" O brilho lua cheia..."
by Ayan Ithildin
Shaka acordou com o sol a entrar pelas cortinas cerradas. As pernas estavam rígidas de estarem tanto tempo na mesma posição e o pescoço tinha uma leve impressão por ter estado estático durante o resto da noite. Olhou a jovem que não mudara de posição. Ao parar o olhar nos lábios suaves e bem desenhados sentiu que uma memória tentava vir ao de cima. Esforçou-se mas não se lembrou de nada. Pegou na rapariga ao colo, levantou-se e deixou-a deitada no sofá. Meteu-se debaixo do chuveiro e depois foi preparar o pequeno-almoço tardio.
Dâmaris apareceu esfregando os olhos e sentando-se num dos bancos altos enquanto bocejava discretamente. Depois lembrou-se de alguma coisa.
- Shaka, posso-te fazer uma pergunta indiscreta?
- Todas. – respondeu o cavaleiro sorrindo enquanto acabava de pôr manteiga nas torradas.
- Com o que é que sonhaste esta noite? – Shaka abriu os olhos e olhou-a com curiosidade.
- Porquê?
- Diz lá. – disse ela servindo-se duma torrada enquanto ele se sentava à sua frente, girando entre as mãos uma chávena de chá, pensativo.
- Não me lembro. Porquê?
- Bem, estavas a sorrir muito quando eu acordei a meio da noite, só por isso… - Shaka tentou lembrar-se de novo. Abanou a cabeça.
- Esquece. Vamos treinar…
- Perfeito. Só mais uma coisa… - a jovem olhou para o sol que se punha e suspirou.
- Shaka, estou cansada… - disse ela sentando-se nas pedras que ficavam ao lado da escadaria em frente à casa de Virgem. Ao fim da tarde o calor era menor e apetecia treinar fora de casa.
- Podes ir descansar depois de me mostrares a ilusão com… - Shaka voltou os olhos cerrados para as escadas e Dâmaris acompanhou-o com os olhos. Alguém subia a escadaria. Aioria surgiu no patamar.
- Dâmaris! Olá, Shaka. – saudou com um sorriso. Dâmaris cumprimentou-o e Shaka fez o mesmo com o rosto cerrado, inundado por um mau pressentimento em relação ao dia anterior.
- Olha lá, Dâmaris, é verdade que esfrangalhaste os nervos do Fénix? – Dâmaris olhou para Shaka e depois para Leão sem saber o que responder. Shaka ergueu as sobrancelhas.
- Bem,… - começou Dâmaris. Aioria começou a rir-se.
- Tenho tanta pena de me ter vindo embora… - mais alguém estava a subir as escadas. Carlo, vestido com a armadura, parou no patamar observando Aioria rir-se.
- Buonasera… che cosa accade?
- Máscara! – Shaka tremeu interiormente, rezando com todas as forças para que Aioria não dissesse o que ele estava à espera. – Estávamos a falar do combate de ontem. Sabes, da Dâmaris e do Ikki? Tenho tanta pena de não ter assistido… - Carlo ficou branco de raiva enquanto Shaka tinha vontade de bater com a cabeça na parede do templo. Depois de matar Aioria, óbvio. Dâmaris resolveu ficar em cima das rochas.
- Ai sim? – disse Carlo friamente.
- Claro. A nossa pequena Dâmaris venceu e bem, hã? – exclamou Aioria. Shaka pulou para o chão seguido de Dâmaris que agora resolvera ficar perto do "guarda-costas", não fosse a coisa dar para o torto. Cosmos tão hostis ela nunca tinha sentido. E, teoricamente, eram todos amigos… Carlo cerrou os punhos.
- Em relação ao combate não tenho nada a dizer. Em relação a Dâmaris, faço minhas as palavras de Ikki: um monstrinho disfarçado de anjo… - Dâmaris desfez-se em lágrimas e correu para dentro do templo. Aioria olhou abananado para Carlo.
- Cala a porra da boca, Máscara, a merda que daí sai já poluiu o suficiente a frente da minha casa. – Shaka estava tão furioso (err…furioso porquê, exactamente???) que tinha que pensar em se controlar para não matar Carlo ali mesmo. Já agora, matar todo o Santuário e, porque não, destruir a Terra inteira e escapulir-se para o Nirvana… pelo menos não havia mais planeta Terra para conquistar… acabava-se logo a guerra. Mas quem o viu, viu o mesmo Shaka frio e impassível de sempre.
- Shaka… - murmurou Aioria.
- E tu desaparece daqui, Leão, já meteste a pata na poça, o que é habitual. – disse friamente. Isto é o que se chama de estado criminoso-passional? Quase que se divertiu com o pensamento, mas Carlo fê-lo ficar de novo sério.
- Ninguém me manda calar a boca, Virgem… - rosnou Carlo enfurecido.
- Eu mando. – disse Shaka simplesmente. – E se tu voltas a ameaçar a Dâmaris, aliás, se tu voltas a ficar perto dela nem consegues sonhar com o que eu te faço.
- Isso é uma ameaça? – perguntou Carlo franzindo as sobrancelhas. Cavaleiros de Ouro não se deviam portar assim uns com os outros, mas Shaka sempre fora um homem à parte, diferente, e naqueles cinco anos evoluíra como nenhum outro.
- Eu não ameaço, Câncer. – Shaka riu-se com um riso escarninho. – Eu aviso e cumpro os avisos. – Carlo lembrou-se porque se mantinha tantas vezes afastado de Shaka. Carlo podia ter alguma maldade, mas Shaka era absolutamente desprovido de sentimentos. Ele não conseguia saber o que era pior.
- Afinal Dâmaris sempre é igual a ti. – disse venenosamente.
- Ainda bem para ela. Pelo menos não é um ser patético e desprezível como tu. – foi a resposta de ponta de estilete. Carlo olhou-o enfurecido. Era um homem que não admitia que gozassem com ele, mas não estava disposto a iniciar uma luta com um cavaleiro de ouro. Muito menos com Shaka. Optou por se ir embora, Aioria aproveitou para subir as escadas atrás do outro. Afinal, era sempre ele que precavia todos os outros em relação a Shaka, não era suicida para ficar à frente de Virgem quando este ansiava pela cabeça de um deles os dois. Quando ficou sozinho, a preocupação tomou conta do rosto de Shaka e este correu para dentro de casa.
- Dâmaris! – exclamou aflito quando a viu deitada a soluçar nos colchões da sala de treino. – Oh, Dâmaris, não ligues importância.
- Eu… sou… um… mons… monstro… - soluçou a rapariga. Shaka desesperou-se.
- Não chores, Dâmaris. Estás a ser fraca! – exclamou, dando a entoação errada. O choro redobrou. Shaka não sabia o que havia de fazer.
- Não presto para ser… tua… aprendiza. Além de um mons… monstro, sou fra… fraca… - soluçou tristemente, o corpo tremendo aos solavancos ao ritmo do choro. E agora, que fazia ele? Mas ele tinha que fazer alguma coisa? Ela estava a ser fraca, que ficasse ali a chorar… Ainda virou as costas, mas o choro dela partia-lhe o coração… Não a posso deixar assim…Não consigo…Aproximou-se dela e ajoelhou-se no colchão.
- Dâmaris… - Quando lhe viu o rosto banhado pelas lágrimas sentiu o coração de pedra que tinha a rachar-se ao meio. Sentou-se e puxou-a para o colo. Dâmaris aninhou-se e abraçou-o, escondendo o rosto no seu pescoço. Abraçou-a e fez-lhe festinhas. – Shhh, passou, já passou… Não és monstro nenhum, eles só têm inveja, Dâmaris e o orgulho ferido… E eu estou muito orgulhoso de ti, muito… - ela soluçou qualquer coisa que ele não percebeu. – O quê?
- Por minha causa estás brigado com o Carlo e os outros… praticamente disseste que o matavas…
- Ah, ouviste. – Shaka estranhou ela estar a chorar por causa daquilo. – E se matasse, qual era o problema? – as lágrimas de Dâmaris secaram e ela olhou estupefacta para os olhos azuis claros.
- Ele é teu amigo…
- Amigo? – Shaka começou-se a rir. Limpou-lhe as lágrimas. – Não, não, ele não é meu amigo… Aliás, as minhas amizades resumem-se a alguns poucos laços de confiança e respeito.
- Mas é teu colega, companheiro, sei lá… Como podes dizer que matas assim uma pessoa que conheces há tanto tempo? – ela olhava-o chocada.
- Não tenho problemas nenhuns em matá-lo. Deveria ter? – perguntou Shaka encolhendo os ombros. Dâmaris abanou a cabeça incrédula. Como era possível?
- Mas tu não gostas, ao menos um pouco…
- Gostar? – Shaka riu-se de novo despreocupado. – Dâmaris, eu só gosto de uma pessoa neste mundo, e essa pessoa és tu. – Dâmaris olhou-o espantada.
- Mas o Mu, o Saga… o Afrodite! E eles?
- Respeito-os e confio neles. Mas gostar? – Shaka abanou a cabeça. Se ele até há bem pouco tempo não sabia sequer o que isso era. Aliás, ele não tinha ainda bem a certeza do que isso era. – Só gosto de ti.
- Mas… mas alguma coisa deves sentir pelos outros!
- Não, nada. – os olhos dele escureceram. – O que posso sentir por uma pessoa que quer magoar a única coisa de quem eu gosto, a única coisa neste mundo que vale a pena gostar? Não tenho a mínima hesitação em matar quem te tente magoar… - murmurou ele fazendo-lhe festas na cara. Dâmaris corou. O olhar dele deslizou dos seus olhos, aqueles olhos, para os lábios da jovem, aqueles lábios…
- Como sabes que gostas de mim? – perguntou ela hipnotizada pelo azul divino dos seus olhos, mas com toda a justiça. Se ele nunca sentira nada por ninguém, como podia saber o que sentia por ela?
- Não sei, apenas sei que gosto de ti… - murmurou ele. – E tu nem sabes o quanto… - as últimas resistências de Shaka cederam. Inclinou-a para trás e deitou-se sobre o seu corpo, beijando-a suavemente. Dâmaris ficou chocada, um turbilhão de pensamentos e sensações tomou conta de si. Aquilo era uma loucura, loucura! Mas então porque o seu corpo não hesitava em responder? A jovem encontrou os seus lábios a responderem há suavidade dos lábios do cavaleiro. Entreabriu-os e a língua dele acariciou a sua suavemente. Dâmaris ficou ligeiramente aflita. Ai, o que faço agora? Nunca dei um beijo de língua! Mas estranhamente o seu corpo sabia exactamente o que fazer. Aliás aquilo deixara de ser uma questão de saber o que fazer e passara a ser uma questão de fazer por necessidade. Ela tinha necessidade dele, da boca dele, dos carinhos dele, uma necessidade quase selvagem, que tomou conta dela. Dâmaris passou a mão esquerda pelo pescoço de Shaka, puxando-o para ela pela nuca e com a outra mão puxou-o pela camisa, de modo a ficar com o corpo dele colado a si; enroscou a língua dela na dele, acariciando-a e duelando sensualmente com ela.
Shaka sentiu todo o corpo incendiar-se quando Dâmaris o puxou contra si. Os dedos dela acariciavam-lhe a nuca e a boca dela, doce e quente, deixavam-no louco. E a maneira inebriante como ela o beijava também, cada fez mais quente, mais sensual, mais atrevida. Shaka puxou-lhe os braços para cima segurando-lhe os pulsos, um de cada lado da cabeça, compactados contra o colchão. Moveu ligeiramente o corpo e sentiu o corpo dela mover-se e erguer-se contra o dele.
Dâmaris começou a sentir outra necessidade… a necessidade do corpo dele. O seu corpo moveu-se sedutoramente contra o dele, excitando-o. E a sua mente protestou Ei! Sua doida! O que estás a fazer? Sentiu a mão quente de Shaka acariciar-lhe a pele da barriga por debaixo da camisola, arrepiando-a. Dâmaris empurrou-o e Shaka caiu sentado, olhando-a confuso e ofegante.
- Pára, Shaka… - pediu ela sem ar. – Pára… Ou ainda nos arrependemos.
- Eu não me ia arrepender de nada… - disse ele suavemente, sem a perceber. Primeiro provocava-o daquela maneira, agora não queria nada? E ele, como é que ficava? E ela, o que é que tinha? Estendeu a mão para tocá-la no rosto, mas ela afastou-se.
- Não! Shaka, mete uma porra na tua cabeça: eu sou tua discípula. E eu vou meter na cabeça que és meu mestre! E não há espaço para mais nada, mesmo que eu queira! – Dâmaris saiu a correr e trancou-se em casa. Shaka seguiu-a.
- Dâmaris? Dâmaris, abre a porta. – Deu-lhe um murro com força. – Abre a porra da porta!
- Vai-te embora, Shaka! – disse a voz dela de dentro, parecendo chorar.
- Dâmaris, eu não te queria ofender! O que foi agora, odeias-me? – perguntou confuso.
- Tu és tão burro! Não vês que é exactamente o contrário? – o choro dela redobrou e ele ouviu-a murmurar «estúpida! estúpida!». Se confuso estava, mais confuso ficou. Foi-se embora.
Dâmaris pegou no surpreendido Mordred e deitou-se abraçada ao bichinho, sempre a chorar.
Dâmaris não apareceu no dia seguinte nem Shaka foi chamá-la. Ficou deitado a pensar naquilo tudo. Como se não bastasse, a insatisfação do seu corpo e da sua mente provocara-lhe sonhos bem molhados a noite toda. Não havia homem que aguentasse tanta dúvida, nem ensinamentos de Buda que conseguissem afastá-las. Eu preciso de sair.
- Dâmaris, abre a porta. – pediu ele algum tempo depois do sol ter desaparecido no horizonte. Dâmaris andou até à porta mas manteve-a fechada e ficou em silêncio. – Dâmaris… - ele suspirou e ficou calado. Passado algum tempo falou. – Eu vou até à cidade com os outros. Ficas bem? – Dâmaris não respondeu petrificada. Cidade, noite, bares, bebida, mulheres…As lágrimas caíram-lhe pelo rosto. Idiota, porque estás tu a chorar? Shaka desistiu de falar com ela. – Até amanhã. – Dâmaris sentou-se no chão da cozinha sentindo-a afastar-se. Se ela o tivesse chamado, Shaka teria deixado tudo para trás apenas por poder ficar com ela no colo, como ela ficara no dia anterior, aninhada nos seus braços, sentir que podia protegê-la para sempre. Mas Dâmaris não o chamou, ficou sentada na pedra fria, sozinha com o seu orgulho, com os seus medos, com as suas regras que até o homem que lhas havia ensinado parecia disposto a quebrar, abraçando-se enquanto tremia de desgosto. O orgulho é um parceiro de cama bem frio.
Shaka não se divertiu minimamente, a bebida sabia-lhe mal, o seu rosto era uma promessa de morte a qualquer mulher que se aproximasse dele. Possivelmente se ele tivesse aberto os olhos metade das mulheres de Atenas teria morrido nessa noite. Chegou a casa muito tarde e, ajudado pelo álcool, adormeceu instantaneamente.
- Shaka, são oito horas. – Shaka entreabriu os olhos cheio de sono ao ouvir aquela voz tão fria.
- Já vou, Dâmaris…
- Estou à tua espera na sala de meditação. – Dâmaris fechou a pequena frestinha da porta e Shaka adormeceu outra vez.
Entrou na sala já passava das duas da tarde. Dâmaris olhou-o friamente, chorando por dentro.
- Desculpa. – disse ele, reprimindo um bocejo.
- Estou aqui há seis horas à tua espera, acho bem que me peças desculpas.
- Podias ter ido ao quarto acordar-me.
- Não quis interromper nada. – foi a resposta ácida.
- Interromper o quê?
- Bem, eu não sabia o que ia encontrar.
- Estás parva? Ias-me encontrar a dormir, óbvio, não?
- Não sei se é assim tão óbvio, não vi se chegaste com alguém ou não ontem há noite. – Shaka olhou-a espantado.
- Que queres dizer?
- Estás mesmo com sono. – constatou Dâmaris causticamente, levantou-se violentamente. – Vai descansar.
- Descansar de quê? – perguntou ele irritado, segurando-a por um braço.
- Que tal de álcool e putas? – gritou ela, enfiando-lhe uma joelhada na barriga para se soltar. Apanhado desprevenido, Shaka levou uma mão aos músculos e contraiu os olhos. Dâmaris tinha muita força dentro daqueles braços e pernas frágeis.
- Enlouqueceste? – gritou ele furioso.
- E o que é que foi? Pensas que não conheço a tua fama na merda deste santuário?
- Cala a boca!
- Cala-te tu! – Dâmaris descontrolou-se por completo. – Sabes porque é que não entrei no teu quarto? Não estava com vontade de te encontrar agarrado a uma vadia, uma dessas putas fáceis que servem para despejares! – Shaka perdeu totalmente o controle e deu-lhe uma bofetada.
- CALA-TE! – depois olhou aturdido para Dâmaris. Fá-la atirar-se a mim, por favor, fá-la jogar-se a mim a murro e pontapé, fá-la gritar comigo…Mas Dâmaris ficou quieta, sentada no chão abraçada a si mesma a chorar baixinho. A face esquerda estava vermelha. Ajoelhou-se desesperado. – Dâmaris…
- Afasta-te! Tu não gostas de mim, Shaka, não gostas mesmo… - Dâmaris correu de novo para casa. Ele não gosta de mim. Anteontem só me queria levar para a cama, era só isso que ele queria…Shaka tentou segurá-la pelo caminho. Dâmaris passou a chorar por Afrodite e fechou-se em casa.
- Dâmaris? – Afrodite foi praticamente derrubado por Shaka. – Shaka! O que foi? – Shaka ficou à frente dele, abrindo e fechando a boca, enquanto olhava alternadamente para o cavaleiro e a casa e aprendiz.
- A Dâmaris…
- A Dâmaris?! – sobressaltou-se Afrodite. – O que lhe aconteceu?
- Eu bati-lhe… - disse Shaka sentindo-se um miserável. Afrodite interpretou mal.
- Ora, isso acontece sempre nos treinos. Não há problema nenh…
- Eu bati-lhe, Afrodite, enfiei-lhe a mão na cara, dei-lhe uma bofetada… – desesperou-se Virgem. Afrodite assustou-se.
- Tu o quê? TU FIZESTE EXACTAMENTE O QUÊ?- gritou Afrodite, completamente estupefacto. Alguma coisa estava mal, o Shaka a dar um estalo na Dâmaris??? - Shaka, estás bem? – Virgem abanou a cabeça, a expressão completamente derrotada. – Anda, vou-te fazer um chá. – Como é que isso aconteceu? – perguntou enchendo uma chávena.
- Ela… ela começou a dizer-me coisas… estúpidas… e eu… eu descontrolei-me e bati-lhe… Eu bati-lhe, Afrodite...
- Calma… tu ontem bebeste demais. – Mas Shaka sabia que não era aquilo, ele não tinha ficado minimamente bêbedo, não estava de ressaca. Ele tinha feito aquilo porque não aguentara ouvir tanta injustiça da parte dela. Ele tinha feito aquilo porque era um monstro… - Shaka, vai-te deitar um pouco. Eu vejo como está a Dâmaris.
Shaka batia de novo à porta da casa de aprendiz, o sol punha-se nas suas costas.
- Dâmaris. Dâmaris deixa-me falar contigo… Dâmaris, por favor… - deu um murro na porta. – Dâmaris eu agi mal, só te quero pedir desculpas… Dâmaris, abre-me esta merda ou eu mando-a a abaixo! - Dâmaris abriu a porta. Shaka pareceu-lhe enorme no escuro da noite. O sol pusera-se.
- A que devo a honra? – perguntou taciturna e sarcasticamente. Shaka olhou para a face da jovem, mas esta não estava mais marcada. Agradeceu em silêncio aos cuidados de Afrodite. Abanou a cabeça e entrou. Dâmaris fechou a porta. Tinha os cabelos soltos e uma camisola verde de alças que lhe chegava a meio da coxa. Os olhos estavam profundamente magoados. Shaka detestou vê-los assim.
- Desculpa. Desculpa, Dâmaris… Eu é que sou o monstro… - murmurou baixando o rosto.
- Tu disseste que gostavas de mim. Não se faz isto a uma pessoa de quem se gosta. Por isso, tu não gostas de mim. – disse ela com simplicidade. Shaka sentiu-se ferido por dentro.
- Eu não gosto de ti…
- Vês? – Dâmaris andou até à porta do quarto, o coração pesado. Uma coisa é saber sem que ninguém nos diga, outra é ouvir da boca da pessoa que nós… bem, é duro. Shaka segurou-lhe o braço com delicadeza. Os seus olhos brilhavam.
- Eu amo-te. – as palavras saíram-lhe da boca pela primeira vez, tão simples, tão verdadeiras, mostrando-lhe o que ele de facto sentia por ela. Tão simples: amava-a. Qual era o mistério? Amava-a, somente isso, amava-a de todo o coração. Aquela rapariga que tinha à sua frente, aquela mulher forte, inteligente e de uma beleza e sensualidade divinas era a única dona do seu coração. Repetiu como quem saboreia a palavra mais saborosa e exótica do mundo. – Eu amo-te… - os olhos de Dâmaris estavam abertos de surpresa. – Ontem à noite… eu quis esquecer-te… tirar-te da cabeça, como tu disseste… Mas as mulheres já não me atraem e a bebida sabe-me a cinzas… Não consegui beber e basicamente quase que matei todas as mulheres que olharam para mim… Depois dos teus lábios já nada me satisfaz… Eu não sei o que fizeste comigo, mas há dois dias atrás eu tive os melhores momentos da minha vida… É irónico, eu, sempre tão frio, tão insensível… apaixonar-me… Mas tu já não sais da minha cabeça e eu não sei mais que fazer… Não me sais da cabeça, Dâmaris…
- Cala-te… cala-te… - murmurou Dâmaris encostando-se à parede, sentindo as lágrimas molharem o rosto. – Oh, Shaka, eu amo-te mas…
- Mas o quê? – quase colou os lábios aos dela, o coração batia com tanta vida ao ouvir aquelas palavras que parecia querer sair do peito.
- Mas… - Dâmaris fechou os olhos como se se quisesse manter lúcida a todo o custo. Shaka colou os lábios aos dela, deslizando a língua contra a dela quando Dâmaris abriu os lábios. Apertou-a contra si, aprofundando o beijo.
De novo aquele turbilhão tomou conta da rapariga. Mais rápido que anteriormente, o certo e o errado deixaram de ter importância, e a necessidade enlouquecedora do corpo dele ofuscou todos os ramos lógicos do seu pensamento, os seus seios manifestaram-se por debaixo do tecido da camisola. Os seus dedos percorreram os botões da camisa, abrindo-os com uma pressa demorada. Shaka desembaraçou-se da camisa para poder abraçá-la de novo, percorrer aquele corpo que o enlouquecia com os dedos. Ela puxou-o pela nuca contra si, deixando os dedos percorrerem o tronco musculado do cavaleiro, arranhando-lhe a pele com as unhas. Shaka encostou-a à parede, deixando a mão correr pela coxa da jovem, subindo suavemente a bainha da camisola. As mãos de Dâmaris correram o tronco e começaram-lhe a desapertar os botões das calças, deixando-o deliciosamente espantado pela inesperada ousadia da rapariga. Desfez-se das calças e segurou-a pelas pernas, prendendo-as na cintura, puxando-lhe a camisola por cima da cabeça deitando-a em cima da cama, procurando com a boca ávida os seios e prendendo os mamilos delicadamente entre os dedos, depois entre os dentes, sentindo-a estremecer debaixo dele.
As mãos dela deslizaram pelas suas costas até pararem no cós dos boxers e puxarem-nos para baixo. Sentiu os dedos dela tocarem-no expirou de prazer, deixando a boca percorrer o caminho até entre as suas pernas em pequenos beijos e toques com a língua. Puxou-lhe a calcinha para baixo enquanto a sua língua explorava insistentemente a feminilidade dela, até a ouvir gemer deliciada enquanto o seu corpo estremecia de prazer. Dâmaris decidiu que não queria mais jogos de sedução, puxou-o para cima de si, queria tê-lo dentro de si. Então, pela primeira vez na vida, Shaka hesitou.
- O que foi? – perguntou ela, estranhando.
- Não te quero magoar… - murmurou Shaka enquanto deslizava a língua pelo pescoço da jovem junto do ouvido. Dâmaris arriscou olhar para baixo e quase que ofegou. Ia doer. Sentia-o a beijar o seu pescoço mas sem ser numa tentativa de provocação. E percebeu que ele não iria tomar a iniciativa. A erecção dele estava de encontro às suas pernas. Deixou os dedos correrem pelas suas costas, subindo as unhas pelo veio da coluna. A pele dele arrepiou-se e a erecção endureceu mais ainda.
- Amas-me? – ele afundou-a nos seus olhos azuis.
- Amo-te. Mais que tudo no mundo.
- Eu também te amo. E quero-te. - murmurou ela, puxando-o contra si, invadindo a boca do cavaleiro num beijo exigente e quente. Os dedos dela percorreram de novo o seu sexo, imprimindo-o contra ela e Shaka deixou-se guiar pelo desejo que sentia. Dâmaris ficou subitamente estática quando o sentiu dentro dela. Doera. Shaka abandonou os beijos quentes e começou a beijá-la com ternura, as mãos acalmando-a. Eu amo-o, pensou enquanto a dor ia desaparecendo, dando de novo lugar ao desejo. Os beijos dela tornaram-se de novo mais quentes. Shaka começou a mover-se lentamente, sentindo-a responder aos seus movimentos. Apoiou as mãos na cama, descendo os beijos pelo pescoço até aos seios, a respiração pesada, envolvendo os mamilos com a língua, sentindo-os duros entre os seus dentes, enquanto os mordia à medida das estocadas, ouvindo-a arquejar de prazer, sobretudo quando a respiração pesada que se lhe escapava entre os dentes percorria os seios e os mamilos húmidos. Passou a ponta do nariz por eles, beijando-os de novo. O sangue dele parecia ferver nas veias, ela era tão apertada e quente que o deliciava, deixando-o a pontos de se perder, invadindo-a em estocadas cada vez mais rápidas e satisfatórias, ouvindo os gemidos dela ficarem cada vez menos espaçados. Subiu de novo os beijos, mordendo-lhe a carne do pescoço e beijou-lhe a boca com tanta paixão como carinho. Entrelaçou os dedos nos dela, erguendo-se enquanto se apoiava nas suas mãos que lhe ladeavam a cabeça e olhou para o fundo daqueles olhos enigmáticos e provocadores. Dâmaris ergueu o corpo para beijá-lo de novo e ele afundou-se de novo sobre ela, estocando-a como se a quisesse colar à cama, os corpos movendo-se em sincronia, numa demonstração de carinho selvagem que quase beirava uma violência afectiva e amorosa. Sentiu as pernas dela envolverem-lhe a cintura e o corpo colar-se contra o dele. Viu que ela fechou os olhos momentos antes do corpo estremecer involuntariamente e Shaka afundou o rosto no seu pescoço para logo a ouvir gritar de prazer. Cerrou os dentes para não gritar em conjunto com ela quando se perdeu poucos momentos depois de uma penetração rápida e intensa.
Deixou-se descansar sobre o corpo dela, sentindo os dedos macios da jovem percorrerem-lhe o corpo suado. Percorreu-lhe de novo o corpo com beijos cansados mas amorosos, deitando o rosto entre os seios perfeitos dela, ouvindo o coração ecoar o seu em batimentos rápidos e sonoros. Sentia-se exausto mas a transbordar de felicidade. O suor arrefecia no seu corpo e no de Dâmaris, à medida que as respirações retomavam a regularidade. Deslizou para o lado dela, sentindo-a enroscar-se no seu corpo. Ficaram abraçados durante algum tempo.
- Isto é um sonho… - murmurou ela ao fim de algum tempo. Shaka ergueu-lhe o rosto, deixando o polegar rodear-lhe suavemente os lábios. Depois beijou-os carinhosamente.
- Eu quero que isto seja realidade… - murmurou entre beijos.
- Bem… - ela olhou-o com inocência. – Os sonhos bons nunca se repetem, então… - Shaka olhou-a com um sorriso malicioso deitando-se de novo em cima dela, subindo a língua pela barriga, passando entre os seios e terminando junto ao ouvido direito.
- Vamos testar… -murmurou antes de deslizar a língua contra a dela e sentir o corpo de Dâmaris erguer-se contra o seu, recebendo-o com paixão.
N.A. : Ok, finalmente o Hentai…
Antes que me esqueça, a frase "o orgulho é um parceiro de cama bem frio" não me pertence, foi retirada d' "As Brumas de Avalon", de Marion Zimmer Bradley, quando a Morgaine sucumbe ao orgulho e decide não dormir nos braços de Kevin apesar de ambos andarem precisados… de amor e não só. Quem ainda não leu esta colecção, então eu aconselho vivamente, pois acho uns excelentes livros e uma visão particularmente interessante e original da lenda do Rei Arthur.
Muito obrigada por TODOS os reviews, os que apoiaram, os que mandaram abaixo, enfim, todos. Lamento muito quem se chocou com o "capítulo" anterior, agradeço imenso a quem saiu do anonimato para me deixar uma review, de que género fosse, inclusive a quem fez um registo de propósito, agradeço muito e muito a quem me apoiou, e deixo um agradecimento especial a quem me enviou e-mails e reviews que me fizeram divertir. E fiquei muito feliz por ter feito amigos novos! ;)
Hum, bem, acho que é tudo. Tenho que me despachar antes que a Net vá ao ar de novo ou entre algum novo vírus no meu computador. Há dois dias descobri que estava invadida então tenho andado em limpezas. E ainda tenho andado com os resultados dos exames e a candidatura à univ e essas coisas. Respondo às reviews no próximo capítulo.
Bjokas a todos os que seguem a fic!
Próximo capítulo: " O fruto proibido é o melhor..."
