"E o crescente de Lua aumenta…"
by Ayan Ithildin
Dâmaris acordou lentamente, sentindo os raios quentes de sol a tocarem-lhe o corpo numa saudação terna. Sentia-se tão confortável que não queria acordar. Estava encostada a algo macio e duro ao mesmo tempo, algo quente e acolhedor. A pouco e pouco os sentidos foram despertando… ainda presa ao mundo dos sonhos, sentia que aquilo a que estava encostada subia e baixava num movimento calmo e ritmado… sentiu uns braços à sua volta, quentes, fortes e suaves… era como estar num berço… não, era melhor que um berço… Não soube de onde, mas de algures da sua mente uma vozinha disse num tom de voz de preguiça "Shaka…"... Shaka?... queria lá saber… estava tão bem… agora sentia umas mãos de ferro forrado de veludo pousadas, uma no seu braço, outra na cintura… tão macias e quentes… mexeu a mão direita e sentiu uma pele suave e quente debaixo dela… um perfume masculino invadiu-lhe o cérebro, um perfume delicioso… um perfume que ela conhecia… Shaka… SHAKA?!
- Shaka! – Dâmaris sentou-se num salto, desequilibrou-se e apoiou as mãos no peito do cavaleiro que acordava com a sua costumeira face infantil de sono.
- Calma, Dâmaris… O que foi? – perguntou ensonado, enquanto lhe segurava os braços com as mãos. Dâmaris percebeu que tinham dormido no sofá, bastante apertados para dizer a verdade toda, já que agora estava quase sentada no colo do cavaleiro… sentada no colo do cavaleiro, como o rosto a centímetros do dele… as mãos dele "de ferro forrado a veludo, macias e quentes"… tinha dormido abraçada a Shaka… MESTRE! Abraçada ao mestre! Tu dormiste abraçada ao teu M-E-S-T-R-E!!! Gritou uma voz inexplicavelmente zangada no seu inconsciente que a despertou. A rapariga deu outro pulo esticão. Shaka riu-se e passou uma mão pelos cabelos. – Não te mordo. – sentou-se e Dâmaris ficou de facto sentada no colo dele. Sentiu-se corar um pouco e baixou um pouco o rosto. Shaka esticou o pescoço para um lado e para o outro e depois para trás e riu-se novamente. – e dizias tu que eu tinha mau acordar. – Dâmaris levantou-se e arranjou a alça da blusa.
- E tu disseste que raramente acordavas bem disposto. Estou a ver que hoje é um desses dias… - Shaka riu-se maliciosamente.
- Errado. Eu disse que só acordava bem disposto quando estava acompanhado se a noite tivesse sido … satisfatória… e acontece que esta manhã estou bem disposto… - O coração de Dâmaris deu um salto, assim como o seu corpo e ela olhou para Shaka assustada, corando violentamente. O que é que ele estava a querer dizer com aquilo? Não podia ser… Shaka continuava a sorrir maliciosamente. Ela começou a gaguejar e Shaka começou a dar gargalhadas estrondosas, atirando a cabeça para trás.
- Se tu tivesses sentido o teu próprio cosmos agora… Dá para adivinhar a tua cara… Calma Dâmaris, foi só uma brincadeira!
- Que brincadeira tããããão engraçada… - resmungou Dâmaris chateada, virando-lhe a costas. Shaka abraçou-a pelas costas.
- Desculpa, Damy. Mas tu és tão engraçada quando ficas aflita… - apoiou o queixo no ombro dela. – Desculpas? – perguntou baixinho ao ouvido dela. Dâmaris engoliu em seco.
- Desculpo… - murmurou também baixinho.
- Vamos tomar o pequeno-almoço, anda. – Dâmaris ficou sozinha na sala, confusa com o mestre, consigo própria, ainda abalada (agora pensava, por causa de uma coisa bastante pateta) pelo acordar. Suspirou e abanou a cabeça, pensando naquele mestre que adorava, mas que a surpreendia a cada minuto, ora sério, ora brincalhão. «Mas porque raios me chamou ele de Damy?» - pensou, saindo da sala em direcção à cozinha.
Dâmaris sentou-se no lugar habitual. Shaka parecia engolir o riso o que lhe dava um ar bastante engraçado. Pois, está bem, ela é que era de Gémeos e ele é que tinha duas faces. Supostamente os de Virgem deveriam ser estáveis, calmos. O Shaka era calmo, isso não se podia negar, mas escusava de andar sempre a saltitar de humor. Aquilo era irritante, nunca sabia com o que podia contar. Ele É irritante, disse a mesma voz que a repreendera. Até parece que te importas…, respondeu aquela vozinha preguiçosa. Ele é irritante e eu não me importo com isso, pensou enquanto o via a fazer torradas. Mas devias-te importar! Devias responder! Onde é que anda a Dâmaris, sempre respondona?, voltou a primeira voz a insistir. A velha Dâmaris era ch-a-t-a. E qual é o mal dele ser irritante? Ele é tão querido quando acorda…, provocou a vozinha preguiçosa. Ele não é nada querido quando acorda!, praticamente gritou a primeira voz. Pois não, ele é sempre querido!, respondeu a segunda. Tirando quando te provoca…, volveu a primeira. E tu adoras "aquelas" provocações…, disse a segunda vozinha maliciosamente. As provocações de que estás a falar não existem! Ele é um brincalhão irritante e um rezingão irritante! Podemos voltar à realidade, por favor?, rugiu a primeira voz. Calem-se as duas!, pensou Dâmaris zangada. As vozes da sua consciência tinham o poder de dar com ela em doida. O mal de ser de Gémeos… sempre tivera aquelas duas vozinhas inoportunas. A mãe até costumava dizer… Mãe!.As memórias da noite anterior voltaram com a força da corrente de um rio de Inverno. Perdeu-se nas águas revoltas da sua memória…
- Primeiro não me respondes e agora choras? Que se passa contigo, miúda? – perguntou a voz de Shaka ao seu lado. Dâmaris deu conta que as lágrimas lhe corriam pelas faces. Em vez de parar, começou a soluçar. Shaka puxou um banco e sentou-se em frente a ela. – O que foi? Dâmaris? – ele franziu as sobrancelhas. – Olha, miúda, o passado foi terrivelmente mau para ti. E ontem…
- Eu sinto-me aliviada por te ter contado. Precisava de contar a alguém. – soluçou ela. – Mas dói.
- Eu sei que dói. Mas não pode doer. Não te podes perder no passado, isso é fraqueza. E eu odeio fraqueza. – a voz dele ficou tão dura que Dâmaris se encolheu. Shaka amaciou a voz. – Tens que lutar para o futuro ser melhor. Não vale a pena perdermo-nos no passado e em fantasias. Só vale a pena lutar pela vida, compreendes? Tens que meter as memórias dentro de um saco, dar-lhe um nó e guardá-lo no lugar mais escuro e inacessível do teu coração. Tu podes ter um futuro feliz. Só tens que lutar por isso. Sem correntes que te prendam os movimentos. – concluiu, limpando-lhe as lágrimas. Ela acenou com a cabeça, engoliu um soluço e sorriu.
- Vou fazer isso. – Shaka sorriu também.
- "ptimo. Agora, toma o pequeno-almoço. Isso é tudo fome. – disse, levantando-se e saindo da sala. Dâmaris comeu com apetite, um pouco mais que o normal, mas pôs as culpas na tristeza. Depois meteu as memórias num saco, deu-lhe um nó a atirou para as profundezas do seu coração. Shaka tinha razão, não valia a pena estragar o futuro por causa do passado.
O cavaleiro voltou com a armadura vestida e a capa branca presa nos ombros. Dâmaris tinha-se esquecido que Shaka estava de guarda naquele dia. Franziu as sobrancelhas. Simplesmente odiava ver o mestre vestido com a armadura de ouro de Virgem. Não é que não lhe ficasse bem, mas ele ficava tão distante, tão diferente, tão… assustador não era bem o termo, mas ficava muito frio, fazia-a sentir-se muito pequena. Fazia-a lembrar-se de guerra, sangue, morte.
- Até logo, miúda. – disse esfregando-lhe literalmente os cabelos da maneira que bem sabia irritá-la.
- Até logo, mestre. – Dâmaris ouviu os passos afastarem-se e a porta que dava para o enorme corredor da casa de Virgem fechar-se e abrir-se no mesmo instante: de certo que a fechadura se soltara como às vezes acontecia, se o mestre ia distraído. Dâmaris foi para casa, entrou, sendo recebida efusivamente por Mordred. Pegou-lhe e o gatinho miou, num protesto dela ter ficado tanto tempo longe. Pôs-lhe leite novo no prato e biscoitos frescos, e sentou-se a vê-lo comer. Ouviu um pouco de música, mas cansou-se depressa. Deu uma arrumada geral na casa, mas isso também levou pouco tempo. – Mordred, bsssbsssbsssbsssbss, vem cá. Vamos para casa de Shaka. Ele tem lá uns livros que ainda não li. – Deixou o gato enrolar-se no pescoço e dirigiu-se de novo para a casa de Virgem.
Deixou o gatinho em cima de uma das almofadas do sofá. Ele espreguiçou-se e enrolou-se, pronto a desfrutar de uma bela soneca. Dâmaris olhou-o com uma certa inveja, plantou-se em frente às estantes repletas de livros. «Para haver tantos livros alguém os lia. Shaka não é cego de nascença, pensou, sentindo um arrepio de tristeza. Deve ter ficado cego numa das batalhas…». Acabou por tirar um livro ao calhas de uma das prateleiras, sentar-se no sofá e começar a ler enquanto fazia festas em Mordred, que começou a ronronar até adormecer. Dâmaris sentiu os olhos semicerrarem-se com sono. Não tenho dormido nada… a única noite desta semana em que dormi bem foi a última. Lembrou-se do bem que inconscientemente se sentira essa manhã. Shaka… pensou antes de cair num sono profundo, de que cor são os teus olhos…
O livro tombou-lhe das mãos. Se Dâmaris tivesse dado atenção à data de impressão, teria visto que o livro saíra à seis meses atrás e que, nessa altura, já conhecia o mestre.
Dâmaris acordou com o leve impulso de Mordreda saltar do seu colo para o chão.
- Mordred? Vem cá. Onde vais? Mordred! – mas o gatinho não obedeceu. Curioso como felino que era, decidiu explorar a casa e, quando a dona se levantou, fugiu pela porta fora. Dâmaris seguiu tentando apanhá-lo pelos corredores da casa de Virgem, até que viu o gato se evadir pela porta que o mestre deixara aberta. Praguejou mentalmente, e seguiu-o com passos leves. Saiu de trás de uma coluna a tempo de ver o gato trepar audaciosamente pela flor de lótus de pedra em que Shaka estava sentado, aparentemente completamente desligado do mundo, pois não moveu um bocadinho de músculo quando Mordred se enroscou no colo dele, abanando a cauda, satisfeitíssimo com o seu feito heróico. E agora, como tirava o gato dali?
Dâmaris encostou-se à coluna observando o mestre. Decididamente, Shaka metia-lhe um bocadinho de medo quando estava com a armadura. Principalmente em levitação. Sobretudo com uma linha do seu cosmos calmo e poderoso brilhando à sua volta. Shaka nunca dissera nada, mas ela interpretava como óbvio que não devia ir ali, sobretudo quando o mestre estava de guarda. Amaldiçoou-o o gato. Shaka iria ficar furioso se encontrasse um deles ali. Ficou indecisa, oculta pela coluna.
- Agora tens medo de mim? – perguntou Shaka ao fim de algum tempo. Dâmaris sentiu-se envergonhada e furiosa ao mesmo tempo. Era óbvio que ele sabia que ela estava ali. Saiu de trás da coluna com a cabeça baixa.
- Desculpa, mestre. – murmurou em voz baixa, preparando-se para receber o maior castigo da sua vida. Certamente não seria um dos choques mentais que Shaka lhe dava quando se exasperava com ela. Shaka deixou-se cair suavemente sobre os pés, segurando o gato pelo meio do corpo.
- Anda cá. – Dâmaris aproximou-se da flor de lótus e Shaka pôs um joelho na pedra que fazia o interior da flor para ficar à altura dela. – Tens medo de mim?
- Não, mestre. – murmurou olhando para o chão. – Mas tenho respeito.
- Estás a mentir. – disse ele após uma curta pausa. – Diz-me a verdade. Tens medo de mim.
- Não. Não de ti. – Shaka ergueu as sobrancelhas num sinal para ela continuar. – é… é… a tua armadura.
- Dâmaris! – agora sim, pensou a jovem. Shaka agarrou-lhe o pulso com mais força do que o necessário. – Tu não és nenhuma criança para ter medo de armaduras. Mas que raios se passa, Dâmaris? – Shaka agora parecia mesmo zangado. Apertou-lhe o pulso com mais força. – Andas a ser tomada por momentos de fraqueza? Já te disse, Dâmaris, odeio fracos.
- Eu não tenho medo da armadura! Eu tenho medo do que vejo quando olho para ela!
- E o que é que tu vês?
- Sangue… - disse ela com a voz a tremer – eu vejo-a coberta de sangue. E… e vês como ela está inteira e brilhante? Eu vejo-a quebrada e baça… Vejo morte e guerra… - Shaka pareceu olhá-la por debaixo dos olhos fechados. Será possível que ela seja tão sensível a ponto de ver resquícios do passado? Será possível que consiga ver a história da armadura só de olhar para ela? Mas isso seria…
- Dâmaris, esta armadura já esteve quebrada e coberta de sangue. – disse num tom de voz mais suave, afrouxando o aperto do pulso. – Mas isso foi no passado. Há muitos anos, muitos mais dos que eu tenho. Há cinco anos que não há guerra e… - Shaka calou-se. Ia dizer e duvido que volte a haver outra, mas não era homem de fazer previsões. Não quando todos os deuses ainda não haviam despertado. – É tempo de paz, Dâmaris.
- Mas eu… -pareceu hesitar. – Tenho tido pesadelos.
- Que tipo de pesadelos? – perguntou ele, franzindo as sobrancelhas.
- Guerra. O Santuário destruído, corpos por todo o lado… - Dâmaris pareceu fazer um esforço enorme para não chorar. – e tu ali, a morrer, a sangrar, … morto, gelado…
O coração de Shaka deu um salto. Depois abanou mentalmente a cabeça. Não, ela não está a fazer previsões. É impossível que consiga ver e sentir isso. Pode ser tão sensível a ponto de ver a história da armadura, mas daí a conseguir ver o futuro… Seria preciso um grau elevadíssimo de correspondência com o Cosmos. Um grau que ninguém tem. Excepto raras pessoas. Ele conseguia prever algumas coisas, mas era quando elas já estavam muito próximas. Mas ele também não era um humano comum. Talvez nem devesse ser considerado humano. É impossível. Dâmaris não pode conseguir, seria incrível. Não, são apenas sonhos.
- Quando te levei para o sofá, esta noite, não estavas a sonhar. E estiveste tranquila a noite toda. – observou calmamente.
- Não me peças para controlar o vai e vêm dos meus sonhos. – disse ela quase a fazer beicinho. Depois lembrou-se que o mestre odiava os fracos e resolveu aguentar-se. – Juro-te que se pudesse impedia estes pesadelos. São terríveis.
- Acho que te vou pedir isso mesmo. – disse Shaka franzindo as sobrancelhas. – Todas as noites, antes de ir dormir, vais limpar a tua mente de memórias, emoções, imagens e pensamentos. Quero que ela esteja em branco, completamente em branco. Vais ver que os sonhos acabam. – Mordred, talvez sentido que Shaka estava mais calmo, escolheu esse momento para começar a espernear. – Quieto. – E o gato encolheu-se novamente.
- E se não passarem? – perguntou ela.
- Se não passarem, eu faço-os passar, está descansada. – disse o cavaleiro num tom de voz pouco reconfortante. Até parecia que ele ia aparecer de espada na mão e cabelos a esvoaçarem ao vento, no meio dos sonhos, e derrotar os maus e devolver tudo à vida. Foi exactamente isto que Dâmaris pensou. Shaka sorriu. – Não era nisso que eu estava bem a pensar fazer…
- O qu… Podes sair da minha mente, se o incómodo não for muito? – disse ela chateada. – será que algum dia vou conseguir acabar com estas infiltrações? – perguntou mais a si própria que ao mestre, que sorriu novamente.
- Se treinares muito, pode ser que consigas. Olha, porque não vais dormir um bocado? Precisas de descansar.
- Não quero dormir. Não quero sonhar outra vez. – respondeu Dâmaris, abanando a cabeça. – Mas seria uma boa ideia ir treinar.
- Amanhã… - disse Shaka pensativamente – amanhã vamos à cidade. Precisas de comprar roupas novas. E ver se espaireces um bocado.
- Vamos? – perguntou Dâmaris estupefacta.
- Vamos, claro. – estendeu-lhe o Mordred – Agora vai treinar, anda.
Dâmaris pôs o gato enrolado no pescoço e, quando olhou para trás, antes de ultrapassar as colunas e entrar em casa, o mestre estava de novo em levitação, com o cosmos a rodeá-lo suavemente. Ir à cidade comigo? Será que ele se está a sentir bem?
«Claro que me estou a sentir bem, que pergunta mais estúpida.»
«Tu não tens respeito?»
«Visto desse prisma, tens toda a razão.»
Idiota…
«Eu ouvi isso.»
«Ah, não acredito! Tu fazes de propósito para me irritar!»
«Claro, querida, tu ficas um doce quando estás irritada. Até a tua essência fica vermelho-fogo.» Dâmaris ouviu os ecos das gargalhadas irritantes de Shaka na sua mente e ficou ainda mais irritada.
«Ora seu…»
«Eh lá! É melhor ir-me embora! Tantas correntes negativas de raiva fazem-me dor de cabeça… Tchauzinho.» Com um último risinho irritante, Shaka saiu da sua mente e Dâmaris aproveitou para descarregar a irritação no saco de boxe e no aparelho de karaté antes de ir meditar.
Dâmaris foi acordada por umas sacudidelas fortes. Que coisa ridícula, pensou o seu cérebro ainda a dormir. Ainda por cima ouvia uns barulhinhos irritantes. Meteu a cabeça por debaixo da almofada. E, no segundo a seguir, a almofada foi pelos ares.
- DÂMARIS!
- Sim, sim! – disse Dâmaris sentando-se atabalhoadamente. Depois esfregou os olhos sonolentos e focou a vista. – Shaka… o que é que queres… - e voltou a cair na cama, puxando as cobertas por cima da cabeça.
- Acorda, Dâmaris! – disse Shaka abanando-a.
- Deixa-me dormir…
- Eu nunca vi miúda mais preguiçosa! – Dâmaris respondeu num ruído indistinto, mas que se pareceu muito a um "vai-te lixar". Shaka puxou-lhe as cobertas. – Levanta-te! – mas Dâmaris rolou para o fundo da cama escondendo-se debaixo dos cobertores e voltou a adormecer, sendo seguida por Mordred. Existiram uns momentos de paz dentro da casa da aprendiza do cavaleiro de Virgem e logo a seguir ouviu-se um grito horrível, seguido de um miado agudo e aflitivo. Shaka sorriu sarcasticamente para a rapariga encharcada da cabeça aos pés, segurando um balde com ainda um resto de água fria. – E agora, já estás acordada?
- O que é que tu queres? – perguntou aborrecida, sentando-se de pernas cruzadas, ajeitando os calções do pijama e puxando a alça da camisola que insistia em cair, sacudindo a água dos caracóis.
- Pensei que íamos à cidade…
- E vamos. Mas não ás cinco da manhã.
- Queres dizer às nove e meia? – Dâmaris olhou para ele que lhe respondeu num sorriso malicioso, e depois olhou para o relógio. E deu outro grito.
- SÃO NOVE E MEIA! – deu um pulo, correu por cima da cama e, pulando por cima da cadeira, enfiou-se na casa de banho, batendo com a porta. Shaka abanou a cabeça. Depois ouviu um estrondo na casa de banho.
- Dâmaris? – perguntou através da porta. Respondeu-lhe um gemido. – Estás bem?
- Ai, 'tou.
- Daqui a um quarto de hora vou-me embora. Despacha-te.
Dâmaris surgiu um quarto de hora depois à porta da casa de Virgem, num dos seus habituais vestidos brancos de alças, decote direito na linha das meias costas e a saia levemente rodada um pouco acima do joelho, umas sandálias brancas de tiras e quase sem salto. Trazia o cabelo solto, ainda a pingar.
- Vamos? – perguntou Shaka começando a descer as escadas acompanhado por Dâmaris. O seu rosto tinha uma expressão levemente curiosa. – O que é que te aconteceu na casa de banho?
- Hum, nada… - respondeu Dâmaris corando. Shaka fez um ruído indistinto com a garganta. – Oh, está bem. O varão do cortinado da banheira caiu em cima de mim… Não te rias de mim! – protestou, parando furiosa e envergonhada enquanto Shaka soltava mais uma das suas risadas bem dispostas. Carlo surgiu no caminho.
- Buon giorno! – Shaka continuava-se a rir e Dâmaris estava mais vermelha que um tomate. – che cosa accadono? – perguntou espantado.
Dâmaris ficou ainda mais vermelha, se possível e Shaka conseguiu para de rir, se bem que não tirasse um sorriso divertido do rosto.
- Bom dia, Máscara. Não foi nada. – disse Shaka, contendo o riso
- Não foi nada? – perguntou o outro erguendo as sobrancelhas – Então porque é que a ragazza está com aquela cara? – depois abanou a cabeça – Guardate, raggazza, não deixes que ele te infernize a vida, porque o nosso santo cavaleiro de Virgem é maestro nisso. – Dâmaris fez que sim com a cabeça enquanto Shaka compunha uma expressão inocente. – Sim, tu, ragazzo, quando estás com essa expressão idiota e esse riso feliz é porque lixaste qualcuno!
- Porque fazem tão má publicidade acerca de alguém tão bom como eu? – perguntou Shaka abanando a cabeça numa tristeza fingida.
- Buon, lo imaginno... Laúltima vez que alguém te contrariou ficou sem … quantos foram.. foi só um sentido? – perguntou Máscara com um sorriso maldoso.
- Dois, se contares com o corte de relação do hipotálamo com as gónadas… e o tacto, nas mãos - disse Shaka com um sorriso ainda mais mauzinho. Dâmaris olhou-os chocada.
- Foi isso… coitado, há um ano que não come uma gaja… - Máscara riu-se escandalosamente.
- É melhor que nem pense nisso, as dores serão insuportáveis… - Dâmaris ainda ficou mais chocada. – Não fiques assim, miúda, ele mereceu. Adeus, Máscara. – O Cavaleiro de Câncer despediu-se e Dâmaris seguiu o mestre estupefacta. Ele sabia que Shaka era frio, e muito, na maioria das vezes. Mas nunca o imaginara… mau? Sim, ele sorrira de uma maneira mesmo má, parecia adorar as lembranças e o sofrimento que causara no outro. Olhou a face calma do cavaleiro, que parecia sempre tão juvenil, tão inocente, tão pacífica… tão bela. Shaka parecia um anjo…
«Para os budistas, só há um ser superior, um ser omnipotente, mais que o Deus Cristão, pois ele sozinho controla todos os mundos e realidades, sejam bons ou maus. Buda não é só o senhor da Luz… é também o senhor das Trevas.»
A rapariga decidiu-se a não ligar importância. Shaka nunca fora mau para ela, tomava bem conta dela e ensinava-lhe sábia e profundamente.
- Ficaste com algum galo? – perguntou Shaka solícito mas com as sombras de um sorriso trocista.
- Não, obrigado pela preocupação. – Dâmaris sorriu feliz quando passaram os portões que encerravam o limite do Santuário.
A cidade estava numa animação, com a proximidade das festas ancestrais que se mantinham no Verão e também pelo calor próprio dos mediterrâneos.
- Que queres fazer agora? – perguntou Shaka afastando a franja dos olhos com um movimento da cabeça. Dâmaris achou-o lindo, mas há três horas que achava tudo o que via um espanto, por isso não se importou.
- Não sei, Sha. Que tal almoçar, já é uma hora, não? – disse com um sorriso lindo.
- Pode ser. E não me chames Sha. – protestou o cavaleiro.
- Sha, Sha, Sha. – cantarolou a rapariga quase saltitando à sua volta. Shaka levou a mão livre à testa, abanando a cabeça e Dâmaris pendurou-se no braço flectido. – Anda lá, chato, despacha-te.
«Ok, já sei como é que se sente um homem rico recém-casado com uma rapariga acabada de entrar na fase adulta e acabada de sair do período menstrual.» pensou Shaka, deixando Dâmaris puxá-lo pelas ruas movimentadas do centro histórico.
N.A.: Ois! Ah, vá lá… Foi só um dia, né? Um dia de atraso, não tive culpa, foi o meu último dia "oficial" de aulas antes dos exames e hoje estive a montar as minhas prendas de anos (recebi-as no domingo e só hoje pude montá-las, snif snif… e olhem que eu estudo pouco). Mas pronto, este até que saiu grandinho, né? J
Para quem não entendeu, as gónadas são as glândulas sexuais que segregam as hormonas necessárias ao estímulo dos órgãos sexuais para que AQUILO aconteça. O hipotálamo é um dos "computadores" mais importantes do nosso cérebro. Entre outras coisas, ele estimula o desejo sexual e comanda as hormonas. Ou seja, se ele não conseguir comunicar com as gónadas, não à produção de hormonas, resultado: AQUILO não acontece. O que penso que causa algumas dores. Pelo menos psicológicas… Por outro lado, sem tacto nas mãos, o caso ainda fica pior… Digam lá a verdade, o Sha é ou não é imaginativo, hein? (risada diabólica dupla… Ayan cala-se e olha para o loiro com um olhar letal… "Shaka… NÃO ME PREVERTAS! E pára com essa risada irritante!")
Mari Marin = Eu não estou a gostar desta história… Se vocês continuam a escrever essas coisas, e quando chegar o hentai vocês tiverem de facto um ataque… ADIVINHA quem vai ser a culpada??? Euzinha! Não pode, não pode mesmo… depois não posso ser juíza e pior… EU QUERO O MEU SECRETÁRIO estilo Dorian Gray!
Toda hora é boa para acabar… principalmente uma parte boa… Oh, meus deuses, eu estou a ficar totalmente pervertida pelos vilões!!!! Eu vou tentar não acabar mais numa parte boa, prometo! (Ela vai tentar, ahahahahah…. "SHAKAAAAAAAAAAA!!!!!!!" Garotinha stressada! "FORA DA MINHA FIC! RUA!")
Ah, deixa o sofrimento pra lá, garota, ela está com o Shaka, que mais poderia ela querer do que aquele durão se derretendo (quase quase) à frente dela?
Mas experimenta mesmo fazer algum desporto, tá? É óptimo ;)
Eu não sou perva! Quer dizer, eu não ERA até esse loiro maluco (aponta Shaka que sorri angelicalmente) entrar na minha vida e me perverter totalmente… aconteceu aí aos sete ou oito anos, acho eu… começou devagarinho, depois entrou o Dorian e… peraí… CREDO; EU ATURO-TE HÀ ONZE ANOS; SHAKA? – Ayan desmaia…-
Bjokas!!!!
Paula Marques = Por favor, não me acusem em tribunal pela despesa em ansiolíticos! Eu juro que não faço de propósito! E muito menos pela compra sem receita… E também não é caso para tanto, não escrevo tão bem assim, meninas! Eu é que faço uma festa cada vez que vejo as vossas reviews! Fico tão feliz. Ou, como diria o meu simpático melhor amigo "cara de boba com sorriso de meio metro"… Muito simpático…
Nós temos conexão cerebral??? MEU BUDA! Não és tu, Sha!, é Buda mesmo… eu tenho que ter cuidado! Qualquer dia começas a adivinhar a história e aí eu perco a atenção de uma das minhas "fans" queridas… Oh, não faças isso, tá? ;)
Por falar em homem mais próximo de Deus, eu recebi umas fofocas fresquinhas e novinhas em folha do submundo, o meu tio Hades é o maior em descobrir a face negra dos cavaleiros de ouro que lá estiveram… É com cada história… Daí até faço um fic… AHAHAHAHA vai ser o máximo! Os santos que não são santos…
"que vergonha Shaka fala sério!" (Ayan olha trocista para o loiro)
"Já está perdendo o auto controle" (Ayan rebentasse a rir da cara furiosa de Shaka, que se levanta intempestivamente. Ayan ri-se mais um bocado até que o ouve abrir a porta da geladeira… "Ei, loiro abusado! ESSE GELADO É MEU! DEVOLVE! DEVOLVE AGORA! DEVOLVE AGORA OU EU CHAMO OS MEUS IRMÃOS! DEVOLVEEEEEE! Eu contar até três, hein? Um… dois… três… KANO…" Shaka ri-se e dá-lhe o gelado e pega o bolo de chocolate.)
Acho bom mesmo. Detesto bolo de chocolate… (loiro fica emburrado… HAHAHAHAHAH). Bom… onde ia eu? Ah, sim, não vale a pena ter raiva do Shaka… EU estou aqui para fazer a vingança, HAHAHAHA! (loiro faz cara de maior dó, tipo cachorro-abandonado-com-fome-e-frio-e-querendo-carinho) Bem…, ele até é bonzinho… é só uma fase m
Bjokas!!!!! (ADOREI o tamanho da review!)
Kourin-sama = Tá aí, o presente dela está excelente! Eu, hein? Nunca fui tão boazinha para um personagem!
Para mim não és de certeza…
Shaka, pára de fazer figura de coitadinho, tá? Bolas, eu não suporto ver-te assim… AI; pára de me distrair!
Eu espero que nós tenhamos os nossos secretários de sonho, senão não sei onde irei arranjar inspiração PARA TRABALHAR! Credo, se me sai um velho sem charme, que fic faço eu, hein? DIGO, que PROCESSO trabalho eu… Tá aí… já arranjaste modelo de secretário? Ai, o meu TINHA que ser aquele inglês…
EU ODEIO a Gwenhwyfar… A opinião da Dâmaris é minha mesmo, sem tirar nem pôr… e também ODEIO o Lancelet… caramba, maior idiota não houve na história! Só se Arthur… Eu gosto mesmo é do Mordred, pobrezinho, foi o único que não teve culpa de nada e era tão bonito ou mais que Lancelet…
Pois, a INVEJADA foi bastante idiota, mas eu adorei a brincadeira do Shaka… é tão à la vilaine on the good side of the force! Fosse eu no lugar da invejada… :P
Bjokas!!!!
Pandora-Amamiya = Três reviews num só capítulo??? Subi ao céu!!!! Mas fui logo jogada cá para baixo outra vez… Não sei porque não me querem nem no céu nem no inferno… uma vez Hades até disse para eu viver uns mil anos até ele arranjar paciência para me aturar… MAS eu sou tão adorável! Porque ninguém gosta de mim… snif.. snif…
Ah, eu gosto…
Shaka!
Estás a ficar tão querida e adorável como eu! Tão parecida a mim… Além disso cozinhas tão bem… quando fazes canneloni de novo, hein?
Eu logo vi… (Ayan bufa e olha para o tecto) Bem, Pandorinha J eu acho um saco essas história românticas que aqui se chamam de "faca e alguidar" por isso estou a fazer o possível para ser original e não cair nesse erro! Quero fazer uma coisa natural, original e que não haja igual! E, óbvio que vai ser o Shaka a cair por ela, né? A intenção é mesmo essa: fazê-lo cair do pedestal!
Essa menininha ama-me mesmo…
Menininha não, olha aí o respeito! Eu tenho dezanove anos! Mas que chato…
Eu nem gostei muito do Titanic, para dizer a verdade… precisei prender as pálpebras dos meus olhos para conseguir ver o filme todo… Ah, para mim a parte boa é a do naufrágio. Quando navio desaparece… The end! Não tive muita paciência… eu não tenho paciência para o DiCaprio… o melhor filme dele para mim foi o "Catch me if you can" e olha l
E o Shaka é tarado sim senhor! O signo é só para disfarçar! :P :P :P
Bjokas!!!!! (E acho que ias ficar sem o teu sorrisão mesmo, né…)
Pipe = O Shaka faz-me muitas cócegas, só por acaso, mas é apenas para me irritar… todo o mundo me quer fazer cócegas para me irritar! O bom no meio de tudo é que, ao fim de quase vinte anos a sofrer ataques, FINALMENTE elas estão a passar… literalmente à força!
Ah, só há mesmo aquela hipótese, né? Ele destressou completamente em cima da Saori, deve ter usado toda a sua "simpatia" vocabular com ela, e então de manhã sentiu-se um novo homem… momentaneamente… por enquanto…
O Shurinha tá a caminho! Participação especial dele, eu acho que tu vais adorar! Vais adorar mesmo, hein? ;) E claro, só mesmo a DONA LIEBE para notar logo o Carlinho e o Dido juntos, né? Onde andam o meu maninho quando é preciso esfriares a cabeça??? E não aguces o Shaka, pelo amor de quem lá tens, ele AINDA anda meio estranho!
Pipezinha manda os nossos cavaleiros darem um jeito nesse FF… ele é tão irritante… Aliás, para que fique bem claro, faço minha as palavras de Salvador Dali: eu não faço pornografia (hentai), apenas nú artístico e a profunda exaltação do amor mais puro…
Pureza? HAHAHAHAHAHA tu és fantástica!
Pureza sim, seu TARADO! E Shaka, fica calado porque se as minhas fics forem apagadas o meu mau humor geminiano vem ao de cima e eu descarrego na primeira pessoa que encontrar… positivamente: tu!
Onde já se viu, apagar fics! Além disso, a primeira pessoa que me disser que nunca disse um "palavrão" na vida… bem, é santificado, de certeza!
Eu hoje estou meio estranha… PIPE, VAI NO MESSENGER, tá?
Bjokas para a minha cunhada!!!!
Pronto, não falta ninguém… Eu tou com sono mas super feliz! E porquê? Porque não estudei muito o ano todo e tive óptimas notas e estou calma e descansada para os exames e os meus colegas fartaram-se de estudar, tiraram notas baixas e estão super cansados e nervosos para os exames. EU AVISEI, mas nunca ninguém me ouve… quer dizer, o meu mentor é um advogado formado à um ano que acabou o curso com dezoito e meio, foi o melhor de todos e ía ao cinema, passear, faltava à Univ e levava dias sem fazer nada (tudo testemunhado). E passou-me o método todinho: "é preciso atenção, memória e método." - é uma das máximas :D BOA!!!!!! Vou ser positivamente a única aluna feliz na universidade de todos os meus colegas!
BEM, acho que vou começar a fazer outra fic…
Bjokas para todos vocês!!!!!!!!
Próximo capítulo: "Jogos…"
