castigo que sofrera da última vez que interrompera o mestre daquela maneira. Mas Shaka não ligou importância.
- … eu gostaria de saber se estás a pensar em fazer algum escândalo este jantar, ou qualquer coisa assim…
- E se estiver? – o rosto de Shaka assumiu uma expressão puramente irónica.
- Mas tu não vais querer fazer isso, pois não? - instalou-se um silêncio desconfortável. Fénix acabou por abanar a cabeça irritado e cruzou os braços. Dâmaris achava-o extremamente parecido a Carlo. O rapaz de cabelos verdes, tão bonito e atraente que lembrava um jovem deus grego, acabou por quebrar o silêncio, sorrindo-lhe afectuosamente.
- Deves ser a aprendiza de Shaka. – a sua voz era meiga e suave – Eu sou Shun, este – apontou Fénix – é o meu irmão Ikki, aquele é Hyoga, Shiriyo e Seiya. – Hyoga sorriu-lhe docemente, Shiriyo acenou com a cabeça e Seiya ia-se começar a armar quando alguém a salvou.
- Isto vai sair atrasado. – Saga juntou-se ao grupo com os maxilares cerrados de raiva. Atrás dele chegou um cavaleiro de cabelos compridos e sedosos e olhos de um verde azulado.
- Ce n'est pas ma faute !!! - protestou, a voz dele era como um cântico mas estava irritada.
- Eu sei, Aquário! Porra, mas porque é que tenho que ser sempre… boa noite, Dâmaris, estás muito bonita,… mas sempre eu a tratar destas merdas?
Dâmaris levou alguns segundos a digerir a informação e respondeu de volta:
- Boa noite, Saga. – talvez fosse elegante ter dito como ele estava lindíssimo, o que não deixaria de ser verdade, mas foi interrompida por Carlo.
- Porquê? Talvez porque és o mais inteligente? – Carlo fez uma careta trocista.
- Ou porque és o que tens mais juízo? – Aioria fez também uma careta.
- Ou porque sou o único capaz de vos dar um murro se não se calam? – Dâmaris assustou-se com a resposta, mas depois percebeu um sorriso cansado no rosto do cavaleiro.
- Porque est
- Un moment! Quem é esta jovem? – interrompeu o cavaleiro que viera com Saga.
- Esta é Dâmaris, a aprendiza de Shaka – apresentou Afrodite.
- Enchantée, Camus de Amphora, un votre valet. – Dâmaris adorou o facto do elegante cavaleiro ter utilizado o nome original da sua constelação Amphora e não Aquário. Dava um intenso toque de classe, havia que reconhecer.
- Enchantée, monsieur Camus. – retrucou a jovem de volta enquanto o cavaleiro lhe beijava os dedos da mão. Sinceramente Dâmaris começava a ficar farta daquilo, mas a boa educação não lhe permitia sequer exalar um suspiro de enfado.
- O quê??? – exclamava Mu do outro lado, enquanto Ikki soprava para o ar. Até Shaka tinha as sobrancelhas franzidas.
- Eu já disse que os nossos convidados avisaram que iam chagar atrasados por razões do foro… pessoal. – Saga mantinha "o nariz torcido". Os cavaleiros estalaram em reclamações baixas e furiosas. A má educação era evidente, Dâmaris contudo, por questões do seu passado, não se admirou com os comportamentos.
- Sinceramente, não vejo qualquer motivo de surpresa. – as palavras secas saíram da boca de Dâmaris antes que esta as conseguisse segurar. Aquele grupo de homens parecia-lhe extremamente despropositado e inconsciente. – Honestamente, recordemo-nos na origem dos Católicos, os seus ideais. Será um facto assim tão estranho gente tão pobre e humilde como a do Vaticano saber comportar-se num jantar destes, cheio de pecadores rendidos ao ouro e à comida?
Os olhares viajaram de Dâmaris para Shaka que sorria ironicamente. Carlo estalou numa gargalhada seguido dos outros.
- És bene aprendiza de Shaka… - disse Carlo. O mestre continuava a olhá-la com o mesmo sorriso. Dâmaris encontrou os olhos de Hyoga e sentiu o sangue transformar-se em gelo.
«Eu sabia que não ias aguentar ficar calada por muito tempo.» A voz da Shaka chegou-lhe enquanto ele tirava dois copos de champgne da bandeja de um criado.
«Que queres que faça?» O mestre pôs-lhe um copo de champgne entre as mãos.
- Encara isto como um complemento… - respondeu casualmente.
- É, sem dúvida, a aula mais interessante da minha vida… - Dâmaris levou a bebida aos lábios enquanto Shaka lhe sorria por cima da borda do copo de cristal.
- Espero que tantos elogios não te estejam a subir à cabeça… - disse Shaka e voltou-se para Saga - «Não é que não estejas realmente muito, mas muito bonita.»
Dâmaris sentiu-se corar. Que raiva, porque tinha que corar com o que Shaka lhe dizia? E corou novamente.
- Dâmaris, querida, estás-te a sentir bem? – a voz de Afrodite chegou-lhe preocupada. Dâmaris olhou para ele e viu que os olhos de outros cavaleiros estavam postos em si.
- Uma… quebra de tensão. Nada mais. – respondeu sorrindo. Afrodite deu-lhe o braço novamente.
- Com o calor que está aqui dentro, não é de admirar. Vamos até à varanda. – dizendo isto arrastou a rapariga até à varanda, enquanto ia murmurando baixinho quem era este ou aquele. Dâmaris encostou-se à balaustrada e olhou para o seu estrelado. A noite estava fria. Ela ergueu um pouco o cosmos para se aquecer. Afrodite sorriu mas não disse nada. Encostou-se à balaustrada e olhou também para o céu.
- Para ti isto deve ser uma surpresa. – disse passado momentos. Dâmaris olhou-o com uma expressão interrogativa. – A ideia que o mundo tem de nós é que somos um grupo de amigos que nunca discutem, sempre unidos, sem defeitos e sem problemas.
- Nunca tive essa ideia de vocês. – respondeu ela olhando novamente para o céu. – Não acredito que haja algo infinitamente bom nem nada infinitamente mau. Os únicos que se podiam surpreender com a verdadeira face do Santuário, são os tolos que acreditam que os humanos podem expurgar totalmente a maldade que neles existe.
- Não acreditas que o ser humano pode ser totalmente bom?
- Isso é impossível. – Dâmaris abanou a cabeça. – A lei do cosmos não o permite. Tem que existir um equilíbrio. As utopias são um sonho porque nelas não existe equilíbrio.
- Então a guerra entre o bem e o mal vai durar para sempre… - suspirou Afrodite.
- Não necessariamente. – Dâmaris sorriu – A guerra só dura enquanto as duas forças lutarem pelo domínio. Se as duas pararem de lutar, atinge-se o equilíbrio: para cada coisa má, há uma proporcionalmente boa, como tudo na natureza.
- E se uma delas ganhar…
- Seja a boa ou a má, o mundo é destruído. O equilíbrio seria quebrado para sempre. O Cosmos não suportaria isso. – os dois remeteram-se ao silêncio. Dâmaris notou que os olhos de Afrodite estavam presos em si e o cavaleiro sorria. – O que foi?
- Nada. Apenas que Shaka me disse precisamente a mesma coisa numa noite de guarda à sete anos atrás. Vocês são muito parecidos.
- Espero que isso seja um elogio. – disse ela a sorrir.
- É, sem dúvida. O que achas de Shaka?
- É um bom mestre.
- Não perguntei isso. – insistiu ele. Dâmaris olhou-o confusa. – O que achas de Shaka como homem?
- Não acho. – o rosto de Dâmaris assumiu uma expressão impassível. – Há meses que deixei de olhar para as pessoas desse modo, Afrodite.
- Realmente és muito parecida com Shaka. Isso é bom. – murmurou Afrodite, bebendo mais um pouco de champagne.
- Porque é que é bom? – Dâmaris começava a sentir-se irritada.
- Deusas e cavaleiros e mestres e aprendizes não se podem relacionar, Dâmaris. Não amorosamente. É lei.
- Isso aconteceu alguma vez?
- Aconteceu sempre. A última vez foi há 56 anos atrás. O mestre e a aprendiza apaixonaram-se.
- O que lhes aconteceu? – Dâmaris estava curiosa.
- O que acontece sempre. – Afrodite bebeu mais um pouco de champgne. – Só há duas saídas: ou o aprendiz se afasta para sempre do Santuário, ou tem que lutar com o mestre para atingir a maturidade. Uma luta de verdade. – os olhos do cavaleiro perderam-se na noite. – Eles escolheram a segunda opção. O mestre pensou que ela era suficientemente forte para o derrotar, ainda que não o matasse. Mas ela foi incapaz de mover um músculo contra ele. E ele foi obrigado a matá-la.
- Mas Carlo disse que Pégasus… - murmurou Dâmaris minutos depois. Afrodite interrompeu-a com os olhos brilhantes.
- Não, Dâmaris! Nunca fales desse assunto com ninguém! – Dâmaris calou-se. Os dois ficaram novamente em silêncio. – Vamos para dentro.
- Eu fico aqui mais um pouco. – Afrodite assentiu e entrou no salão. Dâmaris olhou para o céu e ficou perdida nos seus pensamentos. Uma mão quente pousou num dos seus ombros.
- Shaka. – disse a jovem, não tirando os olhos das estrelas. O mestre sorriu e colocou-se ao lado dela.
- Sentes injustiça. – Dâmaris acenou afirmativamente. – São as leis.
- Leis que foram feitas para serem quebradas. – a jovem não pareceu surpreendida por Shaka saber o que se passava. – Pelos mais poderosos.
- O mundo dos homens não é o Cosmos. Leis terrenas são leis imperfeitas.
- Leis divinas deveriam ser perfeitas. – retrucou Dâmaris, bebendo um golinho de champgne.
- Não quando os deuses estão ligados aos homens.
- Deuses são deuses. – argumentou, teimosa, pousando o copo no parapeito.
- Deuses são como os homens. – disse Shaka calmamente, pegando no copo dela naturalmente e bebendo um golo da bebida. - Têm o cosmos dentro de si, não são o Cosmos.
- Então porque é que governam os homens, se são imperfeitos como eles? – Dâmaris olhava Shaka, um misto de raiva e amargura no olhar. Shaka sorriu estranhamente e passou os dedos na face suave da jovem.
- Porque os homens querem. Os deuses só são deuses enquanto os homens quiserem. Os homens não estão sobre o jugo dos deuses. Só aqueles que querem estar o estão.
- Buda… - murmurou a jovem.
- Não fales em Buda. Fala antes nos budas. Mas sim, podemos dizer que os budas são esses homens que conseguem igualar-se aos deuses. Mas não são homens especiais. São homens como os outros. Apenas têm mais vontade de serem livres, mais vontade de cumprirem e de descobrirem a razão porque estão vivos. Vontade e coragem demais para deixarem que outros seres controlem as suas vidas.
- Tu és um buda… - disse, olhando inconscientemente os lábios dele quando deixaram o copo. Shaka abanou a cabeça.
- Ainda não. Ainda me falta percorrer o resto do Caminho. Mas eu tenho tempo e muitas coisas para fazer ainda neste mundo antes de ir para o Nirvana. Como por exemplo, treinar-te. - Shaka voltou a fazer aquele sorriso sobrenatural e, continuando a fazer-lhe festas, deslizou um dedo pelos lábios dela. Dâmaris sentia-se estranha. Os dedos de Shaka estavam quentes, tão quentes e suaves como se transmitissem uma energia não humana. Mas maior ainda que o divino, algo que ela nunca tinha sentido. Algo que vinha dele… ou dela? – Ensina-me. – continuava a sentir o calor dos seus dedos, o calor do seu corpo, sentimentos que não sabia o que eram. Desviou os olhos do seu rosto sentindo-se corar. Outra vez, inexplicavelmente. Estremeceu.
- O que foi? – Dâmaris não sabia o que era, mas o instinto dizia-lhe para não o deixar descobrir. E para ela não descobrir.
- Nada, não foi nada.
- Mas estás a tremer… - ele enlaçou-a pelos ombros. O perfume dele atingiu-a com violência.
- Tenho frio, só isso. – Ele apertou-a mais contra o corpo quente e musculado e ergueu os olhos para o céu, como se pudesse ver através das pálpebras fechadas. Sorriu.
- Está lua nova. Hoje era uma excelente noite para as aulas de astronomia. Vêm-se as estrelas todas… - Shaka pareceu perdido a pensar em alguma coisa e deslizou distraidamente os dedos pelo braço de Dâmaris, mantendo-a abraçada durante muito tempo. A jovem mexeu-se um pouco.
- Vamos para dentro? – ele deu-lhe o braço e caminharam para junto dos outros.
Tinha que estar junto dos outros. Passava-se alguma coisa errada naquela noite e sabia que, se ficasse mais um segundo que fosse sozinha com Shaka, o iria descobrir.
Mu olhou-os.
- As nossas visitas acabaram de chegar. Temos que ir todos para a entrada do salão. – um clima desconfortável tinha-se espalhado pelo salão. Mas, há medida que se moviam para a entrada, Dâmaris deu graças por os outros finalmente terem chegado e que fosse começar o jantar. Ainda que este fosse ameaçasse ser desastroso.
N.A.: Êh lá! Isto é a Grécia, não são os trópicos, vamos lá a descer a temperatura nesse salão!
=P HELLO!!!!!! =P
Eu juro que tentei postar mais cedo, mas vieram-me umas ideias de última hora, e como ontem tinha que estudar para Psicologia, só pude acrescentar as coisinhas hoje. Mas como acho que ficou muitooooo melhor, vocês não se vão zangar, não é Ayan faz cara de anjinho?
As reviews… OBA! Eu adoro-vos, meninas, vocês são o meu carregador de bateria quando começo a desanimar!
Vane = Eu fiquei super contente quando vi a tua review! Yupi!!! Acerca do Ikki e do Máscara, posso adiantar uma coisinha: Eles os dois vão aparecer ainda, sobretudo em duas ocasiões muito importantes na fic. E, em ambas, mas sobretudo na segunda, vão ser dignos de muitos "OOOOOOHSSSSSSSS" de todo o mundo (refiro-me, claro, às voltas e reviravoltas típicas em mim com que bombardeio os personagens =P). Quanto à Dâmaris, beeeeem, essa personagem tem muito que se lhe diga, mas... =P não digo mais nada!
Bjokas!!!!
Paula Marques = A minha fã cardíaca! Bem, sem problemas… Eu sou uma escritora cardíaca! Paula, as nossas aulas de Informática começam a ser parecidas… Eu não aguentei para ver as reviews e, na sexta –feira de manhã, durante a aula, fui dar uma espreitadinha ao mail… e dei um pulinho sentada na cadeira, levantei o punho no ar e praticamente gritei: "YESSSSS!" '… e ficou tudo a olhar… Foi muito embaraçoso =P Eu vou tentar não parar na melhor parte, mas é assim uma coisa que faz parte de mim… culpa o Shaka… Eu aturo este loiro 24 horas por dia, tenho que ser influenciada, não??? =P
Jokinhas!!!
Mari Marin = Dedico-te a ti e à Paula a rosa do Leão! Ena, já tenho título para um novo fic! Tempo de abrir a caça ao leão hahahahahahahahaha (My gosh, estou a ficar com a típica risada mazinha do Shaka… o.O) Vês, seu loiro pálido… até a Marin diz que tu e a Dâmaris são o casal perfeito… deixa de dizer palavrões, pelo amor seja lá de quem for, tu és um aprendiz de buda, Shakyamuni! Sinceramente… Ah, eu falei aquilo da Dâmaris e do Mu só porque ia ser engraçado ver o Shaka a ficar de trombas, pelo menos levava uma lição de vida! Mas depois… buáááááá, o meu carneirinho ia ficar tristinho porque tinha de devolver a gatinha ao Shaka… e aqueles olhinhos lindos e fofinhos não foram feitos para chorar, foram feitos para sorrir… (hehehe, o loirinho já amuou com ciúmes =P)
Bjokas!
Pandora-Amamiya = hahahahaha resta saber o que fazer no final da história: O Shaka enfia-se no primeiro buraco que lhe aparece à frente com vergonha? O Mu vai à guerra? A Dâmaris resolve ficar com o… sei lá, Carlo? Ou com o Afrodite? O Shaka arma um escândalo? Ah, não sei, mas o Shaka tem que abrir literalmente os olhos nesta história… para TUDO. Mas foi uma viagem óptima, fazes umas viagens excelentes, podias abrir uma companhia e facturar toneladas e ouro! ;P!
Bjokas e adorei a review!
Kourin-sama = Ois!!! Gostei imenso da tua review! E vou tentar fazer uma continuação à altura dos elogios #.#. Se bem que uma amiga minha que tem lido os capítulos para me ajudar com uma ideia ou palavra, cada vez que ouve as minhas ideias fica com os olhos assim: O.O. Resta saber se consigo passar as ideias para aqui. Claro que vou conseguir, com reviews tão simpáticas e encorajadoras!
Jokinhas!!!
Enfim, lá voltamos nós à vaca fria = Por favor, entendam que não tenho nada contra em relação a nenhuma religião, nem aos seus crentes, nem às suas crenças. Apenas contra o fanatismo, a hipocrisia que muitas vezes se lhe alia, sem culpa dos outros, tais como o luxo no Vaticano e, por exemplo, estarem a utilizar a religião para justificarem carnificinas e regimes obscurantistas no Médio Oriente.
Sei que estou a insistir nesta ideia, mas é muito importante para mim que ela fique clara. Religião é um assunto delicado, que estou habituada a discutir com pessoas, que, tal como eu, não são praticantes e e muito menos crentes e que as estudam "de fora", uma vez que gosto bastante de estudar religiões. Já tive bastantes dissabores por causa deste tema e asseguro-lhe que foi precisa uma dose de coragem para o abordar neste fic. Apenas o acho um tema importante e claramente lógico no contexto do Santuário.
Outra coisa que eu queria dizer é esta: eu sei falar inglês, francês, espanhol e um pouco de italiano. Agora escrever já só sei escrever bem inglês e latim e um pouco de francês. Por isso, dadas as várias línguas que eu ponho na boca de certos personagens, é normal que dê erros de escrita. Se eu der, eu gostaria que me corrigissem. E se alguém souber falar uma destas e me queira dar uma ajuda, ela será muito bem vinda , tá?
É verdade, o FF.net postou mal o meu e-mail, vou tentar corrigir: ayanithildinmsn.com
Se desta vez o meu e-mail aparecer errado, eu juro que lanço uma Bênção do Senhor das Trevas virtual a quem estiver a dirigir isto! =P
Bjokas para todos os que acompanham a fic!!!
Ayan Ithildin
Próximo capítulo: " Vestígios negros e brancos de um confronto… Iniciações."
